Aurora Borealis escrita por Kyra_Spring


Capítulo 15
Capítulo 14: Meadows of Heaven




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_Já faz muito tempo, não é? – sorriu Edward, os olhos fixos na montanha – E, mesmo assim, esse lugar é exatamente o mesmo.

_É lindo... – sussurrou Alice – Lindo... Quando vocês me contavam, eu não fazia idéia de como esse lugar era mágico.

_Vocês já moraram aqui? – perguntou Bella.

_Sim – respondeu Edward – Isso foi antes da Alice e do Jasper se unirem a nós. Não ficamos muito tempo, mas desde que partimos nos certificamos de que a casa permaneceria intacta. Ela fica na floresta, não muito longe daqui. Mas, sempre que a gente vem pra cá, precisamos parar bem aqui, e ver isso – o tom dele era respeitoso e fascinado.

_Bem, é melhor irmos logo ou Bella vai ter uma hipotermia – disse Alice, por fim – Teremos tempo para ver tudo depois, mas agora precisamos entrar.

            Eles voltaram para o carro, Bella ainda hesitando um instante e olhando para o céu. Não era irônico o fato de o palco da sua maior batalha ser exatamente a cena mais bela que já havia visto em toda a sua vida? Ou será que era algum tipo de sinal, algo além da sua compreensão?

            “Chega de pensar nisso, Bella”, ela disse a si mesma. “Você está cansada, com frio e com fome, então acho que dá pra desligar um pouco por algumas horas”. Então, entrou no carro, enquanto Alice dava a partida.

            Em pouco mais de vinte minutos, pararam em frente a uma casa de madeira avermelhada e escura. Não era muito grande, mas parecia quente e aconchegante. As luzes estavam acesas e havia fumaça saindo pela chaminé. Havia também grades nas janelas e uma tranca reforçada na porta.

_Carlisle deve saber que isso não vai adiantar nada, não é? – observou Edward – Ó que mais tem por aí, armadilhas para ursos?

_Às vezes concordo com o Emmett – sibilou Alice – Realmente você está merecendo um soco.

            Ela abriu a porta. Por dentro, a casa era quente e iluminada, e os móveis de madeira maciça elegantemente entalhada lembravam um pouco a casa dos Cullen em Forks. Havia uma lareira acesa, muito acolhedora, e em frente dela uma poltrona. Sobre a mesa, havia um computador portátil, e naquele momento Rosalie observava sua tela atentamente, enquanto Kiyone estava sentada num sofá, fazendo algum tipo de anotação.

_Nossa, vocês chegaram cedo – disse Alice – Novidades?

_Estamos monitorando – respondeu Rose – Não teremos tempestades ou ventanias pelos próprios dias, e isso é bom. E – ela deu um sorrisinho – consegui uma forma de rastrear os celulares deles. Se eles fizerem alguma ligação, vamos saber.

_Você grampeou os telefones deles? – disse Edward, sorrindo – Genial...

            Bella jogou-se na poltrona em frente à lareira, completamente exausta. Lembrava-se, em algum lugar distante da sua mente, que à medida que se aproximavam do inverno as noites iam ficando cada vez mais longas, e que isso atingia extremos quando se aproximava dos pólos. Por isso, não fazia a menor idéia de que horas eram. O calor lentamente ia tomando conta dela, dando uma sensação falsa de conforto e segurança.

_Achei que talvez você estivesse com fome – a voz de Kiyone, ao seu lado, a surpreendeu. Ela se virou, sobressaltada, e deparou-se com a vampira estendendo a ela uma tigela fumegante e um pedaço de pão – Uma boa sopa quente para recarregar as baterias vai lhe fazer bem.

            Bella não gostava de sopa, graças a algumas experiências desagradáveis com as tentativas culinárias de seu pai, mas teve que aceitar. Logo, começou a comer avidamente, só então percebendo o quão faminta estava.

_Vocês chegaram há muito tempo? – perguntou ela, de boca cheia.

_Uma hora antes de vocês, mais ou menos – respondeu Kiyone – Só o tempo de acender as luzes, ligar o aquecimento, essas coisas. Lugar bonito, não é?

_É mesmo – concordou Bella – Eu nunca tinha visto a aurora boreal.

_Posso ver como você está? – a primeira perguntou, e Bella entendeu do que se tratava. Acenou afirmativamente com a cabeça, e Kiyone tocou sua mão, de olhos fechados – Bem, fisicamente você está intacta, mas psicologicamente você está em pedaços. Não é inesperado, de qualquer forma. E também dá pra ver que... que... – e, então, os olhos dela se perderam, e seu rosto se contorceu em preocupação – Não... não, ainda não... não pode...NÃO!

            Todos se viraram na direção dela. Seus dedos estavam fechados ao redor do pulso de Bella, que a encarava apavorada. Mas ela não parecia realmente ver a garota ali, na sua frente. Sua expressão era de puro medo e dor, e os outros, principalmente Alice, observavam a cena com apreensão.

_Kiyone! – chamou Bella – Kiyone, está me ouvindo?

_Me perdoe, Bella – o tom dela era choroso e suplicante – Me perdoe, eu não cheguei a tempo. Eu não... eu não...

_O que tá acontecendo? – Emmett a olhou por um instante, antes de encarar Alice. Ela, porém, estava de olhos fechados, e a testa franzida indicava que ela tentava enxergar alguma coisa.

_Droga, o que ela está vendo? – sussurrou a própria Alice – Eu não consigo enxergar nada envolvendo a Bella ou qualquer um de nós. Aliás, eu não consigo enxergar nada!

            E, então, ela abriu os olhos, como se tivesse despertado de um sonho ruim. Encarou a todos que a observavam com expressões ansiosas e disse:

_Vai acontecer uma tragédia – a voz dela estava embargada – Eu não pude ver com detalhes, mas me lembro bem claramente de algumas coisas. Eu vi a montanha, e a noite estava bem clara. Depois a visão mudou, e eu ouvi uma voz... uma voz chamando o seu nome, Bella. Mas ela estava muito distante, muito difusa, e eu não consegui identificar de quem era. E depois... depois eu só lembro de ter sentido medo, e raiva... havia cheiro de sangue no ar. E, então, eu ouvi Alice pedindo perdão a Bella.

_Então o que você estava falando agora há pouco... – disse Edward, e ela completou.

_... era o que a Alice estava falando na minha visão. Não me lembro de ter sentido algo tão intenso e desesperado numa visão quanto agora. E não sei por que você também não viu isso, Alice.

_Mas você não viu mais nada? – perguntou Bella, desesperada – Sei lá, qualquer coisa!

_Não... – respondeu a vampira – Eu já disse, minhas visões são apenas flashes, nada muito concreto. Mas sei o que eu senti. Só não sei ao certo o que significa.

_Eu sei o que significa – retrucou Edward, sombrio – Nosso tempo está acabando.

_Vamos tentar pensar com clareza aqui, está bem? – interveio Emmett – De acordo com Alice, temos no máximo quatro dias. E, de acordo com Kiyone, alguma coisa acontecerá com a Bella. Quer dizer, pelo menos eu não consigo imaginar de quem mais possa ser esse sangue.

_Isso facilita as coisas, então – observou Alice – É só mantê-la longe de problemas e está tudo bem.

_Você tá falando sério? – então, Rosalie deu um sorriso de deboche – Manter ela longe de problemas? Não é exatamente algo fácil, não concorda?

_Quer deixar de ser venenosa, Rose? – aborreceu-se Edward – Tá, estamos de acordo nesse ponto. Mas isso não muda o fato de ainda não sabermos o que mais temos que fazer.

            Eles ficaram em silêncio. Edward tinha a respiração entrecortada. O ombro latejava violentamente, e a dor se arrastava e formigava para seu braço e suas costas. Uma outra crise se aproximava, mais forte que as anteriores. Dessa vez, porém, ele precisava permanecer inteiro e forte, ou no mínimo parecer inteiro. As crises estavam ficando cada vez mais longas e frequentes, e eram poucos os momentos em que estava livre delas. Além disso, as mentes de todos fervilhavam de pensamentos conflitantes e tão altos que ele mal podia ouvir os seus próprios.

_Alice, talvez eu possa ajudar – disse ele, por fim – Quem sabe, se eu vir os seus pensamentos e os de Kiyone, possamos chegar a um fator comum.

_Quer dizer, uma combinação de poderes? – ela ergueu uma sobrancelha, intrigada – E acha que vai dar certo? Sei lá, nunca tentamos nada assim.

_E você tem alguma idéia melhor? – ele a encarou – Além do mais, o que pode dar errado?

            Kiyone assentiu com a cabeça, e estendeu uma mão para cada um deles. Antes de tocá-los, porém, disse:

_Bella, fique por perto e toque o meu rosto. A visão que tive foi com você. Quem sabe se amplificarmos as fontes, não teremos uma leitura mais concreta.

            Ela concordou, e também se aproximou. Então, Kiyone segurou a mão de Edward e Alice, ao mesmo tempo que Bella segurava seu rosto. Imediatamente, ela reassumiu o olhar perdido e desesperado de antes, e as súplicas continuaram.

            Mas, dessa vez, ela não estava sozinha. Mais alguém se contorcia com ela.

            Alice permanecia de olhos fechados, com uma expressão compenetrada no rosto, que logo deu lugar a outra, de pavor. Mas ela não era quem estava pior. Edward tinha os olhos arregalados, a expressão perdida. Sua mente estava inundada por imagens terríveis, frutos das visões combinadas das duas vampiras.

            Em suas visões, Bella estava morta. Seu sangue estava espalhado pela neve, e seus olhos, abertos e gelados, refletiam a luz da lua. Um pouco mais à frente, havia outro corpo, esse praticamente despedaçado. Era difícil ver a quem ele pertencia, mas não importava. Era um dos seus irmãos, alguém da sua família que iria morrer, ali!

            Aquilo tudo queimava em suas veias e amplificava a sua dor ainda mais. Então, alguém iria morrer! E Bella... não, Bella não poderia... aquilo seria demais para ele suportar. Mas aquela visão continuava a preencher sua mente, e a dor que ela provocava era mais terrível que a dor em seu ferimento. Ele pôde ouvir também uma risada debochada e fria, que ele reconheceu na hora.

            Justine Hook. Uma risada de triunfo que o apavorou completamente.

_NÃO! – ele caiu de joelhos, soltando-se das duas. Emmett correu para ampará-lo, e Bella se ajoelhou ao lado dele, segurando seu rosto com as mãos. Estava ofegante e cansado – Não... não...

_Edward, por favor, fale comigo. Droga, olhe pra mim! – Bella o fez encará-la – Olhe pra mim e concentre-se apenas no som da minha voz. Preste atenção no som da minha voz.

_Bella... – só então ele percebeu a presença dela ali, e o lugar escuro e gelado em que estavam deu lugar à sala aconchegante e iluminada. Assim que a viu, abraçou-a – Bella, foi... eu não sei... o que eu senti... o que eu vi... por favor, diga que não vai acontecer! – a voz dele estava chorosa e perdida – Diga que você não vai partir, por favor!

_Do que você está falando, Edward? – ela se aconchegou mais ao corpo dele – Eu estou bem aqui, não estou? E não pretendo ir a lugar algum! Prometo.

_Bella... eles... eles não vão tocar em você – a voz dele foi sumindo, e seu corpo finalmente cedia à dor e ao cansaço – Eles não vão... não vão... ugh! Não vão! – seu rosto se contorcia em meio às pontadas vindas do ferimento, e Emmett tentava conter seus espasmos – Não vão...

            E, por fim, ele desmaiou. Emmett o levou para o sofá, colocando um cobertor sobre ele.

_Eu não acredito que concordei com isso! – suspirou Alice, exasperada, sentando-se no chão – No estado dele, eu deveria saber que isso poderia provocar um colapso!

_Edward sabia o que estava fazendo – retrucou Kiyone, andando impaciente pela sala – E isso só deixou claro o que já sabíamos desde o começo.

            Bella estava completamente fora de sintonia. Sentada no chão ao lado do sofá, afagava os cabelos de Edward e observando os traços do seu rosto. Por um momento, conseguiu fazer com que tudo evaporasse, e preencheu sua mente com a imagem dele adormecido, ou o que quer que aquilo fosse. Tão tranquilo, tão puro e calmo... como um anjo ruivo repousando.

            E, então, lembrou-se de por que ele estava daquele jeito. E todo o medo voltou a inundá-la.

            Ele havia visto algo horrível. Algo que provavelmente envolvia a sua morte. E a de mais alguém, algo tão terrível e desesperador que o fez entrar em colapso.

            Seria a imagem da derrota deles? E, se fosse, o que poderiam fazer para impedir?

_Droga, estou com sede – Edward sussurrou, por fim – Muita... sede...

_Eu disse para você caçar antes de virmos – ela disse, aliviada por ouvir a voz dele.

_Não, não é essa sede – ele retrucou, abrindo os olhos – É mais como... água, sabe? Pode pegar um pouco para mim, por favor?

            “Água?”, ela não sabia mais o que pensar. Levantou-se e pegou um copo para Edward, que bebeu sofregamente. Depois, respirou fundo por alguns instantes, e disse:

_Isso é muito estranho... Tudo isso... – respirou fundo outra vez – Está ficando pior, eu posso sentir. E essa visão, céus... acho que nunca fiquei tão assustado em toda a minha vida quanto agora. E, agora, sei que preciso estar lá a qualquer custo. Eu preciso... salvar... vocês.

_Edward, pare com isso – ela retrucou – Agora mesmo. Não pode levar todo esse peso nas suas costas. Isso vai levá-lo à loucura, entendeu? Não pode puxar para si toda essa responsabilidade!

_Eu vi você morrer, Bella! – ele a encarou. Havia qualquer coisa muito estranha em seus olhos, uma mistura de medo, teimosia e desespero – Eu vi você morrer, e jurei que jamais permitiria que isso pudesse acontecer, nem mesmo nas visões mais loucas da Alice!

_E se você morrer, como eu fico? – ela exclamou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas – Você que não se atreva a fazer isso comigo, ouviu?

_Bella... não, por favor, não chore – ele a abraçou outra vez, sentindo-se mal por ter falado daquele jeito – Não fale assim. Ainda podemos cuidar disso sem que ninguém se machuque.

_Não é o que essas visões estão dizendo – sussurrou ela.

_Ainda podemos lutar! – ele insistiu – Ainda estamos aqui, e prontos para o que vier pela frente. Se lutarmos juntos, eles não podem nos vencer. Não podem. Eu juro.

            Eles se encararam, por um instante, antes de Bella aninhar sua cabeça contra o peito de Edward. Ele começou a afagar seus cabelos, sussurrando gentilmente em seu ouvido para fazê-la dormir. Ela precisava descansar. Era engraçado, mas justamente ela, humana e frágil, lidava com aquela situação muito melhor do que ele.

            “Durma, Bella”, ele sussurrou, enquanto a levava para um dos quartos da casa e a colocava sobre a cama, colocando alguns cobertores sobre ela. “Espero que saiba que faço isso tudo por você... mesmo que você não consiga entender muito bem”.

            E, então, voltou para a sala. Era a hora de decidir um plano de ação. E, agora que o seu pressentimento sombrio assumira cores e formas, ficava ainda mais claro que precisavam estar acima de falhas. E, mesmo que seu corpo não ajudasse, mesmo que ele estivesse fraco e ferido, precisava estar lá independente do que qualquer um dissesse. Eles nunca entenderiam o que era estar no lugar dele. E teriam que respeitá-lo, e aceitar sua decisão.

            Era a sua chance de salvar a sua família. E ele não a recusaria por nada.

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            Quando Bella acordou, estava amanhecendo.

            Ela se surpreendeu um pouco ao perceber onde estava. Foi até a sala, e encontrou Jasper sentado em frente ao computador, com uma expressão compenetrada.

_Olá – cumprimentou ela, tímida, e ele acenou, sem desviar os olhos do que estava fazendo – Quando você chegou?

_Há algumas horas – respondeu ele – A propósito, sua caminhonete ficou totalmente desalinhada depois daquela batida. Não foi fácil trazê-la.

_Obrigada – ela teve que achar graça. Ele a observou com olhos inquiridores e perguntou:

_Como você está?

_Tão bem quanto possível – ela deu de ombros – E os outros?

_Estão levando. Emmett saiu com o Edward para caçar. As meninas estão dando uma olhada pela região. Acho que você vai ter que se contentar com a minha companhia, então – e deu um sorriso triste.

_Descobriu alguma coisa?

_Bem, Rosalie pegou uma ligação ontem à noite. Aparentemente, era a Emma pedindo para o Will arrumar um carro. Eles estão sendo cautelosos, não usam o telefone a menos que seja absolutamente necessário. Talvez saibam que podem estar sendo rastreados.

            E, então, fechou o computador, e disse:

_O que acha de darmos uma volta para você conhecer melhor o lugar?

_Sério? – os olhos dela brilharam.

_É claro! Isso aqui não foi batizado de Meadows of Heaven à toa.

            Ela concordou na mesma hora, e vestiu todos os agasalhos que encontrou. Quando voltou, já encontrou Jasper parado à porta, fazendo um gesto para que o acompanhasse. Assim que ele abriu a porta, ela sentiu uma lufada de vento gelado e apertou o casaco contra o corpo. A luz estava muito forte, e por alguns segundos, ela não conseguiu enxergar nada.

            Quando seus olhos se acostumaram à claridade, porém, sentiu-se recompensada. À luz do dia, o lugar era ainda mais encantador. Os pinheiros cobertos de neve, as montanhas azuladas e distantes, o céu azul límpido, tudo isso fazia com que se sentisse inexplicavelmente em paz. É claro, estava morrendo de frio, e sentia que nem todas as roupas do mundo seriam capazes de aquecê-la, mas naquela hora achou que valia a pena.

            Olhou para trás, e percebeu que o rosto de Jasper cintilava ao sol. Ele também tinha um olhar fascinado ao observar o lugar. Só então lembrou-se que Jasper também não conhecia a casa, e que a experiência deveria ser tão nova para ele quanto para ela.

            Meadows of Heaven. Prados do paraíso. Um nome que chegava a ser irônico, graças ao inferno que estava prestes a se instaurar ali.

             Ela não sabia em que pensar. Seria certo ter esperança ou ser realista a respeito de suas chances? Deveria acreditar nas visões de Alice e Kiyone ou esperar que talvez ainda houvesse alguma chance de salvação para ela? Afinal de contas, em que deveria acreditar? Pelo que deveria esperar?

            E Edward... céus, até onde ele pretendia levar aquela idéia estúpida de lutar mesmo ferido? Como ela poderia impedi-lo? Sentiu um aperto no coração ao pensar nas palavras dele. Estava tão claro, e ela se recusara a ver... ele queria terminar aquilo a qualquer custo, e lidava bem até demais com a idéia de morrer tentando. Desde o começo era assim. Ele estava sendo impulsionado em parte pelo rancor e raiva, e em parte pelo desejo de protegê-los.

            Desde o começo, ele estava lutando consigo mesmo. Uma luta perigosa e destrutiva.

_Bella, você está aflita – disse Jasper, sem a encarar – Mais do que deveria.

_E não é pra estar? – ela exclamou, sua voz mais aguda do que gostaria – Olhe pra onde estamos! Olhe o que estamos tentando fazer... – fechou os olhos, tentando recuperar a calma – O que diabos está acontecendo aqui?

_Acredite, todos nós estamos completamente apavorados – ele começou a falar, e de repente Bella foi se sentindo mais calma – É uma coisa muito nova para nós, também, mas estamos fazendo o melhor que podemos.

            Ela sabia disso, por isso não respondeu. Em vez disso, manteve os olhos fixos na montanha.

_Vai dar tudo certo, confie em nós – ele sorriu – Não vai ser a nossa primeira batalha.

            Confiar... sim, era exatamente isso que precisava fazer. Mas como? Era mais fácil falar que fazer.

_Ah, falando neles, eles já voltaram – ele disse, depois – Espero que tragam boas notícias.

            Mas as expressões deles não pareciam trazer boas notícias. Pelo contrário, estavam tomadas pela preocupação e medo, e os olhares se depositavam todos sobre Alice e Kiyone. Logo, Bella percebeu que elas haviam tido alguma visão relacionada ao que acontecera na noite anterior. Assim que eles chegaram, todos tomaram o rumo da sala. Bella simplesmente se recusou a pensar assim que sua mente começou a dar os primeiros sinais de que iria entrar em pânico, e também entrou.

_Não temos mais tempo! – ela encontrou Alice dizendo – Vai acontecer essa noite. Eles mudaram de planos e decidiram acelerar a vinda para cá. Provavelmente, graças a alguma visão da Emma eles conseguiram descobrir uma forma de chegar aqui antes. E pode ser que eles saibam que estamos nos preparando para uma luta.

_Então precisamos fugir! – opinou Emmett – Estávamos contando com esse tempo para o Edward se recuperar, o que não aconteceu. Você o viu hoje, ele não conseguiu caçar! E estamos falando de bisões, e não de ursos ou lobos ou qualquer coisa assim!

_Fugir para onde, hein? – retrucou Rosalie – Pedir abrigo à Tanya para ela nos escorraçar e nos jogar diretamente na frente deles? Agora não temos mais tempo. Precisamos lutar – e, depois de respirar fundo – mas precisamos de toda a ajuda com que pudermos contar.

            Ela lançou um olhar significativo para Bella, que apenas ouvia, impedindo a si mesma de processar todas as informações. Foi então que alguém protestou:

_Não se atreva nem a cogitar essa idéia! – era Edward, furioso.

_E você tem alguma idéia melhor? – ela reagiu.

_Eu tenho – ele rebateu – Não fazer o que você está pensando, para começar!

_Chega, vocês dois! – então, Alice interveio – Chega, está bem? Nessa visão, confirmamos o que vimos antes. A diferença é o lugar: não era no meio do campo, como da outra vez. Era aqui, dentro da casa, e tinha uma de nós gritando, e alguém morto na porta. Você sabe disso, Edward, você viu também. Não adianta, ou ficamos todos juntos, ou estamos todos ferrados! Todos!

_O que está acontecendo? – só então Bella conseguiu articular as palavras – O que vocês viram?

_Eles vêm mais cedo – explicou Kiyone – Esta noite. Tínhamos um plano de defesa: você ia ficar aqui, com metade de nós. A outra metade iria tentar separá-los e pegá-los um a um. Mas as visões mudaram: se fizermos isso, estaremos perdidos. E agora estamos sem tempo. Parece que levá-la conosco para o campo de batalha é a única alternativa, mas isso poderia confirmar a outra visão, a de ontem!

_Pense bem, Edward – argumentou Emmett – Lá, poderemos protegê-la melhor. Estaremos todos lá!

_Eles podem tentar nos separar – rebateu Edward – Como nós pretendíamos fazer com eles.

_Não... eles não vão – então, Jasper se manifestou – Tenho uma idéia. Que Deus nos ajude, mas acho que essa é a nossa única chance de sair dessa.

            Os outros o encararam, surpresos e esperançosos. Ele pegou um pedaço de papel e uma caneta, e começou a desenhar, sem os encarar.

_Nós somos em sete, certo? – ele fez dois círculos concêntricos na folha – Tem uma clareira a uns três quilômetros ao norte daqui que pode servir. Ela fica numa parte mais fechada da floresta, perto da base daquela montanha maior. O que temos que fazer é confinar a batalha a essa clareira. Serão três aqui, na parte externa – desenhou três pontos no círculo maior – e quatro aqui, no centro. – fez três pontos no centro do círculo menor, e um quarto ponto entre eles – O resultado disso vai ser a eliminação de pontos cegos – e então, uniu os pontos do círculo maior com linhas, e depois os do círculo menor.

_Seu plano é brilhante, Sherlock, mas nem tanto – ironizou Edward – Somos seis, não sete.

_Somos sete, sim, Edward – disse Bella, a voz rouca, enquanto pegava a caneta das mãos de Jasper e observava o papel – Alguém precisa servir de isca, não é?

_Você não está... ah, não mesmo, Jasper, pode esquecer! – ele reagiu – Não vamos expô-la, eu já disse!

_Edward, cale-se! – ela retrucou, enquanto marcava um asterisco no ponto central – Eu sou esse ponto aqui, não sou?

_Exatamente – confirmou Jasper – Olhe, sei que deve estar sendo difícil para você, mas precisamos pedir que você nos ajude. Pode ser a nossa chance de terminar tudo isso e ainda ficarmos bem. Não vamos te forçar a fazer nada. Eu estava pensando em deixar Edward, Alice e Kiyone aqui no centro, enquanto eu, Emmett e Rosalie ficamos do lado de fora. Ou seja, estaremos te protegendo.

_Não, tudo bem – ela concordou prontamente – Fico até feliz em poder ajudar!

_Bella, precisamos conversar. Agora – sibilou Edward, se levantando e a puxando pelo braço até o lado de fora da casa. Ainda lembrou-se de acrescentar, quando já estava na porta – E em particular!

            Ela não ofereceu resistência, até porque sabia que seria completamente inútil. Eles caminharam até o início da floresta, e pararam. Edward a encarava com um olhar pesado e furioso, enquanto Bella lhe lançava um olhar de puro desafio. Por algum tempo, ficaram se encarando, até que, por fim, ela quebrou o silêncio, dizendo:

_Pode começar a me dar a bronca quando quiser.

_Ah, que bom que já tenho a sua autorização para começar, senhorita Swan! – ele exclamou – Afinal de contas, o que você acha que está fazendo? Somos mais fracos, não temos um plano decente, eles estão vindo preparados para uma carnificina e a essa hora já devem saber tudo o que poderiam saber sobre nós. Nem nós temos muitas chances contra eles, quem dirá você!

_É, eu sei – ela deu de ombros – Mas é o melhor que temos, é o nosso plano e ele precisa de mim. E eu estou no meio disso, então não vou perder a chance de ajudar! E se tudo o que eu posso fazer é ser a isca apetitosa no meio da ratoeira, ótimo!

_Você não faz idéia do que está dizendo! – ele sibilou, fuzilando-a com os olhos – Então é isso o que você quer, não é? Morrer despedaçada por aqueles asquerosos? Bancar a heroína? Mas saiba que, se algo te acontecer lá, não é você quem vai ter que se contorcer de desespero pela eternidade, sou eu!

_Ah, tá, eu não posso fazer isso, mas você pode! – então, ela reagiu, raivosa – Eu posso ficar para trás sendo de novo a donzela indefesa, enquanto você vai lá ferido e fraco para enfrentá-los? Onde é que está a diferença, hein? O que você tá tentando provar?

_QUE EU SOU DIFERENTE DELES, DROGA! – ele berrou, por fim, fazendo-a recuar um passo, sobressaltada – EU QUERO PROVAR QUE SOU DIFERENTE DELES, E QUE DOU VALOR A ALGUMA COISA MELHOR DO QUE APENAS À MINHA EXISTÊNCIA MISERÁVEL! SERÁ QUE É TÃO DIFÍCIL PARA VOCÊ ENTENDER ISSO? OU SERÁ QUE...

            Mas ele não terminou a frase, porque no instante seguinte ela o beijou, fazendo-o se esquecer de tudo e de todos. Por alguns segundos gloriosos, ele se permitiu desligar do pesadelo que estava vivendo, e senti-la em seus braços, quente, pulsante, perfumada, tão extraordinariamente viva e real que era capaz até mesmo de fazê-lo se sentir vivo. Fechou os olhos e deixou que o momento o absorvesse e o conduzisse até onde quisesse. Então, suavemente, afastou-se dela.

_Respire, Bella – ele sussurrou no ouvido dela, zombeteiro – Acho que uma lição valiosa foi aprendida aqui.

_E que lição seria essa, senhor Cullen? – ela sussurrou de volta, ainda meio fora do ar. Beijá-lo foi um impulso que ela nem sequer tentou conter, até porque essa era a melhor resposta que poderia dar.

_Tenho que gritar mais vezes com você – e, então, ele e encarou e sorriu – Acho que gostei do castigo.

_Então, tudo isso... o que você está fazendo... é para se convencer de que é diferente deles?

_Em parte sim. E em parte... acho que é para tentar fazer alguma coisa pela minha família. Eu sempre fui a maior fonte de problemas dos Cullen, acho que é justo tentar compensar de alguma forma.

_Edward bobo – ela riu – Você não tem que provar ou compensar nada para ninguém.

_E você, Bella boba? Por que está fazendo isso?

_A resposta não é óbvia?

_Nada em relação a você é óbvio.

_Eu faço isso por você. Pra te salvar. Você sabe que eu sempre quis isso. Além disso – ela ficou mais séria – não acho que a minha participação nesse plano seja algo que possa ser discutido. Você mesmo disse, eles têm toda a vantagem. Então, se eu sou o único trunfo, preciso estar lá também.

            Ele a encarou. Ele sabia de tudo isso, sabia que eles precisariam dela. Mas não podia deixar que ela se ferisse, não podia permitir que ela corresse esse risco! Então, percebeu que seus temores se confirmavam, e ele sentia como se tivesse que escolher entre ela e sua família. Uma escolha injusta e cruel demais, algo com que não podia arcar.

_Está bem – ele disse – É seu direito. E eu vou estar lá também. Nada vai acontecer a vocês. Eu prometo.

            Eles se encararam, e acenaram afirmativamente. Não eram necessárias palavras: o momento de decisão estava se aproximando, e muita coisa estava em jogo. Mas os dois estariam lá, e os dois lutariam. Era impossível tentar prever quem venceria aquela batalha, mas uma coisa era certa: aquela seria uma batalha para ser lembrada pela eternidade.


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