Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 8
O Enamorado




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I

 

A luva preta, que aquele papel misterioso fez aparecer, ainda estava em cima da estante do quarto do hotel, esperando por ele.

Já não tinha mais o papel misterioso no bolso, perdeu junto com o choque que teve, vendo Sakura. 

Não fazia mal. 

Pela primeira vez, ele, Syaoran, que sempre soube o que fazer, ficou sem saber o que pensar, nem o que fazer.

Apenas a voz da irmã Fuutie ecoava em sua mente.

"Acho melhor você falar logo ou vem outra pessoa e vai roubar a Sakura de você".

— Mas eu falei… 

Falou. Falou no parque do pinguim, falou no aeroporto, falou quando ela terminou de transformar as cartas. Em troca, ouviu a mesma coisa dela, no alto daquela torre onde estava a carta "esperança".

Em uma cara que ela enviou, ela tinha escrito, com todas as letras, que a cara sem nome em forma de coração era para ele, pelo enorme amor que ela sentia por ele, que só se deu conta quando ele partiu.

Tudo mentira. 

O coração de Sakura parecia que tinha espaço para mais uma pessoa.

Syaoran contou no relógio os minutos e segundos que aquilo durou. Três minutos, 52 segundos sem desgrudar os lábios.

Queria fazer uma surpresa para elas, mas ele quem foi o surpreendido.

Ele nunca entenderia como Tomoyo, que sempre apoiou os dois, faria uma coisa dessas com ele.

Pela primeira vez, seu coração sentiu uma pontada de choque, uma pontada de raiva contra Tomoyo.

A luva misteriosa soltou raios negros quando sentiu isso. Uma vertigem apareceu nos seus olhos.

Balançou a cabeça e pensou em discar para Sakura. Precisava ver a garota hoje, não amanhã.

— Syaoran…

A voz misteriosa, grave como o trovão, profunda como uma caverna, apareceu em sua mente.

— O que você quer…

— Você não precisa sentir raiva… 

Fechou os olhos com força e respondeu:

— O que eu tenho que sentir então?

— Você tem que saber que um poder muito grande circula dentro de você… 

Ele sorriu irônico.

— Que poder gigante é esse, que eu nem consigo entender o que eu tô sentindo aqui, nem consigo lidar com isso aqui, dentro de mim? Me fala!

O chinês não aguentou e começou a chorar.

— É normal você se sentir assim, mas não é normal você não fazer nada…

O pequeno guerreiro chorou por um tempo, deitado na cama, antes de responder:

— E o que eu vou fazer? Ligar pra Sakura e ouvir a verdade? Ouvir que "olha, Syaoran, você é um cara muito legal, mas sabe como é, eu achei a Tomoyo pra me fazer companhia! Ela é a minha namorada agora, está bem?", é isso que eu posso fazer?

— Você não precisa deixar de amar a Sakura, você só precisa mostrar pra ela que você tem esse poder gigante dentro de você, você precisa mostrar pra Tomoyo que você tem esse poder, que você pode usar isso a qualquer momento…

Syaoran não entendeu o que ele quis dizer, mas finalmente, parou de chorar.

A luva continuou:

— Tomoyo nunca vai entender toda a dor que você passou. As noites sem sono, as manhãs de frio, passar o dia sob o calor escaldante das fendas na Terra, que vão até o núcleo do planeta… Ela nunca vai entender o que é magia… 

— Mas ela não vai entender mesmo, ela não nasceu com isso… 

— Mas você é especial. Você nasceu com esse dom, que um dia chamou de maldição. Você nasceu sabendo ver espíritos e aprendeu a conversar com eles, junto quando os comuns te chamavam de louco, e eles estavam errados… 

O chinês estranhava mais e mais o papo daquele objeto.

— Não fique assim. Você não precisa deixar esse seu amor pela Sakura acabar… Você só precisa mostrar para a Tomoyo o que você é, você precisa mostrar para ela o resultado de todo esse treinamento… Apenas isso e o caminho vai estar livre para você…

Com o rosto franzido de desconfiança e medo, o Cardcaptor pegou aquelas luvas e jogou dentro da gaveta da estante.

 

II

 

Noite.

O prato de chop suey estava quente e maravilhoso na sua frente, fora que o cheiro do Dim Sum, sua comida favorita, subia as narinas como um odor suave de comida da mãe.

Lembrou-se que o homem que preparou era um compatriota de Hong Kong, que vivia há dez anos na terra do sol nascente.

Sentiu-se feliz por falar cantonês com alguém, depois de tanto tempo.

Sentiu a textura dos pauzinhos chineses ao seu lado, mais grossos que os japoneses, sentiu-se feliz mais uma vez, por se sentir em casa. O estômago roncou, pedindo por aquele prato, mas, por motivos que não sabia o porquê, Syaoran não sentia fome. 

Seu peito estava comprimido e seus olhos insistiam em chorar.

O vento frio da noite bateu nos seus braços, e ficou todo arrepiado. Não tinha trazido blusa, só sua camisa de botão verde e uma calça jeans.

O restaurante não estava tão agitado naquele dia de semana, mas também não estava frio para que usasse uma blusa de frio.

Lembrou-se que não trouxe nenhuma consigo.

Baixou a cabeça e tornou a levantar.

Goti, a moça loira de tranças estava na sua frente, mais bela que dá primeira vez, naquele vestido de verão verde, que valorizava seu decote, acompanhada com uma boina francesa vermelha na cabeça.

— Olá, Shorancito! Tá bem?

Ficou vermelho de repente e esqueceu da tristeza na hora. 

— Tou… tou sim!

Desatou a comer, como se nada o estivesse impedindo.

— Você por aqui, Godi… Godji…

— É Goti! – Gargalhou – Pra falar a verdade, meu nome completo é Gotzone Bengoetxea, só encurtei ele porque é meio difícil de falar, né?

— Não, não acho… Acho bonito… Meu nome também é difícil de falar na minha língua materna, tem muito tom…

— É mesmo, Shorancito? Como é?

— Pra falar a verdade, meu nome é Sai Long Li (細狼李), mas os japoneses não sabem falar meu nome, na entonação correta e ficou como Syaoran Li (小狼李) mesmo, até o hanzi tá errado… Fora que eles não sabem falar o ele… 

A indignação de Syaoran era motivo de riso para Gotzone.

— Você veio da onde?

— Sou da Espanha, mais precisamente, do País Basco. Na Espanha, os nomes em basco são muito esquisitos mesmo… 

— Entendo. Na China ninguém liga pro cantonês também e todo mundo fala com você em mandarim… Somos dois expatriados dentro do nosso próprio país.

Os dois gargalhavam.

— Que surpresa te encontrar aqui… Duas vezes na mesma semana.

— Eu não acredito que seja coincidência…

A moça basca inclinou-se mais ainda na mesa e o decote ficou bem destacado. O chinês não aguentou e virou os olhos.

— Eu só acho que algumas coincidências tem que ser mantidas sob controle…

Goti voltou para o mesmo lugar, só para não constranger mais Syaoran.

— Tava de passagem aqui, Gotzone, ou Isso só foi uma coincidência?

— Eu só vi você tristinho aqui e resolvi me aproximar, ver se você não tava precisando de alguma coisa… 

O Cardcaptor chamou um garçom e pediu para ele trazer um chá preto para ela.

— Quem sabe, só conversar? E… buscar entender como uma moça bonita como você veio falar com um cara como eu… 

O garçom veio com os copos de chá preto em instantes.

Gotzone se sentiu lisonjeada e vermelha com o elogio que o chinês fez para ela.

— Nossa, que cavalheiro! Vou aceitar seu chá, mas não quero comer nada não… – A espanhola foi tomando o chá, o chinês prosseguiu em sua refeição, e os dois continuaram conversando.

— Quem sabe porque eu te achei um rapazinho muito bonitinho, bom de bola, gentil e ainda por cima cavalheiro? 

Syaoran sorriu discretamente. 

— Você não sabe nada sobre mim… 

— Basta você querer que eu saiba, não é? 

— É… É verdade… 

Syaoran tornou a comer, e Goti voltou para o seu copo fumegante de chá.

— Talvez eu não saiba mesmo, Shorancito, mas tem coisas que ficam dentro da gente, sabe? Coisas que a gente não consegue esconder de ninguém, todo mundo vê. Acho que, aquilo que eu vi de você, me chamou a atenção, daí, eu fiquei preocupada com você, porque eu não estava vendo o Shorancito que eu conheci naquele dia no parque… entende?

O olhar de Gotzone era de súplica genuína. Cercado de desconfianças, de tudo e de todos, Syaoran preferiu acreditar naquele olhar, pelo menos uma vez.

— Entendi.

A moça basca segurou as mãos dele, com o mesmo olhar de súplica, só que mais lacrimoso e intenso ainda. Dessa vez, não teve como Syaoran desviar os olhos do decote dela, dos seios dela, mas suportou as consequências daquilo como um homem, se controlando ao máximo.

— Não deixe de ser quem você é por causa dos outros, Shoran… Seja ao máximo possível o que você é e a sua gentileza nunca vai te abandonar! Me promete? 

A moça, infantilmente, segurou no ar o dedo mínimo, apontado para ele.

Ele pegou o mindinho e juntou com o dedo dela também. 

— Eu vou tentar…

— Tentar já é alguma coisa…

A moça terminou o chá e se levantou.

— Posso te dar um abraço? 

— Pode…

Gotzone apertou o chinês com tanta força que foi a primeira vez que ele sentiu os seios de uma mulher contra ele, além das irmãs e da mãe, é claro, mas isso não conta. 

Já se acostumou a ficar vermelho como pimenta.

— Até breve, Shorancito…

Lá se foi a moça que apareceu para ele, pelas ruas escuras de Tomoeda, onde habitava um maníaco em busca das cartas Clow.

"Ele não vai atrás dela…", pensou.

Pelo menos agora sabia de onde ela veio, agora para onde ela vai e quando iriam se ver de novo, era um mistério.

Só de pensar nisso, lembrou-se do chop suey e do dim sum que deixou esfriando na mesa.

Quando viu, se tocou que já comeu tudo brincando, sem perceber.

Graças à magia estranha daquela mulher.

 

Continua… 


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