Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 4
A Costureira




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Capítulo 2

A Costureira

 

"Quando estou com problemas, não digo nada, mesmo que eu queira falar com você e ouvir sua voz.

Meu coração está confuso…

Há trilhas de vapor no céu azul, como um poder vindo da sua mão na minha… Então eu sinto que posso ir a qualquer lugar, cavalgando o vento…

 

"Não é maravilhosamente estranho, como até mesmo pedrinhas insignificantes podem virar, um dia, pedras preciosas?

Quando estamos juntas, apenas contemplado, de mãos dadas, tudo parece brilhar…

 

"O número de momentos nossos, com você, que eu simplesmente amo, continua crescendo e crescendo.

Eles estão virando sementes muito pequenas, pequenas e pequenas, pra um dia virar flores enormes.

Eu sei disso, em algum lugar do meu coração.

 

"Então, vamos continuar sonhando, pois assim que vamos abrir as portas do mundo.

 

"Está tudo bem, tudo bem mesmo!

Eu sei que milagres podem ocorrer…

Aí vou eu! Estou a caminho! Sempre abrindo minhas asas…

Sei que em algum canto, em algum lugar, alguma coisinha me espera…

 

"Então, vamos continuar sonhando, pois assim que vamos abrir as portas do amanhã.

 

(Tobira wo akete, Cardcaptor Sakura, segunda abertura)

 

Tomoeda, Japão

4 de Agosto de 2002

 

I

Diante da mansão Daidouji, uma moto parou, em frente às escadarias.

A motocicleta estava para ser descartada, mas antes que isso acontecesse, Tomoyo resolveu dar uma voltinha nela, por livre e espontânea coragem.

Assim que parou, viu um monte de homens saindo da enorme casa, carregando móveis e mobílias, direto para um caminhão.

A motorista daquela motocicleta de baixa cilindrada, retirou o capacete e ficou observando a cena, com lamento no rosto.

Seus profundos olhos azuis, sempre otimistas e alegres, não estavam nada contentes. Apesar de não parecer, o fundo deles continham uma tristeza que custava a segurar, a todo custo.

— Ora, ora, já tô vendo que a minha filhota já tá sabendo andar de moto!

Sonomi Daidouji apareceu.

Ela aplaudia a menina, com um sorriso no rosto.

Mesmo sorrindo, vestida com a roupa elegante de sempre, a garota na moto viu que a mãe também estava triste por dentro, apesar das aparências.

— Eu não tenho idade para isso, mamãe, você sabe bem disso…

— Mas você sempre quis andar de moto, né?

— Sim, eu quis. Felizmente, polícia não ficou embaçando. Aqui, em Tomoeda está todo mundo investigando o cara do beco…

— Eu sei que você tá triste, filhota, mas guarda essa experiência pra você… Vai te servir mais tarde…

Tomoyo desceu da moto e cumprimentou a mãe com um beijo no rosto, com a cara ainda um pouco enjoada, que raramente exibia.

— Eles já levaram tudo?

— Suas coisinhas ainda estão no quarto… Lá pra setembro, eles terminam tudo…

— Puxa vida, que presente de aniversário! – disse irônica. – Conseguiu aquela geringonça que eu te pedi?

A empresária puxou a filha para dentro da sala, quase totalmente vazia.

Havia uma caixa de papelão no meio do tapete, que os homens da mudança ainda não havia retirado.

A mãe de Tomoyo abriu e entregou um par de luvas e um pequeno bastão para ela, parecido com um cacetete.

A morena vestiu uma luva, esticou o bastão e ele se estendeu. Faíscas saíram da ponta do objeto.

A mulher de cabelos vinhos entregou também à filha um par de botas.

— Essas luvas e essas botas são um dos últimos experimentos das indústrias Daidouji. Elas vão te dar um pouco mais de força e velocidade, fora que o bastão pode ser  usado como uma arma de ataque leve, não tão forte pra causar nada de grave, mas ainda tem o impacto de uma pistola de choque…

— É os bastante…

Tomoyo vestiu a luva e ficou flexionando os dedos. Sonomi olhou para ela intrigada.

— Eu posso saber pra quê você quer isso?

— Para ajudar a Sakura, no que ela precisar…

— No que ela precisar? Até agora, eu não entendi o porquê de você ficar costurando pra ela essas roupas estranhas, ficar gravando aquele monte de vídeos, gastando dinheiro com efeitos especiais e…  

A costureira não reagiu.

— E olha que deu trabalho passar tudo pra DVD… Eu só fico pensando… pra que todo esse esforço?

— Sabe, mamãe… Acho que tudo isso sempre foi um esforço inútil, visando a nada, entende? Que nem quando a gente gasta dinheiro a toa, sem esperar nada de volta, como quando a senhora ajudou a mãe da Naoko…

— Tomoyo, aquilo foi diferente, ela tava precisando de ajuda!

— Com a Sakura é a mesma coisa! Ela sempre estava precisando de ajuda, uma ajuda que eu criei dentro da minha cabeça, mas agora, isso está para acabar… Ela tem a quem proteja ela… Eu sou só uma intrusa no meio de tudo isso… Mas isso está para acabar…

Tomoyo pegou a caixa com as geringonças que a mãe conseguiu e foi subindo aos poucos as escadarias, rumo ao seu quarto.

A nuvem de dúvidas, na mente de Sonomi, se dispersava aos poucos. Ela começava a entender a filha com mais claridade.

 

II

 

Tomoyo vestiu a luva e a bota novamente.

Aqueles eram os produtos finais das indústrias de brinquedos Daidouji.

Não existiria um outro como eles.

Por fora, era uma luva branca com detalhes roxos. A bota também era roxa.

Mas, por dentro, os dois equipamentos tinham pequenos sensores que captavam os impulsos nervosos, a partir dos movimentos dos músculos, e amplificam esses impulsos por meio de pequenos motores espalhados pela extensão do objeto.

Há dois anos que tinha desenhado aquilo. Entregou o projeto para a mãe e só agora é que ficaram prontos. Desde quando Sakura começou a capturar as cartas, sempre pensou em ajudar a amiga. O problema era que ela não tinha poderes mágicos para enfrentar a violência das cartas, por isso, limitava-se a filmar as ações da parceira querida.

Pensando nisso, parou para olhar fixamente para o retrato dos três juntos, em cima da estante.

Sakura estava ao seu lado esquerdo, Syaoran, no direito, e ela atrás deles, com uma câmera nas mãos.

Sempre foi assim que a coisa andou até então.

Era sua posição habitual ficar atrás de todo mundo. Dessa vez em diante, decidiu que não queria ficar mais atrás.

Naquele quarto quase vazio, cheio de caixas de papelão e madeira, a morena começou a fazer golpes de caratê.

Dava um soco no ar, depois mais outro. Dava um soco, seguido de um chute, depois mais um soco, até que, finalmente, quebrou uma das caixas de madeira do quarto nessa brincadeira.

O peitoral e um saiote de uma armadura vermelha como sangue saiu de lá.

Por fim, saiu um capacete, quicando no chão.

Tomoyo se arrepiou da cabeça aos pés. Uma voz, que parecia sair daquela peça de armadura, falou direto na cabeça da costureira.

— Você sabe, Tomoyo, que, pra enfrentar o que você quer enfrentar, é mais fácil me usando…

— Meu pai te usou e caiu do avião que ele estava, agora ele não está aqui, por que comigo seria diferente?

— Porque tem um poder diferente dentro de você… Um poder que supera o dele…

— Minha mãe sempre me ensinou a desconfiar das coisas que chegam fácil demais…

Tomoyo recolheu o capacete sinistro e viu o nome do pai entalhado no lado da bochecha. Sentiu uma pontada de choque preenchendo o coração lendo aquelas palavras e as lágrimas arderam nos olhos.

"*** Daidouji, hoplita da Ordem…

Respirou fundo e então respondeu:

— Eu acredito em mim mesma, Senhor Capacete…

— Mas esse acreditar é fraco… Você precisa acreditar em mim, você precisa acreditar no poder da Ordem!

— Serviu meu pai acreditar em você?

A armadura não respondeu.

Tomoyo recolheu o peitoral, o saiote, juntou tudo de novo na caixa, pegou uns pregos e um martelo e tratou de pregar bem, para que aquela coisa que lhe arrepiava a espinha não saísse mais de lá.

 

III

 

Tomoyo desceu as escadas da mansão e encontrou a mãe sozinha, sentada no sofá, olhando para o nada que estava na lareira, nem sequer lenha tinha mais lá.

A empresária levantou os olhos, quando ouviu os passos da filha:

— Não diga que é inútil o que você faz pela Sakura… Você pode estar menosprezando também o que ela faz por você, mesmo que pouco…

— Eu não vejo nada acontecendo, mamãe, como eu vou me sentir? Eu conheço ela há tanto mais tempo…

Sonomi sorriu, vendo que seu palpite da outra hora sobre a filha era verdade.

— Você já falou pra ela que está de partida?

A morena se calou. Depois deu risada.

— Eu nunca abri a minha boca pra falar nada pra Sakura! Olha que corajosa eu sou! Eu sempre admirei a coragem da Sakura, por isso eu amo tanto ela… Eu sempre quis aquela coragem para mim…

Sonomi levantou-se do sofá, agarrou delicadamente as mãos da filha e ficou acariciando os dedos delas com o polegar de sua mão.

— Você não tem nada a perder, filha, contando a verdade pra Sakura, nada… Você só tem a ganhar…

— Mas mamãe…

— Por mais que você pense que essa batalha está perdida… Eu não acho que você está tendo uma relação honesta com a Sakura, escondendo tudo isso dela…

Tomoyo olhou para a mãe, dando um sorriso tímido, tentando contra argumentar, mas não teve forças e baixou a cabeça.

A mulher de cabelos vinho levantou a cabeça dela suavemente com o indicador.

— Não deixa a sua história terminar como a minha e a da Nadeshiko. Você vai odiar o Syaoran no final de tudo isso…

Tomoyo fez um visível não com a cabeça.

— Não vou deixar isso acontecer!

— Essa é a atitude!

As duas, mãe e filha, fizeram sim com a cabeça.

 

Continua…


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