Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 21
O Estrela




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Osaka, Japão

30 de agosto de 2002

 

I

 

Complexo de treinamento do Gamba Osaka

 

Já eram quatro horas da tarde. Sentado nas arquibancadas, Syaoran observava o final dos testes dos demais rapazes. Tinha muita gente que veio de fora de Osaka, mas a maioria era gente de lá mesmo.

Silvos de apitos eram soados a todo instante pelos auxiliares técnicos. Estava nervoso e ansioso com aquele som. Sakura e Fujitaka não puderam ficar com ele. Também não comeu nada o dia todo só para ir bem no teste, estava morrendo de fome. Foi um dos primeiros a fazer o teste, logo de manhã, e estava esperando até agora pelo resultado. Felizmente, até o final do dia sairia. Já tinha feito um teste no FC Tokyo e no Cerezo Osaka, mas foi reprovado nos dois. Se não desse certo, tentaria num time da segunda divisão.

Enquanto olhava para baixo no campo com um misto de tédio e ansiedade, viu uma mulher de cabelos trançados, loira, jovem e muito bonita, usando um abrigo esportivo. Ela estava acompanhada de outras duas jovens japonesas com o uniforme do Gamba Osaka. O chinês viu que ela conversava animadamente com um dos auxiliares, como se conhecessem. Era Gotzone.

Ele entrou em choque e, nesse exato momento, ela olhou de volta para ele e ficou acenando, feliz em ver o rapaz. Tudo o que Syaoran fez foi dar um tímido tchauzinho com a mão.

Voltou a apoiar o queixo na palma das mãos e a olhar com tédio para os testes lá em baixo. De repente, o rapaz sentiu um agarrão no ombro e eu beijão na bochecha. Em vez de ficar com raiva, ficou vermelho.

— Oi, Shorancito! Não sabia que cê tava aqui! – disse Gotzone, toda animada.

— É muita intimidade… 

— Não gostou? – A garota ficou olhando para ele apreensiva. O chinês voltou-se para o campo e soltou um tímido sorriso.

— Tá… É bom ser surpreendido às vezes… – respondeu Syaoran.

— Que bom, que bom que bom! – A mulher saiu aplaudindo de olhos fechados. 

— O que você tá fazendo aqui, Gotzone? – perguntou o chinês.

— Puxa vida, é mesmo, eu deveria ter me apresentado melhor quando eu te encontrei no restaurante, você estava tão tristinho que nem pensei nisso… – Gotzone remexeu o bolso de dentro do abrigo que usava, tirou uma fotografia e mostrou para ele. – É que eu sou meio que… famosa, sabe? Vim em Osaka pra uma visita na casa de uma amiga que joga no meu time, lá na Espanha… 

Na foto estava um monte de garotas de camisetas vermelhas alinhadas num campo de futebol, segurando um troféu. Syaoran tomou um susto vendo aquilo.

— Você é jogadora da seleção espanhola!?

Goti fez sim com a cabeça, de olhos fechados.

— Sou sim, esse aí é a foto do ano passado, quando a gente ganhou o europeu Sub-17…

— Desculpa, Goti, eu não sabia…

— Ninguém liga pra futebol feminino mesmo… Já ouvi muito disso que futebol é coisa pra homem… – Agora era Gotzone quem apoiava melancolicamente a cabeça nas palmas das mãos e olhava para baixo. Syao ficou preocupado.

— Não é que ninguém liga, mas, é que ninguém conhece muito, sabe? Não tem divulgação… – disse o rapaz.

— Agora você falou uma coisa que eu concordo! Agora é a sua vez de me dizer o que tá fazendo aqui, não é?

Syaoran olhou para ela e ficou perdido no sorriso maroto dela, o rosto em formato de maçã, os olhos tão claros quando o céu da manhã. Sentiu-se engolido por aquele olhar sorridente. Tentou desviar os olhos para baixo para escapar, como sempre fazia, mas deu de cara com o decote dela. Desde a primeira vez que a viu, percebeu que ela era muito sensual. Ou era só a sua imaginação? Para ele, aquela jovem mulher era muito bonita, muito bonita mesmo. De tanto demorar, Gotzone quebrou o encanto que estava sobre ele.

— Então, Shorancito, vai me dizer o que veio fazer aqui ou vai continuar olhando pros meus peitos com essa cara de bobo?

— Me desculpa! Me desculpa mesmo! Eu não tava olhando nada não! – o menino ficou tão envergonhado que esfregou as têmporas com força, culpando-se pelo único mísero segundo que ficou olhando para aquela parte do corpo dela. Gotzone percebeu que ele ficou tão encabulado que tentou quebrar aquela situação.

— Eu que tenho que te pedir desculpa! Tava brincando! – A jogadora gargalhou. – Mudando de assunto, acho que eu devia imaginar, você tá tentando entrar no Gamba, não é? Só tá aqui esperando o resultado sair, não é isso?

— Bem… É isso mesmo… Sou imigrante aqui, preciso trabalhar, me sustentar aqui, sabe como é, não dá pra ficar dependendo da minha mãe direto… 

— Eu acho muito bonita essa sua forma de pensar, sabia? Eu também tinha treze anos quando eu comecei a jogar bola na Real Sociedad… 

— Na Real Sociedad? Sério mesmo? 

— Sim… 

Os dois continuaram conversando sobre futebol a tarde toda. Falaram da família, falaram do lugar onde vieram e até mesmo Gotzone revelou que tem poderes mágicos.

— Você também conhece magia? – perguntou o chinês. Gotzone sorriu e fez os dois flutuarem alguns centímetros acima dos bancos com a força do pensamento dela.

— Shorancito, gente como nós está por toda parte, basta a gente ter um pouquinho de sensibilidade, percepção, sabe?

— Sei… Eu acho que eu não devia nem me espantar mais.

O tempo passou e nem viram quando o relógio mostrou que já era seis da tarde.

— Nossa, Shorancito! O tempo voou! 

— Voou mesmo, eu nada de saber o resultado dos testes! – Syaoran estava muito tenso. Goti chegou perto dele, puxou a cabeça dele para o colo dela e ficou fazendo carinho nos cabelos espetados dele. Foi o bastante para que ele voltasse a ficar vermelho como pimenta. Dessa vez, não se importou. Deixou ser levado durante o tempo que restava por aqueles carinhos. Aquelas mãos, aqueles dedos penteando seus cabelos faziam o pequeno guerreiro relaxar mais, mesmo com a cabeça nas coxas dela. Até que um silvo de apito quebrou o encanto dele.

— Já tão chamando, não é? – disse Gotzone.

— Sim, vou ter que ir lá pra baixo. Até que foi bom ficar aqui com você, Goti, você me ajudou a aguentar esse tédio todo… Só espero que dê certo… 

— Já deu, Shorancito, já deu. Só de você ficar pensando positivo as coisas começam a dar certo.

— Vai dar sim… 

— Bem, eu tenho que ir agora, quem sabe a gente não se vê, não é? Vou esperar você ir lá pra Euskadi jogar bola!

— Que Euskadi o quê! Quero ir pro Real Madrid jogar com o Zidane!

— Eu também gosto do Real Madrid! Pena que eles não tem um time de futebol feminino… 

— Uma pena mesmo… – disse o rapaz. Syaoran tentava se despedir da mulher, mas os olhares dela, os gestos, as palavras dela tornavam aquela despedida mais longa. Despediram-se por fim com um longo abraço e dois beijões que a jogadora deu no rosto dele.

— Se você não fosse tão novinho, eu te daria um beijão na boca, tá?

— Olha quem fala! Tá pensando que eu sou BV, é? Você é muito assanhada mesmo! Deve falar isso pra todos! E olha que eu já tenho namorada, eu já te disse!

Gotzone segurou o queixo dele e fez o pequeno lobo olhar para ela, fixamente em seus olhos azuis da cor do céu.

— Seu bobinho! Isso eu só tô falando pra você! – A moça deu um leve piparote no nariz dele e roubou um selinho sem que ele percebesse. Ela vestiu uma boina e saiu saltitando pelos bancos. 

Os meninos ao redor só de olho neles. Syaoran ficou novamente envergonhado. 

 

II

 

O carro de Fujitaka parou na frente do portão do complexo do Gamba. Já eram sete da noite e o sol já havia começado a se pôr. Uma multidão de rapazes saía de lá aos bolos. Sakura e o pai saíram do carro e esperaram ansiosamente. Haviam outros parentes e outros carros aguardando a meninada sair, alguns com faixas e festinhas, outros estavam mais sóbrios e só observavam. A maioria daquele pessoal pegaria um metrô de volta para casa.

Muita gente encontrava os pais e falava que não passou. A cena se repetia vez após vez e Sakura já pensava o pior. Ficou toda agitada, como quando as pessoas querem fazer xixi. Foi o pai que acalmou a cardcaptor um pouco.

— Sakura, ficar agitada não vai adiantar de nada!

— Eu sei, papai, mas o Shoran já foi reprovado duas vezes! Duas! 

— O não a gente sempre tem, só tá faltando o sim! Uma hora ele aparece… fica calma… – Fujitaka, carinhosamente, massageou os ombros da filha. Sakura respirou fundo e tentou se aquietar mais, mas só por um momento apenas, pois Syaoran foi um dos últimos a sair.

Ela correu na hora até ele e Fujitaka veio logo atrás.

— E então? – perguntou Sakura, tensa. O chinês estava sério que só. Passou um tempinho e um sorriso tímido desabrochou no rosto dele.

— Consegui! Os caras gostaram de mim!

Sakura nem esperou e deu um abração nele seguido de uma onda de beijocas na cara dele. Ela nem ligou que o pai olhava tudo ao lado deles. Os rapazes que estavam com o pequeno lobo na arquibancada olharam a cena e comentaram:

— Syaoran perigoso! Não deixa uma pra gente!

— Esse aí já tá pronto pra virar o terror!

— Já mal entrou no time e tá passando o rodo em todo mundo!

A garotada gargalhou. Sakura olhou confusa aquele pessoal e perguntou:

— O que eles tão querendo dizer, hein?

— Nada não, brincadeira besta dos meninos… – respondeu Syaoran.

 

Continua… 


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