Esperava em frente à entrada do cinema. O clima gelado de uma tarde normal de fevereiro o fazia se encolher sempre que o vento batia contra si. Em sua cabeça apenas pensava como alguém poderia demorar tanto para comprar um par de ingressos.

Observava as pessoas que chegavam em casais, adentrando o cinema. Não muito distante, garotas presenteando alguém com chocolate. Era aquela época do ano novamente, o temível San Valentin. Não que achasse ruim toda aquela comoção que a data trazia, ele mesmo estava em um encontro. Seu problema era não saber se portar em meio ao nervosismo.

O cronograma era simples em teoria: Iriam apenas assistir um filme, sugerido por ele. Depois ir para algum lugar comer algo e lá entregaria os chocolates que havia passado a noite tentando preparar.

Não havia complexidade em seu plano, mas na prática tudo parecia mais confuso. Tremia e ameaçava começar a suar frio.

— Rin? – escutou a voz do outro o chamando. – Consegui nossos ingressos. Vamos?

— Estou indo. – respondeu afrouxando o cachecol em torno de seu pescoço.

— Algum problema? – indagou percebendo o jeito estranho de Rin.

— Não... Não tem nada errado. Vamos logo, Sousuke. Senão não dá tempo nem de comprarmos pipoca.

Sousuke apenas sorriu acenando negativamente com a cabeça. Conhecia bem o temperamento de Rin e como era péssimo em disfarçar quando algo o incomodava ou ficava sem graça.

A ideia do filme havia partido de Rin, uma continuação que queria assistir. Sousuke não havia visto o anterior, nem conhecia a história, porém achou uma boa ideia de programa para saírem juntos e assim descobrir mais sobre o outro. O acompanhou para que comprasse sua pipoca, sempre atento as suas feições. Não deixou passar despercebido quando Rin pareceu recuar ao aproximar da entrada da sala, parecia que todos os casais da cidade haviam escolhido a mesma sessão. Discretamente Sousuke buscou pela mão livre de Rin, a apertando em total apoio e cumplicidade. Rin se permitiu sorrir levemente aceitando o gesto.

Durante o filme, Sousuke apenas observava as reações de Rin.  Sua concentração, o fato de quase nem piscar, a expressão de choro quando se aproximava do fim. Não ousava atrapalhar o momento do outro, sorrindo silenciosamente.

Quando o filme havia finalmente acabado e já se encontravam ao lado de fora do cinema, Rin ainda se recompunha de toda a emoção que a história havia lhe causado.

— Não esperava aquela reviravolta no final. – comentava ao usar as mangas para secar as lágrimas que ainda escorriam por seu rosto.

— Foi um filme bem diferente. – demonstrava interesse, mesmo não tendo prestado tanta atenção assim no que se passava na tela.

— Eu disse que era bom! – Rin seguia falando entusiasmado e Sousuke apenas ouvia.

Quando Rin percebeu que apenas ele falava, rapidamente se calou, constrangido. Sousuke sorriu como forma de conforto, sugerindo que fossem comer em algum lugar próximo, para continuarem o cronograma do dia. Mas antes iria no banheiro. Rin assentiu esperando em frente a entrada, onde havia esperado mais cedo pelos ingressos.

Colocou as mãos no bolso do casaco, lembrando do pequeno embrulho com os chocolates que havia feito. Retirou-os do bolso para confirmar se ainda estavam inteiros, logo os guardando novamente. Ainda não conseguia encontrar o momento certo para entrega-los. Talvez criasse coragem durante o lanche ou mesmo quando o outro voltasse. Na verdade, nenhum momento parecia bom.

Suspirou não conseguindo achar a coragem necessária.

— Rin! – assustou ao ter seu nome gritado ao longe. Virou-se para o lado que vinha a voz, reconhecendo não só o dono dela, mas quem o acompanhava.

— Oi... Nagisa... Rei... – respondeu não escondendo e desconforto.

— Não esperava te encontrar assim. – Nagisa parecia não perceber o desconforto do outro. – Gou disse que estaria ocupado hoje.

— Na verdade... – tentou falar, mas foi interrompido.

— Por que não vem com a gente? Estamos indo encontrar o resto do pessoal em uma lanchonete aqui perto.

— Nagisa... – Rei chamou a atenção. – Rin realmente parece ocupado. Do tipo, esperando alguém.

Mentalmente Rin agradeceu a Rei por ser a voz da razão naquele momento.

— Hã?! Não me diga... Rin está em um encontro? – o tom de surpresa e alto de Nagisa fez Rin corar instantaneamente. Sabia que falta um grau de “desconfiômetro” em Nagisa, mas havia momentos que exagerava.

— Rin? – Sousuke retornou já estranhando o transtorno. – Demorei?

— Ah... Era só o Sousuke... – Nagisa pareceu desapontado.

— O que esses dois fazem aqui? -  Sousuke também não demonstrava contentamento por vê-los ali.

— Sousuke pode vir com a gente também. – Nagisa não mostrava desistência.  – Quanto mais gente melhor.

— Nagisa... – Rin suspirava massageando as têmporas. – Como dizer de uma maneira que você entenda?

— Nós estamos em um encontro agora. – Sousuke falou sem o menor filtro, fazendo Rin ficar em estado de choque.

— Encontro? – Nagisa se fazia de confuso, quase inocente, enquanto Rei pareceu já ter entendido o recado e o tom de ameaça.

Sousuke, decidido a dispensar os dois, puxou Rin pelo cachecol e o beijou ali mesmo.

Rin não esboçou reações ao primeiro instante, logo ficando vermelho ao cair a ficha da situação, tentando afastar o outro. Porém acabou se rendendo ao beijo.

Um beijo possessivo, porém sem pressa, como o tempo pertencesse a eles. Sousuke passava suavemente a língua pelos lábios Rin, pedindo para aprofundar o gesto. Rin acabou cedendo, resmungando quando o beijo foi encerrado com uma mordida em seu lábio inferior.

Voltando a realidade, Rin manteve o olhar direcionado para o chão, vermelho e sem coragem de encarar ninguém naquele momento. Sousuke mantinha a postura firme, esperando que os outros dois esboçarem alguma reação e se tocassem.

Nagisa reagiu como se aquilo fosse natural com apenas um “Então é isso?”, animado como sempre. Rei apenas confirmou seu real desconforto sobre o olhar de Sousuke.

— A gente já entendeu o recado, certo Nagisa? – desviou do olhar de Sousuke, puxando Nagisa pelo braço. – O pessoal ainda está nos esperando.

— Divirtam-se vocês dois! – Nagisa gritou já sendo arrastado para longe.

— Por que fez isso? – Rin indagou cobrindo a boca com as costas da mão. – Na frente deles?

— Pareceu o jeito mais rápido de faze-los entender e irem embora. – Sousuke não parecia preocupado com a situação. – E também você pretendia contar para eles, não é?

— Não era assim que eu tinha planejado... – desviou o olhar e o outro apenas deu de ombros. – Já que tudo foi pro espaço mesmo... – continuou colocando as mãos no bolso e retirando o embrulho com os chocolates. – Acredito que estejam ao menos comestíveis. Gou passou o dia tentando me ensinar a prepara-los direito. – estendeu o embrulho, esperando que o outro pegasse, porém não se atreveu a encará-lo.

Sousuke sorriu pegando o embrulho e abrindo com cuidado. Escolheu um dos chocolates e levou a boca.

— Não estão ruins. – avaliou o chocolate, conseguindo atrair a atenção de Rin. – Não chegou nem a experimentar?

— A última remessa não... – confessou. – Não aguentava mais ver doce na minha frente.

— Então eu fui sua cobaia no final?

— Minha mãe experimentou antes... Apesar de que eu não sabia se ela tinha dito gostar só pra me agradar.

— Então você devia provar também. – completou, pegando mais uma chocolate e, o segurando entre os dentes, puxou o rosto de Rin, na intenção de fazê-lo engolir o doce.

— Por... Por que? Podia simplesmente ter me entregado normalmente. – reclamou terminando de engolir o chocolate.

— Achou ruim?

— Na verdade... Pensei que tinha ficado pior... – respondeu percebendo o duplo sentido da pergunta. Tentou enfatizar que se referia ao chocolate. – Estou com frio... Podemos ir pra sua casa? – indagou tímido, aproximando-se esperando a reação do outro.

— Claro. – respondeu em um sorriso, passando o braço em torno de Rin, o abraçando.