Someday escrita por Mrs Chappy


Capítulo 1
Viagem no Tempo


Notas iniciais do capítulo

Visto que ando um pouquinho sumida decidi actualizar as minhas fanfics HK com esta oneshot. Foi uma ideia que tive algum tempo e que amo. É simples, a narrativa é muito breve na verdade. Foquei-me no essencial, já que era para ser uma coisa breve porque não tinha tempo para mais. Mas gostei do resultado e espero que também possam gostar.
Beijinhos e boas leituras.



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A cidade de Karakura não era mais a mesma. Com a lua a raiar numa cortina negra, uma ceifadora velava pelas almas que não encontravam paz, deambulando pelas ruas desertas.

Uma substituta de shinigami, o seu nome era Kurosaki Karin.

Uma jovem em plenos dezassete anos, treinada por Urahara Kisuke e Yoruichi Shion. A guerra travada pela Soul Society e os arrancares acabara mas ainda existiam muitos inimigos para aniquilar. Eles nunca tinham fim. Por vezes o Gotei 13 mandava reforços à humana como o seu irmão mais velho, taicho por excelência, Kurosaki Ichigo, ou o seu melhor amigo, também ele um capitão: Toushirou Hitsugaya.

Porém, aquela noite era diferente. Karin trajava o kimono negro mas a zanpakutou repousava em sua cintura quando se dirigiu ao compartimento secreto da loja de Urahara. Após um longo tempo de treinamento e batalhas, decidiu tirar umas férias e visitar o seu amigo na Sociedade das Almas.

Não chamou por ninguém ou sequer pedira autorização. Limitou-se a passar o portal sem olhar para trás. A travessia fora tranquila e ao contemplar Seireitei permitiu-se caminhar com calma enquanto tinha uns feijões doces numa das mãos. Sabia que Toushirou era viciado naqueles doces, como uma criança. Riu com seu pensamento, discreta.

Por vezes ela sentia necessidade de divertir-se. Deixara de jogar futebol com os seus amigos, na verdade, mal saía de casa como uma jovem qualquer da sua idade. O cargo ocupava muito do seu tempo e disposição. Não conseguia entreter-se sabendo que alguém poderia precisar da sua ajuda.

As visitas a Toushirou eram o que alteravam a sua rotina imposta. Passavam dias inteiros a conversar (ou ela a falar e ele a escutá-la), alegrando-se com passeios rotineiros e banais ou até mesmo quando ocorriam batalhas contra invasores de fraco poder, ela conseguia sorrir divertida. A companhia do Toushirou a alegrava, e por vezes a lembrava de como era fácil voltar a ser uma Karin mais relaxada e divertida… Sem ter todo o peso do mundo nas suas costas. Embora não o confessasse agora compreendia porque anos atrás quando conhecera Hitsugaya ele tinha uma expressão tão séria para a sua aparente idade e só pensava nas suas obrigações.

Sorrateira, adentrou pelo décimo bantai esquivando os guardas que não detectaram sua presença. Sorriu com isso, orgulhosa pelas suas habilidades.

Invadindo, de novo, o meu esquadrão? Não aprende nunca, Kurosaki?

Karin, saltou pelo susto, rindo baixinho por ter sido de novo apanhada pelo seu amigo. Parecia que jogavam e que ele sempre a encontrava. Virou-se para o capitão agora mais alto do que ela que a encarava com uma sobrancelha erguida e com uma expressão zangada.

Oh, há quanto tempo Toushirou! —O capitão suspirou, abanando a cabeça, reconhecendo que nenhum Kurosaki tinha emenda quanto à insubordinação do seu tratamento.

Hitsugaya-Taicho, Kurosaki. Ele começou a dirigir-se ao seu escritório sendo seguido pela mulher de cabelos negros, ignorando seu pedido.

É Karin, Toushirou. Não custa assim tanto, somos amigos afinal.

Ele limitou-se a suspirar quando, subitamente, ela se apoia nas suas costas rindo enquanto o abraçava. Sua pele se arrepiou com a respiração quente no seu pescoço, agradeceu mentalmente por ela não conseguir ver o seu rosto ruborizado. Após tantos anos juntos, ele reconhecia que Karin era diferente dos demais mesmo ele tentando demonstrar o contrário. Era só uma amiga, tentava dizer para si mesmo. Mas ele reagia de forma diferente, lhe tolerava coisas que não o permitia a mais ninguém. E ele gostava disso, apesar de não compreender o porquê.

“— O mestre sabe o motivo. Apenas não o quer reconhecer. Você a ama.”

“— Não comece outra vez com essa história, Hyourinmaru.”

“— Sou a sua zanpakutou, minha função é ajudá-lo mestre. Mesmo sobre os seus sentimentos.”

O albino optou por não responder mais ao seu amigo que o inquietara. O turbilhão de pensamentos e sentimentos era cada vez mais frequente. Sentia-se ansioso, queria fazer algo… Desejava por isso, mudar aquela situação, mas não sabia ao certo o quê ou como. Estava confuso. Nunca se sentira assim por ninguém, nem quando considerou estar apaixonado pela sua amiga de infância, Hinamori Momo.

— Toushirou está se sentindo bem? — A voz de Karin transmitiu a sua nítida preocupação fazendo com que ele direccionasse seu olhar para ela. Permitiu-se sorrir discretamente, querendo acima de tudo tranquilizá-la. Não suportava vê-la preocupada, mesmo por si.

— Sim, só pensando nas besteiras que a irresponsável da Matsumoto aprontou na minha ausência.

Hitsugaya tivera de deslocar-se a Rukongai inspeccionar a zona por causa da invasão de alguns hollows. Matsumoto ficara responsável pelo esquadrão e pela papelada na qual tinha a certeza que não estava feita. Suspirou, irritando-se brevemente com essa possibilidade. Karin o observava ainda desconfiada com a resposta do capitão, porém, ao compreender que não seria algo grave riu com o enfado do albino.

Os receios de Toushirou comprovaram-se ao abrir a porta do escritório sentindo o cheiro intenso a álcool e as garrafas e os papéis espalhados por todos os cantos. A temperatura baixou consideravelmente enquanto Toushirou contava mentalmente as punições para a sua tenente quando a visse.

Karin segurou o riso ficando ela própria surpresa pela confusão. No entanto, um pormenor distinto chamou sua atenção, dirigindo-se a ele. Inicialmente, parecia uma carta. Reconheceu a letra de Matsumoto ao ler no topo o seu nome escrito. Ergueu a sobrancelha, desconfiada.

— O que essa Matsumoto está aprontando? — Toushirou pronunciou a pergunta que ela fizera em seus pensamentos ao aproximar-se de Karin notando também ele o objecto.

Vamos descobrir.

Ao abrir a folha, rapidamente notaram que tratava-se de um encantamento de um kido. No entanto, nenhum deles o conhecia. Seria um kido proibido? Por que Matsumoto iria entregar-lhe algo assim?

“O limite de milhares... sendo incapaz de entrar nas trevas, tiro a mão para reflectir... na estrada que aquece nas luzes, o vento inflama as brasas, no tempo que nos reúne… quando todos ouvem a minha ordem! Bala de luz, oito corpos, nove itens, livro dos céus, tesouro mórbido, grande roda, torre da fortaleza cinza, objectivo longe de dispersão luminosa e limpa quando accionada!” Hadou Shoutenkyu (Tempo verdadeiro aberto)  Ao ler o encantamento, uma esfera de reaitsu os paralisou e abriu um buraco negro em que os dois foram consumidos por ela.

Os dois sentiam-se presos durante minutos na escuridão até um feixe de luz os cegar e encontrarem-se de novo na Soul Society, mais especificamente nos portões do décimo bantai. No entanto, os guardas não os viam mesmo eles estando à sua frente. Toushirou aproximou-se para questioná-los mas nem se moviam, era como se fossem dois fantasmas.

Ele a encarou e os dois mantinham as expressões confusas.

— O que aconteceu? Que kido era aquele?

— Também não sei. Mas estes guardas… Eu não os conheço.

Karin arregalou o olhar e prestou mais atenção aos detalhes diferentes. De facto, o sol pairava no céu, num dia quente. No entanto, era início da noite quando estavam no esquadrão em pleno Inverno.

— Terá sido da magia? Por isso estamos assim?

Possivelmente…

Taichooooo! A voz estridente de Rangiku fez com que Toushirou e Karin olhassem para a tenente, ficando em choque.— Guardas, algum de vocês viu o capitão?

Lamentamos tenente Matsumoto, o capitão ainda não compareceu no esquadrão.

Rangiku suspirou dramaticamente, cruzando os braços.

— O Taicho sempre desaparece agora. E a papelada!? Fica toda para mim! 

Toushirou quase se esqueceu de que não era ouvido e gritaria com a sua tenente por tamanha audácia no seu comentário, contudo estava petrificado pela mulher ruiva à sua frente. Ela estava completamente diferente! Seu cabelo curto pelos ombros e suas feições pouco joviais denotando a avançada idade. Isso queria dizer que…

— … Nós avançamos no tempo? Estamos no futuro é isso, Toushirou? —Karin balbuciou a pergunta, seguindo o raciocínio de Toushirou.

Isso faria sentido. Mas porque Matsumoto os mandaria para o futuro?

— Talvez seja melhor procurarmos o meu “eu” daqui. —Karin o encarou, procurando entender a sua conclusão.— Matsumoto deveria ter algum objectivo com tudo isto. Nós não podemos interferir nesse tempo e espaço. Talvez ela quisesse que observássemos algo.

“— Ou que eu observasse.” —Concluiu em pensamentos. O ardor em seu peito aumentou, voltando a ficar confuso. Algo lhe dizia que tudo estava relacionado com  os seus sentimentos por Karin. Só duas pessoas conheciam sua diferença de comportamento perante a Kurosaki: a sua zanpakutou e a sua tenente. Era óbvio que estaria junto de Karin quando ela lesse a carta. Mas o que poderia um tempo avançado ajudar a clarificar o que ele sentia?

Eles dirigiram-se para a casa de Toushirou e ele esperava encontrar a sua habitação quase idêntica como deixada no passado mas esta tinha uma decoração muito distinta. Tinha mais flores e vegetação à volta, mais detalhes na pintura, adornando-a. Karin olhou admirada para a casa, bem mais bonita opinou para si mesma.

O forte poder espiritual ligeiramente diferente mas familiar a ambos fez com que os dois se voltassem encontrando um Toushirou adulto. O cabelo rebelde mais curto, o kimono aberto no peito e as mangas arregaçadas revelando parte dos braços. Estava consideravelmente mais alto também. Toushirou praticamente não se reconheceu enquanto Karin ganhava uma coloração avermelhada no seu rosto maravilhada com a beleza daquele homem. Seu amigo era lindo, no entanto nunca imaginou que seria possível ele ficar ainda melhor.

Escondeu discretamente o seu rosto quando o shinigami passou por si sem a ver, e o casal do passado o seguindo adentrando pela casa.

— Estou de volta. —A voz amistosa ao chegar à casa fez com que Karin procurasse o olhar de Hitsugaya, e numa pergunta muda ela questionou quem poderia viver junto com Toushirou, na qual ele limitou-se a abanar os ombros, não sabendo também. Desde que tornara-se capitão vivera sempre sozinho.

Com um shunpo veloz, uma mulher atirou-se aos braços do Toushirou do futuro, rindo alegre. O peito de Karin se apertou ao ver o corpo da mulher esbelta, torneada, cabelos longos pretos, com o rosto escondido no seu pescoço dando leves beijos. Nenhum dos dois precisou de palavras para compreender a relação que o casal à sua frente compartilhava. Toushirou correspondeu ao abraço, rindo ele também agora. O peito de Karin se apertou dolorosamente ao imaginar quem seria aquela mulher. Ela amava o seu amigo de infância, praticamente desde que o conheceu sabia que ele era diferente. Ele era a parte que lhe faltava. Mas não era correspondida, sempre acreditou nisso. E aquela cena parecia comprovar isso até escutar a voz da mulher e observar o seu rosto, a deixando estática.

— Demorou dessa vez, Toushirou.

— Prometo compensar. —O capitão sorriu afagando de leve o rosto da esposa.— Tirei o dia de folga. —A mulher riu alto.

— Matsumoto vai ficar furiosa por voltar a fugir do trabalho, Toushirou. Quem diria que o pequeno capitão responsável um dia iria andar fugindo do trabalho. —Em resposta à provocação, o Toushirou do futuro agarrou a sua mulher com mais força num abraço apertado sem desviarem o olhar um do outro.

Karin sabia que o seu rosto estava quente mas sentia-se gelada ao reconhecer-se naquela mulher. A felicidade, a vergonha e a surpresa não permitiam que falasse ou sequer procurasse a expressão do amigo ao seu lado. Hitsugaya por sua vez nunca precisou ver ou escutar a mulher para saber de quem se tratava. Só os cabelos negros já a denunciaram, até o seu jeito de ser… Só havia uma pessoa assim na sua vida. E só uma também ele imagina ao chegar a casa e ter o prazer de ser recebido por ela. Karin Kurosaki era a única que poderia entrar na sua vida plenamente. Ele sabia disso, sempre soube. Seu rosto estava rosado quando desviou o olhar para Karin encontrando-a tímida e envergonhada. Apaixonou-se por aquela face, sorrindo para si.

“— Você a ama, mestre.”

“— Sim, de alguma forma eu sempre soube disso. Obrigado Hyourinmaru.”

Eventualmente também teria de agradecer a Matsumoto.

— Karin...

O murmúrio despertou-os de seus pensamentos. Karin olhou para Toushirou mas rapidamente percebeu que não fora o seu amigo que a chamara, voltando-se para o capitão adulto ruborizando ainda mais por ver eles se… beijando. Na verdade, pareciam que iam…

Karin tapou desesperadamente os olhos com as mãos. Era vergonhoso demais!

— Karin. —Ela estremeceu com a voz de Toushirou tão perto de si. Temeu que pudesse ser do outro Toushirou com o seu "eu" do futuro. Porém, sentiu a mão em seu braço, destapando-lhe os olhos.— Voltámos.

— O… quê? —Karin olhou em volta e percebeu que era verdade. Estavam de volta ao escritório desarrumado e com a lua no céu. Com o rosto ainda vermelho procurou Toushirou que partilhava seu constrangimento.— Como... aquilo… foi o futuro?

A pergunta incerta balbuciada pairou no ar sem resposta por uns tempos, até que Toushirou riu. Karin o encarou, estranhando a sua atitude.

— Espero que sim.

Karin o olhou estupefacta quando ele se abaixou e acariciando seu rosto, beijou de leve seu lábio superior, com extremo carinho.

Ela reconheceu traços do homem apaixonado no seu amigo, sorrindo feliz. Sim, ela desejava que aquele fosse o seu futuro mas por enquanto iria desfrutar do seu presente em que ela e Toushirou eram apenas amigos que se beijavam descobrindo seus reais sentimentos um pelo outro.


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