O Leitor escrita por Cláudia Batiston


Capítulo 6
Capítulo 6




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Modred olhava para a chuva que caía lá fora, lavando as janelas. Duas semanas haviam se passado desde que Maze havia o beijado, o deixando com o gosto de quero mais em sua boca.

Ela andava tão atarefada com a família de Orion e com as exigências do ducado, que ele desconfiava que ela andava fugindo dele para não ter que explicar o que fora aquilo.

As dúvidas estavam em seu coração e o desejo agarrado em seu corpo, acordava no meio da noite com o cheiro dela agarrado em seu nariz e sentia que poderia perder a cabeça a qualquer momento se ela continuasse a evita-lo.

Após ter literalmente se atirado nos braços de Modred, Maze havia decidido manter a distância e pensava seriamente em ir embora com a família de Orion quando a viagem chegasse ao fim.

A noite acordava cheia de desejos por ele, até mesmo sussurrando seu nome, mas tinha muito medo do que ele iria falar se soubesse de seu passado.

Havia assumido a responsabilidade pelos filhos de Orion, era a desculpa perfeita para se manter distante dele e tentar acalmar o desejo e a vontade de estar ao lado dele.

Estava no quarto de brincar com as crianças, quando Catryn começou a passar mal. Sentindo algumas pontadas no ventre e não conseguia andar.

Com muita dificuldade a levou para a cama e a deitou quando a bolsa estourou e ela se viu em meio ao caos das crianças querendo saber o que estava acontecendo.

Deixou Anne cuidando de Catryn, colocou os pequenos para fora do quarto e correu em busca de Orion. Correu em direção a biblioteca onde sabia que tia Dot estava ensinando o jovem Gilles.

Seus cabelos estavam se soltando da trança, seu vestido estava molhado na parte da frente e sua agitação era enorme.

— Onde está Sir Orion? O bebê vai nascer. Catryn entrou em trabalho de parto.

Modred olhou para ela assustado, ninguém esperava que a criança tão cedo. Segundo Orion o parto estava previsto para mais algumas semanas.

— Vou busca-lo, deve estar na casa da guarda, preparando a viagem de volta.

— Modred, por favor, cuidado com a chuva e mande chamarem o doutor Wayne na vila. - Ele virou para sair, mas ela o segurou pela mão. - Você se esqueceu de colocar seu casaco, está frio lá fora. – Ele não pensou duas vezes e deu um beijo no rosto dela, havia esquecido que sua tia Dot estava lá, que saiu pisando duro em direção ao quarto de Catryn sem dirigir a palavra a Maze.

Quando elas entraram no quarto, encontram Catryn se contorcendo de dores, com o lençol sujo de sangue e água. Ficaram muito preocupadas, não seria um parto fácil.

Uma bacia com água morna e toalhas limpas foram providenciadas para que pudessem socorrer Catryn.

Orion tentou entrar no quarto, mas foi colocado para fora por sua tia e ficou rodando no corredor, juntamente com os meninos que não o queriam deixar a porta do quarto delas.

As crianças estavam todas agoniadas, até mesmo Paulinho que tinha dito que ela não morreria, mas que iria sofrer, estava agitado.

Quando doutor Weyne o parto já estava avançado e foi preciso todo seu conhecimento para que o sangramento parasse.

Era possível ouvir os gemidos e depois os gritos de Catryn do outro lado da casa. A jovem lady de cabelos ruivos e de lindos olhos azuis estava sofrendo para expulsar a criança de seu corpo e não havia muito mais que poderiam fazer.

O parto foi longo, cansativo e por fim resultou na perda de muito sangue, mas a menina nasceu saudável, de cabelos pretos e linda, como vários membros da família Wherlocke.

Lady Catryn estava exausta, praticamente adormeceu logo após o parto. O que possibilitou a Maze, com a ajuda da tia Dot, dar um banho de toalha nela e trocar os lençóis.

Quando conseguiu olhar para si, viu que estava com o cabelo todo bagunçado, o vestido molhado e sujo de sangue, precisava urgentemente de um banho.

O menino das botinas a ajudou a encher a banheira com água morna, quando entrou na água, sentia todo seu corpo relaxando após ter ficado tanto tempo tensionado com o parto da pequena Wherlocke.

Isto lhe deu uma saudades de seu filho, recebia sempre notícias dele, mas não podia vê-lo crescendo ou acompanhar sua educação.

Por mais que estivesse encantada por Modred, não poderia assumir que tinha um filho e com o nascimento da pequena filha de Orion, Maze estava decidida a ir embora e ficar ao lado do seu filho.

Com a ideia já fixa em sua cabeça, saiu do quarto, pronta para cuidar da criança enquanto Catryn se restabelecia, quando Anne veio informa-la de que tia Dot esperava por ela em seu escritório.

Aquele canto da casa raramente era visitado por alguém. Era uma pequena saleta, com vários livros, uma grande mesa de carvalho, cujas as paredes eram forradas de uma suave cor creme e a janela dava para a frente da casa. De lá era possível ver quem chegava e quem saia.

Era ali que tia Dot passava boa parte do tempo, bordando, costurando, ou estudando um pouco de tudo sobre a vida. Raramente os empregados eram chamados àquela sala e quando o eram, o motivo era que receberiam uma bronca pessoal dela.

O olhar que tia Dot lhe deu era duro, quase frio e não havia traços da bondade que ela sempre tinha. Era visível que estava irritada, pois torcia o detalhe do lindo vestido cinza que usava, e havia intimado Maze para seu escritório pessoal.

— Sente-se, Maze. – Ela se sentou em uma das cadeiras dispostas diante da enorme escrivaninha, cruzou as mãos sobre o colo e ficou esperando.

Não esperava ouvir palavras tão duras. Elas rasgaram seu coração e causaram uma ferida que se somava com a do passado e lhe causava profundas dores.

— Menina, você está conosco tem vários meses, já sabe que não sou de rodeios e que conheço bem os moradores desta casa, inclusive os empregados de primeiro ao último escalão. Sei que você veio para cá, fugindo de algum problema que deixou em Londres. - Quando Maze fez intenção de responder. Ela levantou a mão pedindo silêncio e continuou.

— Mas seja o que for, não posso fazer vistas grossas com o que você tem feito com meu sobrinho. E não é só porque ele tem o título mais elevado da nossa família, mas também por ele ter sido criado por mim. Ele está fascinado por você, pois não consegue ler sua mente, nem mesmo em situações em que poderia ouvir algum resquício, ele não conseguiu chegar perto de sua mente. Mas isto não significa que ele esteja interessado em você para um relacionamento mais sério. Tenha certeza que ele somente quer uma aventura passageira e quando o fogo dele estiver satisfeito, irá dispensa-la, tal como os primos dele fizeram antes de se casarem.

Foi como reviver todos os males que tinha passado em Londres, era como estar de volta aquele maldito cômodo pequeno e sujo. Novamente ela se sentia como uma prostituta que almejava ter alguma ascensão social se envolvendo com o senhor da casa.

Se sentia mal, suja, triste e com vontade de fugir. Será que não estava visível a todos, especialmente a tia Dot, cujo dom era o conhecimento, que ela lutava dia a dia para não se afogar na própria dor?

Mas tia Dot não tinha acabado, ainda tinha muito veneno para destilar:

— Acha mesmo que ele irá se interessar por uma mulher bem abaixo da posição social dele? Uma mísera empregada, que ele elevou a este cargo absurdo de assistente pessoal? Se você acredita que ele esteja interessado em você e que isto poderá te dar a ascensão que procura perante a sociedade, tenha certeza que não. Pois ele quer apenas um rabo de saia pra se divertir.

Suas palavras não combinavam em nada com a senhora que ela havia conhecido. Mas preferiu não questionar. Para que discutir se ela sabia que a sociedade sempre a veria assim? Ninguém acreditaria que mesmo que ela dissesse que amava Modred do fundo do coração.  Para que continuar ali? Estava mesmo na hora de partir, não poderia mais ficar.

Com o coração destroçado, pediu licença e se retirou da sala.

Modred estava à porta, tinha ouvido toda a conversa, ele estendeu a mão, mas ela se desviou dele, as lágrimas escorriam por seu rosto, havia se sentido tão suja quanto no passado e ele não seria capaz de aliviar suas dores. Não agora.

Correu para seu quarto e se jogou sobre a cama chorando, sem se importar se ainda tinha algum trabalho para fazer. E quando o choro foi acalmando a decisão de partir o mais breve possível já tinha sido tomada.


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