Draco estava sentado à mesa de uma taverna requintada pedindo o terceiro drinque da manhã.

Ele sabia que deveria estar ao menos tentando manter as aparências, pois aquele era o horário de seu turno.

Mas a verdade era que não importava, sua farda o protegia de qualquer fala de um simples camponês ou comerciante e sua inexperiência por ser novato ainda não o tornava interessante suficiente para os grandes jogos de corrupção da Polícia Militar dentro da Muralha Sina.

O equipamento o incomodava demais, não entendia a necessidade de mantê-lo sempre a mão, nunca pretendia ver o rosto grotesco de um Titã e havia garantido isso na noite de sua formatura ficando entre os dez melhores.

Ela também havia garantido, afinal fora a melhor da turma como sempre, poderia desfrutar de uma vida tranquila ao lado dele onde poderiam ter tido tudo.

Mas não, ela preferiu juntar-se aos loucos da Divisão de Exploração, abriu mão de uma vida de conforto dentro do coração do reino para ir com aqueles patéticos suicidas para além da Muralha Maria.

Draco jogou o copo de sobre a mesa com as costas da mão em um ataque de fúria.

Idiota! Fora um idiota completo!

Haviam namorado tanto tempo, estavam noivos, a pediria em casamento quando o treinamento de cadetes terminasse.

Sua linda noiva dos olhos castanhos e cachos perfeitos, boca rosada e alma inteligente... Sua primeira missão de exploração começou na última madrugada e já era para as notícias do retorno desastroso das tropas da Divisão de Exploração chegarem para ser o motivo de exasperação e chacota entre os integrantes da Polícia Militar pelo previsto fracasso.

Talvez a vergonha a fizesse repensar suas escolhas quando percebesse os risos...

Quem sabe o Cabeça de Cenoura não seria devorado ao menos? Daí pararia de ficar o tempo todo em cima de sua noiva... ex-noiva... Seria o maior favor que um titã qualquer já fizera por ele.

— Outra dose. – ele resmungou para o dono do estabelecimento que olhava sorrateiro por trás do balcão para ele.

O corpulento proprietário serviu-lhe outra dose suportando o ataque desnecessário do jovem apenas por causa de sua posição e do baixo movimento no estabelecimento na última semana. Nervosinho ou não ele escolhera uma bebida bastante cara, então gostaria que ele pedisse ao menos mais três doses para que o esforço de aturá-lo tenha valido a pena.

Quando Draco estava entornando apressadamente sua quarta dose um rosto familiar adentrou a porta.

Parkinson com seus curtos cabelos negros e rosto arredondado entrou no estabelecimento parecendo um turbilhão. O unicórnio de sua farda estava tão amassado que poderia ser facilmente confundido com as rosas dos bêbados das tropas estacionárias, o que fez Draco estalar a língua em desgosto.

— Se fosse para usar sua farda desse jeito deveria ter escolhido outra divisão. – ele jogou ácido.

— Draco, a Hermione... – Pansy falava respirando entrecortado. – Eu acabo de vir da muralha...

A mandíbula do jovem tencionou-se e depois relaxou.

— Ela já descobriu todos os mistérios do mundo exterior que levarão a humanidade à liberdade dos titãs?

— Eles voltaram sem ela Draco... – Pansy parecia prestes a ter um colapso. – A Hermione não voltou.