Ladybug e Chat Noir tinham dispensado a equipe e estavam parados no topo de um prédio qualquer, calados e totalmente imersos em pensamentos.

Marinette andou até o parapeito e se escorou na grade que havia ali. Suspirou pesadamente com a cabeça baixa. A garota refletia sobre os problemas que enfrentariam a seguir e principalmente sobre o loiro ao seu lado.

Adrien Agreste é Chat Noir? Sempre pareceu improvável. Óbvio que eles tinham características parecidas, mas com a mágica do Miraculous era impossível saber. Só que agora ela tinha descoberto a verdade do jeito mais chocante possível e isso a assustava. Embora por um lado agradecesse que eles fossem a mesma pessoa, por outro – Ladybug não, mas – Marinette ligava para o que as pessoas pensavam dela e ficava se perguntando: “O que Adrien pensaria dela?”.

Adrien então, caminhou até ela e parou ao seu lado com as costas escoradas na grade e braços cruzados. O loiro estava tão reflexivo quando Marinette. O fato de ela ser a Ladybug nem era uma surpresa tão grande, afinal, não imaginava alguém tão digna quanto para ter o Miraculous da criação. A azulada era forte, determinada e bondosa, como a Ladybug. O problema era saber o que ela pensaria dele.

Adrien tinha noção de que ele e Chat Noir não eram pessoas diferentes, mas suas duas personalidades possuíam aspectos mais extremos em cada. Será que Marinette estaria decepcionada? Ele afastou esses pensamentos rapidamente, precisam focar em outra coisa mais importante no momento.

— O que fazemos agora? – o loiro questionou com a voz baixa.

— Não sei. – respondeu baixo também.

Ficaram em silêncio novamente.

Ambos tinham aula no dia seguinte e sabiam que se fossem embora tarde, seria um problema para acordar – especialmente Marinette –, mas isso era a última coisa com a qual se preocupavam agora. O que acabaram de presenciar foi no mínimo traumatizante e precisavam se recompor para resolver a situação.

— Só pra constar, eu fico feliz que seja você. – Marinette finalmente encarou Adrien, que possuía um sorriso sincero no rosto. – Quem melhor pra ser a Ladybug com máscara do que a garota que já era a Ladybug sem máscara? – a azulada deu um pequeno sorrisinho e recobrou a postura, tomando coragem para seguir a conversa.

— E quem melhor para ser o gatinho charmoso do que o modelo charmoso? – Adrien desviou o olhar, corando de leve.

Era estranho conversarem assim, dessa maneira, pensando em quem eram por trás das máscaras. Marinette jamais podia se imaginar falando assim com Adrien tão cedo, e o garoto pensava o mesmo sobre ouvir a azulada dizer coisas assim.

Nem sequer pensaram em todas as vezes que brigaram, flertaram e até se beijaram. Isso certamente os desconsertaria nesse momento e não precisavam de mais esse detalhe.

— Então quer dizer que você me acha charmoso? – foi a vez dela corar. – E que história era aquela do cachecol? – Marinette suspirou e mordeu o lábio inferior, não queria tocar no assunto. Mas agora que o loiro tinha tocado, só restava responder com a verdade.

— Aquele cachecol que você ganhou de aniversário do seu pai, na verdade fui eu que fiz.

— Ele comprou de você? – ela negou.

— Eu entreguei na sua casa com um bilhete, mas não sei o que deve ter acontecido. Provavelmente o bilhete descolou, ou sei lá. Só sei que você acha que o seu pai te deu, mas na verdade fui eu. – Adrien abriu a boca incrédulo. O presente mais especial que tinha ganhado do seu pai, na verdade tinha sido dado por Marinette?

— Mas por que não me contou?

— Ah! Você estava tão feliz quando achou que o presente tinha sido dado pelo seu pai, que eu não quis estragar a sua alegria. – ele sorriu de leve e se aproximou da garota, que recuou um passo para trás, nervosa com a aproximação repentina.

— Você é incrível, Marinette! – disse sinceramente e a abraçou. A azulada então sorriu e retribuiu o abraço.

— Você também, Adrien! – os dois se separaram e permaneceram encarando um ao outro, sem saber o que dizer. – Precisamos... Falar sobre o que acabamos de ver.

— Sim, claro! – o loiro piscou os olhos e se afastou. – O que acha que devemos fazer? Nós nem sabemos quem é o Hawk Moth!

— Acho que precisamos falar com o Mestre, em primeiro lugar.

— Também acho. Amanhã depois da aula? – Marinette assentiu, sabiam que precisavam de tempo para absorver as informações e descansar. Adrien se aproximou novamente e depositou um beijo na bochecha da amiga. – Até amanhã, Bugaboo.

— Até. – colocou a mão sobre o local que Chat Noir tinha beijado, enquanto ele saía saltando pelos prédios até sumir de vista.

***

— Como está se sentindo?

— Acordada. Extremamente acordada! – Marinette respondeu depois de tomar três xícaras de café.

— Bom, pelo menos você vai prestar atenção na aula. – Tikki sorriu, como sempre vendo o lado bom da situação.

— É, espero. – a azulada disse e saiu, logo a sua kwami entrou na pequena bolsinha.

Marinette dormiu por apenas duas horas, visto que ficou acordada durante um bom tempo refletindo sobre a situação em que estavam: Ladybug e Chat Noir do futuro alertaram que se não fizessem algo, perderiam os seus Miraculous e Hawk Moth ia causar uma enorme destruição; O destino do universo estava nas mãos deles; Chat Noir não era ninguém menos que Adrien Agreste, a sua paixão secreta – que também era apaixonado por ela, só que sob circunstâncias diferentes.

Com certeza todos os tópicos eram motivos de surto, então obviamente era compreensível que tivesse perdido o sono.

Assim que estava chegando na escola, o carro de Adrien parou na frente e o loiro desceu.

— Bom dia. – ela cumprimentou.

— Bom dia. Como está?

— Sob o efeito de muita cafeína. – eles riram.

— Eu também, acredite. – Adrien olhou em volta para ver se alguém prestava atenção neles – Tudo certo para falar com o Mestre hoje? – Marinette assentiu – Eu disse para o meu pai que te ajudaria a estudar. Ele ficou meio relutante, mas me liberou quando eu disse que era você quem tinha ganhado o concurso de chapéus dele.

— Ele ainda lembra disso?

— Claro. Aliás, eu vi sua assinatura no cachecol. – sorriu carinhoso – Obrigado de novo.

— Não há de quê.

— Bom dia! – Alya chegou de mãos dadas com o Nino, falando em um tom malicioso.

— Oi. – os amigos se cumprimentaram e Marinette agradeceu quando o sinal tocou, não dando tempo para a sua melhor amiga fazer perguntas constrangedoras.

— Você e o Adrien conversando e sorrindo... Hum! – falou assim que sentaram nos seus lugares.

— Ele é meu amigo, não sei se você lembra.

— Se dependesse de você seria mais do que isso, não é? – Marinette corou, embora Alya não fizesse ideia da situação da qual ela tinha se metido. – Pergunta respondida com sucesso.

***

Adrien estava parado do lado de fora da sala de aula, esperando Marinette terminar de guardar suas coisas e sair, para que os dois fossem juntos visitar Mestre Fu.

— Oi Adrien, a Marinette ainda está aí? – Luka se aproximou e questionou, apontando com a cabeça para dentro da sala.

— Oi, ela... Hã... – pensou seriamente na resposta e decidiu que não diria a verdade. Não que ele não gostasse de Luka, o problema é que o garoto de cabelos coloridos aparentava ter uma queda por Marinette e Adrien não gostava da ideia dos dois se aproximando. Muito menos agora que ele sabia que ela é a Ladybug. – Ela saiu. Acabou de sair na verdade. Se você correr consegue alcançá-la.

— Tá certo, obrigado. – o garoto sorriu e saiu, fazendo o Agreste suspirar aliviado.

— Pronto, terminei. – Marinette saiu da sala e o loiro deu um leve pulo de susto – Vamos?

— Claro.

***

— Isso não é nada bom! – Mestre Fu coçou a barba, analisando a situação.

— Pois é, achamos a mesma coisa. Nem sequer sabemos quem é Hawk Moth. – Marinette disse.

— Vocês vão precisar ficar em alerta, então. Se Hawk Moth conseguiu seus Miraculous, passou por cima da equipe e de vocês para tal. – o Guardião explicou – Precisam mais do que nunca se unirem e treinar os novos heróis.

— Assim vamos ter mais ajuda. – Adrien concluiu, encarando a parceira.

— Sim. Hawk Moth deve estar tramando algo grande, então vocês precisam estar preparados.

***

— O que o senhor acha? – Gabriel devolveu o tablet para Nathalie e voltou a encarar a vista da janela, ainda de costas para a assistente.

— Acho que Lila Rossi pode ser útil para o meu plano. – sorriu de lado – Mas antes eu preciso observá-la mais. Não quero colocar tudo à perder.

— Entendido. Precisa de mais alguma coisa?

— Não, por hoje é só. Pode se retirar. – Nathalie assentiu e saiu do escritório, deixando Gabriel sozinho com seus pensamentos.

O homem sabia que do jeito que seus negócios como Hawk Moth estavam indo, não conseguiria os malditos Miraculous da Ladybug e do Chat Noir tão cedo – principalmente agora que os dois tinham aliados poderosos, também portadores de outros Miraculous. Então, precisava mais do que nunca rever a situação e partir para um plano mais elaborado.

— Acho que estou chegando em alguma coisa. – murmurou.

— Como assim, Mestre? – Nooroo apareceu e sobrevoou Gabriel, enquanto ele ia na direção do seu computador.

— Pretendo elaborar um plano mais complexo para finalmente conseguir os Miraculous! – o kwami fez uma expressão preocupada, que por sorte seu Mestre não notou, já que estava focado demais no que quer que estivesse pensando. – Dessa vez vou fazer tudo com calma. A pressa é inimiga da perfeição, não é mesmo?

— E o que exatamente o senhor pretende fazer?

— Ainda não sei ao certo. Mas estou pensando em várias possibilidades, analisando as variáveis e contando com diversos fatores. – respondeu concentrado – Não quero falhar, portanto, devo planejar tudo muito bem.

O kwami se calou. Aquilo era um completo desastre, Hawk Moth não podia conseguir os Miraculous da Ladybug e do Chat Noir. Nooroo sabia que se ele viesse a tê-los, não hesitaria em usá-los e realizar seu maior desejo, no entanto, o kwami também sabia que isso poderia trazer uma consequência inimaginável.

Gabriel Agreste não estava pronto para absorver tanto poder e Nooroo sabia disso. Mas não podia falar nada. Então se limitou a apenas assistir o Mestre digitar, enquanto rezava para que Ladybug e Chat Noir estivessem preparados para o que quer que estivesse por vir.