A decisão escrita por Daphne Di Angelo


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ela olhava pela janela da sala, sentada em sua poltrona favorita de frente para a mesma, olhando o lado de fora da casa à xícara de café nas mãos, e o rosto pálido marcado por grandes olheiras que permitiam a qualquer um ver que ela não vinha dormindo á um tempo. Seus cabelos em um coque sujo, ela já não tinha animo para aproveitar um banho ou para se arrumar o vestido, só deus sabe á quantas noites ele era a única coisa que cobria o corpo agora magro e pálido. Sua boca já não sabia a textura de um batom ou até mesmo a textura de outro lábio á muito tempo, seus dedos manchados de tinta de caneta, eram a única prova de que ela saia de onde se encontrava, afinal o material de escrita estava no antigo escritório da casa.

Ela tomou um gole, continuou segurando a xícara e como se não estivesse realmente vendo o que estava acontecendo pela janela, ela suspirou. O movimento do ar entrando mais rapidamente nos seus pulmões era de certa forma um alivio para qualquer um que visse aquele movimento naquele momento. A mulher continuava parecendo em transe, era como olhar um retrato a única diferença é que a beleza singela daquela obra estava se esvaindo muito mais rápido que os anos poderiam fazer passar para desbota-la.

Tudo que ela precisou para ficar assim foi um amor. Seu coração, antes puro, vermelho e saltitante em seu peito esquerdo, agora não passava de um órgão de bombear sangue, já não havia real serventia para ele em sua casa, ele deveria ter ido junto ao seu verdadeiro dono, ele seria muito mais feliz do que é agora. Ela continuou olhando para a janela, não se sabe ao certo o que ela vinha esperando que acontecesse, mas ela sabia que a paisagem do outro lado era muito mais bonita e por isso ela á apreciava enquanto ainda tinha a chance de observa-la. Enquanto ainda não arrumavam para ela um manicômio ou pior, um casamento.

Ela sabia, via nos olhos dos seus pais, ouvia os empregados sempre que falavam dela ou se dirigiam á ela. Eles achavam que tudo se resolveria no momento que o contrato estivesse selado. Ela queria acreditar nisso, por que agora era a sua melhor opção. Mas ela não conseguia acreditar que sua vida se resumiria a isso. Ela não queria realmente aceitar, mas ela estava morrendo aquilo que a prendia a vida já tinha se esgotado e não havia nada que ela poderia fazer.

Um dia a moça se levantou da cadeira, olhou para os lados até onde a vista alcançava e não havia ninguém, se aproveitando disso foi tomar um banho como não fazia á um tempo, lavou os cabelos e os penteou, vestiu uma de suas melhores roupas, trocou suas joias simples pelas que mais gostava, arrumou uma pequena mala com alguns pertences que não abria mão, e outros que estavam ali por necessidade e saiu do quarto para o mundo. Ela levantou a cabeça e em sua pose altiva seguiu para o caminho que sabia que teria que percorrer, pegando o meio de transporte e dando o endereço que queria ser levada ela seguiu. Muitas pessoas viram o carro passar, mas não falaram nada, parecia que viam um fantasma, alguém que se desligou de tudo e todos estava saindo de seu conforto, era no mínimo perturbador.

Algumas semanas se passaram e a casa onde a moça morava foi à venda. Os vizinhos achavam que ela tinha, nas palavras deles, finalmente sido internada ou morrido, onde já se viu fugir de um compromisso como ela fez, ela era mais uma desgraça dessas que acontecem na sociedade de vez em nunca. Para a moça, não se preocupe ela estava muito feliz, se mudou para uma casinha no final de uma vila perdida no mapa, seus lábios agora tinham cor, e seus olhos ela podia jurar que nunca brilharam tanto, seus cabelos estavam livres de amarras e limpos, assim como sua alma. Ela não encontrou o amor que havia perdido, mas ela descobriu um novo amor, e como o antigo, ele não era o que a sociedade esperava para ela, não era rico. Mas ele á amava e ela correspondia, então isso deveria de bastar. Enganasse quem acha que o novo amor á fez voltar à vida, isso ela conseguiu sozinha. Afinal, como amar ao outro se amar a si mesmo você não foi capaz de fazer?


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