Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 17
Capítulo XVI:Rosas, ouro e águias de duas cabeças


Notas iniciais do capítulo

Segue aqui o capítulo que eu mais penei pra conseguir finalizar até hoje! Beijos e boa leitura.



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A estadia de Shura serviu para acalmar um pouco os ânimos da Ruiva, mas, infelizmente, ele tinha um dever a cumprir no Santuário. Portanto, no fim da tarde do terceiro dia, Tatiana acompanhou seu namorado junto com Vassily até o aeroporto Charles de Gaulle. No saguão em frente ao portão de embarque  trocaram um abraço apertado e demorado, ao se afastarem, Shura viu os olhos marejados da namorada:

—Calma, Cariño— ele falou,  afrouxando o abraço - já disse que, quando isso tudo acabar, daremos uma voltinha como Tatiana Romanova e Gael Hernandez. Quero ser capa de revista ao seu lado.

—Bobo - riu, dando um selinho nele - Eu não sei o que é, mas... Eu senti o isso quando voltei e abracei o Dite. - suspirou - não consigo explicar o que é, só sei que é angustiante.

—Não duvido dos seus poderes, mas não há de ser nada - a puxou e deu um beijo demorado - soy un hombre de palabra, eu não costumo mentir e você sabe disso... Bom, o dever me chama. Eu voltarei para te buscar, Tatia.

Tatia estava prestes a dizer alguma coisa quando ouviram o voo do espanhol ser chamado pela última vez, ela apenas franziu a testa e Shura rapidamente deu vários beijos em seu rosto e mais um beijo de despedida, ele sussurrou baixinho no ouvido da ruiva: “te quiero mucho, mi cariño” e a deixou de braços cruzados no saguão enquanto caminhava apressado para não perder seu vôo.

 

A noite veio fria, estrelada e sem lua. O outono já estava perto do fim, o que, de certa forma, agradava a ruiva, que sempre gostou de dormir embolada em seus cobertores, porém, naquela noite, sua cama parecia feita de espinhos. Não importava o lado ou a posição: ela não se sentia confortável. Merlot, sentindo a inquietação da dona, ousou se aconchegar em seus pés, encostando a cabeça em suas pernas, Tatia fez um carinho na cabeça da cadela e aquilo pareceu a acalmar. Por fim a Amazona de Perseu conseguiu finalmente se render ao sono. Seu corpo estava leve, o pesar de mais cedo parecia diminuir. Sentia como se flutuasse, quando um grito irrompeu sua paz. Abriu os olhos verdes, se sentou um pouco atordoada na cama e viu Gigars, que estava em sua frente, berrando de dor e implorando que parasse. Tatiana se via de costas com as roupas de treino. O sangue jorrava, mas a ruiva apenas ria e elevava ainda mais o cosmo. Estava banhada no sangue dele. Banhada no sangue da única morte que carregava: 

—Mas a vida de um cavaleiro é essa. Foi apenas uma morte em nome da justiça.

Era sua voz . Ela olhou para o lado esquerdo e viu a si mesma, sentada ao lado de Arles bebendo vinho. Estava de armadura, mas sem máscara, rindo, enquanto o Grande Mestre distribua beijos em um dos seus braços, como se estivesse absurdamente grato pelo que ela lhe fazia:

—Não foi uma morte de combate. Foi assassinato, Sammyrah de Perseu.

A voz veio do lado direito. Era ela, usando a mesma roupa da noite em que ficou com Shura a primeira vez, horas após matar Gigars:

—Eu não sou uma assassina. Sou uma guerreira.

—Você é uma assassina sim... Olhe em sua volta, quanto sangue você derramou apenas para ter a atenção de Arles, Sammyrah.

Não era apenas suas roupas: tudo estava cheio de sangue: as paredes, o chão, o teto... E, para piorar, não havia apenas o corpo de Gigars, mas de diversos Cavaleiros, inclusive alguns de Ouro, que ela não conseguia ver o rosto ou distinguir as armaduras, devido o excesso de sangue. Começou a chover pétalas de rosas vermelhas, enquanto uma triunfante Sammyrah caminhava em direção a Arles, sorridente, satisfeita, carregando a cabeça de Saori Kido nas mãos. O Mestre do Mal ria descontroladamente, enquanto se podia ver ao fundo as estátuas com expressões desesperadas dos cinco Cavaleiros de Bronze, que pareciam tentar correr juntos em direção a algo, o corpo da jovem empresária talvez. Enquanto as rosas caiam, a imagem rodava em sua cabeça, ela e Saga estavam de frente um ao outro, ela via o mestre assumir uma postura carrancuda e mais demoníaca, o que a fez titubear e dar um passo para trás, mas antes que pudesse se afastar de verdade, com uma voz distorcida ele declarou:

—Hmmm, tão minha tão bela e jovem Sammyrah... como a desejei… - Ele parecia entorpecido e fechava os olhos vermelhos odiosos - queria fazê-la só minha, tanto trabalhou para realizar minhas vontades, não foi? - O homem possuído alisava seu rosto assustado - Mas você escolheu Shura como seu primeiro, não foi? Pois viva no inferno com ele, enquanto eu me deleito no reino em que você se difamou para me fazer feliz!

Ele ria assustadoramente, agora a prendendo com uma das mãos, com a outra em posição de soco, investiu contra o seu peito, arrancando brutalmente o seu coração. A jovem ainda se lembrava de ver seu olhar de desespero, mas antes que visse seu corpo cair sem vida, gritou, finalmente acordando e sentando na cama abruptamente, assustando a cadela que dormia entre suas pernas. Tremia muito e sentia o corpo suado e os olhos cheios de lágrimas. Ainda desnorteada, acendeu a luz de seu abajur e verificou que horas eram, tinha dormido apenas uma hora. Primeiramente abraçou sua cadelinha que lambia seu rosto assustada, latindo e uivando, como se perguntasse o que tinha se passado. Ela finalmente se acalmou o suficiente para levantar, e pegar um copo de água na quartinha que tinha em cima de uma cômoda, bebeu um copo e decidiu tomar um banho. Não queria que aquela energia permanecesse em si. Depois de se lavar, sempre sendo seguida por Merlot, decidiu abrir a janela e fumar um cigarro para relaxar. 

 

Observava à noite parisiense enquanto fumava, as charmosas luzes, as vozes animadas das pessoas voltando de soirées, queria que aquelas imagens, sons e cheiros tão familiares fizessem a sensação de segurança que sempre sentiu em casa voltar. Assim que terminou seu “calmante “, fechou sua janela e decidiu  afastar aquelas ideias.

 

Enquanto se aconchegava com Merlot de novo na cama, pensava no quão maluco aquele sonho tinha sido, mas ia deixar passar, até que decidiu anotar tudo que tinha acontecido, apanhou algumas folhas em branco e uma caneta qualquer na gaveta de seu criado mudo  e transcreveu tudo com a maior riqueza de detalhes que pôde. Após terminar de escrever, enfiou as folhas na mesma gaveta e se aconchegou na peluda Merlot, finalmente voltando a dormir, aproveitando um sono tranquilo.

 

Acordou-se no outro dia e seguiu com sua nova rotina . Foi visitar a escola onde voltaria a estudar com a mãe e teve algumas aulas particulares à tarde - tanto de dança, quanto de línguas. Tinha definido sua rotina ainda quando Shura estava na cidade , já que não sabia por quanto tempo ficaria em Paris naquela vez . Ela se sentia um pouco mais calma, apesar do sonho estranho que tivera, pensava que era só o estresse pós-traumático de tudo que passara nos últimos dias e no fim da semana, parecia que nada mais tinha acontecido. 

 

Naquela segunda feira à tarde, sentiu falta de ensaiar sozinha como costumava fazer no santuário, adorava ter uma instrutora particular mas adorava se sentir no comando enquanto criava e dançava ao som de suas composições favoritas, ia aproveitar  para se exercitar também pois sabia que seus pais tinham organizado um jantar em família para comemorar o seu retorno.Em família, queria dizer : O melhor amigo de seu pai, Youssef, Olga e Samir, e Nádia, sua esposa , Vassily, e a mais antiga amiga de Vlad, Augustine. 

 

À noite, enquanto terminava  de se arrumar conversando com seu irmão e com Augustine, teve o quarto invadido por Olga e Samir. Era engraçado, como conviviam todos desde pequenos, se consideravam mais que amigos, mas sim como se fossem uma grande alcatéia de irmãos de pais diferentes. Samir, entrou primeiro, ele era alto, moreno com os cabelos cacheados e tinha os olhos num lindo tom de mel. Vestia uma camisa de tecido azul clara e calças de alfaiataria para combinar. Ele era a figura escrita de sua mãe, era animado e sempre muito tranquilo, Tatia se lembrava de apostar com Vlad e Olga em diversos verões que passaram juntos quem conseguiria tirar a paciência de Samir. Ninguém nunca conseguiu

 

Já Olga, que tinha os cabelos lisos e bem escuros era mais expansiva de divertida, adorava rir e fazer piada com tudo. Tinha puxado mais a personalidade de seu pai, que era conhecido por pregar peças em todo mundo. Olga era alta, um pouco menos morena que o irmão e tinha herdado os olhos gateados azul-claros do pai.Usava uma saia chanel rosa clara e uma blusa de mangas gola-rolê branca, provavelmente já tinha largado pela casa o terninho que fazia conjunto com a saia. Ela, zombeteira como sempre, entrou e logo reclamou:

 

—Mas será possível que eu vou chegar alguma vez aqui e você não vai estar enchendo essa cara de maquiagem tricotando com a namoradinha do seu irmão?

 

—Hey!-Agustine se manifestou enfezada- Eu não sou namoradinha de ninguém Olga, já te disse mil vezes isso.. 

 

Augustine era a melhor amiga de escola de Vlad. Estavam juntos desde sempre, e tinha sempre uma penumbra de romance que pairava entre os dois, o que causava muitos momentos constrangedores tanto para Vlad, quanto para ela. Tatia a achava linda, pois era a menos exótica das três, mas a delicadeza de seus traços a fazia especial. Ela tinha os cabelos compridos e lisos castanhos claros, queimados de sol do último verão, tinha pele clara e os olhos amendoados, era uns 10 cm mais baixa que Tatia. Naquela noite usava um vestido azul escuro de mangas compridas e pérolas. 

 

—Tá bem, me engana que eu gosto! -Olga riu e logo correu para dar um beijo na cabeça de Tatia- Papa já me contou tudo que você trouxe da grécia um espanhol gostoso de  um metro e oitenta! Seu pai tava cortando os pulsos com ele te chamando de Cariño pela casa!Cadê ele? 

 

—Olga! Pare com isso…-Samir interviu- Se ele não está aqui é porque deve ter voltado pra Grécia não é? E certeza que Tatia deve estar sentindo falta dele…

 

—Eu tô! Imagine ela…-Augustine resmungou, vendo Vlad apagar invocado o cigarro no cinzeiro e fechar a janela, enquanto Tatia se virava para ver os amigos, já rindo 

 

—Ele era tão gato assim?-Olga caminhou animada até Augustine que estava sentada na cama

 

—Hmmmm garotaaa -Augustine suspirou- Você nem imaginaaa! -Ela se levantou e as duas começaram a rir e se sacudir

 

—EI! Como você fala dele assim garota? Você só o viu uma vez!-Se manifestou Vlad enfezado

 

—Ah Vladmir! Ficou com ciuminho foi? -Disse Samir rindo da cara vermelha do amigo 

 

—Ah ora essa! Vão todos vocês se...

 

—HEY!! ALOOOU-Gritou Sergei da porta- O jantar vai começar a ser servido e vocês aí rindo que nem um bando de gralhas! 

 

—Tá, tá bem!-Tatia se levantou-Vamos logo, senão mamãe que vai vir nos chamar e pode ter CERTEZA, que ela não vai ser legal…

 

O grupo rapidamente se encaminhou até a sala de jantar e logo se integraram ao grupo dos adultos, Sergei sem cerimônias se sentou no colo a irmã.Tatiana se sentia feliz de finalmente estar em volta daquela mesa cheia de comida e com a  maioria das pessoas que mais amava no mundo. O coração apertava em ver vazio o lugar normalmente ocupado por Afrodite, ela temia pela vida de seu mestre e pela de Shura, mas o que ela podia fazer para resolver aquilo tudo era esperar, então decidiu que apenas iria aproveitar aquele momento. 

 

Estar em casa, passou a ser um conceito diferente para ela, pois se sentia em casa em Peixes e também no enorme apartamento de sua família na Rue Jacob.  Tinha nascido ali com seu irmão, na sala de jantar, embaixo de uma obra de Braque, foram os três levados às pressas para o hospital, por terem nascido antes do tempo. O pai tinha um costume horrível de mudar as obras de lugar, ele dizia que trazia uma sensação de plenitude, pois as obras em algum ponto teriam embelezado a casa inteira. O Braque nunca saiu dali, pois sua mãe dizia que queria que o lugar onde os filhos nasceram ficasse marcado. 

 

O jantar correu maravilhosamente bem, não sem que Youssef fizesse inúmeras piadas sobre a existência do namorado de Tatia, fato que fez Dimitri espumar na mesa e arrancar risadas de todos. Durante a sobremesa, o telefone de casa tocou, e uma das serventes veio chamar Dimitri. Ele se levantou apressado, espantando um pouco Raissa, pois tinha impressão de ter ouvido que algo tinha se passado com sua sogra. 

 

Dito e feito,  em alguns minutos o ruivo voltou um pouco agitado e com a testa franzida,  tentou disfarçar mas a esposa percebeu o seu incômdo:

 

—Dima, o que houve?-Ela sussurrou-Algo com a sua mãe?

—Nada meu amor… -Ele suspirou-Depois conversamos está bem? -Ele viu a esposa dar um meio sorriso e lhe deu um beijo no rosto

 

No fim do jantar, quando todos finalmente foram embora  e quando Raissa pôs Serj na cama, Dimitri reuniu a família na sala para dizer que a situação de saúde de sua mãe tinha se agravado bastante e que queria partir na quarta feira para o rancho, não iria antes pois tinha uma reunião muito importante na quarta de manhã e não poderia adiar, E assim ficou combinado, caberia a Raissa resolver os problemas com a escola e levar Serj e Vlad,  Tatia que ao sentir um frio subir na espinha pediu para ir com o pai mais cedo. 

 

Papai era Marchand desde que eu me entendia por gente, minha avó que foi criada rodeada a obras de arte, sempre tentou manter o costume de ter arte em casa. Obras essas que eram vendidas por jovens artistas nas ruas da capital francesa, papai me contava os inúmeros artistas que havia conhecido graças a mãe e sua severa “intuição” , que eu sabia ser bruxaria, que aqueles quadros valeriam mais no futuro,se viviam entre Monets, Gauguin's, Dalís e Picassos, era graças ao “faro” de sua avó que se manifestava graças a sensitividade. E isso que fomentou a continuidade de nossa fortuna até  os tempos atuais. As posses que conseguiu arrecadar e quis gastar, vovó comprou o andar perto da ópera e o pequeno rancho nos arredores de Paris, pois sempre desejou uma segunda opção para não ficar tão em vista na cidade, pois sabia que os comunistas a caçariam até o fim. 

 

Tive algumas aulas na escola, mas antes do almoço papai me resgatou e disse que precisava da minha ajuda para fechar um negócio. Fomos até uma das galerias em que papai fornecia peças no décimo arrondissement, a reunião durou horas, só não demorou mais porque papai invocou os negociantes e disse que precisava finalizar pois iria para o interior ainda naquela tarde, eu já estava entediada e morta de fome.  Assim que deixamos a galeria e andamos um quarteirão, papai sugeriu:

 

—Que tal a gente almoçar juntos ? é o mínimo que eu posso fazer depois de te arrastar para essa reunião interminável-Dimitri suspirou e passou o braço pelos ombros da filha- E você vai comigo hoje pra casa da vovó não é?

 

—Claro que ia demorar pai! O cara vai comprar uma obra de trinta mil francos, o que você achava que ia acontecer?-Ela riu e abraçou e volta o pai-Sim e sim! mereço um almoço dos deuses pra compensar a tarde… 

 

Dimitri apenas riu e começou a direcionar a filha até o restaurante mais próximo onde conhecia o Chef.

 

Naquele almoço, tarde demais diga-se de passagem, observava meu pai fumando um cigarro observando as pessoas que passavam na rua. Eu sempre fui encantada por ele, tinha tudo para ser o maior louco tirânico do século, como seu avô e todos os antecessores. Mas papai tinha um olhar diferente para as coisas, sensível, talvez por isso os ricaços faziam tudo o que ele mandava em relação a compra e venda de artes. A sensibilidade e a beleza dele abriam todas as portas do mundo. Papai não era bonito como Afrodite, que tinha uma beleza andrógina, mas eram detalhes do seu rosto fino que o deixavam parecendo um dos anjos renascentistas pintados à mão por Michelangelo. Os olhos azuis revoltos e os cabelos lisos vermelhos eram algo a parte. Eu percebia bem a quantidade de mulheres que olhavam para ele, naquela pose tão forte, fumando o seu cigarro. 

—Tatiana…-Ele me tirou da minha doce observação-Te trouxe aqui para conversar umas coisas que andam acontecendo…

—O que houve papai? - Eu disse, dando um gole na minha sangria um pouco ansiosa 

—Bem filha… não é nada que eu já não esperasse....com o tempo-Ele se endireitou na cadeira com um ar sério-Sua vovó… ela tem piorado bastante de saúde e os médicos dizem-Eu pude ver uma lágrima escorrendo dos olhos dele

—Pai…-instintivamente segurei na mão que estava na mesa, como se pudesse consolá-lo

—Está tudo bem…-Ele fungou tentando conter as lágrimas-Maman vem sendo muito forte sabe filha? Em algum momento ela precisa descansar mesmo...

—Eu sei papai… mas me preocupo com as coisas… você sabe com a Tetya é…

—Sua tia está viajando, portanto assim que terminarmos o almoço, vou para casa fazer as malas para viajar para o rancho-Ele fungou mais uma vez- Você pode vir comigo se quiser, seus irmãos e sua mãe só virão quando a diretora autorizar os dias livres deles…. 

—Eu te acompanharei sim papai… mas por favor, para de chorar, já bastam as mulheres que te olham normalmente-Resmunguei fazendo cara feia para uma transeunte-Você chorando é dose

—Deixe de ser ciumenta Tatiana…-Ele limpou os olhos com um lenço-Você sabe que eu e você chamamos atenção… 

—Claro que nós chamamos atenção papai- Dei outro gole ávido na sangria- Mas eu tenho ciúme, você é meu e da mamãe. Só.

 

Dimitri, que amava o jeito intenso de ver as coisas da filha, logo trocou as lágrimas por um belo sorriso e uma gargalhada, chamando mais uma vez a atenção de uma mulher sentada na mesa ao lado, só não reclamou mais uma vez com o pai pois os pratos tinham acabado de chegar. Quem visse se espantaria com a escolha de ambos: Entrecôte e batatas fritas. O ruivo vendo a cara feia da filha, roubou uma batata frita do prato dela, passou no molho da carne e comeu. 

 

—O que foi Tatia?-Ele riu com um ar vitorioso-Vai, come logo que ainda quero tomar sorvete depois daqui…

—Mas mamãe não te proibiu…

—E proibiu nós todos meu amor…-O Ruivo viu a taça de ambos ser preenchida de vinho tinto-Por isso que eu estou deixando você beber…

—Tá me comprando com vinho Dimitri? - Tatia deu a primeira garfada - Por que acha que eu me venderia tão baixo?

—Por isso que liguei pro chef daqui e pedi pra ele fazer nosso entrecôte, Deus sabe quando sua mãe vai nos deixar sair dos legumes de novo… - Dimitri deu um gole no vinho - E não é suborno… é só um convencimento dos frutos de uma boa convivência com seu pai meu anjo…

 

A ruivinha riu, e ergueu a taça junto com o pai num brinde selando seu pacto. Após um almoço animado, ela e o pai seguiram pelas ruas do Quartier Latin, caminhando e conversando, cada um com uma bola de sorvete (que foi devidamente terminada antes que chegassem em casa). Assim que cruzaram a grande porta de ferro fundido que dava acesso ao pátio de seu prédio, o semblante dos dois mudou, logo estavam em casas apressados arrumando as malas para partirem para o Rancho de sua avó. A enfermeira tinha acabado de ligar informando que a saúde da Senhora havia piorado bastante naquela tarde. 

Raissa ajudava o filho mais novo a organizar seus pertences, quando o marido chegou e recebeu a notícia, Dimitri estava a beira das lágrimas de novo e ela o enxotou para o quarto. O pequeno Sergei não tinha noção do que estava acontecendo e o porquê de sua mãe estar tão ansiosa com uma simples visita a casa da vovó no meio da semana.  A morena terminou rapidamente a preparação do pequeno, o mandando ir brincar enquanto aguardava o resto da família ficar pronta. 

 

—Maman, então quer dizer que eu não vou mais pra escola essa semana? - O pequeno questionou, carregando seus inseparáveis gibis

 

—É meu amor… - Raissa desconversou,se abaixando na altura do filho -A vovó está muito velhinha e conversei com sua professora! Ela disse que não teria problema então…

 

—Ah, Madame Joyaux não disse que tinha problema?

 

—Não meu amor! - Ela sorriu e deu um beijo na testa do pequeno - Vai ler na sala, que jajá nos saímos tá bem?

 

Ela viu o pequeno balançar a cabeça e sair correndo porta afora.  Se sentou na cama do filho mais novo e apenas suspirou fundo, a morte de sua sogra era iminente, mas nunca pensou que sofreria daquele jeito com a iminência daquilo. Fechou rapidamente a malinha do filho e enxugou uma lágrima, teria que ter bastante sangue frio nos próximos dias para lidar com sua cunhada. 

 

Alexandra tinha viajado para uma espécie de “retiro espiritual” na Capadócia, o que significava que ela tinha simplesmente escolhido o roteiro mais inóspito que pode o mais rápido possível depois de ter brigado ferozmente com Dimitri sobre sua mãe semanas atrás. Estava sendo dificílimo encontra-la e Vassily tinha mandado inclusive dois homens de avião para poder lhe informar da situação da mãe. Pois parecia que a região que ela decidiu se esconder nem sistema de telefone tinha. 

 

Raissa chegou com Vladmir e Serguei quase às oito da noite no rancho, quando finalmente entraram em casa, ouviram apenas o som tocando as músicas clássicas que Tatia normalmente ouvia enquanto treinava o balé clássico, para estar treinando a essa hora ela deveria estar bastante estressada.

 

Vlad pegou um livro na mochila e foi até a sala aonde a irmã e encontrava, enquanto Serguei se aconchegou num sofá perto do terraço com seus gibis. Raissa silenciosamente subiu as escadas buscando seu marido, encontrou algumas enfermeiras caminhando em silêncio mas ainda nada dele, até que sentiu o cheiro do tabaco e foi atrás. 

 

Dimitri estava sentado numa janela que tinha um formato diferente, aparentemente era o seu antigo quarto na casa, quando vinha passar férias em casa ou quando ia para a casa da mãe com a família. Raissa conhecia bem aquele aposento, o marido olhava melancólico para uma foto que ela conhecia muito bem, seu outro melhor amigo David que tinha morrido num acidente de carro quando os gêmeos tinham 5 anos. Toda morte próxima ele se lembrava ainda mais do amigo que perdeu. 

 

—Meu amor, você está bem?-Ela entrou sorrateira, dando um susto em Dimitri

 

—Sim sim, acho que estou aceitando bem, fui ver mamãe quando chegamos e realmente…-Ele fungou, mas rapidamente deu outro trago-É chegada a hora…

 

—E sua irmã? -Ela se sentou na beirada da cama lhe dando algum espaço 

 

—Aparentemente os homens de Vassily a encontraram, espero apenas que ela chegue a tempo de ver mamãe com vida-Ele colocou o porta retrato que segurava na mesinha e se sentou ao lado da esposa-Acho que vai ser bem triste pra ela não se despedir da própria mãe…

 

Raissa não disse nada, apenas deu um beijo carinhoso no marido e o viu se aconchegar em seu colo. Não seria uma noite fácil ,ela se deitou e se deixou abraçar pelo marido. Caiu no sono e quando acordou foi com Vladmir lhe chamando, dizendo que o médico tinha acabado de sair do quarto da vovó e que era hora. 

 

O jovem ruivo acordou os pais e foi em busca de seus irmãos, acordou Serguei que dormia tranquilo em seu quarto, mas não achava Tatiana em canto nenhum, voltou até o corredor do quarto de sua avó, onde encontrou seus pais acalentando seu irmão mais novo. 

 

—Pai, nenhum sinal da Tatia… Ela não estava no quarto e nem no jardim junto das rosas- Vladimir suspirou um pouco congestionado, era uma noite fria e tinha saído desprotegido

 

—Eu acho que sei aonde ela está -Disse Raissa vendo o olhar ansioso do marido-Dima, fique aqui com os meninos que eu vou buscá-la

 

 A mulher rapidamente caminhou até as escadas, tentando buscar algum sinal da filha, lembrou-se de ouvir o som da música na sala do piano e a luz se fez em sua mente, era bem possível ela estar ali, imersa  na música e não ter ido dormir. Ao chegar na sala, encontrou as luzes acesas, o som do chiado do disco que não havia sido virado após terminar as suas faixas e a filha deitada dormindo no chão, abraçada a Merlot. 

 

Raissa sentiu um pena da filha, que parecia vir de uma sucessiva e cansativa sequência de perdas importantes. Ela não sabia o que tinha acontecido no santuário, mas percebia a mudança de comportamento na filha e que algo tinha a magoado profundamente. Seu coração parecia partido. Ela tinha vontade de perguntar o porquê das olheiras e das longas noites em claro, seja no piano ou ensaiando. 

 

Raissa se ajoelhou ao lado da Husky, que abriu um olho e latiu baixinho, como se quisesse acordar sua dona. Tatia resmungou e abriu um dos olhos, se assustando com a presença da mãe:

 

—Mãe… o que tá acontecendo?-Ela se levantou coçando um dos olhos

—Você deve ter pegado no sono de exaustão Tatia…-A morena tinha um meio sorriso complacente- Vlad foi te procurar no quarto e como não te achou na cama, vim te procurar aqui…

 

Tatia se sentou no chão e passou a mão pelos cabelos compridos, arrumando-os em um rabo de cavalo. Tinha tido vários pressentimentos ruins o dia inteiro, então se trancou na sala de música para fazer tantos fouétées quantos fossem possíveis para se exaurir. 

 

—Sua avó está deixando esta vida Tatia... -Raissa suspirou com os olhos marejados-Vamos sim? o médico disse que ela gostaria de conversar conosco antes de…

 

—Pra se despedir mãe?-A ruvinha disse com a voz trêmula, sentindo as lágrimas descerem involuntariamente- 

 

—Shh! Calma…-Raissa abraçou a filha- Você tem que se manter firme tá bem ? Não deixe que essa seja a última lembrança que você vai ter com sua avó… aproveite bem esse momento…

 

Ambas se abraçaram e ficaram assim por alguns momentos e logo depois subiram até a porta do quarto de sua avó. Logo todas as enfermeiras saíram do quarto e a última chamou Dimitri e Raissa. Tatia viu o pai suspirar e entrar na frente.Seria uma noite longa, Serguei caminhou até ela e a abraçou choroso.



Depois de Raíssa e Dimitri saírem do quarto, Sergei foi chamado pela avó, que pediu para ficar a sós com o garoto, algo que fez o sangue de Vlad ferver, porém, antes que ele fizesse qualquer comentário, ouviu a voz da irmã em sua mente. Não foi como da ultima vez, que ouvia frases curtas e pausadas, como se fosse uma estação de rádio com interferência. A voz de Tatiana estava mais firme que nunca:

Não é hora para uma cena de ciúme bobo. Você também terá sua chance, Vladmir . Não tire a, provável, última lembrança que nosso irmão terá de nossa avó com uma piadinha de mau gosto.

O ruivo apenas meneou a cabeça em aceitação, enquanto o pequeno de cabelos negros entxrava no quarto da avó e fechava a porta. Sentou na cadeira que estava estrategicamente posta ao lado da cama de Vovó Tatiana. Passou o olhar por todo o quarto. Quantas vezes não teve pesadelos e acabou naquele cômodo, deitado nos ombros da doce avó enquanto ela lhe contava uma história quase tão assustadora quanto o sonho que ele tivera, mas que estranhamente o acalmava? Vovó Tatiana parecia sempre saber o que ele queria:

—Meu Seryozha - a voz dela estava fraca, mas ainda tinha a mesma doçura - meu pequeno anjinho de cabelos negros… Você sempre foi meu confidente e sabe disso, não é?

—Sim, Babushka ele contia as lágrimas - E eu peço desculpas se alguma vez falhei sem querer.

—Oh não… Eu saberia se você tivesse traído minha confiança - sorriu com muito esforço - Eu quero te confiar um último segredo… E eu sei que você só revelará esse segredo a alguém que você passará a admirar muito, mas que você ainda não conhece.

—E como a senhora sabe disso?

—Sua Babushka sempre sabe das coisas, Sergei… Sabe por que seus olhos são dessa cor?

—Sou parte demônio, né? - suspirou em desapontamento - Sabia que o Vlad tinha razão.

—Nem de longe… Esses olhos são iguais ao de um anjo. Um anjo que me salvou e que eu amei muito… Um anjo que estou prestes a reencontrar. Ouça com atenção, meu pequeno…

 

Do lado de fora, a apreensão era evidente. Vladmir andava de um lado para ou outro, Dimitri torcia um dos cachos do cabelo, Raíssa estava mais afastada, fumando e Tatiana apenas estalava os dedos, murmurando algo em grego. Foi quando a porta do quarto abriu. Sergei nada disse, apenas suspirou e rumou para as escadas. Antes que Vlad pudesse se manifestar, ouviu sua avó murmurar seu nome. Tatia seria a última a entrar.


O ruivinho saiu do quarto em lágrimas, sendo amparado por Raíssa. Tatiana não esperou ser chamada, ou fora o que todos pensaram, assim que seu irmão deixou o quarto chorando, ela caminhou até ele, o abraçou e entrou no recinto sem dizer nada. A força psíquica de sua avó ainda estava ali, bloqueando o quarto enquanto conversava com os entes queridos.Tatia fechou a porta pesarosa, ela sabia que a avó estava partindo e aquilo fazia sua ansiedade dar pontadas em seu coração, sentia as mãos geladas e os olhos se encherem de lágrimas :

—Babushka… - murmurou enquanto fechava a porta - Como você quer falar…

—Shhh…- A senhora a encarou com um meio sorriso e estendeu a mão - Se acalme meu amor… eu posso sentir o quanto você está sofrendo, mas quero que saiba que eu estou bem… não fique assim minha pequena flor…

A jovem sentiu as lágrimas correrem e caminhou rapidamente até a cama, abraçando a avó e desabando no choro. A senhora apenas alisava seus cabelos e se esforçou para dar-lhe um beijinho na cabeça, fato que fez Tatiana levantar o rosto.

—Calma meu amor, você sabe que eu vivi muito - Ela suspirou enquanto enxugava o rosto da neta - até mais do que quiseram que eu vivesse… mas por favor… preciso que você se sente e me ouça está bem?

—T-tá certo babushka… - Ela fungou, se sentando na ponta da cama, como fizera tantas outras vezes, segurando as mãos da avó - Eu queria ter ficado mais aqui… mas a vida no internato me impedia, vovó… a senhora sabe..

—Você fez o que eu não quis fazer meu amor… na verdade o que não tive coragem - a cortou, com aquele francês delicado, sem nenhuma sombra do  forte sotaque russo - aceitou viver no Santuário, dominou sua bruxaria e, de quebra, ainda conquistou uma Armadura de Prata. 

—Como assim o que a senhora não fez? Eu não entendo, Babushka…

—Não se esforce tentando ler a minha mente, Tatiana… - soltou as mãos da neta e lhe tocou o canto da face - Aproveite nosso momento. Você descobrirá as respostas para todas essas  perguntas em breve… - suspirou fundo, como se buscasse o ar - Abra a gaveta do criado-mudo. Eu deixei algo aí para você.

A Amazona de Perseu virou o corpo e abriu a gaveta do móvel. Nele, havia um diário antigo, o caderno tinha uma capa de couro marrom-avermelhada e tinha gravado  o desenho de uma rosa. Tatia olhou para a avó, que meneou a cabeça:

—Isso é…

—Sim… - estendeu a mãos e passou pela capa do diário - Esse é apenas um… Existem outros, que explicam a nossa natureza e a nossa família minha pequena Tatia... - ela deu um suspiro pesado e passou a mão esquerda pelo inseparável relicário com um camafeu de uma rosa. Tatia sempre achou aquele colar lindo - Pegue o meu colar… Ele é a chave para você chegar aos outros diários e também parte da sua herança. Eu prometi a ele…

—Ao meu avô? - A ruivinha interrompeu, sempre tivera curiosidade em saber quem era o seu misterioso avô

—É… Eu escondi as fotos dele por medo, mas… Se você acha seu pai um homem lindo, é porque não conheceu seu avô - A senhora olhou para a janela com um ar sonhador e um sorriso - Ele era um anjo dourado caminhando sobre a Terra - um novo suspiro, dessa vez mais profundo - Todos dizem que você se parece com seu pai com essa cabeleira vermelha e sendo sensível como você é , mas eu não vejo o Mitrya em você - Ela se virou de volta para a neta, alisando suas mãos lentamente - Tirando os olhos ferozes que você herdou de sua mãe , você me lembra  muito seu avô…

—Eu queria tanto tê-lo conhecido...

—Siga as instruções do diário, você o conhecerá, meu amor….  e, mais importante: não deixe ninguém pegar nesse pingente. Se fizer isso, você encontrará a herança que guardamos para você. - voltou a tocar o rosto da neta - Ah... não se condene pelo que você fez no Santuário. Não foi uma atitude correta, mas você agiu como a guerreira que foi treinada para ser. Afrodite fez um bom trabalho… Ele é um rapaz muito bonito mesmo, mas não chega aos pés daquele que você ama, não é? - esboçou um sorriso, mas logo a senhora fez um ar de dúvida - Se bem que são tipos de belezas diferentes.

—Vovó! - protestou envergonhada a garota enquanto enxugava lágrimas teimosas

—Não tenho o direito de te julgar - A senhora deu uma leve risada - Nós somos muito parecidas nesse quesito, Tatiasha… Guarde minhas palavras: demorará um pouco, mas você será tão feliz quanto eu fui com seu avô - inspirou profundamente - Meu amado Keith... Eu espero que possa encontrá-lo. Meu doce anjo de cabelos vermelhos…

Seus olhos foram se fechando aos poucos e os dedos escorregaram do rosto de Tatia. As lágrimas escorreram silenciosas, enquanto a ruiva retirava o colar do pescoço da avó, colocava no seu e dava um beijo no rosto de sua amada progenitora:

 -Eu tenho certeza que Dedushka Keith está ao seu aguardo, Babushka.

A ruiva segurou o pingente nas mãos e se concentrou, abrindo a porta sem sair do lugar. Dimitri foi o primeiro a entrar. Os olhos azuis encontraram os verdes da filha, que assentiu com a cabeça, confirmando aquilo que ele já imaginava: sua mãe havia partido.



No meio da madrugada, Alexandra chegou. Atirou as malas no hall da casa e correu. A ligação de Dimitri estava ruim e baixa, há tempos ela dizia que a fiação telefônica do rancho precisava ser trocada. Tudo que ela entendeu foi "nossa mamãe está em paz agora". Ela correu para a sala onde estava sendo realizado o velório. Alguns rostos conhecidos, outros nem tanto. Na beira do caixão estava Tatiana, passando um dos dedos pelo carvalho, enquanto Raíssa lhe acariciava os ombros. A filha de Dimitri tinha um olhar distante, mas não foi isso que Alexandra reparou, mas sim no colar de sua genitora no pescoço de sua sobrinha: 

—O que faz com o colar que meu pai deu a minha mãe, Tatiana? - a mulher vociferou, chamando a atenção de todos os presentes. Raíssa postou-se em alerta.

—A Babushka... Ela meu deu antes de ir... Disse que era a minha herança, algo que apenas eu poderia acessar.

—Mas não mesmo! - a mulher de cabelos castanhos avançou e esticou o braço para arrancar o pingente - Tire-o imediatamente! Como filha mais velha, eu tenho direitos sobre ele

Normalmente Dimitri se pronunciaria, porém ele estava devastado no canto da sala, sendo confortado por Sergei e Vlad. Diante disso, quem se manifestou foi Vassily:

—Senhorita Alexandra, por favor... - falou, segurando- a pelos.ombros - Estamos em um velório. 

—No velório da sua mãe, caso não tenha percebido - murmurou Raíssa, tirando Tatiana da visão da tia.

—Claro que você ia apoiar seu amante, não é, Suka?

—O que você disse? - a morena se aproximou, proferindo a frase em um tom brando, mas intimidador. 

—Você achou mesmo que eu não perceberia nunca? Que eu nunca perceberia que você é uma vaca comunista, que seduziu o Dima e, não contente, ainda trouxe seu amante pra morar dentro de casa?

Raíssa respirou fundo e passou a mão direita sutilmente pelo caixão:

—Me perdoe por macular seu velório, sogra... Mas creio que a senhora concordará que isso foi merecido.

Em seguida, a morena ergueu a mão e deu um tapa no rosto da cunhada. Um tapa carregado com o peso de anos de ofensas e com a classe que apenas Raíssa possuía

 

Após todo o escândalo no funeral, foi preciso um esforço hercùleo para evitar uma nova cena no enterro,a equipe de segurança colocou Alexandra bem longe da família do irmão, mais exatamente do lado oposto do caixão. Um padre ortodoxo, ainda horrorizado com as cenas que presenciara mais cedo, fez algumas preces, mas logo encerrou a cerimônia. A primeira pessoa a se levantar para jogar as rosas no caixão foi Tatia, que foi acompanhada por Serguei no impulso, talvez o pequeno temesse uma nova briga com sua tia.

 

Enquanto sua irmã para ele fazia uma prece, o menino levantou o rosto e viu acima das árvores uma figura envolta em uma luz dourada, que parecia vestir uma armadura, por um momento achou que era Afrodite.

 

Tatiana sentia como se seu coração se esmigalhasse , não conseguia processar bem a perda de sua avó, ela lhe fora sempre tão especial. Suspirou e sem que Sergei visse, conjurou uma rosa com seu cosmos e delicadamente a deixou cair sobre o caixão. Assim que a rosa tocou a madeira ela alisou os cabelos do irmãozinho chamando sua  atenção e o tirando daquele transe.

 

O pequeno se assustou com o carinho e perdeu a figura de vista, apenas seguiu sua irmã até dentro de casa enquanto se perguntava quem era que observava de longe o funeral de sua avó.


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