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Já era madrugada e eu estava fumando um cigarro pensando sobre tudo que aconteceu noite quando vi Kevin se encontrando com um cara e se aproximando muito dele, eles se encostaram parecendo falar alguma coisa. Quando vi que se distanciaram e iriam se despedir, desci do último degrau da arquibancada que eu estava e fui para dentro, fazendo com que trombássemos no corredor.

— Oi. – ele disse ao nos encontrarmos. – Noite agitada?

— Por que você estava praticamente abraçado com um cara lá fora? – perguntei tentando não ser grosso.

— Era o cara. Estava fazendo o acerto. Não queria que eu entregasse o dinheiro de qualquer jeito né?

— Precisava chegar tão perto?

— Não sei como funciona com vocês héteros, mas a gente não costuma se interessar por tudo que encostamos. – ele respondeu sem tirar os olhos dos meus e eu fiquei sem graça e desviei o olhar.

— Boa noite Murilo. – ele começou a andar.

— Não consegui. – falei e ele parou me olhando demonstrando que não havia entendido. – Com a garota. – parei de olhar para ele. – Isso nunca aconteceu comigo. Por isso eu estava lá fora fumando.

— Maconha não vai resolver nada.

— Mas vai me relaxar.

— Você está com coisa demais na cabeça, é normal isso acontecer. Confesso que até fico aliviado em saber isso, mas sei que vai se resolver. – ele iria ir, mas não deixei.

— Fica comigo essa noite. – pedi antes que ele se fosse.

— Você já está bem melhor. – não esperava por aquela resposta. Fiquei sem jeito e não consegui insistir.

— Até amanhã Kevin. – fui rápido para meu dormitório. Deitei em minha cama e virei para o canto, tentando dormir sabendo que seria difícil. Senti alguém deitar atrás de mim e se encaixar em meu corpo, ficando de conchinha. Seu rosto encostou-se a meu pescoço e seu braço envolveu o meu. Nunca havíamos ficado tão próximos. Minha respiração estava totalmente irregular e só quando soltei um gemido involuntário notei o quanto estava excitado.

— Não precisei fazer nada para te mostrar que não há algo errado com você. – ele disse baixinho e parecia sorrir.

— Quero mais que isso.

— Você não está pronto Murilo. A gente ainda não conversou sobre isso tudo, você não disse o que pensa, como está se sentindo. Não é fácil. Sei que não é a hora ainda.

— Não preciso dizer nada, o meu corpo está respondendo todas as suas dúvidas.

— Mas é um conflito. Não espero que leve isso tão numa boa. Eu não levei.

— Eu sei. – me virei para ele. – Mas eu não pretendo perder tempo me martirizando. Não ligo para o que sou. Se era assim a vida toda, se é por sua causa, isso não importa. Gosto de você. E nunca gostei de ninguém. Eu quero você. E eu não consigo mais não te ter.

— Espera. – ele pediu e fechou os olhos. Cheguei mais perto ainda e encostei meu rosto no dele. Selei nossos lábios suavemente.

— Por favor, Murilo.

— Não vou te evitar amanhã.

— Não. Vai hoje mesmo. – ele disse com a voz trêmula. Vi que ele lutava contra ele mesmo, contra sua vontade. Ele queria aquilo tanto quanto eu. Invadi sua boca sem permissão e ele não conseguiu me afastar. O beijo mais perfeito da minha vida estava acontecendo, aquilo era inexplicável. O ritmo era idêntico, um encaixe que eu não me lembrava de ter experimentado algum dia. Não queria que tivesse fim, poderia beija-lo pelo resto daquela noite. O jeito que a gente se beijava me excitava mais ainda. Eu estava fodido, porque agora eu iria querer aquilo para o resto da vida. Parecia que havia parado tudo e ao mesmo tempo as coisas giravam. O desejo já me tirava o ar, não era possível que aquilo tudo era real.

— Você vai conseguir fazer isso comigo sem nem encostar a mão em mim? – ele perguntou ofegante e eu entendi o que ele quis dizer e dei um sorrisinho malicioso.

— Olha, não é que eu sou mesmo bom. – ele mordeu meu lábio inferior e mesmo com a luz já apagada nossos olhares eram bem claros.

— Confesso que está difícil me segurar também. – afirmei antes de voltarmos a nos beijar, o jeito que ele se esfregava em mim não ajudava muito, pelo contrário, deixava tudo ainda mais complicado. Sua respiração muito forte e suas reações me fizeram ver o que aconteceria a seguir e isso me tirou completamente o controle. Mordi seu ombro por cima da camisa para abafar o gemido. Demoramos um tempo até nos recuperarmos.

— Como você está? – ele perguntou parecendo bastante preocupado. Odiei seu olhar.

— Nossa, meu Deus, estou totalmente desesperado. – fiz uma voz de tédio.

— Estou falando sério Murilo. Não finja que está bem.

— Não estou fingindo. Nem todo mundo é igual ao seu ex. Estou bem, sério. Só estou sujo. – ele de uma risada.

— Acho que temos que tomar um banho.

— Nem a pau. Tô morto. Pega minha toalha ali. – ele milagrosamente pegou sem contestar. Depois de nos limparmos ele ficou me olhando. – O que foi?

— Você é um enigma. Você está fazendo hora comigo não está?

— Estou. Cansei de fazer só as garotas sofrerem. Quero mais peso para a minha consciência porque estava pouco.

— Não faz sentido pra mim.

— Por que não consegue aceitar que alguém gosta de você?

— Meu nascimento só trouxe sofrimentos. Principalmente para a sua tia. Você deveria me odiar como todos.

— Ninguém nunca te odiou por isso Kevin. Você se fez ser odiado pelas suas atitudes.

— Porque eu me sentia rejeitado. Eu não sou igual a vocês. Por isso eu me dava bem com Alice. Ela também era diferente.

— Todos nós somos diferentes um dos outros de alguma forma. Eu me sinto assim também. Principalmente por toda essa questão do meu pai... A minha mãe sempre diz que o legado dele não tem nada a ver comigo, mas eu passei a minha infância toda ouvindo os amigos e conhecidos dele dizerem que eu seria um novo Vinicius.

— As pessoas não sabem o peso do que dizem. – ele suspirou e me olhou. – Você não precisa ser igual a ele.

— Eu nunca seria. Odeio luta. Sabe o que eu gosto?- ele me olhou achando que eu diria algum hobby. – Você. – sua risada me fez rir.

— A gente não aguenta nem um beijo, como vamos fazer?

— Ah, acho que fica menos intenso com o tempo. – afirmei e abri a boca de sono. – Mas eu estou impressionado sabia? – o olhei. – Imaginei que seria explosivo, mas não esperava por tudo isso.

— Eu esperava... Porque viajo demais em você. Minhas reações seriam intensas.

— Posso te pedir uma coisa? – ele me olhou querendo saber o que era. – Faz carinho em meu cabelo. – ele sorriu antes de atender ao pedido e eu deixei o sono tomar conta de mim.

Alice Narrando

Como eu podia ser tão fraca a ponto de beijar Arthur? Mesmo depois de dizer tudo que já havia dito. Era impossível acreditar. Esse sentimento que eu tinha por ele me controlava de uma forma completamente extrema, eu não conseguia entender. Tudo podia sumir e não existir mais mágoa nem erros, assim finalmente ficaríamos juntos. Mas na realidade não era assim que funcionava.  

Se esse sentimento que a gente sentia era tão profundo assim por que não conseguíamos nos acertar? Se me fazia tão mal por que eu não conseguia tomar uma decisão e permanecer nela sendo coerente com as minhas atitudes? Nem mesmo meu olhar transmitia o que eu dizia. Eu queria que ninguém falasse do sentimento dele por mim, mas não parei pra pensar que tudo em volta iria me lembrar de nós dois.

Não vou esquecê-lo jamais, mas agora eu tinha que agir como se estivesse esquecendo. Isso era horrível, pois incluía me afastar e como eu me afastaria se só no abraço dele é que eu conseguia ter o mínimo de felicidade e paz?!  Vê-lo com a ruiva daquele jeito me fez tomar essa atitude que agora eu me arrependia... Na hora eu estava tão certa e firme, agora eu sabia que era apenas mais uma bobagem vinda de ciúme e indignação.

No fim de tudo o que tenho que fazer é pensar que não tem volta, não dá mais. É impossível voltar para o inicio, por mais que tudo que a gente queira seja isso. E pra continuar vou ter que me afastar dele mesmo, vai doer, mas vou lembrar como isso tudo me faz sofrer. Sei que os meus pensamentos vão busca-lo e minha vontade vai ser ir atrás dele, então vou ter que fazer algo que me distraia nesses momentos... Ainda não sabia o que. Só não podia manda-lo me esquecer e depois beija-lo. Isso jamais.