Intercepted escrita por Cherry Opal


Capítulo 5
Inferno lá vamos nós?




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— Não precisa querida, pode ficar com o mapa, não é como se eu precisasse mais desse mapa.— Mary puxou sua mão com força do aperto dela e a velha se desculpou por sua brutalidade desnecessária.
— Muito obrigado… Eve você tá com a carteira aqui?— A loira me perguntou.
— Não, tá lá no carro.— eu tentei seguir para a porta, a velha tentou me segurar, mas eu consegui desviar antes que ela encostasse em mim.— Nem tenta.
— É que não precisa, tenho certeza que foi Deus que trouxe vocês até aqui para eu mandá-los para o caminho certo. O pai profetizou tudo e eu só estou fazendo a minha parte.— Ela falou mais nervosa ainda.
— Entendi…— Segurei o braço de Mary e empurrei ela pra perto da porta para que ela começasse a sair da loja.— Bom olha o horário, tá ficando tarde né, temos que ir.— Não precisava mais empurra-la já que ela mesma tinha entendido que era pra sair dali imediatamente e começou a apressar o seu passo para fora da loja.
Eu mantinha o olhar fixado nela que agora parecia não mais se mexer, o barulho do sino da porta indicando que Mary havia saído me fez olhar para trás por alguns segundos, porém quando voltei para Desiree ela tinha saído de trás do balcão e vinha com calma em minha direção e eu não queria nem saber virei as costas para ela e comecei a correr em direção ao meu carro. O vento gelado em meu rosto da tarde que se tornava noite lentamente parecia pinicar, toda minha concentração estava focado no carro que estava perto da estrada e não estava ligado, Mary tinha acabado de alcançá-lo e fazia força para abrir a porta que ficava no mesmo lugar, ela começou a bater no vidro e gritar para Hope destrancar o carro, e logo eu segui seus movimentos enquanto olhava algumas vezes para trás encontrando a mulher mais velha vindo em nossa direção. Hope que estava dormindo abraçada com Peter acordou com o susto de nós duas batendo nas janelas, ela parecia confusa com o que estava acontecendo.
— Merda Hope! Abre logo esse carro!— Mary começava a se estressar pela lerdeza da ruiva que finamente destrancou o carro nos deixando entrar para trancar novamente.
— O que tá acontecendo?— A garota de cabelos de cobre coçava os olhos tentando raciocinar melhor.
— Explico depois, me da a chave do carro.— A loira estendeu a mão perto da outra garota que a olhou confusa.— Hope, a chave do carro pra ontem, caralho!— A ruiva finalmente entendeu o que Mary havia pedido em começou a bater em si mesma tentando sentir a chave do carro em algum bolso.
Olhei a para a mulher que ainda vinha em nossa direção, minha perna começa a balançar de nervosismo e meu coração quase saia de mim a cada segundo que minha amiga não acha a chave e Desiree chegava mais perto.
— Porra Hope, acorda e procura isso direito!— Eu gritei e na mesma hora ela encontrou e Mary agarrou subitamente de sua mão e deu partida no carro e saiu cantando pneu para longe da maluca que mesmo de longe ainda parecia nos observar atentamente.
Nós já estávamos longe e meu coração começava a finalmente se acalmar pelas luzes de uma cidade pequena se aproximarem cada vez mais. Depois da explicação tanto para Hope quanto para Peter que havia acordado com o solavanco a viagem seguiu em um silêncio de cemitério. Apoiava minha cabeça em meus braços que estavam na janela do carro e o vento gelado que batia em meu rosto não me deixava descansar direito, ou era o medo de ter que encontrar a mulher maluca de novo, mas eu duvidava um pouco que ela teria o trabalho de nós seguir até aqui. Olhei para Mary que ainda estava tensa atrás do volante pelo jeito que ela o apertava, seu olhar não desgrudava da estrada até que chegássemos em qualquer lugar seguro, e não demorou muito para que no final da cidade um hotel de beira de estrada aparecesse. No estacionamento tinha apenas mais um carro e tudo estava muito quieto, a apreensão de sair podia ser sentida por qualquer um fora do nosso carro.
— Peguem as bolsas e vamos logo.— Tentei ser assertiva, mas minha voz falhava.
Todo assentiram e finalmente saímos, Mary trancou o carro e Peter foi passando as bolsas paras as pessoas, mas na minha eu não consegui trocar olhar com ele e nem ele comigo. Ele e Hope seguiram mais em frente de mim e Mary que estávamos ainda levemente abaladas, eu precisava tirar o meu nervoso de algum jeito… Procurei o maço na minha mochila, peguei um acendi e traguei o o cigarro e senti a fumaça preencher meus pulmões para logo soltá-la.
— Achei que tinha parado.— A loira comentou.
— E eu parei.— Respondi soltando novamente a fumaça e ela me olhou confusa.— E a primeira vez que eu fumei a viagem inteira, não me enche.
— Não to nem com cabeça pra reclamar com você, na verdade to quase pedindo um…
Eu ri e abri a porta da recepção onde um homem via alguma coisa em um computador levemente escondido atrás de sua mesa. Bati no sino que havia ali e ele saiu do transe e olhou para mim.
— Um quarto com duas camas.— Ele levantou e me entregou a chave para rapidamente voltar pra seja lá o que eles estivesse vendo.
— Aposto que ele tava vendo pornô ou algo do tipo.— Mary comentou enquanto seguíamos para o quarto.
— Você aposta? Eu tenho é certeza.— Afirmei dando a chave para ela enquanto jogava o bituca de cigarro no chão e apagava pisando.
O quarto não era nada demais, porém pelo menos parecia bem cuidado joguei minha bolsa na parede perto da minha cama e caí de cara no colchão fofo, abracei um dos travesseiros e tentei descansar enquanto minha amiga provavelmente foi para o banheiro trocar de roupa ou tomar um banho, tanto faz. Eu podia sentir o peso do sono tomando conta de cada parte do corpo e me envolvendo como um cobertor quentinho e seguro de qualquer coisa que quisesse me atacar.
O dia parecia não ter amanhecido ainda, mas eu já tinha acordado, soltei o travesseiro e sentei olhando para a janela, esfreguei meus olhos para enxergar melhor e me estiquei para que o resto do corpo começasse a entender que era hora de funcionar corretamente, comecei a procurar uma muda de roupa na bolsa até que encontrei algo confortável o suficiente pro resto da viagem. A água quente era reconfortante e eu sentia o sono quase voltar para mim, mas a viagem tinha que continuar, troquei para algo melhor que era algo mais confortável e obviamente a flanela que eu sempre incluía em alguma parte do meu visual. Fora do banheiro dava para ver que o sol já começava a aparecer e Mary ainda estava completamente apagada na cama, o que era muito estanho para alguém que assumia sempre que era uma pessoa diurna, cheguei mais perto para ver ela ainda com o celular na mão, revirei os olhos e ri por que isso não era algo q ela faria.
Deixei para lá e fui atrás do meu celular mandando mensagem para Hope perguntando qual quarto que ela estava, não sei se era só pra ter alguém pra conversar nessa manhã aproveitando que eu estava acordada ou para ir pagar logo a diária dos quartos, mas eu duvido que realmente tenha alguém na recepção essa hora, a resposta chegou minutos depois com ela me chamando para seu quarto que não era tão longe do meu.
Segui para lá deixando aquela placa de não perturbe na porta e na frente da porta eu hesitei levemente lembrando que Hope obviamente dividia o quarto com Peter, e eu tinha certeza que ela iria tentar alguma coisa para me fazer falar com ele, mas bati de qualquer jeito e consegui escutar levemente algo como “se comportem” e “vocês precisam conversar”, logo a ruiva estava na minha frente ainda de pijama e com seu sorriso que era uma marca registrada da garota.
— Foi até estranho receber mensagem de você a essa hora.— Ela comentou e me deu passagem para entrar.
— Nem me fala, até eu estranhei acordar essa hora, mas ontem quando eu fui pro quarto só apaguei.
— E a Mary tá terminando de se arrumar?
— Então, você não vai nem acreditar. Ela ainda tá super apagada na cama.— Os dois me olharam confusos.— E tem a possibilidade de ser por que ela ficou acordada a madrugada inteira fazendo alguma coisa.— E logo o espanto tomou o rosto deles.
— Impossível.— Peter sussurrou.
— Gente é sério!
— Nossa certeza que é hoje que os porcos vão começar a voar, as vacas tossirem.— A ruiva começou a procurar roupa em sua bolsa e se preparava para ir tomar banho.
E após de pegar o que faltava ela foi e se trancou no banheiro, e eu podia sentir o olhar de Peter cair sobre mim enquanto minha cabeça ficava baixa impedindo que ele conseguisse ver minha expressão, tantas coisas se passavam na minha cabeça, não sabia se ele esperava que eu começasse a pedir desculpa, se ele ia falar alguma coisa, como eu iria falar com ele, o que iria falar pra ele, e se ele não queria falar nada fingir que não aconteceu…
— Eu conversei com a Hope no carro ontem… E depois da viagem eu vou começar a fazer terapia.— Olhei para ele que agora era quem não olhava para mim, eu podia sentir em sua voz o pesar do que eu tinha falado pra ele ontem.— Você ta certa, eu faço da vida de vocês e principalmente da Hope um inferno pelo meu orgulho de não querer tratamento… De achar que não tem nada de errado comigo quando claramente tem… As vezes eu não consigo pensar direito, as vezes eu acho que eu continuo lá, que ninguém ia conseguir entender o que eu passei.— Seu fungar foi o ponto pra me dizer que ele estava chorando.
— Eu não tinha que ter falado com você daquele jeito, não naquele momento, mas tanta coisa que eu já vinha segurando e não sabia quando ia explodir… Eu sei que eu posso ser muito grossa varias vezes, mas eu falei pro seu bem e da Hope. Por que essa é a última chance que você tem pra ajeitar as coisas.— Ele olhou para mim com os olhos vermelhos.— Nem ela aguenta mais…— Olhei para a porta do banheiro.— Mas ainda tenta por te amar… Mas entre a segurança dela e você a escolha fica cada dia mais fácil com esses seus estouros.
A conversa tinha morrido tão rápido quanto começou e graças a Deus Hope havia saído do banheiro pronta, ela falou para ele que podia usar o banheiro agora e se trancou lá.
— Eu escutei a conversa.— Ela comentou comigo enquanto ajeitava sua bolsa.
— Já falei o que tinha que falar.
— Eve, ele tá tentando.
— Será que ele tá mesmo?— Olhei pra ela questionando e não demorou pra ela cortar o assunto, sabendo muito bem que ia dar em outra discussão.
— O que a gente vai fazer com a Mary? Não é uma situação muito comum.
— Nós vamos pagar o quarto, avisar que ela ainda tá lá e deixar um bilhete avisando que nós fomos comer. Ela não vai acordar nem tão cedo.— Olhei para o meu celular que mostrava que ainda nem tinha dado oito horas da manhã.— Sem condições esperar o dia inteiro por ela.
Hope concordou e Peter saiu do banheiro, sendo muito mais rápido que ela para se arrumar, a ruiva explicou para ele o que nos íamos fazer e foi só uma questão de tempo para que as coisas deles estivesse arrumadas completamente. Eles foram seguindo para a recepção enquanto eu ainda ia passar no quarto para pegar minhas coisas.
Mary dormia tão pesado que ela não tinha escutado eu sair muito menos eu voltar agora, procurei na cômoda que tinha no quarto e achei ali um caderninho e caneta, anotei ali avisando para ela que o quarto quando ela acordasse já estaria pago, que nós fomos comer alguma coisa e que era para perguntar na recepção onde nós fomos. Terminei de ajeitar minha bolsa e segui para a entrada onde Hope e Peter mantinham um conversa amigável com uma senhorinha que claramente não era o mesmo homem de ontem à noite que nós entregou a chave, ela provavelmente deveria ser a mãe dele ou algo assim.
— Você deve ser uma das amigas, sim?— A senhora comentou com uma voz doce.
— Sim.— Eu tentei parecer legal.— Eu gostaria de pagar a diária dos dois quartos.
— Claro, e sua amiguinha já avisou que tem outra garota em um dos quartos.— Entreguei meu cartão para ela depois que tinha terminado de digitar lentamente o preço.
Os quartos já estavam pagos quando começamos a seguir de carro para o restaurante que não era longe, na verdade dava para ir a pé o que é bom para a bela adormecida, mas nós tínhamos que levar o carro junto pra logo quando Mary chegasse seguíssemos viagem. Era um pouco cedo demais para pedir almoço, porem concordamos que ia ser melhor para aguentar o dia. Tudo foi passando bem rápido, Hope foi em uma mercearia e comprou lanches pro resto da viagem, Peter encheu o tanque de gasolina e eu recebi um ligação com mil reclamações da loira que logo apareceu no restaurante.
— Tá atrasada hein.— Eu comentei sarcasticamente.* e recebi um dedo do meio de Mary que sentou e já foi pedindo comida para si.
Ela ia abrir a boca com certeza para reclamar que não tínhamos acordado ela, que deixamos ela atrasar a viagem, etc... Mas eu logo botei meu indicador em cima da boca e fiquei batendo até que ela entendesse que era para ela ficar quieta e relaxar.
— Ninguém tá nervoso pra continuar viagem, relaxa garota. A única coisa que deixou todo mundo nervoso foi você ter ficado acordada a noite toda.— Ela olhou para mim com vergonha e murmurou algo dizendo que não tinha feito isso.— Você sabe muito bem que eu percebo como as pessoas ficam com isso, não tem como esconder de mim, ai eu espalhei pros outros.
— Tem um motivo por eu ter ficado acordada.
— Óbvio né, Mary.— Revirei os olhos e ri do que ela havia falado.
— Você quer saber ou não?
— Saber o que?— Hope perguntou atrás de mim o que me fez pular de susto com o aparecimento repentino dela e de Peter.


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