Solta o som escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Amores, meu livro novo, que tomou quase todo meu tempo nesse início de ano, finalmente vai chegar!
Pra vocês que gostaram do início da história do Caíque, eu venho apresentar o Cadu. Ele também é um estudante do ensino médio, em um romance beeem mais fofinho, daquele tipo pra aquecer o coração em um fim de semana.
Eu vou enviar um brindezinho especial para todos os leitores que decidirem apoiar a pré-venda, que fica no ar todo este mês de julho. Vocês também recebem marca-páginas e o livro vai autografado. O melhor: o frete é grátis pra todo o país.
Estou postando várias curiosidades sobre ele lá no Instagram @cizagatto
Vou deixar o link aqui embaixo.
Beijos! Até logo!



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Vem conhecer a história do Cadu: capa, sinopse e pré-venda!

— Caiaque! — Escutou pela primeira vez enquanto passava por um grupo de estudantes, reunido ao redor de uma mesa de cimento no pátio.

Quando percebeu que não era seu nome, já havia se virado para olhar; mas o fato de não ser seu nome não impedia que o chamado fosse para ele. Um garoto desconhecido acenou em sua direção e, após checar uma vez sobre o ombro, a fim de ter certeza de não estar se enganando, Caíque andou até lá. Apertou as mãos ao redor das alças da mochila, apenas para ocupá-las, e parou ainda a alguns passos de distância. Hesitando até distinguir o rosto de Cauê entre os outros.

Era um garoto comum, mas bonito, do tipo que teria chamado sua atenção no ensino médio. Não tinha uma beleza marcante como os cachinhos castanhos de Lorenzo, o menino da escola de artes, com o qual perdera a virgindade logo antes de ir para a faculdade, nem mesmo se destacava em meio a outros comuns, como era o caso de Danilo com seus olhos absurdamente escuros e a pele cor de caramelo. Cauê era apenas muito alto, tinha ombros largos e uma tonalidade rosada na bochecha, mas definitivamente chamaria sua atenção não fosse por um único detalhe: era amigo de Rômulo.

Foi ele quem começou a falar, de fato, não o garoto que o chamara. Como se o próprio Cauê houvesse feito um comentário com relação à piada sem graça do garoto bêbado na manhã anterior, e então algum deles decidira repeti-la em voz alta, mas não tivesse muito o que dizer.

— Vamos pro bar aqui na frente, hoje à noite. Chama seu colega de quarto.

E que bom que Cauê não tinha permissão para entrar em seus pensamentos, porque o convite com segundas intenções teria sido um tapa bem estalado em sua cara, em plena segunda-feira de manhã.

— Hm — respondeu com um sorriso no canto dos lábios, que fazia seu nariz entortar. Olhou para cima, mas ainda podia ver os cinco ou seis rostos virados para o seu, dando completa atenção para o que dizia. — Pode deixar, eu vou dar o recado.

Enquanto os garotos riam de modo sonoro, Caíque esquadrinhou um por um dos sorrisos que o rodeavam. Encontrou alguns pares de olhos atentos nos seus, enquanto outros já se viravam para provocar Cauê. E, com um último sorriso, afastou-se após um aceno de cabeça. Já estava afastado alguns passos na direção do dormitório quando um garoto correu para alcançá-lo.

— Ei, eu te acompanho. — Moreno, menor do que ele, pele queimada do último verão, sorriso gracinha, uma mão esticada enquanto segurava o material recolhido às pressas com o outro braço. — Ítalo.

— Ítalo — repetiu enquanto livrava a mão direita da alça da mochila para apertar a dele. — Tá tudo bem, eu só vou até o dormitório.

— Ah, eu já tô cansado daquele papo furado.

Caíque o olhou por mais um instante, depois soltou sua mão e se atentou ao caminho. O sorriso, que queria brincar em seus lábios, bastante seguro em uma mordida.

— Sei — respondeu quando conseguiu engoli-lo de vez. — Você mora por aqui também?

A pergunta boba mostrou que poderia não ter uma resposta tão óbvia quando ele chacoalhou a cabeça em negativa.

— A maioria de nós mora em repúblicas depois que consegue uns amigos legais. Acaba saindo bem mais barato.

E então lá estava o sorriso teimoso de volta, fazendo-o torcer o nariz para segurar, sem qualquer sucesso.

— Entendi — disse apenas, enquanto se aproximava os últimos dois passos da escada que dava para a entrada do alojamento. — Então eu te vejo por aí.

— Até hoje à noite? — ele enfatizou o convite de Cauê, mas desta vez era direcionado mesmo para Caíque.

— Até hoje à noite — concordou com um último sorriso, depois avançou até a porta.

Fura olho!, escutou atrás de suas costas assim que alcançou o corredor. Abafado como vinha o grito, sabia que não era para ele, mas a resposta um pouco mais próxima dedurou que era para Ítalo. Quem é que fura olho de hétero? Eu hein!

Caíque diminuiu a velocidade dos passos a caminho da porta do quarto. Havia muita coisa que queria entender daquele diálogo, mas também muito que preferiria nunca ter escutado. Com um nó na garganta e no meio da barriga, chegou ao quarto, onde Philipe estava deitado com os braços e pernas abertos. Bem no meio do chão, entre as duas camas.

— Uau — não conseguiu conter o comentário enquanto fechava a porta. — E esse é só o primeiro dia.

O colega riu e se levantou. Foi se espreguiçar enquanto sentava na própria cama, esticando um braço de cada vez em frente a peito.

— Eu dormi todo torto.

Caíque queria completar o comentário com a informação mais adequada: e o dia inteiro.

— Nunca mais me deixa beber tanto — pediu, como se realmente houvesse passado a primeira noite de boas-vindas com ele. Como se não tivesse saído no início da festa para acudir o garoto que ele havia empanado em pó azul.

— Bom, eu ia te chamar para beber hoje. Aquele garoto que eu disse, o amigo do Remo que tava olhando pro seu irmão, ele me convidou pra levar o meu colega de quarto pro bar.

— Ah. — De sobrancelhas erguidas, ele não parecia muito surpreso. — Eu vou lá avisar o Lipe, aposto que ele vai correndo.

— Tá, mas eu vou ficar sobrando se você não for?

Philipe se levantou com as sobrancelhas juntas, no exato momento em que Caíque se sentou de frente para ele. Arrastando os pés até a porta, o garoto olhou por cima do ombro.

— Duvido muito que algum dia você sobre em alguma festa por aqui. — Abriu a porta e se colocou para fora antes de voltar apenas a cabeça para dentro. — Caiaque.

E então ele havia sumido, deixando-o com o apelido nas mãos pela segunda vez naquela manhã, sem a menor ideia do que fazer com ele.

Aquele primeiro dia de aulas trouxe algumas certezas sobre como seriam seus próximos anos. Ou talvez Caíque estivesse apenas sendo pessimista. A maioria de seus colegas de turma não gostava dele, sem ao menos conhecê-lo. A maioria dos professores sabia seu nome. A maioria dos seus melhores amigos seria feita fora da sala de aula. Fora dela, a maioria dos garotos gostava dele.

Estava pensando nisso por volta das sete horas, quando voltou do banheiro compartilhado, já vestido para a programação da noite, e encontrou Philipe sentado à escrivaninha, com o notebook em frente, e Felipe esparramado na cama do irmão.

— Você ainda não tá pronto? — perguntou para o colega de quarto, enquanto o outro gêmeo se levantava e respondia em seu lugar.

— Você tá? Ele não vai.

— Ah, qual é? É logo aqui na frente, você pode voltar a qualquer hora.

— Eu sei, e eu vou voltar em quinze minutos assim que ele encontrar o tal Cauê e você encontrar o tal Remo.

— E por que você não pode ir e encontrar alguém? O Danilo, quem sabe? — Eles não precisavam saber que estava tentando empurrá-lo para o amigo de infância por um interesse pessoal de que ele se mantivesse fora de seu caminho, precisavam?

— Eu só não quero, Caíque.

Diante do sussurro e um Felipe chacoalhando a cabeça para que deixasse para lá, com um enorme bico formado na boca, achou melhor não insistir. Pendurou a toalha no cabideiro atrás da porta e se despediu, garantindo que não voltaria tarde. Não era por educação, nem mesmo companheirismo; queria apenas entender o ritmo das aulas e das festas antes de decidir do que participar ou não. Sua bolsa de estudos exigia notas razoáveis e comparecimento satisfatório para ser mantida.

Quando deixou Philipe no quarto foi que o incômodo daquela reação começou a fazer barulho. Corredor abaixo, ao lado de um Felipe silencioso, cruzou os braços na tentativa de se proteger de uma resposta atravessada, mas não pôde evitar a pergunta hesitante:

— Tem alguma coisa com ele e os garotos? — Emendou antes que o outro entendesse qualquer vírgula errada. — Eu não quero me meter, mas também não quero fazer nada errado. Ele disse aquilo sobre gostar dos caras que gostam de você, depois não deixou nem o Danilo falar com ele, e agora isso.

— Ele tem essa ideia idiota de que não vai conhecer ninguém legal. E ok, eu admito que ele só quis namorar uns trastes até agora, não é uma história bonita pra um garoto de só dezoito anos, mas era o ensino médio! Era outra cidade, era outro tudo. Ele só tem muito medo, eu não entendo.

Por mais curioso que estivesse, Caíque assentiu e deixou o assunto terminar. Se fosse para descobrir mais, não queria que fosse com o colega de quarto sabendo que andara questionando por aí sobre sua vida. De longe, já podia avistar as luzes do local indicado por Cauê: o único bar em frente ao portão da faculdade. Começou a ficar um pouco mais desconfiado quando se aproximou e enxergou o interior claro, muito branco e encardido através do vidro.

Teria imaginado estar no lugar errado se não houvesse tanta gente lá dentro. Se era um bar, ele não saberia dizer. Havia, sim, gente bebendo todo tipo de bebidas. Mas não havia música, as mesas estavam espalhadas por toda parte, havia lanches saindo da chapa quente atrás do balcão cheio de banquetas, e os funcionários usavam aventais. Não que tivesse muita experiência, mas não se parecia em nada com o tipo de bar em que havia se metido no interior, sem nem idade para isso. Talvez uma lanchonete, com uma estufa cheia de pizzas com aspecto passado em um canto.

— Bom... — Felipe começou, meio incerto sobre o que deveriam fazer quando o sininho da porta anunciou sua chegada. — Você vai pedir alguma coisa?

— Acho que não.

Mais do que nunca, Caíque não tinha dinheiro para gastar com bebidas logo assim, no início da semana. Talvez se fosse um bar de verdade, que o incentivasse a experimentar algo novo e misturar-se com os outros garotos, mas não com a falta de graça das luzes acesas e o ambiente cheirando a hambúrguer gorduroso. Não havia nada do clima colorido da faculdade naquele lugar.

— Vocês vieram! — Cauê se aproximava, abrindo espaço entre algumas pessoas para chegar até eles. — Cauê — apresentou-se enquanto esticava a mão para Felipe. E Caíque pôde jurar que, logo após Felipe responder seu nome, os dois já estavam de mãos dadas. Não era o que de fato havia acontecido, mas alguma coisa na imagem que estava vendo conseguia encaixá-los perfeitamente assim.

Apontou para outro lado do balcão.

— Viemos. Eu vou pegar uma bebida, já volto.

E como havia previsto, não houve objeção da parte de nenhum deles. Riu sozinho enquanto se afastava, em busca de um rosto conhecido, qualquer que fosse. Parou para cumprimentar uma garota e um garoto que o chamaram pelo apelido. De repente, todo mundo o conhecia por Caiaque, e Caíque nem mesmo sabia quem eram. Talvez pudesse encontrar Ítalo ou até o garoto bêbado que inventara chamá-lo daquele jeito.

Mas quem encontrou foi Rômulo. A visão o fazendo parar ali mesmo, incerto sobre onde estava; talvez perto do balcão, talvez muito próximo à porta, porque foi fácil chegar a ela em seguida. Ele estava em um banco, com uma garota entre as pernas. Ela segurava sua nuca e Rômulo apoiava as mãos um pouco acima da dobra dos joelhos dela, enquanto conversavam com os rostos próximos demais para insinuar qualquer coisa que não estivesse realmente acontecendo.

Caíque poderia ter ficado, poderia ter encontrado Ítalo, se aproximado de qualquer outro grupo que soubesse seu nome e feito outras amizades; mais amizades. Mas, na verdade, só queria se encolher na cama ao lado de Philipe e conversar com ele sobre qualquer que fosse o tema da pesquisa que ele fazia na internet.

De todas as decepções que já havia tido, aquela era a menor delas. Quase não chegava a machucar. Como poderia? Nunca havia tido nada com Rômulo, nem mesmo o conhecia. Talvez fosse uma paixão platônica, pronta para se apagar ali mesmo. Ou talvez fosse o abandono do desejo de pertencer a algum lugar e, só para variar, a alguém. Não era sobre ser dele, mas sobre estar com ele.

Rômulo passava aquele sentimento que o conectava a algo, e esse algo nem sempre parecia ser a faculdade. Era como se houvesse promessas para além daquilo, para fora de lá. Ele era músico, Caíque faria teatro musical. Podiam ser uma dupla e tanto ali dentro, poderiam ensaiar juntos, mas poderia ser incrível se levassem a parceria para depois. Para as peças de teatro, para as audições, para produções deles próprios na crescente internet. Planos que nunca havia criado com Rômulo, mas que de repente se formaram apenas para evaporar.

— Caíque! — O chamado o fez parar a alguns passos da porta. Virou-se novamente e se obrigou a abrir um sorriso. De canto de olhos, observou através do vidro a garota sentada onde Rômulo a havia deixado, onde ele estivera antes. — Você já vai? Nem te vi chegar.

— Ah, eu só vim — procurou uma desculpa rápida, mas não era ao menos difícil encontrá-la — trazer o Felipe. Tô meio cansado do fim de semana e não quero começar a semana já fora do horário.

— Mas são só sete horas, fica mais um pouco. Eu te apresento os garotos, você mal conheceu ninguém.

— Ah, não. Hoje não, obrigado. Fica pra outro dia.

Rômulo apenas ficou ali, parado em sua frente. Caíque ergueu a mão como um adeus e murmurou um desejo de boa noite. Virou-se para ir e não escutou mais nada em resposta. Após algum tempo, apenas o sininho da porta. Ele havia entrado de novo.

De todas as decepções que já havia tido, aquela era mesmo a menor delas. Tão fácil de esquecer, de ressignificar os pequenos momentos em que havia visto coisas onde elas provavelmente não existiam, de permitir que Rômulo tomasse seu lugar como um guia na faculdade, como o veterano que lhe apresentaria alguns bons amigos e talvez até outros caras, que pudessem ocupar o lugar que havia imaginado que ele tinha interesse em ocupar.

Então por que era que, quando voltou para o quarto e se deitou ao lado de Philipe, metade da sua cabeça ainda estava lá fora?


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