João e Maria escrita por SnowShy


Capítulo 1
Carlinhos e Bia


Notas iniciais do capítulo

Quem lê as minhas fanfics deve tá achando que eu sou uma mentirosa pq eu disse que n consigo conciliar a escrita com os estudos AAAAA! Kkk. Mas essa aqui é one-shot, né, gente? Dá menos trabalho pra escrever e, mesmo assim, eu demorei pra terminar kkk

Enfim ouçam a musiquinha "João e Maria" e boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777291/chapter/1

Carlinhos tinha apenas dez anos. Havia acabado de subir na árvore de seu quintal, quando avistou uma menina sentada na janela de um dos quartos da casa ao lado. A menina era a vizinha nova. A única coisa que Carlinhos sabia sobre ela era que se chamava Beatriz. Os pais do menino haviam conversado com os dela e ele pôde ouvi-los falando sobre os filhos, mas ainda não tinha falado com a menina, que parecia ser muito tímida.

Beatriz pulou da janela e começou a dançar, achando que não tinha ninguém olhando. Carlinhos sorria. Não por achar a cena engraçada, mas por perceber como era a menina tímida sem a sua timidez. Porém, assim que o avistou, ela fez uma cara de assustada, baixou a cabeça e ia voltar para casa, quando o menino gritou:

— EI, ESPERA! Vem cá!  

Calada, Beatriz caminhou até muro que separava os dois quintais.  

— Quer brincar de alguma coisa? — Perguntou Carlinhos, do alto da árvore.  

— De quê? — Ela indagou baixinho.  

— Não sei... Qual é a sua brincadeira preferida?  

— Faz-de-conta — ela parecia um pouco menos envergonhada.  

— Legal, então a gente pode brincar disso! E você gosta de fazer de conta que é personagens que já existem ou que você inventa?   

— Os dois. Quer vir pra cá?  

Carlinhos, então, desceu da árvore para o muro e pulou do muro para o quintal da menina, que arqueou as sobrancelhas.  

— Que foi? — Perguntou ele, diante da expressão dela.  

— Não sei como você consegue fazer isso, eu morro de medo de subir em árvores e pular de muros!  

— É fácil, se quiser eu te ensino.  

— Talvez depois... — ela não parecia mesmo interessada em aprender, em vez disso, mudou de assunto: — Qual é a sua história preferida?  

— João e Maria, porque tem comida.  

Beatriz deu uma risada e falou:  

— Então a gente pode brincar de João e Maria. Eu era a Maria e você era o João.  

— E o quintal era a floresta.  

A timidez de Beatriz sumiu durante o faz-de-conta e ela ficou bem mais sorridente. Carlinhos gostou dela feliz. Aquela foi a primeira de muitas brincadeiras. Durante dois anos, as duas crianças brincavam quase todos os dias, às vezes no quintal dela, às vezes no dele. Carlinhos foi cavaleiro, cangaceiro, pirata, rei, bedel, juiz; Bia foi noiva, general, aventureira, roqueira, bailarina, princesa (esta com mais frequência do que as outras personagens). A única vez que brigaram foi quando Carlinhos perdeu a cordinha do pião de Bia, mas fizeram as pazes em menos de um dia.  

Quando tinham doze anos as brincadeiras eram menos frequentes; quando estavam juntos geralmente conversavam ou cantavam. Carlinhos achava Bia linda, legal, inteligente e criativa, adorava estar com ela; não demorou até que seus sentimentos começassem a ir além da amizade.

Apesar de ter apenas doze anos, ele tinha certeza do que sentia, só não sabia se ela sentia o mesmo. Às vezes achava que sim, mas na maioria das vezes achava que a menina o via apenas como um amigo. Sendo assim, preferia não falar sobre o assunto, poderia atrapalhar a amizade que eles tinham... Era um pouco triste pensar na possibilidade de não ser correspondido, mas, para Carlinhos, o importante era que ela gostasse dele, mesmo que só como amigo, afinal, o amor de amigos costuma durar mais que esse outro tipo de amor.  

Mas eles deixaram de ser amigos. Foi no ano seguinte quando Bia, por motivos que Carlinhos até hoje desconhece, começou a fugir dele. Talvez tivesse se dado conta de seus sentimentos e, por não correspondê-los, tenha preferido se distanciar. O menino ficou muito confuso: do nada ela começou a ignorá-lo, fingir que não ouvia quando ele a chamava, ficar séria quando ele falava com ela... era pior do que aquela Beatriz tímida de quando ainda nem se conheciam!

Carlinhos sempre havia sido considerado uma pessoa perfeitamente normal, mas naquela época estava louco. Ele não aguentava ficar longe de Bia! E o fato de suas casas serem uma do lado da outra tornava o fato ainda mais torturante. Ele chorava... O que tinha feito de errado, afinal? Nos últimos três anos havia feito tudo o que podia para deixá-la feliz... 

 

Depois de um tempo, a loucura passou. Carlinhos havia se acostumado a viver sem Bia. Agora ela não era mais sua amiga que gostava de faz-de-conta, nem seu amor platônico; era uma vizinha. Uma vizinha que logo iria embora porque sua família teria que se mudar. E ele não se importava (ou pelo menos fingia que não).

Na noite anterior à partida dos vizinhos, Carlinhos estava no alto da árvore. Nem sabia direito o que fazia ali, nunca mais havia subido na árvore do quintal. Bia também não costumava mais aparecer muito no quintal dela, a não ser para estender roupa ou algo assim; mas, naquela noite,  Carlinhos viu a porta dos fundos da casa da menina se abrir e ela aparecer. Como no dia em que se conheceram, não notou a presença dele; contemplava o quintal, as estrelas do céu... Carlinhos, sentindo uma nostalgia imensa, não pôde deixar de sorrir e falar:

— Como nos velhos tempos, né?

A menina o olhou com cara de assustada, mas pelo menos não fugiu. Antes que ela fosse embora, Carlinhos decidiu fazer uma pergunta que deveria ter feito há muito tempo:

— O que é que eu fiz de errado? Por que você parou de falar comigo do nada no ano passado, começou a me olhar com cara feia...?

Ela ficou desconcertada, era notável que não esperava pela pergunta. A única coisa que conseguiu responder foi:

— Eu não fiz isso...

Carlinhos arqueou as sobrancelhas como se dissesse que não era bobo para não ter percebido. Bia, então, admitiu:

— Tá, eu fiz... Você não fez nada de errado, eu é que... não sei... Desculpa!

O menino percebeu que ela estava muito envergonhada e que queria se explicar mas não sabia como. Talvez nem ela soubesse o porquê de fugido... Sendo assim, ele decidiu simplesmente aceitar as desculpas:

— Tudo bem, não precisa falar mais nada. 

Houve um pequeno silêncio. 

E depois Carlinhos falou:

— Vamo fazer de conta que a gente tem dez anos de novo?

— Fazer de conta, é? — Ela pareceu gostar da ideia: quase deu um sorriso e começou a andar em direção ao muro. 

— Você ainda tem medo de subir em árvore?

— Ah, não sei, eu nunca mais tentei...

O menino estendeu a mão para ela, que, ao entender o gesto, arregalou os olhos e falou:

— Peraí, você quer que eu escale o muro e depois suba na árvore?! Ficou maluco???

— É, você ainda tem medo! Não se preocupa, eu te ajudo. Vem, me dê a mão!

A menina hesitou, mas, enfim, segurou a mão dele e, com sua ajuda, escalou o muro e chegou na árvore. Ela pareceu feliz lá em cima. Os dois estavam felizes. Parecia que eles não tinham medo de nada e também que nunca tinham parado de se falar. Conversaram por horas e sobre diversos assuntos. Bia confessou que se arrependia de não ter subido na árvore anos antes.

Ficou tarde e eles precisaram voltar para suas respectivas casas, principalmente a menina, que teria que acordar cedo para a viagem. Despediram-se com um abraço. Carlinhos percebeu uma coisa diferente naquela noite. Demorou um pouco para se dar conta mas descobriu o que era: ela também sentia. Sim, Bia sentia o mesmo que ele, agora Carlinhos tinha certeza! Não sabia como, só sabia... e não podia deixar que ela fosse embora sem antes conversarem a respeito disso!

 

Infelizmente, no dia seguinte, o menino acordou tarde de mais. A família da casa ao lado já se fora. Aquela menina sumiu e não manteve contato. E agora ele era um louco novamente...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu espero que todos tenham gostado e que eu tenha conseguido colocar a essência da música na história. Adorei participar desse desafio! *-*