Sunday escrita por Naokii


Capítulo 1
Nowadays




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— Você já tem seu projeto? – a voz da professora chama a atenção de todos da turma. Eu mesmo estava praticamente dormindo. Coloquei até óculos escuros pra disfarçar.

Ainda com a visão um pouco turva, consegui enxergar os cabelos curtos de alguém na frente da professora. 

— Sim. Terminei. – era Juvia Lockser. 

— Não me leve a mal, mas eu passei esse projeto ontem, senhorita Lockser. Eu sei que você é uma das melhores alunas da minha classe, mas ainda assim...

— Esse assunto é um chato. Eu tenho uma opinião simples sobre ele. – a Lockser disse firmemente. Por um momento, esqueci que estávamos em sala de aula e comecei a viajar no meu próprio passado. Juvia parecia impaciente e séria, por isso as memórias vieram como um soco.

— Você foi um namorado tão ruim que deixou a Lockser revoltada com o amor? – ouvi Jellal debochar no meu ouvido.

— Eu nunca fui um péssimo namorado, tá legal? – falei um pouco alto.

— Me desculpe. Gray, você gostaria de compartilhar algo com a turma? – a professora me olhou e eu quis estrangular meu amigo.

— Não, nada. Perdão. – falei e senti Juvia me lançar um olhar indiferente. Qual o problema dela? 

Por mais que não pareça ter sido nada demais, Juvia e eu namoramos por alguns meses quando éramos crianças. Aconteceu há 9 anos, quando minha avó faleceu. Foi uma fase que tinha tudo pra ser horrível porque nós tivemos que nos mudar pra sua antiga casa e isso me dava crises de choro todos os dias. 

Como se já não fosse o bastante, meu pai recebeu uma oferta de emprego e teve que ir para os Estados Unidos por tempo indeterminado e nos deixou (eu e minha mãe, que na época estava grávida do meu irmãozinho Lyon) aqui no japão. 

Em 2010, o uso da internet não era tão fácil como hoje em dia, por isso a comunicação era péssima. Mamãe se desdobrava pra não deixar que eu me sentisse mal, mas ainda assim era difícil pra mim, entende?

Eu tinha deixado todos os meus amigos na outra cidade (que eram o total de 0 pessoas, mas pelo menos as crianças de lá me conheciam, tá?) e na nova eu não conseguia falar com ninguém. Eu era tímido e parecia que nenhuma criança tinha interesse em fazer amizade com alguém que não fosse aprovado por Erza Scarlet. Erza. Essa é a portadora de todo o meu ódio. Aos 8 anos, a demônia tinha o monopólio da amizade de todas as crianças do bairro. Ela simplesmente era a abelha rainha. Todos os pirralhos tinham que ser aprovados por ela pra ter, sei lá, uma vida social?

Eu nunca soube ao certo o porquê de Erza ser tão respeitada com tão pouca idade. Haviam alguns boatos de que ela tinha batido na diretora da antiga escola em troca de alguns bombons, outros diziam que a família dela era podre de rica. Alguns se arriscavam em falar de que já viram ela receber uma faixa presidencial do ex-presidente de um país escondido no meio da américa do sul (?). Os rumores eram tão absurdos que eu me recusava em acreditar e tinha minha própria teoria: ela tinha batido em algumas pessoas pra que espalhassem algumas mentiras sobre ela. E funcionou. 

Ingênuo, eu até tentei seguir essa técnica da ruiva e bater em alguém, mas eu acabei apanhando da Levy Mcgarden, a menor menina da escola. Foi humilhação demais, por isso dei meu lanche pra ela todos os dias do recreio durante duas semanas pra que ela não espalhasse pra ninguém, mas o Gajeel achou que eu tivesse dando em cima da namoradinha dele, por isso levei uma surra dele também.

Após essa pilha de desgraças acontecerem comigo, resolvi seguir aquele ditado do "se não pode vencê-los, junte-se a eles" e implorei pra Erza me aceitar no circulo de amizade dela. Tudo bem que eu só tive essa ideia depois de assistir um episódio de pica pau e de descobrir que Erza daria uma festa de aniversário onde tocaria músicas do 2NE1 e 4MINUTE, mas eu juro que a intenção era de conseguir a amizade dela. Ok, eu queria muito ir pra festa, mas a amizade também era importante pra mim.

Mendiguei tanto que o diabo vermelho liberou minha presença na festinha, mas me disse que eu teria que provar que era merecedor da aprovação dela. No grande dia, acordei decidido. Arrumei a casa toda, ajudei mamãe com o almoço, acariciei a barriga dela e conversei com Lyon. Tomei 3 refeições reforçadas, tomei um banho demorado e escovei meus dentes duas vezes, além de tentar fazer algumas abdominais antes de mamãe me levar. Eu me esforcei até em comprar um presente legal. Quando cheguei na festa até me segurei pra não cantar "fire" quando tocou. Resumindo: eu estava um anjo e merecia sim a amizade do mundo todo. Estava confiante e esse foi meu maior erro.

A capeta tava vestindo um vestidinho da cor de seus cabelos e tinha havia feito longas tranças. Assim que me olhou, senti arrepios sobre o corpo (pode ter sido o suco que eu derrubei em mim mesmo, mas ok). A confraternização do aniversário de Erza era na praia, por isso ela pediu que eu e outras crianças nos reuníssemos perto de um coqueiro pra que ela me dissesse o que fazer. Como um tolo, fui super animado jurando que seria algo fácil. Rá. Outro erro.

— Você vai até a casa mal assombrada. – disse com sua voz carregada de maldade demais pra alguém que não tinha nem uma década de vida.

— C-Como? – tentei ser forte e não gaguejar mas não conseguia esconder o cagão que eu sempre fui. 

— Você vai até a casa que fica na área deserta da praia, no escuro. Dizem que lá mora uma garota fantasma que foi assassinada há séculos durante uma festa de aniversário na praia. Toda vez que alguém comemora o aniversário no local, ela aparece em busca de vingança. – me lançou um sorriso. – Se você quer meu respeito e minha amizade, vai ter que encará-la essa noite. E aí, vai amarelar?

— Claro que não. – tentei ser firme, mas nem minhas calças estavam mais. Meu estômago já estava frouxo de medo. – Isso não vai ser nada. 

Minhas pernas tremiam como um uma mola a cada passo que eu dava. Mais quatro pessoas tinham ido me acompanhar pra ter certeza de que eu não ia amarelar, o que descartava minha ideia inicial de fugir e dizer que eu fui lá. Suspirei fundo aos chegar no ambiente escuro. Pra ferrar mais ainda o que já estava ferrado, começou uma chuva de fogos. Eu morria de medo, mas tive que seguir em frente. Eu e as outras crianças nos escondemos atrás de uma pedra que ficava à poucos metros do casebre escuro, quando ouvimos uma voz dizer:

— O que pensam que estão fazendo aqui? – uma garotinha disse e entortou a cabeça pra um lado. Foi o suficiente pra que os outros "corajosos" vazassem de uma vez, enquanto eu ficava lá. Acharam que eu estava sendo corajoso, mas eu estava com tanto medo que só fiquei paralisado no mesmo lugar. O rosto daquela garota era tão lindo que eu tinha simplesmente travado. – Vou ter que repetir minha pergunta? – ela disse, tocando meu rosto e eu senti que ela era quente (ou eu que estava estava suando frio). Foi quando eu percebi que ela deveria ser humana também. 

— Você também é humana? – Gray Fullbuster e sua capacidade incrível de falar bosta since 2001. 

— É o que parece. – me olhou como se eu fosse um idiota, mas eu já estava acostumado. – Você veio achando que eu era um fantasma também?

— Sim. – confessei.

— Típico. – disse, jogando os cabelos longos pra trás e se virando pra ir embora. 

— Espera! – eu não queria deixá-la ir. – Então você mora nesse casarão? 

— Sim. Apesar de não ser da sua conta. – riu. 

— Meu nome é Gray Fullbuster. – estendi minha mão coberta de areia. 

— Limpa essa mão. – revirou os olhos. – Juvia Lockser.

E foi aí que o Grayzinho de 8 anos se apaixonou pela primeira vez. Depois disso, nós viramos amigos, passamos a nos ver todos os dias e descobri tudo sobre ela. Juvia tinha sido adotada por um casal de mulheres quando era um bebê, tinha um cachorro chamado Plue e amava nadar. Ela era inexpressiva e só abria um sorriso quando o motivo era algo relacionado à água. Eu tinha sonhos de que ela era a Ariel e eu era o principe Éric, totalmente perdido de paixão. Fala sério, não era justo aquela garota ser tão perfeita com tão pouca idade.

Como felicidade na minha vida dura pouco (vocês puderam conferir anteriormente), alguns meses depois mamãe estava prestes à ter o bebê e meu pai não aguentou mais ficar longe de nós. Fomos obrigados a nos mudar pros EUA, mas antes disso, fiz uma carta de despedida pra Juvia. Nela, eu pedia ela em namoro. Enviei um dia antes de ir, e na manhã que eu ia embora, ela foi na minha casa e me deu um beijo na bochecha. RÁ. Foi CLARAMENTE uma aceitação, não foi? 

7 anos se passaram quando eu voltei. Tínhamos acabado de entrar no ensino médio e eu a encontrei na frente do portão do colégio.

Eu a reconheci de longe, mas NÃO É COMO SE EU TIVESSE PASSADO OS ÚLTIMOS 7 ANOS REJEITANDO TODAS AS GAROTAS PORQUE EU ACHAVA QUE AINDA ESTAVA NAMORANDO JUVIA, claro que não. Eu apenas acenei DISCRETAMENTE e tudo que recebi foi um olhar torto e a visão das costas da azulada. Em todas as vezes que tentei me comunicar com ela, fui prontamente ignorado.

E agora estamos nós, de volta ao momento atual, onde Juvia disse ter terminado em apenas um dia o projeto sobre "amor" que a professora de desenvolvimento pessoal havia mandado fazer. 

— E o que você tem aí, senhorita Lockser?

— Um texto em forma de protesto. Estou expondo minha opinião pessoa sobre o dia que o comércio capitalista decidiu que o dia dos namorados fosse comemorado.

— Entendi. – a professora disse. – Você gostaria de ler?

— Tudo bem. – minha "ex" foi pra frente da turma e começou a ler. – "Para mim, o dia dos namorados é uma perca de tempo, além de ser desculpa para o consumismo acontecer à vontade e alimentar o bolso do comércio. Os casais gastam bastante dinheiro em apenas um dia quando os verdadeiros presentes que deveriam fazer as pessoas sorrirem deveria ser carinho, atenção ou até mesmo um singelo elogio..."

— Hã... eu odeio te interromper, senhorita, mas já que está expondo sua opinião, você não escreveu também sobre uma parte boa sobre o dia dos namorados?

— Ah, claro. Estava chegando lá. "Claro que o dia dos namorados deve ter um lado bom para ser celebrado. Mesmo que eu não tenha celebrado nunca, sei que ganhar chocolates, presentes caros e roupas deve ser bom e reconfortante para algumas pessoas." 

Toda a turma observava a cena com um pouco de choque. Tenho certeza de que não era bem isso que a professora queria dizer quando escolheu o amor como um tema para a turma.

Lockser apenas deixou seu papel com a professora e saiu da sala, pois o sinal havia acabado de tocar, me deixando bastante intrigado porque comecei a pensar no que eu deveria fazer no meu projeto.

Algum tempo depois, eu estava na sala do conselho estudantil, tomando um pouco de café. Havia terminado meu trabalho há poucas horas, por isso havia tempo de sobra para meu café e eu. Na verdade, eu nem gostava dessa droga, era amargo demais, mas eu queria uma desculpa pra ocupar minha mente. Qualquer coisinha mínima que pudesse me ajudar a fazer um projeto de desenvolvimento pessoal bom.

— Esse café deve estar com um gosto pior que o seu, Fullbuster. – ouvi uma voz maldosa se referir a mim.

— Não pior que o seu, Erza.

Ouvi um risada debochada em resposta. Erza pegou sua xícara de café e se retirou da sala, me deixando com raiva.
Eu havia voltado há dois anos, mas parecia que esses 7 anos em espera só havia feito nossa inimizade crescer ainda mais. Erza e eu nos tornamos rivais em EXATAMENTE TUDO. Éramos os dois melhores da escola (empatados com as mesmas notas), tínhamos o mesmo número de pessoas em nosso fã clube e quando ocorreram as eleições pra presidente do conselho estudantil, tivemos a mesma quantidade de votos no primeiro e segundo turno.

Vivíamos nos estranhando pelos cantos e corríamos atrás de toda e qualquer oportunidade de ganhar pontos extras pra ver se conseguíamos mudar o placar, ou sei lá o quê. Essa era a razão pra Erza ter se inscrito nas aulas de defesa pessoal e eu nas aulas de desenvolvimento pessoal. Por esse motivo eu estava tão desesperadamente tentando criar um projeto legal. Eu precisava tirar uma nota boa pra passar da bruxa ruiva.

Respirei fundo, abrindo o twitter pra reclamar da vida quando tive uma ideia genial. Pensei em como o ódio unia as pessoas. Pensei no ódio mútuo entre Erza Scarlet e eu e do ódio profundo de Juvia Lockser pelo capitalismo e o dia dos namorados. 

Projeto... Ódio... Juvia Lockser... Dia dos namorados... Projeto. Ódio. Juvia Lockser. Dia dos namorados. Era isso!

Eu iria fazer a Juvia se apaixonar por alguém e fazer disso meu projeto! Era tão óbvio! De quebra eu poderia até ter o prazer de ver ela ter seu coração partido como eu tive quando voltei pra escola e ela me ignorou. Era genial, como não pensei nisso antes? Juvia parecia ser alguém de vidro e sem sentimentos, o que seria interessante porque eu surpreenderia a professora com todos os dados da minha pesquisa.

Gray Inteligente Fullbuster, você é demais!

Saí da sala do conselho correndo, na esperança de encontrar a Lockser na piscina da escola. Geralmente ela ia embora cedo, mas sei que nesse dia da semana ela costuma dar uma nadada com os outros membros do clube de natação.

Dito e feito! A encontrei saindo do vestiário, com os cabelos molhados indicando sua recém-saída do banho e aquelas jaquetas de couro que ela usava com frequência. Meu coração quase disparou quando lembrei de nossa infância mas prontamente segui em direção à garota. Parei em frente dela, que levantou uma sobrancelha como se quisesse que eu dissesse o que queria logo.

— Juvia, como vai? Tenho uma proposta pra você. – abri um sorriso, certo de que conseguiria o que queria. 


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Notas finais do capítulo

se você gostou, deixe seu comentário, mesmo que seja um xingamento kkkkkkkkkkkk
o que acharam dessa narração do nosso menino fullbuster? só ladeira abaixo na vida desse homem.
vocês acham que ele e a juvia realmente namoraram ou ele é coisa da cabeça desse doido?
deixem suas teorias e palpites nos comentários. Um beijão ♥



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