After Dark escrita por saturn


Capítulo 6
Como eu era antes de você


Notas iniciais do capítulo

Nesse ponto, eu só tô transformando os títulos dos livros que eu tenho que ler mas estão parados há semanas em títulos de capítulos.



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Wanda estava nervosa de uma maneira que não ficava desde que foi oficialmente introduzida aos Vingadores.

Ela e Peter haviam chegado a NY há dois dias e já estavam devidamente instalados na casa dos Parker. May, a tia de seu amigo, era incrível. Gentil, compreensiva, uma bruxa como ela – tudo bem, não exatamente como ela, mas perto o suficiente – e no geral uma das melhores pessoas que ela já teve o prazer de conhecer em sua vida. Ela podia ver de onde Peter tirou algumas de suas qualidades.

No geral, ela estava se sentindo muitíssimo bem vinda à casa dos Parker, que fizeram questão de tê-la bem instalada e confortável, sendo calorosos de uma forma que ela vira poucos nova-iorquinos serem. Era bom ser tratada como uma pessoa normal, não como uma bomba prestes a explodir ou um trem desgovernado indo em direção a um precipício. Ou qualquer besteira poética do tipo.

Aquele seria seu primeiro dia de aula nos Estados Unidos – seu primeiro dia em uma escola de verdade desde que tinha doze anos – e suas mãos não paravam de suar. Bucky e Nat tinham passado cerca de quarenta minutos no Skype com ela, tentando a ajudar a decidir o que vestir e o que levar, e embora ambos tivessem garantido múltiplas vezes que não havia nada de errado com sua roupa e que ela não estava usando muita maquiagem, a sokoviana ainda estava insegura. Mas qual a graça de primeiros dias de aula se você não estiver nem ao menos um pouco nervoso, certo? Ao menos foi o que ela aprendeu assistindo todas aquelas séries bobinhas no Disney Channel.

Conferindo a lista que fez nas notas do celular uma terceira vez, ela se certificou que tudo estava no lugar e que nenhum fio de cabelo estava com fora da trança embutida que levou vinte minutos para fazer, pegou sua bolsa-carteira e saiu do quarto. Imediatamente foi atingida com um delicioso cheiro de panquecas e torradas, bem como risadas baixinhas dos outros dois habitantes da casa.

— Hey Wan. – Peter a cumprimentou de algum lugar na cozinha. Às vezes ela esquecia o quão bons os sentidos dele eram.

— Hey! Bom dia. – ela cumprimentou os dois Parker ao adentrar no cômodo, sendo recebida por dois sorrisos simpáticos gêmeos.

— Você está linda, querida. Simplesmente sensacional. – May piscou para ela – Peter fez o café da manhã hoje porque eu me atrasei. – ela deu uma risadinha – Trabalhei até tarde ontem no hospital.

— Você deve estar cansada. – a sokoviana apontou.

— Um pouco, mas valeu a pena. Eu peguei o turno de colegas durante algumas semanas e consegui acumular favores o suficiente para uma semana inteirinha de folga. – ela suspirou em contentamento – Só espero que vocês Vingadores não tenham nenhum plano de lutar com algum super-vilão e tirar minha folga.

— Absolutamente nenhum. – Peter disse enquanto colocava um prato de panquecas quentinho na frente de Wanda – Para nossa sorte eu fiz o café da manhã, o que significa que nada está queimado ou cru por dentro. – ele sorriu malicioso para a tia e piscou para a amiga, que riu ao notar mais uma semelhança entre os dois.

May bateu no sobrinho com o pano de prato que usava para secar a louça que tinha acabado de lavar – Ora menino, tenha mais respeito.

— Só no dia em que você for capaz de fazer torradas e não carvão.

— Você vê o tipo de coisa pelo qual eu tenho que passar, Wanda? Eu não tenho respeito nessa casa. – a mulher mais velha bufou de brincadeira e recebeu um beijo na bochecha de Peter.

— Ti amo, zia. – ele disse em um italiano abafado.

— Me ama, né.

— Muito, muito.

Ele se sentou ao lado da Maximoff com seu próprio prato de panquecas e ofereceu café para ela, que negou educadamente. Preferia não tomar café pela manhã, lhe dava azia.

— Então, Peter e Wanda. – May começou como quem não quer nada – Ontem eu recebi uma ligação do Sr. Stark.

— E...?

— Ele disse que os Vingadores como um todo tinham um presente para vocês dois. Presente esse que está lá embaixo lhes esperando. – ela se apoiou na pia em frente aos dois adolescentes e os encarou divertida – Se eu soubesse que ser um Vingador implicaria ganhar esse tipo de coisa, teria enviado meu currículo muito antes.

— O que é? – o garoto perguntou ansiosamente, ainda com a boca meio cheia.

Wanda, que também estava interessada, embora tivesse a decência de terminar de mastigar antes de falar algo, também se inclinou em direção à mulher mais velha, atenta. Se bem que, no fundo, ela meio que já tinha uma ideia do que se tratava. Era meio óbvio e Bucky tinha passado um tempo suspeitosamente longo ensinando ambos os dois a como dirigir motos como bons pilotos de fuga.

— Se eu contar não tem graça. Vocês tem que descobrir por si mesmos. – ela deu de ombros – Mas não antes de terminarem de comer calmamente e escovarem bem os dentes, espertinhos. – ela frisou bem as palavras ao notar que ambos começaram a comer mais rápido – Mastiguem bem.

— Mas Maaay...

— Mas nada. Mastiguem. Wanda, você também. Não quero ninguém aqui vomitando.

— Sim, May. – ambos murmuraram em conjunto e então se entreolharam, divertidos.

Em cerca de quinze minutos, os dois tinham terminado de comer – calmamente, como requerido pela Parker – e de escovar os dentes, tendo que dividir o banheiro, mas não a pia. Enquanto ela reaplicava o rímel, ele passou manteiga de cacau nos lábios e ajeitou o cabelo.

— Tá grande. – ele resmungou – Preciso cortar.

— Eu gosto do jeito que está. – Wanda comentou, sentindo as bochechas esquentarem por admitir isso em voz alta.

— Gosta, é? – as bochechas dele também se avermelharam um pouco e ela sentiu uma centelha de esperança. Seria possível que ambos sentissem as mesmas coisas um pelo outro?

Não seja ridícula, Wanda.

Peter era seu amigo.

 

 

May o parou antes que ele pudesse sair devidamente do apartamento.

— Peta?

— Sim?

Ela pareceu hesitar antes de respirar fundo e estender uma jaqueta, que ele rapidamente reconheceu como sendo a de Ben.

— Quero que você use isso hoje.

— Mas por quê?

— Bem, em partes porque já é outono e tá começando a ficar mais fresco. – ela disse, olhando criticamente a camiseta com uma piadinha científica de manga curta que ele escolher – Em outras porque eu notei o quanto você gostou da jaqueta e o quanto que usa-la te fez bem. Eu quero que você a use porque... porque eu acho que você precisa. Acho que vai ser bom ter uma parte dele com você nesse momento da sua vida. Você sabe, último ano antes da faculdade, coisas mudam. – ela sorriu para ele e então disse em um tom mais baixo – E talvez te dê a coragem necessária para chamar a Wanda para um encontro.

— May! – ele disse, sabendo que soava estrangulado – Não é assim, ela é minha amiga, não tem nada a ver.

— Peta, eu não nasci ontem. – ela bufou – E eu já assisti filmes o suficiente para saber quando tem um casal apaixonado bem na minha frente.

— Não é bem assim, é que – ele se cortou – Você acha que... que ela gosta de mim?

— É bem óbvio. Quase tão óbvio quanto os olhinhos de coração que você fica enviando para ela.

— Ah, cara...

— É, pois é. Agora vá e se divirta. – ela piscou para ele – Até que horas vocês pretendem ficar fora? Deveriam aproveitar para irem passear pela cidade no horário da tarde. Daqui a umas duas semanas já vai estar frio o suficiente para que vocês queiram ficar o dia todo dentro de casa de possível. – ela disse, agora em voz alta, visando chegar aos ouvidos de Wanda que mexia no celular distraidamente ao lado do elevador.

— Eu tinha prometido levar ela para conhecer um pouco da cidade e ela me disse que gosta de museus, então eu comprei dois ingressos no New York Hall of Science. – o aracnídeo deu de ombros, tentando não evidenciar o quão nervoso se sentia.

— Ah é? – sua tia o encarou maliciosamente – Se divirtam então. E Wanda, não deixe ele te entediar com todas essas coisas de ciências e tudo mais.

A Maximoff deu uma risadinha – Não vou.

— Tuuuudo bem então. Agora vão vocês dois ou se não vão se atrasar. – a italiana os dispensou com um gesto das mãos – Mas antes que eu esqueça, isso é parte do presente. – ela entregou uma caixa preta em formato retangular para o sobrinho e sem mais delongas fechou a porta na cara de ambos, provavelmente planejando voltar a dormir.

— Vamos? – ele sorriu sem graça para a amiga e juntos pegaram o elevador.

Lá na rua. Duas motos de aparência discreta, mas ainda levemente parecidas com as de Steve os esperavam. Olhando em leve choque para a amiga e sentindo um grande sorriso ameaçar rasgar sua face, ele riu em descrença e chegou perto da que tinha um capacete azul marinho pendurado no guidão.

— Caramba. – a sokoviana murmurou ao seu lado, admirando seu presente.

— Não acredito, cara.

— É incrível.

— É demais. – ele concordou com ela.

— Você acha que é um pedido de desculpas? – ela indagou, parecendo insegura.

— Ah, com certeza. – ele garantiu – Mas também acho que é o que tia May disse pra gente que era. Um presente para os mais novos membros da equipe. – deu de ombros e abriu a caixinha, tirando a chave de ambas de lá e entregando a do chaveiro em formato de chapéu de bruxa para Wanda.

— Stark. – ela murmurou e revirou os olhos, mas não parecia chateada.

Não querendo pensar muito nas implicações daquele presente, ele vestiu a jaqueta de seu tio, sentindo uma onda de confiança o atingir, e prendeu bem a mochila nas costas.

— Vamos?

— Claro. – ela rapidamente o imitou e se sentou em sua respectiva moto – Lidere o caminho, nova-iorquino.

— Me siga então, sokoviana.

Rindo, ela deu ré e então partida, seguindo o amigo entre as ruas até seu destino.

Cara, ele tinha um bom pressentimento sobre o dia de hoje.

 

 

Peter estacionou na lateral da escola, em uma das poucas vagas disponíveis. Eles estavam apenas ligeiramente atrasados, o que não queria dizer muito considerando o histórico do Parker, mas ele não queria que sua amiga se metesse em problemas logo no primeiro dia de aula, por isso fez questão de agarrar sua mão assim que possível e arrastá-la para o portão que estava quase fechado. Felizmente, o guardinha da escola, Sr. Diggles, sempre esperava até dez minutos após o horário de início das aulas, sabendo que haveria alunos atrasados.

— Bom dia, Peter. Como foram as férias de verão? – ele o cumprimentou, sorrindo simpático.

— Foram ótimas. – ele sorriu de volta, grato que o outro não comentou nada sobre ele estar de mãos dadas com uma garota – Essa é Wanda, ela é aluna de intercâmbio, veio morar comigo e com minha tia. – contou a mentira inventada pelo time de relações públicas dos Vingadores (Pepper e Rhodey, basicamente) com apenas leve remorso por estar mentindo para alguém que gostava.

— Seja muito bem vinda, querida. – ele disse, recebendo um aceno tímido e um 'obrigada' baixo da menina – Agora vá antes que vocês se atrasem.

— Tchau, Sr. Diggles! – ele se despediu do homem enquanto puxava a amiga em direção à entrada.

— Tchau Peter! E vê se não se atrasa mais, não quero te pegar escalando mais nenhum muro.

Rindo, ele rapidamente os dirigiu à secretaria para que pudessem pegar o horário da garota.

— Aquele é o Sr. Diggles. Ele é muito legal, sempre me deixa entrar mesmo quando eu tô atrasado e totalmente está saindo com nossa professora de informática, a Srta. Smoak, e o professor de russo, Sr. Queen. Eles são a santíssima trindade acadêmica daqui de Midtown. Você vai adorar eles, embora o Sr. Queen possa parecer meio ameaçador de primeira. Tinha até alguns boatos de que ele era da Bravta, a máfia russa, há alguns anos por causa de uma tatuagem que descobriram que ele tem, mas eu acho que não tem nada a ver. – ele balbuciou, sabendo que estava praticamente vomitando palavras devido ao nervosismo.

— Ele parecia ser legal. – Wanda comentou.

— O mais legal.

Assim que chegaram à secretaria, ele acenou para a Sra. Lintespector, que o encarou com desaprovação, e explicou entre gaguejos toda a história de capa de Wanda. Achou estranha a conduta dela, já que a secretária sempre pareceu gostar dele, mas afastou aquilo com um aceno da cabeça, tentando não pensar demais.

— Parece que nós temos só algumas aulas em comum. – ele murmurou tristemente.

Wanda era muito mais uma pessoa da arte do que da ciência, embora estivesse em uma escola de STEM, por isso tinha muito mais aulas voltadas à arte e literatura, que não eram tantas quanto às de ciência e tecnologia, mas existiam. Felizmente, Midtown tinha uma política rígida de que todos os alunos comparecessem às aulas principais (língua inglesa, álgebra, história mundial e geografia geral, principalmente) por pelo menos três semestres, e ele tinha ignorado a existência daquelas matérias até ser forçado a preencher seu banco de horas no último semestre do ano anterior, então eles estavam presos juntos. Nessas e em Língua Russa com o Sr. Queen, que ele tinha certeza de que, assim como ele, ela escolheu pois tinha facilidade e conhecimento prévio e queria algo para ajudar a impulsionar suas notas.

Isso e o Sr. Queen era muito agradável de se olhar, mas ele duvidava que a Maximoff soubesse disso quando se inscreveu para a aula.

— Ela não pareceu ter gostado muito de mim. – Wanda comentou ao seu lado, parecendo incerta.

— Mas por quê? Todo mundo gosta de você. – ele respondeu enquanto a guiava para sua primeira aula, embora o horário de ambos não batesse naquele dia.

— Não gostou do jeito que eu me vesti. – ela deu de ombros, mas ele pode perceber que ela parecia incomodada.

— Besteira dela, você tá ótima. – ele garantiu. Era verdade.

Ela estava usando calça jeans de cintura alta, um suéter vermelho e coturnos pretos que ele tinha quase certeza de que um dia foram de Natasha. Parecia bem comum, até mesmo comum demais para Wanda, que gostava de corpetes e botas de cano longo. Não que ele passasse muito tempo reparando no que ela vestia nem nada. Isso seria estranho.

— Obrigada. Mas acho que foi por causa dos pentagramas e das pedras. – ela se referiu aos colares e anéis que usava.

— Gente preconceituosa tem em todo lugar, não esquenta a cabeça com isso. – ele sorriu para ela quando ambos pararam em frente à sala de Literatura Greco-Romana – Te encontro na hora do almoço. Minha amiga Michelle, que você conversou com algumas vezes pelo meu Skype, faz parte da sua aula e vai te ajudar a encontrar sua próxima classe. Vai ser bem fácil de achar ela, procure pela pessoa que pareça mais entediada ou ligeiramente assassina. Provavelmente vai estar usando brincos feitos à mão e desenhando em alguma coisa no fundo da sala. Pedi para ela guardar um assento par você. – ele explicou tudo enquanto já se preparava mentalmente para as desculpas que teria que dar para sua professora de física.

— Obrigada, Pete. – ela devolveu seu sorriso – Não sei o que faria sem você.

— Você nem estaria aqui. – piscou para ela, mal acreditando em sua coragem, e rapidamente se virou para a direção contrária, dirigindo-se para a sala da Sra. Warren.

Quando chegou ao seu destino bateu na porta e esperou. A professora o recebeu com lábios crispados e olhos cheios de reprovação, mas Peter estava muito ocupado admirando o quanto cresceu em relação à mulher, que sempre usava saltos altíssimos para lecionar, naquele verão.

— Olá Sr. Parker. Vejo que os anos se passam, mas o senhor continua se atrasando.

— Me desculpe por isso. – ele coçou a cabeça sem graça – Eu fui ajudar uma intercâmbista.

— A Srta. Maximoff, eu presumo. – ela acenou com a cabeça, indicando para que ele se sentasse. Felizmente Ned tinha guardado um lugar para ele.

— Sim, ela mesma.

— Bem, caso a veja antes de mim diga que eu ofereci minhas boas vindas a nossa escola e ao nosso país.

— Vou dizer.

— Muito bem então. – ela o encarou por cima dos óculos meia-lua e então sorriu – É bom te ter conosco, Peter. Agora voltando ao que eu estava dizendo, esse ano nós teremos...

Mas ele se perdeu na explicação, muito ocupado cumprimentando alegremente seu amigo de longa data.

— Cara! Quanto tempo! – Ned disse, com seu jeito empolgado de sempre – Eu vi duas pessoas chegarem de moto pela janela, eram vocês dois?

Claro, eles tinham que ter estacionado bem em frente a sua classe, correndo o risco de chamar atenção. Ele, enquanto Peter Parker e não Homem-Aranha, detestava atenção. Principalmente de seus colegas de escola, que raramente tinham algo de gentil a dizer.

— Era sim. Depois eu te conto mais. Me encontra na hora do almoço? Wanda e MJ vão nos encontrar lá também.

— Claro que sim! – ele exclamou animado – Mal posso esperar para conhecer ela pessoalmente.

— Vocês vão se dar muito bem. – o aracnídeo garantiu.

— Não tanto quanto vocês dois, eu imagino. – seu amigo o encarou com um olhar conhecedor e Peter gemeu baixinho, tentando evitar atrapalhar a professora.

— Até tu, Brutus?

— Qual é cara, eu sou seu melhor amigo. Acha mesmo que eu não ia perceber que você fica todo bobão quando fala dela?

— É tão perceptível assim?

— É muito perceptível. – o Leeds garantiu, para seu desagrado.

— Droga. – ele resmungou.

— Não esquenta com isso, cara. Tenho certeza de que ela também gosta de você. – Ned tentou o confortar – Ao menos foi isso que MJ disse, e ela nunca está errada.

— É verdade. – o Parker foi forçado a admitir e, quando seu amigo estava prestes a dizer outra coisa, a professora chamou a atenção de ambos, obrigando-os a encerrar sua conversa por enquanto.

Ele mal podia esperar até a hora do almoço.

 

 

MJ era na verdade alguém muito agradável de se ter por perto, mesmo com seu exterior duro e aparentemente hostil. Wanda podia ver o porquê de Peter parecer gostar tanto da garota, ela era realmente muito legal. Ela acompanhou a bruxa em todas as suas primeiras aulas, e então para o refeitório, onde Peter e o garoto filipino que ela rapidamente reconheceu como sendo Ned as esperavam. Após pegarem seu almoço saudável e sem graça na fila, ambas se sentaram com os garotos.

— E então Wanda. – o filipino começou – Posso te chamar de Wanda?

— Posso te chamar de Ned?

— Claro!

— Então, claro! Por que não?

— Ótimo! Você tinha razão Peter, ela é legal. De qualquer forma, o que tem achado de nossa humilde Midtown?

— É grande. – ela franziu o cenho em concentração – Bem grande. As escolas em Sokóvia costumavam ser bem menores. Mas é legal, parece ter muito o que fazer aqui.

— É, infelizmente o tamanho exacerbado vem com uma quantidade exacerbada de idiotas. – Peter bufou divertido – Felizmente você não teve o desprazer de dar de cara com um deles.

— A nossa população local de idiotas diminuiu consideravelmente desde a formatura dos veteranos do ano passado, embora eles tinham deixado pupilos. – MJ deu de ombros – E um deles está vindo bem em nossa direção em três, dois, um...

— Pênis Parker. Como é bom te ver por aqui novamente. Quem é sua amiguinha?

Wanda se virou para o garoto latino que tinha chego a sua mesa e se sentado ao seu lado, sendo seguido por uma trupe de garotos que se vestiam como se fossem filhos do pastor da igreja local e batessem nas crianças mais novas na parte de trás da escola. Ela conhecia bem o tipo.

— A amiguinha dele tem nome e não gosta que se refiram a ela como se ela não tivesse boca. – ela disse, sentindo seu sotaque ficar mais pesado conforme sua irritação crescia.

— Wow, a gatinha tem garras. – ele sorriu para ela.

— Nossa, é como ler a pior fanfic do Wattpad de todos os tempos. – Ned sussurrou para MJ, mas Wanda pode ouvi-lo bem.

— Vem cá Flash, você não tem mais nada de útil pra fazer com a sua vida não? – Peter disse, atraindo olhares chocados das pessoas que não pareciam acostumadas a vê-lo revidar.

— Escuta aqui, pênis – o referido começou a dizer em uma tentativa de soar ameaçador, mas Peter não demonstrou sinais de se importar com qualquer coisa que ele tenha dito.

— Eu sinceramente não me importo com o que você tenha a dizer, só me deixa comer em paz e vai, sei lá, vandalizar propriedades públicas e trazer desgosto para seus pais. – Wanda estava impressionada. Ela não sabia que seu amigo tinha tanta garra dentro de si, e aparentemente nem seus colegas de escola, que o encaravam como se estivessem o vendo pela primeira vez.

— E que tipo de obsessão estranha é essa que você tem com as genitais do Peter? – MJ levantou uma sobrancelha para ele, que ficava cada vez mais vermelho.

— É cara, você não é meu tipo. – o Parker fez uma careta de quem pede desculpas – Não tem nada a ver com a aparência, é só o fato de você ser um grande de um pau no cú.

— Você gosta, não é Parker. – Flash disse venenosamente, mas não surtiu muito efeito.

— O que eu gosto ou deixo de gostar não é da sua conta, Eugene. Agora vaza daqui antes que –

— Antes que o que?!

— Antes que eu perca a paciência com você e te mostre como nós resolvemos conflitos em Sokóvia. – Wanda disse, chamando a atenção para si antes que Peter fizesse algo do que se arrependesse.

— Não é o fim, Parker. E nem para você, esquisita.

O latino – ou ao menos ela achava que ele era devido ao sotaque e a alguns estereótipos dos quais ela não estava particularmente orgulhosa de ter associado – bufou e foi embora pisando duro, sendo seguido por sua manada de idiotas. A Maximoff, no entanto, estava muito ocupada se certificando que Peter estava bem. Ela já o tinha visto socar uma parede de concreto revestida de titânio quando estava com raiva e foi como se ele estivesse atravessando água. Não seria bonito ver o que ele poderia fazer com um ser humano, embora a ideia a trouxesse uma sensação de satisfação.

— Que grande idiota. – seu amigo resmungou enquanto apunhalava suas cenourinhas com seu garfo de plástico – Me desculpe por isso, Wanda. Espero que você não pense menos de mim pelas coisas que eu disse. – ele pareceu envergonhado e os outros dois presentes fingiram estar distraídos com outras coisas.

— Tá tudo bem, Peter. De verdade. – ela o assegurou, buscando dentro de si ideias para confortá-lo – Lembra do que Nat disse pra gente há algumas semanas? Você e eu somos almas gêmeas, cara. Wanter pra sempre, independente se você for um pouco verbalmente agressivo com pessoas que merecem.

Natasha e Bucky estavam treinando-os cerca de três semanas atrás quando começaram a caçoar da nova proximidade de ambos, que foi de onde surgiu todo aquele papo de 'almas gêmeas' e 'Wanter'. No início ambos ficaram tímidos em relação a toda aquela brincadeira, mas logo adotaram como uma piada interna.

Funcionou, porque ele riu levemente e voltou a falar normalmente.

— Wanter é horroroso. Que tal Petanda?

— Aí seu nome fica na frente? Nada disso.

— Panda. – MJ sugeriu e todos riram.

— Que brega. – Ned comentou, cutucando o amigo nas costelas.

— É brega mesmo. – Wanda concordou – Eu adorei.

— Eu também. – o sorriso do aracnídeo aumentou, criando aquelas ruguinhas no canto de seus olhos que ela achava adoráveis – Panda então.

— #euapoiopanda. – disse o filipino enquanto tirava uma selfie espontânea dos três.

— Ah cara, eu tô horrível, apaga isso. – Peter olhou por cima do ombro do amigo e disse, fazendo careta para a tela do celular.

— Deixa eu ver. – MJ se inclinou na mesa e arrancou o telefone das mãos do amigo e mostrou a tela para Wanda, que gostou da foto apesar de estar levemente tremida e sua cara estar engraçada – Que merda hein Leeds. Vamos tirar outra.

Ela passou um braço pelos ombros da Maximoff e colocou a língua para fora, tirando uma foto de ambas. Do outro lado da mesma, Peter a olhou como se dissesse 'Viu? Eu disse que você se daria bem'.

Balançando a cabeça, ela enfiou uma de suas cenourinhas na boca para abafar outro sorriso. Se ao menos Pietro pudesse a ver agora, ela tinha certeza de que ele ficaria orgulhoso.

Estranhamente, aquele pensamento não lhe trouxe tanta dor assim.

 

 

Após as aulas acabarem, Wanda acompanhou Peter até a primeira reunião do time de Decathlon e ficou sentada nas arquibancadas conversando com uma garota legal que se apresentou como Sally até dar o horário de eles irem embora. Ela se despediu na nova conhecida e dos amigos de Peter, quem um dia ela esperava poder chamar de seus próprios amigos, e se dirigiu para a saída com o amigo, onde ambos pegaram suas motos e foram até o prédio onde moravam, as deixaram lá e foram em direção ao centro do condado à pé. Era bom que a residência dos Parker fosse tão próxima das lojas, ou se não eles teriam caminhado bastante.

No caminho eles trocaram histórias constrangedoras de primeiros dias de aula e compraram churros. Peter a levou até um parque de diversões bem movimentado, que era o palco de uma feira cheia de atrações e barraquinhas de comida. Eles se sentaram em uma mesinha sob uma árvore enfeitada com luzes de fada e lâmpadas pequenininhas enquanto desfrutavam de seus cachorros quentes.

E embora tudo estivesse perfeito, tinha algo que ela precisava saber.

— Então Peter. – ela tomou coragem – Tem uma coisa que eu quero te perguntar, mas não precisa responder se não quiser.

— Tááá... – ele disse, fazendo cara de quem estava esperando pelo pior.

— É que eu não pude deixar de notar que seus colegas acharam estranho você ter revidado hoje mais cedo. Também não pude deixar de notar, e acho difícil não ter notado, que aquele tal de Flash parece ter costume de pegar no seu pé.

Ele respirou fundo – Olha Wanda, e-eu não gosto de conflito, entende? E Eugene é o tipo de cara que vai atrás de quem não fala de volta. Ele não é uma pessoa fisicamente violenta, na verdade eu não acho que ele seja uma pessoa ruim, só está confuso, mas os amigos dele são. Eles batem nas pessoas que Flash intimida verbalmente simplesmente porque eles podem e porque são covardes. Outras pessoas que não tem a força que eu tenho, ou a capacidade de cura que eu tenho. Elas não são o Aranha.

— Mas isso não significa que você mereça passar por isso, Peter. – ela segurou a mão dele por cima da mesa – Sendo o Aranha ou não, você não deve deixar esses caras te usarem como saco de pancadas. Você claramente sabe se defender, então porque não?

— Porque... Wanda... Olha, eu não posso, ok? A única outra maneira de fazer isso seria se eu começasse a combater ativamente o bullying deles.

— E por que não faz isso? Você é um herói, Peter. Pode lidar com alguns garotos de colégio.

— Antes do Homem-Aranha, antes de ser um herói com uma roupa colorida e poderes legais, eu era um garotinho assustado que saia por ai tentando mudar o mundo com os punhos. Eu ia atrás de caras como os minions do Flash, caras que achavam que podiam tratar os outros como merda só porque eram maiores e mais fortes. Mas isso não me tornava uma boa pessoa. Eu tinha toda essa raiva reprimida, era uma criança difícil e respondona, um briguento irresponsável. Eu não posso mais ser aquele garoto que eu era antes do Homem-Aranha, dos Vingadores, antes de conhecer você. – ele disse amargamente para ela.

— Você não precisa ser, Peter. – ela apertou sua mão e ele entrelaçou seus dedos – Você pode ser mais, você tem potencial para ser. Você já errou e aprendeu com isso, agora crie algo bom em cima do que costumava ser – ele pareceu considerar o que ela disse e ela, por sua vez, lhe deu um sorriso suave – Pense nisso, ok? – ele acenou em concordância – Agora, porque nós dois não terminamos nosso cachorro quente e vamos na roda gigante?

— Soa como um plano. – ele sorriu de volta.

 


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Notas finais do capítulo

Hey, se você chegou até aqui, se importaria de deixar um comentário? Pode ser apenas um 'gostei', ou um 'legal', não precisa ser nada demais. É que eu ando tendo tão pouco - ou seja, zero - interações aqui no Nyah que eu ando ficando cada vez mais desanimada. Eu escrevo porque eu gosto, mas admito que comentários, favoritos e etc me deixam ainda mais motivada. Então, se possível, deixe um comentário aqui :) ou não, você quem sabe.



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