Além do Fim escrita por Lucca


Capítulo 1
No âmago da escuridão, um pulso de esperança


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo apresenta o contexto no qual a história se desenvolverá a partir dos sentimentos de Thor.
Boa leitura.



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Mjolnir destruído. Asgard destruída. O que restou do seu povo sucumbiu de forma cruel. Todo o universo em perigo diante de Thanos. Thor foi até o coração de uma estrela e conseguiu uma nova e poderosa arma. Ele voltou e lutou contra o inimigo. Reuniu toda sua força e poder num golpe. O Deus do Trovão não falharia. O peito de Thanos se rompeu diante da lâmina do seu Machado. Thor respirou fundo. Não havia satisfação em ferir e matar, apenas a necessidade de evitar danos maiores. Nesse momento, ele sentiu como se o tempo parasse. Ausência total de tudo. Acabou...

Mas não tinha terminado ainda. Com a posse das cinco jóias do infinito, mesmo ferido de morte, Thanos foi capaz de cumprir seu propósito: estalou os dedos e aniquilou metade de todos os seres vivos do universo.

Sentado no chão do aposento que disponibilizaram a ele no QG da Shield, Thor relembrava todos esses acontecimentos repetidas vezes. “Descanse” disseram esse homens de Midgard a quem ele já considerou inferiores, mas aprendeu a respeitar pois provaram seu valor no calor da guerra. Descansar... um riso diminuto triste e carregado de ironia se formou. Ele não tinha o direito de descansar. Como pode não calcular esse detalhe? Porque não arrancou o braço do maldito ou sua cabeça? Fracasso. Era isso que ele era.

Mas os grandes guerreiros ali reunidos, todos abatidos pelas perdas irreparáveis que sofreram, estavam determinados a não aceitar a derrota. Ardia neles a centelha da esperança. Não sabiam como, quando ou o que fazer, ainda assim não desistiram. Thor queria sentir isso também, porém não encontrava nada dentro de si para lutar. Mesmo assim, ele não abandonou os amigos. Ouviria atentamente suas resoluções colocando sua força e Tormenta à disposição daqueles corajosos guerreiros.

Vingança era o único sentimento que dominava seu coração. Tamanha era a escuridão no seu âmago que ele não via nada além da raiva.

Na manhã seguinte, uma nave renegada dos Saqueadores, parte do grupo que criaram Peter Quill, entrou em contato pedindo autorização para pousar. Pediam asilo e se ofereciam como aliados. Os vingadores se reuniram discutindo se poderiam confiar nesse grupo desgarrado no qual sequer Yondu confiava. Em meio às discussões, os bandidos mandaram outra mensagem. Tinham encontrado algo no espaço e entregariam como prova de sua boa vontade diante dessa aliança. Segundo eles, estavam com o último grande guerreiro sobrevivente de Asgard.

A mensagem fez o coração de Thor pular uma batida. Todos estavam mortos, ele sabia. Claro que talvez ainda existisse algum asgardiano universo a fora. Cientistas ou pessoas comuns que migraram para outros mundos por diferentes motivos. Mas não guerreiros. Para se tornar um guerreiro em Asgard existia um rigoroso processo de seleção e treinamento, seriam provados inúmeras vezes e, se conseguissem essa honra, sempre serviriam seu povo. Estavam todos lá no Ragnarok ou na nave queimada por Thanos. Só ele e a Valquíria sobreviveram. E estavam aqui.

A ira de Thor se acendeu:

— Como ousam blefar de forma tão infame, Saqueadores?!

— Se há mesmo um guerreiro asgardiano com vocês, coloquem-no nessa linha de comunicação. – mediou Steve Rogers.

— Talvez isso sirva de prova. – Tuondy, líder do bando disse.

Então, todos na sala viram uma pequena jóia verde da qual pulsava uma luz rítmica.

Thor sentiu seu coração acelerar. Sua vontade era socar a mesa e a cara de Tuondy. Como ele ousava negociar com isso? Por que não a colocou no vídeo? Algo no seu interior o advertiu que precisa agir de forma menos explosiva, mesmo assim estava disposto a deixar claro que não negociaria algo tão valioso.

— Enviem-na para nós agora ou sentirão a minha ira. – ameaçou com a voz rosnando entre os dentes.

— Estamos assustados e sem suprimentos. Ela é tudo que temos para conseguir que nos deem asilo. Ou nos aceitam junto com ela, ou todos sucumbiremos no caos que Thanos criou.

Thor apertou o botão que encerrava as comunicações. Então se voltou para os amigos com um olhar que eles nunca tinham visto em seu rosto:

— Tragam-na pra cá em segurança, por favor. – disse baixo e visivelmente abalado.

Os Vingadores trocaram olhares compreendendo que, seja que fosse, a importância da pessoa que estava ligada àquela jóia para Thor era imensa, então assentiram decidindo permitir que a nave pousasse.

— Ok. Vou tomar todas as medidas de segurança necessárias. Eles serão alimentados e receberão cuidados médicos, mas ficarão isolados até descobrirmos se podemos confiar neles. – Fury informou.

Pouco tempo depois, todos vistoriavam o desembarque da tripulação da nave. Tuondy foi o último a descer e foi cercado pelos Vingadores . Junto de si, impulsionava uma bolha de energia desconhecida na terra. Dentro dela estava Lady Sif, em animação suspensa.

— Aqui está o que prometi como prova da minha boa vontade. – disse fazendo uma reverência.

Mesmo antes de poder visualizar detalhadamente Sif, Thor exigiu:

— Liberte-a agora!

— Não! – Natasha praticamente gritou. – Ela tem ferimentos graves. Melhor só romper a animação suspensa na enfermaria.

Thor se aproximou e o que viu deixou seu coração angustiado. O braço direito e parte de seu peito de Sif estavam dilacerados e separados do corpo. A palidez de seu rosto lançavam a sombra da morte sobre ela.

Tomado pela ira, Thor se lançou sobre Tuondy, mas foi detido por Steve Rogers e Bruce Banner. Mesmo assim, esbravejou:

— Seu verme maldito! O que você fez com ela?

— Não fizemos nada. Já a encontramos assim, vagando pelo espaço. Recolhemos para tentar conseguir ajuda para ela ou para nós.

— Acalme-se, Thor. Isso não vai ajudá-la. – Banner disse. – Melhor focarmos nossa atenção nos cuidados que ela precisa receber.

O Deus do Trovão recuou concordando com o amigo.

— A joia... – Thor disse já sem precisar ser controlado pelos amigos – ...me devolva a joia dela. – a ira no seu olhar se misturava a uma forma de súplica que os amigos nunca tinha visto. Ele precisava da joia. Precisava ver aquela luz que indicava que ainda havia vida pulsando em Sif.

Toundy entregou a joia

— É sua, amigo. Ela é toda sua.

Thor ignorou a ironia do comentário e pegou a joia acariciando delicadamente com seus dedos. Em seguida, passou a conduzir a bolha de energia que carregava Sif guiado pelos amigos. Assim que alcançaram um dos elevadores, num ambiente mais privado, ele se recostou na lateral deixando-se esmagar pelo medo de perder Sif de novo:

— Por favor, digam que poderemos fazer algo por ela...

Banner, Romanoff e Rogers se entreolharam entristecidos. A situação de Sif não parecia nada boa. Acompanhar mais aquela provação para Thor era outra coisa que apertava seus corações. Todos eles perderam pessoas amadas naquele caos, mas ter uma delas de volta à beira da morte parecia ainda mais cruel.

— Vamos avaliar com cuidado. Ela é asgardiana. Sua densidade e recuperação é diferente da humana. Só reverteremos a animação suspensa se ela realmente tiver alguma chance com os recursos que temos. – Banner

Natasha levou a mão ao ombro do amigo.

— Prefiro acreditar que ela não foi forte e sobreviveu até aqui para morrer agora. Vai dar tudo certo.

Thor voltou ao seu aposento e deixou seu corpo escorregar até o chão novamente. Dessa vez, a espera o levou até outras lembranças, memórias de um tempo que agora parecia tão distante no tempo e no espaço. Em todas, uma pessoa entrelaçava as tramas: Sif. Sorrindo, o desafiando, questionando algumas de suas resoluções. O brilho no olhar dela, o calor de suas palavras, a intensidade de sua presença fizeram toda a diferença em inúmero momentos de sua vida. Ele se permitiu ficar ali, perdendo a noção do tempo enquanto vagava por aquele passado que só agora se deu conta de ser tão feliz.

“Thor não seria Thor sem Sif.” Pensou e sorriu pela primeira vez em muitos e muitos dias. Ele fechou os olhos e admitiu que se sentia melhor apenas por ela estar ali, mesmo que sua vida estivesse por um fio.

Então alguém bateu à porta. Levantando-se num salto, correu atender. Era Banner:

— É arriscado, mas achamos que há uma boa chance de conseguirmos reimplantar o braço dela. Vamos usar a mesma máquina de reconstrução celular que curou o Barton e criou o Visão. A máquina sofreu alguns danos, mas podemos restaurar grande parte de suas funções. Se você concordar, vamos tentar.

— Façam! – a palavra saiu firme e forte de seus lábios. Não porque ele aceitasse colocar a vida dela em qualquer tipo de risco, mas porque ele tinha certeza que era o que ela desejava que fosse feito. – Será que posso vê-la antes?

— Com certeza. Venha comigo.

Enquanto caminhava até a ala médica, Thor se sentiu forte, algo que Thanos havia arrancado dele com aquele estalar de dedos.

A bolha de energia que abrigava Sif já estava na sala de cirurgia. Uma grande equipe preparava equipamentos e instrumentos. Ao entrarem, Banner pediu para que todos se retirassem. Depois disse:

— Eu vou deixá-los sozinhos. Tome o tempo que for necessário. – e bateu suavemente nas costas do amigo.

Olhar para a extensão dos ferimentos dela o fez se sentir pequeno e fraco novamente. Mas ele fechou os olhos e aspirou o ar com determinação. Sif merecia que ele fosse forte para ela e por ela. Só havia uma forma de fazer aquilo e ele o faria: a verdade. Sua voz não vacilou:

— Passei todo o tempo desde que te encontramos relembrando os momentos que vivemos juntos. Você é a mulher mais determinada e corajosa que já conheci. É intrometida e arrogante também, mas por hoje eu não vou insistir nisso... – então ele sugou novamente o ar na certeza de que suas próximas palavras atingiriam a parte mais difícil daquele discurso: - Sif... você merece saber que essas lembranças trouxeram os melhores momentos que tive nos últimos dias. O simples fato de você estar aqui faz com que eu me sinta mais forte... – e se calou para não deixar a voz estremecer.

Então ele se aproximou da bolha de energia e cravou os dedos nela, recostando sua cabeça próxima à de Sif:

— Por favor, sobreviva e contaremos os momentos épicos dessa história no futuro.

Assim que terminou, se afastou rapidamente da bolha e dela, deixando a sala.

No seu interior fervilhava um caldo de emoções indefiníveis que se misturavam à um vazio que não lhe permitia ver nada do desejo de vingança. Sufocado, buscou uma porta de acesso à uma das sacadas da fortaleza. Apoiando as mãos na mureta de proteção sugou todo o ar possível, enchendo os pulmões e expirou lentamente. Repetiu mais duas vezes a ação até se sentir melhor. Então, olhou ao redor. O QG se escondia em meio a uma floresta tropical. A natureza era exuberante. Em algumas de suas viagens à Terra, Thor já tinha visitado lugares assim e ficara encantado com a beleza que tinham. Agora nada mais o encantava.

Eles já devem ter desativado a animação suspensa agora...” pensou, sentindo seu coração pulsar forte no peito num alerta para as possibilidades nefastas que poderiam acontecer nessa tentativa.

Se ela não resistiu, logo virão me avisar.”

Mal acabou de formular o pensamento, a porta atrás dele se abriu, rasgando seu coração:

— Diga! – exigiu da pessoa que o procurava sem se virar para ver quem era.

— Pensei que talvez você estivesse precisando de uma bebida. – a voz de Valquíria soou atrás dele e então viu a garrafa ser disponibilizada ao lado de sua mão.

— Por Odin, mulher! Conte logo o que sabe. Ela suportou?

— Se está falando de Sif, eu não sei. Pensei que você ficaria lá durante o procedimento.

Thor soltou um grunido.

— Sif beberia por sua vida ou por sua morte. – Valquíria sugeriu relembrando a guerreira.

Era verdade. Ele tinha que admitir. Então, puxou a garrafa e virou na garganta uma boa dose de seu teor. Ao sentir o álcool descendo e seus efeitos rapidamente se fazendo presentes, questionou:

— Isso não é da Terra.

— Não, não é. Eu guardei para um momento especial, mas achei que seria necessário para você agora.

Ele podia sentir os efeitos da bebida se espalhando rápido, um leve formigamento nos seus dedos, a cabeça mais vaga sem sentir tanto o peso dos últimos tempos. Mas não foi o suficiente para apagar a tensão daquele momento:

— Sif... – ele sequer foi capaz de saber se realmente pronunciou isso ou se foi apenas dentro de sua cabeça.

Difícil dizer se foi uma súbita coragem que o dominou, se foi o desespero somado à vontade de por fim àquela agonia da ignorância do desfecho que acompanhou a reanimação de Sif ou se foi apenas o álcool agindo, mas ele deslizou a mão para dentro do bolso da jaqueta que usava à procura da pedra.

Trouxe a mão fechada para fora, ainda relutante por conhecer a realidade que se apresentaria à ele. Não havia mais porquê evitar, então abriu a mão.

A luz verde pulsava como antes, como sempre.

Ele respirou aliviado e pressionou a pedra contra o peito.

— O que é isso afinal? – Valquíria interrogou-o.

— Um presente de minha mãe à Sif. A pedra tem a cor dos olhos dela e pulsará essa luz enquanto Sif viver. Ela sempre usou como uma joia nas ocasiões especiais em Asgard. Como se fosse necessário qualquer adorno para Sif chamar a atenção de todos os homens nesses eventos...

— Frigga sempre demonstrou um carinho especial por ela.

— As duas sempre foram muito ligadas... confidentes. E quando se uniam contra mim... – e riu relembrando o passado. – Obrigada pela bebida e pela conversa. – disse já se retirando.

Sozinho nos seus aposentos, ele focou em observar a luz pulsante verde e a deixou ser a única coisa a povoar seus pensamentos até que perdeu a luta contra o sono. Algumas horas depois, despertou ao som da voz de Banner chamando-o na porta do quarto. Imediatamente seu olhos correram para a pedra. Ela ainda vivia! Então, abriu a porta para o amigo.

— E então?

— Sua amiga é forte. Resistiu bravamente durante o procedimento. A máquina não está funcionando completamente, então o processo continuará por alguns dias, mas a parte mais complicada já foi feita. O braço foi reconectado ao corpo. Não conseguimos salvar o seio, não havia quase nada dele. Depois que tudo acabar, com a fisioterapia ela poderá recuperar boa parte dos movimentos. Ela ainda está inconsciente. O procedimento exigiu muito dela. Acredito que isso só se reverterá após ela se fortalecer. Se você quiser vê-la...

Antes de concluir sua fala, Banner foi surpreendido por um abraço esmagador de Thor.

— Você terá minha gratidão eterna, Banner.

Devagar, Banner saiu do abraço do amigo.

— Não faça isso de novo, por favor. Eu sei que o “grandão” tem se negado a aparecer, mais um abraço inesperado assim pode ser ... assustador e ele achar que é uma ameaça.

— Me desculpe, não lembrei do outro cara.

— Tudo bem. Quanto à Sif, não precisa me agradecer. Foi um bom trabalho de uma grande equipe. Toda vida é importante e eu sempre farei o possível por quem precisar. E você ainda não me respondeu. Quer vê-la agora?

Thor assentiu com a cabeça e seguiu Banner pelo corredor em direção à enfermaria.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Devo continuar?

Obrigada pela leitura.



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