Fogo Cruzado escrita por Biax


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, xuxus!

Olha quem teve uma bela ideia (com a ajuda da amiguinha Dona Ester).

Boa leitura!



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Tudo o que se ouvia eram tiros e gritos, uns, enraivecidos, outros, de dor. O ambiente estava um caos.

Nathaniel estava com uma G36C nas mãos trêmulas, completamente desorientado. Não achava que a situação chegaria a tal ponto, não depois de tudo o que fez. Ou melhor, evitou fazer.

Os tiros ecoavam pelo espaço do galpão. Às vezes era possível distinguir onde e o que eles acertavam. As paredes, janelas, pilhas de paletes velhos de madeira, o chão de concreto ou o corpo de alguém.

O rapaz ouviu seu apelido ser chamado, porém, não se atreveu a se levantar. Ele sabia que os policiais estavam avançando e, pelo desespero que atrapalhava seus pensamentos, não sabia o que fazer. Devia achar um jeito de fugir? Devia ficar ali até que a polícia o achasse? Afinal de contas, ele não era o mocinho. Precisava pagar pelo que fizera, por se envolver e ajudar aquelas pessoas ruins.

Por um breve momento, conseguiu se concentrar e ouvir a voz de Candy, ver sua expressão de medo ao saber o que estava acontecendo. Em seu peito, sentiu o coração apertar por saber que falhou em protegê-la de tudo aquilo. Tudo o que ela não devia saber ou se envolver.

Ela não queria aquilo, tentou ajudar da forma que pôde, e ainda assim, ele não foi forte o suficiente. Não quis se arriscar mais, não quis piorar a situação que, no final, piorou. E muito.

Ao encarar aqueles olhos cheios de lágrimas em sua mente, jogou a arma para longe, a fazendo escorregar para debaixo do estofado. Se ergueu e andou rapidamente para o próximo cômodo, se lembrando da pequena janela que havia atrás de uma estante cheia de caixas de papelão com variados tipos de entorpecentes. Empurrou o móvel, logo notando os vidros pintados de preto. Assim que liberou a janela, procurou pelo ambiente algo que o ajudasse a quebrar o vidro, e logo um abajur chamou sua atenção.

Indo até a mesa, puxou o fio da tomada e retirou a cúpula, ficando apenas com a base de ferro já enferrujada. Sem delongas, bateu o objeto contra o vidro, cobrindo o rosto com o braço esquerdo para se proteger dos estilhaços. Assim que quebrou os pedaços maiores, passou a base de ferro pela moldura da janela para retirar o restante dos cacos. Olhou para fora, vendo a rua mal iluminada e percebeu o beiral da construção, onde era possível andar, desde que de forma cuidadosa. Tomou impulso, pulando para fora. Deu alguns passos para a esquerda, conseguindo ver, no escuro, um muro que dividia o terreno daquele prédio com o espaço de uma pequena fábrica.

Sentou no beiral, se virando enquanto descia e se pendurava. Se soltou, conseguindo pôr os pés no muro e, depois que se equilibrou, andou por ele até a rua, onde pulou novamente para o chão, quase tropeçando.

Felizmente a rua estava vazia, muito provavelmente pela guerra que devia ser ouvida no bairro todo.

Ele precisava correr para casa, se livrar daquelas roupas e deixar aquele maldito lugar de uma vez por todas. Não importava se tivesse que ajoelhar diante de Candy e implorar perdão e pedir para que eles fossem embora. Precisava tentar, precisava saber se ela o aceitaria de volta.

Enquanto caminhava apressadamente, o mais próximo dos muros possível, viu uma silhueta virar a esquina.

Sentiu o rosto perder a cor quando notou, mesmo que de longe e no escuro, que era Candy, provavelmente voltando do trabalho. Estatelou no lugar com o susto, mas se forçou a correr em direção a ela.

A menina parou no lugar quando viu alguém indo em sua direção, mas seu rosto demonstrou alívio por ver que era Nathaniel, porém, temeu apenas pelo desespero que ele exalava. Ele estava falando algo, e ela se lembrou de que estava com os fones de ouvido. Resolveu retirá-los.

— Você precisa sair daqui agora! — Ele esbravejou, a segurando pelos ombros e empurrando pela mesma direção que veio.

— O que... — Antes que protestasse, Candy conseguiu ouvir alguns tiros que pareciam perigosamente próximos. — Nath, o que aconteceu?!

— Depois eu explico, vai, agora!

Assim que começaram a andar por onde Candy havia vindo, um disparo ecoou pela rua, logo ao lado deles. Instintivamente, Nathaniel abraçou a garota por trás e, vendo que o tiro não era para acertá-los e sim para pará-los, se virou, mantendo Candy atrás de si.

Andando lentamente com uma M9 apontada para eles, Jonny negava levemente com a cabeça, como se estivesse desapontado.

— Então é assim, Nathaniel? Você foge quando mais precisamos? Achei que você fosse mais corajoso.

O coração do loiro batia descompassado. Tanto aquele órgão quanto o cérebro trabalhavam rapidamente, tentando encontrar um jeito se sair ilesos daquela situação.

— Acabou, Jonny, não tem mais nada a ser feito — falou Nathaniel, tentando manter a voz nítida e calma.

— Não, não acabou, ainda não. Você nos traiu, seu verme, desde o começo. Eu sabia que devia ter te entregado logo que descobri seus truques... O chefe confiava em você e você simplesmente jogou isso fora. Agora todos estão mortos porque você é um bosta medroso. E acha mesmo que eu vou te deixar fugir?

— Só nós dois sobramos, Jonny, não tem motivos para fazer algo estúpido. — Nathaniel ergueu as mãos, mostrando as palmas, tentando acalmá-lo.

— E você acha que eu ligo? Tudo o que eu quero agora é dar um tiro no meio da sua testa. — Jonny parou, a alguns passos de distância, sem demonstrar um pingo de cansaço, tanto pela fuga, quanto por ficar com o braço estendido. — Você merece morrer pela traição.

Nathaniel engoliu seco. Não acreditava que há poucos segundos achava que poderia fugir.

Seria arriscado, mas poderia atacar Jonny enquanto Candy fugia. Se ele realmente morresse no processo... Bem, pelo menos tudo acabaria ali.

Como os braços de Nathaniel já estavam para trás, formando um casulo em Candy, levou as mãos até os quadris da moça, o apertando levemente enquanto a afastava, como um aviso de que ela teria que correr.

— Então vai, atira. — Nathaniel falou, erguendo o queixo para enfrentá-lo. — Já que você quer tanto ser o vingador do seu grupo, vá em frente.

Jonny não demonstrou emoção alguma. — Eu não sei se você é muito esperto ou muito burro. Quem será que avisou a polícia da nossa reunião?

— Eu estava com vocês o tempo todo.

— E quem garante que você não avisou antes?

— Só fiquei sabendo dessa reunião minutos antes dela começar e eu fiquei com Frederick a tarde toda.

— É uma pena que eu não possa perguntar a ele, porque ele morreu com seis tiros no tórax... Ou será que tem outra pessoa envolvida? — Jonny deu uma olhada para o ombro do loiro, vendo a cabeça feminina ali.

— Ela não tem nada a ver com isso, chegou aqui na hora errada. — Nathaniel afastou um pouco mais o corpo de Candy. Sentiu suas pequenas mãos agarrar sua jaqueta, amedrontada.

— Será mesmo? O que tem a dizer em sua defesa, menininha? — Jonny apontou sua arma para o único pedaço visível da cabeça castanha. Candy permaneceu em silêncio. — Não vai falar? Tem certeza? Seu namorado corre o risco de morrer.

As mãos de Nathaniel soltaram o quadril da garota, prestes a atacar. Candy soltou a roupa do outro delicadamente, sem fazer nenhum movimento brusco.

— Eu... tenho algo a dizer. — A voz dela saiu trêmula.

— Diga.

Assim que Candy abriu a boca, Nathaniel fechou a mão direita em punho e com força e rapidez, acertou um soco no maxilar de Jonny, o fazendo ir para o lado, desequilibrado. O loiro foi para cima do homem enquanto Candy começava a correr.

Jonny, enfurecido, se bateu contra o ex-colega, lhe desferindo um soco no estômago, sem a força que gostaria, o que não causou tanto efeito. Nathaniel segurou o homem pela gola do moletom e deu outro soco rápido no nariz. Sem que esperasse, Jonny impulsionou a cabeça para frente, devolvendo o golpe no nariz do outro com a testa, o fazendo ir para trás.

Com os poucos segundos que teve, Jonny apontou sua arma para a rua, tentando focar a visão atordoada pela dor no rosto. Conseguiu ver a silhueta da garota quase chegando no final da rua e, sem precisão alguma, atirou.

— NÃO! — gritou Nathaniel, se jogando contra Jonny, que respondeu erguendo o joelho contra o tórax do outro.

Nathaniel caiu para trás, sem ar. Jonny limpou o sangue de cima da boca com a manga da blusa de frio, voltando a apontar a M9 para o que estava no chão.

— Agora sim acabou. — Seu dedo puxou o gatilho, ao mesmo tempo que sua mão se levantava, involuntariamente, devido aos dois tiros que levara nas costas, o fazendo desabar para o lado poucos segundos depois, urrando de dor.

Nathaniel soltou uma exclamação, se curvando, mal conseguindo mover a coxa direita, onde o tiro havia acertado. Mal ouviu os passos que se aproximaram e pararam ao seu lado.

— Nathaniel? Você está bem? — Apesar de saber que aquela voz era conhecida, não conseguia prestar atenção. Toda a extensão de sua perna latejava e bem provavelmente estava perdendo sangue. Um som de rádio soou. — Mande uma ambulância para a rua de trás, agora!

— Castiel... — Nathaniel sussurrou, com o maxilar cerrado. — Candy...

— Candy? Como assim? Onde ela está? — Castiel ergueu o rosto, procurando algum sinal da garota, começando a ficar desesperado.

— Não sei... Ela correu... — Nathaniel se esforçou para sentar, querendo olhar para a rua também. Notou, com medo e angústia, Castiel levantando e correndo para o final da rua, onde se agachou. — Não... não!

Ali de onde estava, ouviu Castiel gritando no rádio, mas não conseguiu distinguir as palavras que saíram de sua boca. Com o desespero crescendo, juntou os trapos de sua força e se levantou, quase chorando de dor a cada passo que dava em direção aos dois próximos da esquina.

— Candy, fique acordada, a ambulância já está chegando — instruía Castiel, segurando o rosto dela, iluminado pela luz amarelada do poste ali perto.

Nathaniel queria ignorar a poça de sangue que estava se formando abaixo do corpo de Candy, mas não pôde. Seu desespero crescia a cada milésimo de segundo conforme se chegava perto. Parou do outro lado da garota e se sentou, segurando o resmungo pela coxa feriada.

— Não... por que...? — O loiro perguntou, com a voz falhando.

— Está tudo bem, Nath... — Candy disse, cochichando e engoliu com dificuldade. — Foi... foi eu que avisei Castiel sobre o galpão... — Castiel voltou a berrar com o rádio, xingando para que se apresassem logo.

— Você não devia ter feito isso... Não devia ter vindo para cá...

— Eu sei, foi idiota ter vindo por esse caminho... Mas eu precisava saber se a polícia tinha vindo e se tinham te pego...

— Eu sinto muito, Candy, sinto muito por tudo o que eu fiz. — Nathaniel sentiu as lágrimas escorrerem por suas bochechas, pingando no pescoço e rosto da garota. — Eu te amo, por favor, aguente, por favor.

Com alívio de todos, a sirene da ambulância se aproximava cada vez mais, até que, finalmente, parou próximo a eles. Nathaniel depositou um beijo nos lábios frios de Candy e os paramédicos a socorreram primeiro, indo acompanhada de Castiel. Nathaniel foi levado para a segunda ambulância, se sentindo um pouco aliviado por terem sido socorridos.

...

Nathaniel se apoiou em suas muletas assim que parou. Observou, de longe, o cenário cheio de cores e, ao mesmo tempo, em tons de preto. Os óculos escuros escondiam as olheiras roxas debaixo dos olhos devido as noites mal dormidas no hospital. Eram muitas pessoas circulando, muita claridade, muito barulho. As pálpebras pareciam pesadas, como se estivesse com sono, porém, sabia que não estava.

Sentiu um movimento e mesmo sem olhar, percebeu que Castiel parara ao seu lado. Conseguia saber apenas pelo cheiro do cigarro.

— Obrigado. — Nathaniel falou baixo, sem desviar o olhar da cena.

— Pelo quê? — Castiel perguntou, depois de soltar fumaça pelas narinas.

— Por ter atirado nele.

— Eu só fiz o meu trabalho.

Ele afirmou levemente, pensativo. — E obrigado por me ajudar.

Castiel deu uma olhada de canto para o outro. — Por nada. Ela me pediu para te ajudar. Eu sei que você não é uma pessoa ruim, Nathaniel. Eu soube por tudo o que você passou, apesar de não ter convivido com você na escola. Entendo que você teve que trabalhar com o que estava disponível, não que eu ache certo o que fez.

— Eu sei. Eu me arrependo das escolhas que fiz. Candy foi a única pessoa que me fez enxergar tudo e querer sair daquela situação...

— É... Agora é hora de mudar de rumo — comentou com ar cansado. Nathaniel observou o colega, notando que ele também possuía olheiras arroxeadas.

— Sim.

Os dois permaneceram em silêncio. As pessoas, ao longo das horas, começaram a ir embora. Assim que a última saiu, ambos foram até lá, no ritmo do homem machucado. Pararam para observar de perto, notando que não haviam acabado com as lágrimas ainda.

Nathaniel e Castiel jogaram um punhado de terra no caixão e, assim, se despediram da garota que sempre os ajudou.


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Notas finais do capítulo

Chamei o careca de Jonny porque não citaram seu nome no jogo. Caso citem algum dia, vou editar a história. Eu imaginei o Castiel mais velho (não sei exatamente quão mais velho) e sim, ele é policial. Acho que saí do clichê com essa, hein? xD

Não sei se todos ficaram sabendo sobre o caso do Nathaniel, mas o careca cita a "traição" porque descobriu que o Nath jogava as drogas fora e substituía por ervas.

Engraçado que quando a ideia surgiu, eu e minha amiga achávamos que precisaria de alguns capítulos para desenvolver a trajetória, mas acabou que eu consegui colocar tudo o que eu queria em um único capítulo. Gostei de como ficou.

Espero que tenham gostado dessa história trágica. Por favor, comentem o que acharam, vou adorar saber!

Até mais o/



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