Estava observando a “festa” na clareira. Os garotos se divertiam em volta da fogueira, outros vibravam com os meninos no meio do círculo, um empurrando o outro. Hoje, mais um garoto tinha sido mandado pelo caixa. Mais um mês vivendo neste lugar.

No começo da noite eu me diverti um pouco com os garotos, depois cansei de tanta agitação e me sentei um pouco afastada em um tronco. Dali eu podia ver as estrelas e refletir um pouco.

De acordo com a contagem que Alby e eu desenvolvemos com os nomes nas paredes, hoje fazia um ano que estávamos aqui, e não estávamos nem perto de acharmos uma saída.

Também fazia alguns meses desde que Newt tinha se machucado. Ele já estava ficando melhor psicologicamente, mas fisicamente ainda levaria um tempo. Com três fraturas, demoraria para ele ficar realmente bem, mas mesmo assim, aquilo deixaria algumas sequelas.

— Ai!

Alguém tinha tampado meus olhos, não importava o quanto movesse minha cabeça ou tentasse retirar as mãos, elas não saíam dali. Quem seria o engraçadinho?

— Que que você tá fazendo? – perguntei

Esperei uns 10 segundos, mas acho que ele não iria responder.

— Não vai falar? – ele balançou minha cabeça fazendo ‘não’ – Ok, quer que eu adivinhe então? – mais uma vez balançou minha cabeça, mas agora fazendo ‘sim’

— Tá bem, vamos lá. – me animei com a brincadeira

Passei a mão pelas mãos dele em meus olhos, eram grandes, era só isso que eu podia saber sentindo as costas de suas mãos. Muito bem Katherine, grande investigadora.

Passei as mãos pelos seus antebraços. Pareciam fortes, de quem trabalha pra caramba.

— Alby?

Mais uma vez negação.

— Hum... posso sentir a palma das suas mãos? Juro que não vou olhar.

Fechei bem os olhos quando ele afastou as suas mãos. Peguei uma delas e analisei direito dessa vez.

Passei os dedos por sua palma, tanto a palma quanto os dedos tinham calos, em seu dedão havia um curativo, um curativo que eu tinha colocado. Já sabia quem era.

— Gally. – disse sorrindo e abrindo os olhos

Ele se sentou ao meu lado.

— O que tá fazendo aqui sozinha pequena?

— Eu não sou pequena, você que é alto demais.

— Tá bom, o que tá fazendo aqui sozinha garota mediana?

— Para de palhaçada Gal. – disse empurrando seu ombro de brincadeira – Tava só refletindo um pouco. Como tá o seu dedo?

— Tá melhorando, graças a você.

— Se continuar assim, vou ter que amputar o seu dedo.

— Que exagero, eu só martelei o dedo 75 vezes.

— É, só 75.

Nós rimos e fomos parando devagarinho até nossos olhos se encontrarem e ficar novamente tudo em silêncio. Tive alguns segundos para admirá-lo.

— O que tá passando por essa cabecinha, hein?

Olhei para minhas mãos em meu colo e pensei mais um pouco antes de responder.

— Eu só...

— Só...

— Estava pensando se um dia sairemos daqui... e se sairmos tenho medo de perdemos essa conexão que temos uns com os outros.

Gally se aproximou e colocou um de seus braços em meus ombros, fazendo com que eu apoiasse a cabeça em seu ombro.

— Ei, não tem que pensar assim. – ele colocou os dedos em meu queixo fazendo-me olhar pra ele – Somos todos uma família, não importa o lugar, estaremos sempre juntos.

— Promete? – levantei o mindinho pra ele

— Prometo. – ele juntou nossos mindinhos

— Agora não vai mais se ver livre de mim. – disse rindo

— Nunca pensei nisso pequena.

Tudo estava bem. Ou foi o que pensei, até ouvir a voz de Newt ao longe.

Mas, não era um chamado normal, ele estava um pouco... desesperado, digamos assim.

Foi quando percebi que aquilo não estava acontecendo realmente, era só uma lembrança. A imagem de Gally começou a ficar turva, meus olhos começaram a abrir e voltei à dura realidade.

— Estamos pousando Kathy.

Era mesmo a voz de Newt. Naquele momento, flashs dos últimos acontecimentos voltaram a minha memória. A morte de Alby, a morte de Chuck, a morte de Gally...

O que me esperava fora daquele helicóptero?