Seven Warriors escrita por Naru


Capítulo 2
Não me peça para abraçá-lo - parte 1




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3 anos e meio depois

O som de guitarras e baterias parecia ressoar por todo o ambiente enquanto a gritaria, os braços levantados e o suor devido a agitação do show eram características bem presentes da cena. A banda tocava loucamente seu hit mais famoso e o vocalista animava toda a plateia com seu entusiasmo. O rapaz mais próximo do palco pulava loucamente agitando as mãos e sentindo vez ou outra acertar a cabeça de algumas das outras pessoas presentes. Mas ele não se importava, ninguém se importava. A única coisa que estava em sua mente era o som dos instrumentos e o refrão que ressoava cada vez mais alto.

E mais alto...

E mais alto...

Não parava nunca!

Em meio a isso, seus olhos se abriram e quando imaginava que ia encontrar o vocalista para cantarem juntos a parte que mais gostava, se deparou com o marrom escuro do teto de seu quarto. Era apenas um sonho.

O barulho da música de fato estava alto por todo o local e ele logo localizou a origem do som ao pegar o celular que estava, equivocadamente, embaixo de seu travesseiro. Antes de encontrar o brilho exagerado da tela do aparelho, coçou os olhos de forma preguiçosa, sem ao menos levantar a cabeça da cama, desligando rapidamente o despertador e visualizando a seguinte informação em números brancos e destacados: 08:32.

― Merda! ― exclamou em meio a um salto rápido da cama, deixando os pés enrolados na coberta e quase caindo com o corpo inteiro no chão gelado.  Abriu  a porta de forma desajeitada e correu para o banheiro na tentativa de colocar um pouco de pasta de dente na boca, para eliminar o mau hálito. Assim que conseguiu bochechar o líquido mentolado, uma voz feminina e estridente ressoou pelo andar de baixo da casa:

― Dylan! Por que você ainda não desceu? Hoje você não trabalha pela manhã? Dylan... ― Pouco antes de completar a frase, os passos começaram a serem ouvidos subindo as escadas, fazendo o garoto cuspir o mais rápido possível a pasta de dente e se livrar do pijama amassado. Ele voltou a correr para o quarto, abrindo as gavetas com uma leve fúria e pegando as primeiras roupas decentes que encontrava. No momento em que tentava ultrapassar a cabeça pelo buraco da blusa sem sucesso, devido à pressa, a voz feminina chegou ao quarto ― você está atrasado de novo? Quantos empregos você tem que perder para aprender a acordar na hora? Dylan, está me ouvindo? Você já tem vinte anos e ainda faz esse tipo de coisa...

Ajeitando alguns fios de seu cabelo que iam até a altura do pescoço, pouco acima dos ombros, ele respirou fundo e ignorou os avisos, apressando-se para colocar os tênis que estavam jogados na parte de baixo de sua cama. Assim que ela abriu a boca para continuar o sermão, ele correu até o corpo esguio da mulher e sutilmente depositou um beijo no topo de seus cabelos loiros, que faziam um grave contraste aos fios extremamente pretos que ele mesmo possuía.

― Mãe, a gente conversa depois tá? Acho que estou atrasado hoje. ― Após finalizar a frase com um sorriso simpático, lançou uma piscadela para a mãe, que revirou os olhos entendendo a ênfase errada na palavra "hoje" e correu escada abaixo, mantendo esse mesmo ritmo ao chegar na rua.

Ao longo do caminho, Dylan agradeceu mentalmente por não morar a mais de um quilômetro de seu trabalho ou chegaria extremamente atrasado, apesar que um atraso de 40 minutos já poderia ser considerado um motivo para demissão, ele só tinha que encontrar uma maneira de amansar o Sr. Davidson assim que chegasse na lanchonete. Em seu interior, desejava que Sarah e Ryan conseguissem distrair o homem para que ele não percebesse a sua ausência. Afinal de contas, conforme seus últimos avisos, se ele alcançasse três atrasos no mês, era demissão sem conversa. E esse já era o terceiro, contabilizando que o mês não havia passado nem da metade, provavelmente ele não duraria muito nesse emprego.

― Dylan! ― Uma jovem por volta de seus dezenove anos esperava na lateral de uma lanchonete com o estilo antigo e um letreiro em neon escrito "Davi's" parecia alarmada ao ver o outro se aproximando ― Mais de quarenta minutos hoje, Dylan! Você acha mesmo que eu e o Ryan vamos conseguir te cobrir dessa forma? O sr. Davidson já te chamou umas duas vezes e só conseguimos falar que você estava na chapa aprendendo a fazer hambúrgueres para ajudar no almoço! A sua sorte é que o movimento hoje está extremamente fraco, corre já para os fundos!

O rapaz passou por ela como um furacão e após ouvir cada uma de suas palavras interrompeu a corrida gradativamente, voltando uns três passos a ponto de chegar em sua posição. Ao visualizar os cabelos castanhos da mulher, que combinavam perfeitamente com seus olhos verdes, elogiou-a mentalmente pela beleza e se apressou a aproximar os lábios rapidamente de sua bochecha rosada, dando um beijo sutil. Ela, ao perceber o contato, sentiu seu rosto queimar levemente e ficou sem reação, deixando ele completar o ato em palavras:

― Obrigado, Sarah! O que seria de mim sem você? ― disse com um sorriso galanteador, porém sincero. ― Viu? Isso é só mais uma prova do quanto você gosta de mim! Quando vai aceitar sair comigo? Eu te garanto que você não vai se arrepender! Eu sou um ótimo partido, o melhor dessa cidade, você sabe! Há quanto tempo eu te peço para sair comigo? Dois? Três anos? ― A moça respirou fundo e balançou a cabeça negativamente, parecendo já acostumada a aquelas palavras.

― Dylan, dá para você não ficar de enrolação?

― É sério, quando você vai aceitar sair comigo? ― Seu olhar parecia conter uma súplica infantil.

― Tenta de novo ano que vem! ― informou, dando um leve tapa no ombro do rapaz, tentando acelerar ele pra lanchonete, pouco tempo antes de receber um largo sorriso como resposta.

― Então eu vou tentar todos os dias desse ano mesmo assim, para praticar. - Jogou uma piscadela para a menina e correu para os fundos do estabelecimento.

Sr. Davidson estava na parte da frente da lanchonete e discutia com Ryan, outro funcionário que tinha pelo menos uns dez centímetros de altura a mais do que Dylan:

― Como você quer que eu acredite que aquele inútil está tomando a iniciativa e aprendendo a mexer na chapa? Se ele pudesse ficaria nas minhas costas relaxando o dia inteiro em vez de trabalhar! Você sabe que ele só está aqui porque eu devia um favor a mãe dele não é? Ah, pobre Katy, uma mulher sensacional que colocou um ser como ele no mundo. ― O olhar do velho homem parecia ter se perdido ao lembrar das feições da mãe de Dylan.

― Senhor, eu posso garantir que ele está lá atrás. Mas não precisa ir lá! Você sabe como a gente fica nervoso quando estamos aprendendo algo, não é? Sua presença pode fazer com que ele erre e...

― Você acha que eu acredito em uma besteira dessas? No mínimo vou encontrar ele dormindo nos fundos ou melhor ainda...ele nem ao menos vai estar lá! É hoje que consigo demitir essa praga! ― E correu para a porta que levava à cozinha do estabelecimento, deixando o rapaz atrás de si sem reação devido a sua rapidez em querer colocar as coisas em "pratos limpos". ― Aposto que ele nem está aq...

Antes que pudesse, interrompeu os passos assim que passou pela porta dupla que levava ao cômodo, seus olhos se arregalaram assim que viu a silhueta atrás da chapa que ocupava pelo menos metade da cozinha, que parecia pequena demais para um estabelecimento daquele porte. Dylan estava levemente encurvado sobre os hambúrgueres que fritavam e parecia intrigado por algo poder dar errado, o avental parecia torto, como se tivesse sido colocado às pressas, mas isso não era prova suficiente para as acusações que o homem a sua frente queria fazer.

― Hey, Sr. Davidson! Que manhã maravilhosa, não acha? Achei o dia tão lindo quando acordei hoje ao nascer do Sol que senti uma inspiração para tentar vir aqui e aprender a fazer os hambúrgueres. O que acha? O senhor mesmo já disse algumas vezes que eu servindo os clientes mais atrapalho do que ajudo, então...a partir de hoje eu vou fazer a comida, te garanto que vai ser o melhor hambúrguer que você vai comer na sua vida. ― Finalizou enquanto fechava os olhos devido ao largo sorriso direcionado ao homem bravo a sua frente. Esse, por sinal, parecia que ia entrar em combustão devido a coloração vermelha que seu corpo aparentava.

― Seu... eu não consigo acreditar nisso. Você está planejando alguma! ― Direcionou o olhar ao homem esguio, por volta de seus quarenta anos, que estava atrás de Dylan mexendo em algumas panelas ― Roger, diga alguma coisa! Essa "coisa" estava aqui fazendo hambúrgueres?

Dylan virou o corpo e encarou rapidamente Roger com um olhar de cúmplice, sabendo que esse não iria falhar em sua resposta:

― Fazendo não, ele está aprendendo ainda! Mas eu estou aqui para ajudar, ele chegou cedo hoje com muita disposição, você tem que dar a ele algum crédito. Finalmente está seguindo seus conselhos e tomando a iniciativa, trabalhando duro, colocando o umbigo na chapa e se esforçando para ganhar o salário. ― Dylan apertou ambos os lábios entre os dentes segurando uma risada pela ótima interpretação do colega de trabalho e agradeceu por estar de costas ao chefe, porque claramente sua cara iria entregar a situação toda.

― Roger, até você? Porque todo mundo parece cair na lábia desse inútil? Como ele consegue? Ele paga algo a vocês por acaso?

― Pete, ― Roger era funcionário da Davi's há pelo menos uns dez anos e era o único que tinha intimidade para chamar o Sr. Davidson pelo primeiro nome ― você está sendo um pouco exagerado por aqui, por favor, tenha alguma confiança no rapaz! Eu não estou recebendo dinheiro dele ou qualquer tipo de favor, eu estou falando a verdade. Ele está mudando!

Com um suspiro insatisfeito em seus lábios, Peter Davidson resolveu desistir daquela discussão, mesmo que soubesse claramente que não tinha como aquilo ser verdade. O complicado era que ele não conseguia provar ou ao menos ter alguém do seu lado nesse caso. Será que ele estava mesmo exagerando?

― Pete...― Dylan resolveu usar o mesmo nome dito anteriormente, para ver se assim quebrava uma barreira de gelo e amolecia o coração de seu chefe, mesmo que a força. Mas ao receber um olhar extremamente gelado e ríspido, voltou atrás ― Sr. Davidson, você me faz um favor? Por mim...por minha mãe? Aproveita que temos menos de três clientes no momento e vá sentar em uma das mesas lá na frente, eu quero levar ao senhor pelo menos um hambúrguer desses que estou fazendo, não vai ser o melhor, porque hoje é meu primeiro dia, mas você vai sentir a força do meu esforço em cada mordida! ― Levou o punho em direção ao peito e com um sorriso de orgulho e aguardou a resposta do chefe, esperando que ele saísse dali antes que os hambúrgueres na chapa começassem a queimar, porque se isso acontecesse, ele não saberia o que fazer e todo o disfarce iria ralo abaixo.

― Eu não sei se quero comer algo feito por você. Mas vou esperar lá fora, não aguento ficar olhando para esse seu sorriso cínico por nem mais um minuto.

Assim que o sr. Davidson deixou a cozinha, Dylan desinflou o peito e deixou um suspiro aliviado escapar de seus lábios, junto com um sorriso de vitória. Ele sabia que o que o velho mais queria era demiti-lo, porém, precisava de uma justa causa para justificar a sua mãe, sem parecer que estava com má vontade com o filho dela. Ele sabia que ele queria ter uma conversa que contasse com o seguinte diálogo: "Eu tentei de tudo, Katy, mas Dylan não parece ser do tipo que ouve facilmente o conselho dos mais velhos. Isso parece rebeldia pela falta de uma figura masculina em casa. Sabe, Katy, você já pensou em alguém interessante, sábio, com estabilidade, que poderia ser uma figura masculina em sua casa?". Dylan sentiu um enjoo em seu estômago só em imaginar a cena, ele preferiria morar com a mãe em uma montanha isolada cheia de ursos do que ter aquele homem como seu padrasto.

― E você vai ficar aí com essa cara de esperto e nem ao menos me agradecer? ― Brincou Roger se aproximando da chapa para salvar os hambúrgueres.

― Você não pode imaginar como estou agradecido! ― Dylan soava sincero e se fosse um pouco mais íntimo do homem a sua frente, com certeza lhe daria um abraço.

― Não tem como você continuar fazendo isso, de verdade! Em algum momento ele vai te pegar no pulo e você vai perder o emprego. A cidade não é grande, a fama das pessoas correm, depois daqui vai ser difícil você conseguir outra coisa, sabe disso.

― Eu sei...

Ele realmente considerava todos esses riscos e tinha medo que pudesse ficar desempregado de vez. Nesses momentos ele se perguntava sempre se não teria sido melhor ir direto para faculdade em vez de ter se arriscado a ficar na cidade em busca do que "realmente amava fazer". Apesar de trabalhar em uma lanchonete e ser um péssimo funcionário para um cargo tão fácil, Dylan era extremamente inteligente, a ponto de ter passado em todas as faculdades de Ohio sem nenhum problema. 

Além disso, no último ano da escola ele revezava com outro colega de turma o posto de primeiro lugar da classe, mesmo não sendo nem de longe o perfil de um nerd. Ele não entendia como fazia isso, apenas conseguia assimilar todo o conteúdo que era passado com muita facilidade e os estudos nunca foram um problema em sua vida.

Com isso e um histórico esportivo também impecável, não era surpreendente que as faculdades do estado e outras em outras partes do país o aceitassem sem dificuldades. Com tantas propostas em mãos, ele surpreendeu a todos ao informar que iria ficar na cidade por pelo menos mais um ano, porque não conseguia decidir qual próximo passo dar na vida, não entendia e nem conseguia decifrar qual carreira seguir, e todos os caminhos que estavam disponíveis pareciam errados, como se algo estivesse fora do lugar e aquela vida que iria se seguir não pertencesse a ele. 

E foi assim que ele terminou nos empregos mais simples da cidade de Delphos, porém, não estava conseguindo se manter em nenhum por pelo menos mais de um mês, e essa rotina estava assim há mais de um ano. Dylan tinha vários problemas com regras, disciplina e uma tendência muito forte a achar as atividades extremamente banais. Mas ele precisava dos empregos, não podia simplesmente ficar em casa na aba de sua mãe enquanto decidia qual próximo passo dar na vida.

― Você realmente quer aprender a fazer os hambúrgueres? ― Dylan encarou o homem a sua frente como se ele fosse um ancião inocente que havia caído em uma de suas brincadeiras.

― Oh, Roger... ― Não, ele não queria.


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Notas finais do capítulo

1) Eu recebi algumas mensagens sobre o cabelo do Dylan e por isso eu busquei alguns personagens de referência que tem o cabelo igual. O Dylan usa o cabelo de diversos jeitos ao longo da história e eu procurei referência desses penteados e fiz essa montagem pra vocês terem uma ideia de como é: https://ibb.co/ZVtXGNG (crédito mangá nº6 e horimiya)

2) Me digam sempre o que estão achando, me mandem mensagem, e-mail (narurodrigues@gmail.com), uma carta de amor (oi?), qualquer coisa, eu AMO interagir com vocês e por mim fazia isso o dia todo.

Love.



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