Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 6
Capítulo 6




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Por algum tempo, logo no início, cuidar dos negócios da família significava que Elisabeta ficava fora de casa por longos períodos, em um escritório central. Com o passar do tempo, Elisabeta passava os mesmos períodos fora, mas transformou o escritório de casa em sua central de comando. Achava ser mais fácil daquela forma: assim, forçava-se ao deslocamento entre suas empresas, cumprindo uma agenda semanal que incluía visitar todos os locais importantes.

Adaptara-se à essa rotina e se havia algo que piora seu humor era quando seu trabalho burocrático ocupava seu tempo, impedindo que Elisabeta visitasse as empresas e usasse seus olhos para analisar possíveis erros. Apesar da vantagem de poder acariciar seus cachorros e tomar chá a cada quinze minutos, Elisabeta sentia-se irritada sempre que precisava passar muito tempo resolvendo problemas no escritório. E era exatamente o que estava acontecendo naquela semana.

Quando Elisabeta não ia até as empresas, seus diretores iam até ela. Portanto sua casa foi invadida por colegas de trabalho, mensageiros, sócios maiores ou menores. E, é claro, seu advogado estava praticamente morando na cadeira à sua frente. E George era um homenzinho muito irritante. Apesar de não ser mais do que dez anos mais velho do que Elisabeta, era uma das pessoas mais chatas que conhecia.

Tudo nele a irritava. George tinha uma voz mansa que beirava a sonolência. O fato de ele sempre ter algum assunto importante para ele – e irrelevante para ela, também não o ajudava. Era, porém, um advogado competente, e por isso Elisabeta tolerava sua presença maçante. Ainda assim, o momento mais alegre de seu dia era quando George finalmente se despedia e voltava para casa, como havia feito minutos antes.

— Lizzie? – Petúlia entrou no escritório com uma bandeja.

— Me diga que trouxe biscoitos. – Elisabeta suplicou.

— É claro que trouxe biscoitos. – e olhando para trás, Petúlia suspirou. – Não pode ser tão ruim assim.

— É pior do que ruim, Petúlia. O homem é insuportável, coitado. – Elisabeta ergueu a sobrancelha.

— Lizzie, não seja assim. – Petúlia sorriu. – Ele lembra muito Xavier, você sabe.

Ela sabia. E era um motivo de desconforto diário. George e Xavier eram primos e melhores amigos. Eram parecidos fisicamente e em quase todas as características. Elisabeta inclusive gostou de George antes de conhecê-lo melhor. E perguntava-se se sentiria o mesmo por Xavier, caso houvesse tempo maior de convivência.

— Eu sempre fui contra. – a governanta parecia ler seus pensamentos. – Poucas vezes vi pessoas tão diferentes.

— Será que o casamento com Xavier seria como conviver diariamente com George? – Elisa perguntou, em um tom ácido.

— Você sabe que o velho Archibald me arrastaria pelos cabelos se eu lhe dissesse o que penso. – Petúlia sorriu.

Petúlia era uma mulher maltratada pela vista. Descendente de espanhóis, chegara à casa dos Green quando Elisabeta ainda era uma criança. A mulher tinha um humor peculiar, passava quase todo o tempo resmungando, mas Elisabeta sabia que era fiel à ela. Era Petúlia quem acobertava todas as suas travessuras.

— Archie não está aqui. – Elisabeta diminuiu o tom de voz. – Agora venha cá, faz tempo que você não me conta as novidades da casa.

E se alguém sabia todas as novidades da mansão Green, esse alguém era Petúlia. A senhora abriu um grande sorriso e correu até a cadeira onde George estivera durante toda a tarde.

— Não há outro assunto em toda a criadagem que não seja Darcy. – Petúlia sorriu.

— É mesmo? – Elisabeta não estava surpresa.

— Duas criadas já tiveram a audácia de perguntar se temos quartos disponíveis. Veja só que petulância, Lizzie. Quando começaram a trabalhar aqui mal podiam esperar o horário de ir embora. – disse, fazendo Elisabeta rir.

— E você pode culpá-las? – Elisabeta ergueu a sobrancelha. – Não iriam querer ficar por Archie ou Venâncio.

— É claro que não posso. Se eu fosse trinta anos mais nova também estaria atrás dele. – Petúlia suspirou. – Mas devo lhe dizer, Lizzie, não parece que alguma delas está tendo sorte.

— É mesmo? – Elisabeta interessou-se.

— Ele distribui sorrisos e piscadelas, mas já me confidenciou que não quer perder este emprego. – Petúlia deu um sorriso cúmplice. – E acho que Archibald não o perdoaria se Darcy o pudesse em maus lençóis com você.

— Não é muito estranho que um homem tão qualificado queira tanto um emprego que não está a altura de seus estudos? – Elisabeta disse, pensativa.

— Oh, não, não. Darcy não está aqui pelo dinheiro, Lizzie. Você não soube de mim, mas parece que a menina Charlotte se envolveu em alguma confusão no interior. – Petúlia lamentou. – Apaixonou-se por um calhorda ou coisa parecida. Darcy quer garantir que possa manter a irmã em segurança.

Elisabeta a encarou, surpresa. É claro que Archibald jamais comentaria qualquer problema dos filhos. O homem era um poço de profissionalismo. Era tão cuidadoso com sua vida pessoal que só mesmo um motivo como aquele poderia fazê-lo passar por cima de suas convicções e pedir um emprego para o filho.

— E não haveria lugar no mundo onde a menina Charlotte estaria mais protegida do que sob a sua proteção. – Petúlia deu de ombros. – Agora me deixe voltar para os meus afazeres.

Ela viu Petúlia cruzar a porta do escritório, mas as palavras da governanta ecoaram em sua mente. Darcy havia mencionado que Charlotte estava terminando os estudos. Mas se ela estava com problemas, por que já não estava em Londres, ao lado de sua família? Elisabeta poderia fornecer a segurança que a menina precisava. E o primeiro Williamson que encontrasse precisaria explicar exatamente o que estava acontecendo.

Porém, o primeiro Williamson que Elisabeta viu foi Archibald. E repentinamente percebeu que não poderia ter aquela conversa com ele. Archie era reservado demais, e se sua filha estivesse realmente com um problema tão grande, não pedir ajuda á ela fora uma escolha. Elisabeta compreendia. Archibald Williamson trabalhara a vida inteira para seu pai, um homem que se reviraria no túmulo se soubesse a forma como Elisabeta tratava os empregados.

James Green jamais permitiria que os criados dormissem na ala da família. Jamais permitiria que sentassem à mesa como membros da família. Jamais ouviria ou se preocuparia com seus problemas. Não porque era um homem ruim, mas porque sua criação havia sido diferente. E Archibald era um funcionário de James, resistente à todas as mudanças que Elisabeta exigira com os anos.

Elisabeta então deixou seus ouvidos atentos para qualquer sinal de Darcy. Mas não ouviu sua voz pela casa, e quando o jantar foi servido também não havia qualquer sinal dele. Perguntou, banalmente, à Archibald e Petúlia onde ele estava, mas ambos só sabiam que Darcy havia saído muito cedo, após Elisabeta dizer à ele que podia tirar o dia de folga.

Ela refletiu sobre aquela informação. Era a primeira vez que Darcy não participava de uma refeição desde sua contratação. Mesmo nos dias de folga, ele parecia sempre estar pela casa, procurando algo com o que se ocupar. Não era de sua conta, é claro, mas Elisabeta perguntou-se onde Darcy estaria. E, como não gostava de assuntos inacabados, sentou-se no sofá da sala ao terminar o jantar.

Distraiu-se com sua leitura, com Jamie e Olive deitados à seus pés, com o barulho do vento que batia na janela. Despediu-se de Petúlia e Archibald quando os dois se recolheram, e há muito tempo os dois não comentavam mais sobre os horários de Elisabeta. Era início da madrugada quando Elisabeta ouviu a porta dos fundos se abrir. Os cachorros rapidamente ficaram em alerta e foram até a cozinha. Elisabeta o ouviu falar com os cachorros e então seus passos se aproximando.

 - Boa noite. – ela o ouviu dizer.

— Boa noite, Darcy. – Elisabeta ergueu os olhos do livro, encontrando os olhos dele.

Ele parecia cansado. Os cabelos estavam mais desalinhados do que o normal, os olhos dele que costumavam ser vívidos agora pareciam sem brilho.

— Eu estava a sua espera. – ela disse.

Acompanhou o movimento de dúvida dele, sua olhadela discreta para o relógio da sala, e então o olhar dele voltou para o dela.

— Eu havia entendido que tinha o dia de folga. – Darcy disse, sua voz em tom grave. – Não teria saído se soubesse que precisaria de mim.

— O que? – Elisabeta perguntou, e então compreendeu. – Eu não estou te esperando para uma bronca. – disse, com um sorriso discreto.

Darcy respirou fundo, e Elisabeta apontou para ele o caminho do escritório. Ele permitiu que ela fosse na frente, e a seguiu em passos lentos. Quando chegaram, Elisabeta fez sinal para que Darcy sentasse.

— Peço desculpas pelo avançado da hora, mas é um assunto importante. – Elisabeta sorriu.

— Eu estou um pouco preocupado. – Darcy tentou sorrir, mas Elisabeta percebeu sua tensão. – Se você quer saber onde eu estava, eu garanto que...

— Não, não é sobre isso. – Elisabeta respondeu, arrependendo-se de não deixá-lo concluir a frase. – É sobre Charlotte.

Darcy pareceu afundar na cadeira, e Elisabeta finalmente compreendeu o que a expressão significava. O cansaço em sua feição pareceu aumentar, e Darcy passou a mão pelos cabelos, desalinhando-os.

— Chegou aos meus ouvidos que ela está com problemas. – Elisabeta disse, simplesmente.

Ele suspirou, e então remexeu-se desconfortavelmente na cadeira.

— Eu não sei se devo discutir os problemas pessoais de Charlotte. – Darcy disse, em tom de dúvida.

— Não estou pedindo para que o faça. – Elisabeta sorriu, tranquilizando-o. – Mas seu pai se recusaria a me deixar ajudar, e se há algo que eu possa fazer por sua irmã, eu gostaria de saber.

Darcy manteve os olhos nos de Elisabeta. Ela sentiu que estava sendo analisada naquele momento. Como se Darcy estivesse avaliando se podia confiar nela.

— Eu gostaria de dizer que temos tudo sob controle, mas não é verdade. – Darcy suspirou, pesaroso. – Minha irmã se envolveu com o homem errado.

Elisabeta assentiu, em silêncio.

— O canalha a fez sofrer, e mais do que isso, tem feito ameaças à Charlotte. – ele passou a mão pelos cabelos novamente. – Tenho tentado manter meu pai longe dos detalhes.

— Onde está Charlotte agora? – Elisabeta perguntou, preocupada.

— Está com minha tia no interior. – Darcy suspirou, cansado. – Era onde eu estava hoje, mas não sei se conseguirei mantê-la segura.

Elisabeta levantou-se, e caminhou até o pequeno bar que mantinha no escritório. Não costumava beber com frequência, mas a maioria dos seus parceiros não fechava qualquer negócio sem algumas doses de whisky importado. Ela pegou dois copos e a garrafa, e voltou para onde Darcy estava. Não sentou do outro lado da mesa, porém. Elisabeta encostou-se na escrivaninha, quase de frente para ele.

— Você parece estar precisando. – Elisabeta serviu um dos copos e entregou para Darcy.

Antes que ela pudesse terminar de servir sua dose, Darcy já havia bebido o líquido âmbar de seu copo. Elisabeta apenas serviu mais um pouco para ele.

— Eu não sou um santo. – Darcy disse, sério, olhando nos olhos de Elisabeta. – Estou longe de ser o marido que os pais sonham para suas filhas. Mas este homem... ela é apenas uma menina.

— Charlotte vai ficar bem. – Elisabeta disse, sem qualquer pingo de dúvida.

— Eu já não sei. – Darcy virou o resto de sua dose, e Elisabeta entregou à garrafa a ele. – Esta deve ser a bebida mais cara que eu já tomei.

— A ressaca é a mesma das bebidas baratas. – Elisabeta deu de ombros, bebericando sua dose. – Beba o quanto quiser, e amanhã quando acordar busque sua irmã.

— O que? – Darcy franziu a testa.

— Archibald me viu crescer e esteve ao meu lado em todos os momentos que a vida não foi justa. – Elisabeta deu de ombros. – Sua irmã estará segura aqui, poderá trabalhar na casa, ir à faculdade. Charlotte pode decidir o que fazer.

— Eu não poderia aceitar. – Darcy recuou.

— Eu não estou dando outra opção, Darcy. – Elisabeta suspirou. – Está decidido.

Darcy riu, sem humor. Elisabeta finalmente terminou sua primeira dose, enquanto ele estava ao fim da terceira. Ele a serviu sem perguntar.

— Você não costuma dar ordens. – ele comentou.

Elisabeta ergueu a sobrancelha, olhando para ele.

— Seus empregados beijam o chão que você pisa. – Darcy olhou para o copo. – E essa casa toda funciona sem que você dê qualquer ordem.

— Não é verdade. – Elisabeta franziu a testa, tentando pensar sobre isso.

— É verdade. – os olhos dele encontraram os dela. – As pessoas admiram e respeitam você, Elisabeta.

— Eu não faço nada além da minha obrigação. – ela deu de ombros.

— Bem se vê que você nasceu em berço de ouro. – Darcy riu, irônico. – Não é uma atitude comum.

— E nem é digno de elogios. – ela desviou o olhar. – As pessoas devem ser tratadas com respeito.

Darcy assentiu, bebendo o resto de sua dose. Elisabeta terminou seu copo em silêncio. De repente ficou ciente demais que eles estavam envoltos por uma casa adormecida, dividindo uma garrafa de uma bebida que Elisa sequer gostava. Ela observou os cabelos desalinhados dele e teve vontade de tocá-los.

— Mais um pouco? – Darcy ofereceu.

— Não, eu não costumo tomar as melhores decisões quando bebo. – Elisabeta deu um sorriso pequeno.

— Não parece que você tem alguma decisão a tomar por agora. – ele sorriu.

E ali estava o sorriso que a tirava do eixo. Um sorriso que ela não sabia se escondia malícia verdadeira ou se ele apenas estava acostumado demais à causar aquele efeito nas mulheres. Elisabeta sorriu, no entanto, as palavras dançando em seus lábios.

— Eu sempre preciso decidir minha roupa de dormir.

Ela disse e então olhou para ele. Aquele brilho fugaz nos olhos de Darcy, como se ele refletisse sobre o que deveria dizer. Ele assentiu apenas, e então serviu mais um pouco da bebida no copo de Elisabeta e no seu.

— Eu deveria me preocupar mais com isso. – Darcy olhou para o horizonte.

— Com o que? – Elisabeta ergueu a sobrancelha.

— Roupas de dormir. – ele deu de ombros.

Elisabeta riu baixo, a bebida suavizando um pouco suas barreiras. Precisou controlar um pensamento que quase se transformava em palavras.

— Afinal, parece ser nosso horário preferido. – Darcy olhou nos olhos dela. – Estou começando a ficar constrangido.

— Achei que fosse raro você ficar constrangido. – ela arqueou a sobrancelha.

— Você não ficaria? – Darcy perguntou em um tom baixo.

— Eu não compro camisolas feias. – Elisabeta riu. – Dificilmente ficaria constrangida por ser vista em uma delas.

Darcy riu baixo, bebeu mais um gole de sua bebida enquanto Elisabeta fazia o mesmo, e depois seus olhos se encontraram.

— Você não deveria mesmo. – ele concordou.

— Comprar camisolas feias? – Elisabeta fingiu inocência.

— Ficar constrangida por ser vista nelas. – Darcy deu um sorriso de lado, quase malicioso.

Elisabeta terminou seu copo, ciente de que deveria encerrar aquela conversa.

— Acho que suas regatas estão adequadas. – ela deu de ombros.

— Estão, é? – a expressão convencida invadiu seu rosto.

— Ouvi dizer que estão fazendo sucesso entre as funcionárias da casa. – Elisabeta sorriu desdenhosa.

Os olhos de Darcy brilharam com humor, e mais uma vez ela o viu ficar calado.

— Acho que é o suficiente para mim. – Elisabeta olhou para o copo e o deixou em cima da escrivaninha.

Darcy terminou o seu e levantou-se. Segurou a garrafa em uma das mãos e seu próprio copo na outra. Ao levantar-se, ficaram ainda mais perto um do outro, e Darcy sorriu para ela ao inclinar-se levemente para alcançar o copo que ela havia deixado em cima. O braço dele roçou de leve no dela, e Elisabeta prendeu a respiração. Foi um contato breve, antes que ele fosse até o pequeno bar e deixasse os copos e a bebida ali.

— Vou acompanhá-la. – Darcy disse, e fez sinal para que ela passasse por ela.

Subiram juntos, em silêncio, com os cães trotando atrás deles. Trocaram um último olhar antes de Elisabeta entrar em seu quarto.

— Você pode usar o carro para buscar Charlotte. – Elisabeta disse, séria.

— Obrigado, Elisabeta. – Darcy disse, sério.

E então Olive e Jamie acompanharam Elisabeta até seu quarto, e a última coisa que ela ouviu foi o clique da porta ao lado.


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