Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 1
Capítulo 1




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A vida é inconstante. Elisabeta Green Hall soube disso desde muito cedo, quando, aos dez anos, tornou-se uma órfã, herdeira de um grande império. Seus carinhosos pais, James e Olívia Green, um dia saíra para uma viagem de vapor, e nunca mais retornaram. Elisabeta ainda recordava-se do momento em que a diretora do colégio interno à chamou para dar a notícia. Foi apenas a primeira vez que Elisabeta precisou lidar com a perda.

O irmão de seu pai, John, foi seu tutor legal por muitos anos. Apesar de carinhoso, John nunca teve tempo para a sobrinha. Elisabeta, portanto, passava a maior parte do ano no colégio interno, aprendendo tudo sobre literatura, artes, línguas. Durante as férias, costumava passar seu tempo com os empregados. Olívia não possuía irmãos, e John nunca teve filhos. Quando o tio faleceu, pouco tempo depois de Elisabeta completar a maioridade, viu-se sozinha no mundo.

Com a morte de todos os seus parentes, Elisabeta viu entrar em sua vida o advogado Xavier Hall, um velho conhecido de seu tio, descendente de brasileiros, como sua mãe. Era um homem quieto, inteligente, e conforme passavam tempo juntos, descobriam diversas afinidades. Quando, meses depois, iniciaram um relacionamento que logo culminou em casamento, Elisabeta finalmente acreditou que estava prestes a ter uma família.

Não demorou, porém, para que seu marido adoecesse. Xavier ficou cada vez mais debilitado, e poucos meses depois do casamento não resistiu à extensão da doença. Elisabeta mais uma vez precisou lidar com a perda de um ente querido, e a sensação de que todos à volta dela eram acometidos por trágicas mortes tornou-se cada vez mais real. A vida é inconstante, mas a perda é permanente, era o que ela sempre dizia.

Aos dezenove anos, Elisabeta já era viúva. Acumulava as fortunas de seus pais, do tio e agora do marido. Possuía muito mais dinheiro do que era capaz de gastar em sua existência, e cansada de sofrer pelo que não tinha, Elisabeta decidiu, aos vinte anos, tornar-se administradora de seus bens – incluindo todos os negócios do falecido pai. E, nos últimos anos, dedicara-se inteiramente à manter o nome e a marca dos Green vivos.

Acostumava desde pequena à dedicar-se aos estudos, Elisabeta não encontrou dificuldades na tarefa. Apesar da resistência inicial, os lucros dos últimos anos, a marca Green espalhada pelo continente e os planos de expansão para os Estados Unidos e para o Brasil foram capazes de dobrar até o mais cético dos sócios de seu pai. E agora não havia um só empresário em Londres que não a tratasse com respeito.

Elisabeta era também cercada de empregados leais. Sua generosidade e capacidade de tratar à todos como iguais era admirada por cada um que a servia. Sua casa, portanto, era seu santuário. E cada novo empregado passava por uma criteriosa seleção, que não envolvia apenas Elisabeta, mas também seu mordomo, Archibald, e sua governanta, Petúlia. Nada acontecia na casa de Elisabeta sem que seus fiéis escudeiros tivessem conhecimento.

Aos poucos o foco no trabalho fez com que o sofrimento de uma existência solitária fosse amenizado. Embora sonhasse desde criança com uma grande família, irmãs, uma casa no campo, essa nunca foi a realidade de Elisabeta. E, quando ficou viúva, tomou como aviso do destino de que também não estaria em seu caminho ser mãe, como tanto sonhava. Contentava-se, portanto, com seus dois border collies, Jamie e Olive – batizados em homenagem à seus pais, sob protestos de Archibald - que a seguiam para todos os lados da casa.

Apesar de tantas perdas, Elisabeta não gostava de lamentar-se. Procurava ter sempre um sorriso no rosto, tratar à todos com educação e cuidado, ciente de que ninguém poderia ser culpado por seus infortúnios. Procurava ver o lado bom de sua vida: aos vinte e cinco anos, era uma das mais bem sucedidas mulheres de Londres, quando ainda eram raras as mulheres nos negócios.

— Lizzie! – Archibald andou apressado em sua direção, fazendo Jamie e Olive correrem em volta do banco do jardim onde Elisabeta descansava.

— Archie! – Elisabeta ergueu à sobrancelha, acostumada aos exageros de Archibald.

— Temos um assunto de extrema importância e urgência para tratar. – o homem disse, sério.

— Estou curiosa.  – ela abriu um sorriso de canto.

— Já entrevistei dez candidatos ao cargo de motorista. – ele suspirou. – Ou são bagunceiros, ou não tem um pingo de educação.

— Archie, precisamos apenas de alguém para dirigir o carro. – Elisabeta manteve o sorriso. – Não estamos entrevistando candidatos à meu futuro marido.

— Ora, Lizzie! Eu estou falando sério. – Archibald suspirou. – Não posso deixá-la nas mãos de qualquer um.

Elisabeta alargou o sorriso. Conhecia Archibald desde menina. Já era o mordomo de seus pais antes que ela nascesse, e apesar dos cabelos brancos e rosto enrugado, fora sempre como um pai para ela.

— Podemos fazer uma experiência. Apenas escolha um deles. – ela voltou os olhos ao livro que tinha em mãos.

— É sobre isso que eu gostaria de falar. – Archibald suspirou e Elisabeta percebeu que o mordomo estava nervoso.

— Archie, você está me deixando curiosa. – Elisabeta olhou em seus olhos.

— Lizzie, bem... lembra-se que fui casado na juventude, não é mesmo? – Elisabeta assentiu. – Quando minha esposa faleceu você ainda era uma menina. Eu não tinha condições de cuidar dos meus filhos, por isso Darcy e Charlotte foram morar no interior, com minha irmã.

Elisabeta manteve o rosto inexpressivo.

— Darcy serviu no exército por alguns anos, e agora retornou à Londres. Ele é um bom rapaz, Lizzie. Trabalhador, honesto. – Archibald parecia genuinamente constrangido.

— Archie, está me dizendo que eu estou há três semanas procurando um motorista e todo esse tempo o seu filho precisava de um emprego? – Elisabeta riu, baixo.

— Eu não gosto de abusar da minha posição. – Archibald olhou para baixo.

Elisabeta então levantou-se, caminhando em direção à ele. Tocou o ombro do homem, fazendo com que ele a encarasse.

— Não poderia haver recomendação melhor para um funcionário do que ser seu filho, Archibald Williamson. – Elisabeta sorriu. – Avise à Darcy que o espero em meu escritório amanhã.

E, como o solicitado, na manhã seguinte Elisabeta aguardava em seu escritório. Estava adiantada, como sempre acontecia. Gostava de avaliar a pontualidade de seus criados, especialmente se fosse seu motorista. Faltando dois minutos para as oito horas da manhã, Archibald bateu em sua porta.

— Lizzie, Darcy está aqui. – o homem deu um sorriso tímido.

— Peça para que ele entre, por favor. – Elisabeta disse, analisando um último documento.

Não o viu entrar, distraída pela discrepância dos números. O notou apenas quando uma sombra pareceu encobrir o sol que entrava pela janela. Elisabeta sorriu, pronta para cumprimentar Darcy Williamson, filho de seu fiel mordomo. Seu sorriso, porém, se desfez em seu rosto quando os olhos de Elisabeta encontraram os azulados dele, um arrepio atravessando seu corpo.

— Senhora Hall. – a voz dele soou distante. – Meu nome é Darcy Williamson. É um prazer conhecê-la.

Levou alguns segundos para que Elisabeta percebesse a mão dele estendida para cumprimentá-la. Levantou-se, em um sobressalto, e ofereceu a sua, de forma débil. Darcy apertou sua mão, formalmente, e Elisabeta sentiu o calor dos dedos dele em sua pele. Ele a encarava com expectativa, e ela balançou a cabeça, buscando clarear seu raciocínio.

— Darcy, sim. – ela forçou um sorriso. – Não me chame de senhora Hall, por favor. Faz com que eu me sinta com setenta anos. Elisabeta está adequado, é como todos me chamam.

— Como quiser. – Darcy sorriu, tímido.

Darcy era alto, mais alto do que o pai. Seus cabelos eram escuros, como os de Archibald foram um dia. Havia uma leve semelhança no contorno de seus olhos, mas Darcy não se parecia tanto assim com o pai. Vestia um terno simples, porém bem cortado, e Elisabeta imediatamente gostou de sua postura.

— Archie disse que você está disponível para o cargo de motorista. – Elisabeta disse, em tom questionador, sentando-se e apontando a cadeira para ele.

— Estou a sua disposição, senhora Hall. – ele abriu um grande sorriso, balançando a cabeça. – Me desculpe, Elisabeta.

O nome dela soava bem nos lábios dele.

— Meu pai deve ter comentado que servi no exército. Também fiz alguns cursos neste período, e como deve saber, meu pai nunca economizou nos meus estudos e de minha irmã. – Elisabeta assentiu ao ouvi-lo. – Eu não estava satisfeito no interior, e por isso estou em Londres.

— Entendo. – Elisabeta mantinha o olhar no dele. – Eu não vou mentir, é um cargo que exige um pouco de disponibilidade.

Darcy concordou com a cabeça.

— Preciso estar em reuniões, diferentes lugares, em horários as vezes inconvenientes. – ela suspirou, um pouco cansada. – Eventualmente precisarei viajar de última hora. Algum problema com horários?

— Não, de forma alguma. – ele mantinha uma postura séria.

— O salário que ofereço é acima da média, Deus sabe o quão pão duros são os ingleses. – Elisabeta disse, arrancando um sorriso dele. – Você tem direito à um quarto na casa, que será na ala norte, junto ao de seu pai, de Petúlia, minha governanta, e é claro, do meu.

Darcy ergueu a sobrancelha, de forma quase imperceptível.

— É pouco convencional, eu sei. – ela explicou. – Mas meu jardineiro e minha cozinheira se apaixonaram. Havia uma casa no terreno para os funcionários, que agora é deles e do bebê que está à caminho.

Darcy sorriu com a explicação, um pouco admirado.

— São poucos os funcionários que dormem na mansão. A maioria prefere ter a própria casa. Você tem essa opção é claro.

— O quarto está ótimo. – Darcy respondeu.

— Terá direito à dois dias livres na semana, à sua escolha, desde que avise antes para que eu possa organizar um substituto. – Elisabeta parou por alguns segundos, revendo suas falas. – Acredito que este seja o principal. O que me diz?

— Parece perfeito. – ele abriu um grande sorriso, fazendo o coração de Elisabeta pular uma batida. – Quando começo?

— Amanhã está bom? – Elisabeta perguntou.

— Estarei à sua disposição. – Darcy a encarou intensamente.

— Ótimo. – Elisabeta baixou a voz. – Vou pedir que seu pai mostre seu quarto. Quanto aposta que ele está ouvindo atrás da porta?

Darcy ergueu a sobrancelha novamente.

— Archie? – Elisabeta disse, em voz alta.

Em menos de um segundo o mordomo estava diante deles.

— Archie, mostre o quarto de Darcy, por favor. – ela pediu, e o mordomo assentiu.

Ela levantou-se, e Darcy fez o mesmo. Elisabeta piscou discretamente para ele, fazendo com que Darcy escondesse um sorriso do pai.

— Bem vindo, Darcy. – ela disse, estendendo a mão para ele.

— Muito obrigado pela chance, Elisabeta. – Darcy segurou a mão dela com firmeza, e ao mesmo temo delicadeza. – Você não vai se arrepender.

 


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