D O I S ー

O fim de semana chegou e com ele, Luna Lovegood também. Gina ficara feliz ao saber que a loira passaria o fim de semana com elas, e mais feliz ainda de saber que Hermione voltaria para Hogwarts com ela. Gina cursaria o último ano junto com Hermione e Luna e estava super contente pois finalmente não se sentiria a caçula, apesar de ainda o ser.

No sábado, todos os Weasley foram para A Toca para o almoço em família. Gui e Fleur levaram a pequena Victoire e Harry fora junto com Gina buscar Ted para o almoço. A família toda reunida era sempre motivo de alegria para Molly e Arthur, ver que todos estavam felizes e seguindo suas vidas lhes enchia o coração, mesmo que ainda faltasse alguém ali.. alguém que infelizmente jamais voltaria. Mas Molly aprendera a aceitar e quando sentia falta de seu querido Fred, só precisava olhar para George e então o veria ali.

A diversão durou até a madrugada quando, aos poucos, os Weasley começaram a se dispersar. Carlinhos foi com Gui e Fleur para o Chalé das Conchas, onde estava passando uns poucos dias antes de voltar para a Romênia; George foi com Angelina, sua noiva, para o apartamento em que moravam, em cima da GW; Percy aparatou para sua casa, pois tinha que acordar cedo no dia seguinte para ir ao Ministério. Os demais simplesmente entraram na casa, ainda conversando animadamente.

ー Não acredito que vocês não vão conosco para Hogwarts! Como pretendem sobreviver sem Hermione? ー Gina disse, incrédula.

ー Gina! ー Hermione revirou os olhos, sentindo suas bochechas queimarem.

ー Vamos dar o nosso melhor, amor ー Harry disse para a ruiva, sorrindo para ela em seguida.

ー Vocês vão perder muita coisa ー Luna disse, mexendo distraidamente em uma mecha de seu longo cabelo.

ー Como pode saber disso? ー Rony perguntou, uma sobrancelha erguida.

ー Muita coisa vai mudar em Hogwarts, dá pra sentir ー a loira deu de ombros. ー Malfoy vai voltar para o colégio também.

ー Quê? ー Harry, Ron, Gina e Hermione disseram juntos, mas só Hermione continuou. ー Como você sabe disso?

ー Ah, encontrei ele no Beco Diagonal ontem a tarde. Fui tomar um sorvete na Florean e ele estava lá, com várias sacolas nas mãos. Cumprimentei-o e ele foi completamente educado comigo. Quando perguntei para quê tantas sacolas, ele me disse que eram os materiais para Hogwarts.

ー Malfoy foi... ー Hermione disse.

ー Educado? ー Rony completou a pergunta.

ー E ainda te respondeu a uma pergunta? ー Gina perguntou.

ー Sem escárnio ou zombaria? ー Harry também perguntou.

ー Como eu disse, muita coisa vai mudar em Hogwarts. Pena que vão perder ー Luna sorriu para Harry e Rony, que bufaram, cruzando os braços.

A conversa continuou ainda por horas antes de finalmente irem dormir. Hermione e Luna dormiram com Gina no quarto da ruiva e Harry dormiu no quarto de Rony. O fim de semana passou rápido e logo uma nova semana se iniciou. Na segunda pela manhã, Harry, Rony e Hermione foram para o Ministério assistir a última sessão do Julgamento de Severus Snape antes da sentença ser dada.

Hermione odiava tribunais e só se obrigava a assistir os julgamentos, porque sua presença, assim como a de Harry e Rony, eram requeridas pelo, agora, Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt. King achava, que a presença do Trio de Ouro faria o júri entender a importância do que estava acontecendo ali. Ao longo dos últimos dois anos, Hermione vira mais julgamentos do que jamais imaginara e pelo menos noventa e nove por cento, foram pessoas sentenciadas ao Beijo do Dementador, entre eles, Lucius Malfoy.

Hermione vira sofrimento nos olhos de Narcisa Malfoy, esposa de Lucius, mas não vira emoção alguma nos olhos de Draco, filho de Lucius. Achara que o loiro sofreria com a sentença, mas parecia mesmo estar aliviado pela maneira como seus ombros relaxaram após a sentença ser declarada por King. Draco e sua mãe foram absolvidos depois de terem suas memórias reviradas diversas vezes em sessões que Hermione preferia esquecer. Vira ali, naquele tribunal, cenas que jamais imaginara, envolvendo Draco Malfoy. Suas memórias foram passadas para todos os presentes do júri e os espectadores, que não eram muitos. Hermione o vira chorar, o vira sofrer, o vira a ponto de enlouquecer! O vira ser torturado, ser trancado sem comida no calabouço da própria casa por não ter feito algo que o pai mandou... Hermione ainda se lembrava da sensação de estar trancada naquele mesmo calabouço onde Draco passara dias torturantes.

Balançando a cabeça e passando a mão involuntariamente por onde sua cicatriz estava, Hermione sentou-se entre Harry e Ronald para assistir ao julgamento que passou devagar. Não assistira as primeiras sessões do julgamento de Snape porque não sentia-se bem para isso. Não tinha se sentido à vontade ao ter que ver as memórias de Draco e não queria a mesma sensação com o professor, por isso, faltara as sessões anteriores, porém, Harry e Rony exigiram sua presença na última sessão e ela estava curiosa pelo veredicto, por isso estava ali. A castanha só conseguia ver as costas do professor Snape, mas era possível notar a rigidez de seus músculos a cada palavra dita por King ou qualquer outro do júri. A voz do professor parecia cansada a cada vez que precisava responder uma pergunta e então, quase no fim, Harry fora convidado a aproximar-se do júri para mostrar novamente a maior das provas antes da sentença ser declarada: as lembranças que Snape lhe entregara na noite em que pensou estar morrendo depois do ataque de Nagini e Voldemort.

Hermione gostava de assistir aquelas lembranças, assistira-a tantas vezes com Harry e Rony no ano que seguiu ao fim da guerra e Snape estava em coma em St. Mungus… Eram as únicas lembranças que se permitia assistir referentes ao professor. Fazia-a lembrar o quão importante e corajoso Snape fora durante tantos anos. Sofrera tanto e mesmo assim, jamais deixou de lutar pelo certo, arriscando sua própria vida para isso. Arriscara-se tantas vezes por eles que Hermione não sabia exatamente como lhe agradecer. Apenas o título de Herói de Guerra não parecia ser o suficiente... “Ele merece finalmente ter uma vida livre, onde ele não precisa ser um espião, e correr risco de vida há cada passo que dá”, as palavras de Luna ecoaram em sua cabeça e Hermione mordiscou seu lábio inferior. Ele merecia saber como era uma vida normal, sem ter que se esconder, ou fingir ser algo que não era. Sim, ele merecia...

****

ー O réu foi considerado: Inocente!

Hermione não pôde deixar de sorrir ao ouvir aquelas palavras. Finalmente conseguiram! Tinham conseguido livrar mais um inocente de Azkaban! O Trio de Ouro se levantou, animado, enquanto ouvia a voz de Kingsley Shacklebolt inundar o tribunal.

ー Severus Snape, ao longo deste julgamento descobrimos que o senhor foi muito mais do que um Herói de Guerra. O senhor arriscou-se por anos para nos ajudar a derrotar Lord Voldemort e por isso, como uma forma de agradecimento não só de mim, mas de toda a comunidade bruxa, será condecorado com a Ordem de Merlin, graças a seus inúmeros feitos para garantir a vitória contra Voldemort. Muito obrigado!

E com essas palavras, o júri levantou-se e aplaudiu de pé o professor que permanecia de pé, a cabeça baixa e os ombros mais leves. Finalmente estava livre! Hermione, Harry e Ronald bateram palmas com animação, sorrisos estampados em seus rostos. Aquele fora o último julgamento ao qual o Trio de Ouro precisava comparecer, e não poderiam estar mais feliz... ao menos Hermione estava!

Quando todos saíram do tribunal, Hermione disse que precisava ver Percy e saiu de perto dos amigos, andando na direção contrária deles. Queria ver o professor, parabenizá-lo pela liberdade recém-conquistada! Viu-o sair do tribunal depois que todos já tinham ido embora, suas vestes negras, seu cabelo aparado na altura dos ombros e ainda com aparência oleosa e atualmente com alguns fios grisalhos aparecendo, seus olhos tão negros quanto às vestes. Hermione jamais vira olhos tão negros em toda a vida.

ー Professor... ー a castanha andou até o homem que parou ao ouvir a voz dela, permitindo que se aproximasse. ー Professor!

Sem pensar nas consequências de seus atos, Hermione jogou seus braços ao redor dos ombros do homem que ficou perplexo e completamente sem ação. O abraço durou pouco e então a castanha afastou-se, as bochechas avermelhadas e um sorriso nos lábios.

ー Sinto muito, eu... eu gostaria de saber... Não! Na verdade eu vim apenas parabenizá-lo. E dizer o quão feliz estou por saber que agora o senhor pode ser livre.

ー Bem, Granger... agradeço a gentileza! ー com um leve menear da cabeça, Snape estava prestes a se virar quando sentiu a mão da castanha em seu braço, fazendo-o olhá-la.

ー Espere! Sabe o que vai fazer agora que está livre?

ー Voltarei a Hogwarts, é claro ー o de cabelos negros disse, como se fosse óbvio. ー Aquele é meu lugar.

Hermione sorriu e assentiu.

ー Boa sorte e até mais, professor!

Snape meneou novamente a cabeça em direção a castanha e saiu andando em seguida, em direção a saída do Ministério, sua capa esvoaçando ao seu redor.