Vida. 

Quatro letras tão importantes, as quais dificilmente damos o verdadeiro valor. 

Até este momento tenho uma vida ótima. Trabalho em um banco de sucesso do qual recentemente fui promovido, meus pais, apesar de separados sempre foram ótimos para mim, não me deram tanto amor quanto acredito que uma criança realmente necessite, mas me passaram bons valores, especialmente da importância de ser honesto e nunca passar por cima de ninguém somente pelo prazer de se dar bem. Além disso tenho uma namorada maravilhosa, dona do sorriso tímido mais apaixonante deste universo. 

O nome dela é Isabella, mas carinhosamente sempre a chamei de Bells. 

Nos conhecemos no terceiro ano da faculdade onde eu cursava Contabilidade e ela, um curso de Cerâmica. Começamos a namorar e desde então já se passaram quase oito anos. Acho que até mais pois nunca fui muito bom em datas. Bells sempre cobrava uma posição minha sobre nossa relação, especialmente depois que suas amigas foram se casando, tendo filhos e formando suas próprias famílias. Foi então que há dois meses a convidei para morarmos juntos. Os olhos cor de chocolate da morena de cabelos curtinhos se encheram de brilho com minha definição e vê-la feliz assim me fez um bem danado. Sou louco por ela, faria qualquer coisa por sua felicidade, o problema é que enrolado com o trabalho sinto que não lhe dou o ideal valor e atenção que ela merece e por isso mesmo hoje tirei o dia de folga para visitarmos nosso novo apartamento que está quase no fim da reforma e aproveitamos para terminar de pintar nossa sala. 

— Edward! - Bella me repreendeu quando  sujei seu rosto de tinta azul com o pincél. 

— Oh, foi sem querer querida. Desculpe! - Brinquei a sujando mais uma vez com o pincél, desta vez na bochecha. 

— Palhaço! - Mostrou a língua para mim, olhando para os lados. - Bob! Bob, vem... - Chamou e segundos depois nosso felino Bob apareceu. 

Bob é nosso gatinho de estimação que dei para ela em seu aniversário de 28 anos, no fim do no passado. O presente foi para anima-la depois que sua tartaruga de estimação nos deixou no ano retrasado. Como podem perceber a senhorita Swan é apaixonada por animais, até faz trabalho voluntário em uma ONG de proteção animal há uns cinco anos, uma vez por mês. 

— Amor, quanto vamos nos mudar? - Perguntou pegando Bob no colo e fazendo carinho nele. 

— Acho que na semana que vem, se quiser. - Sugeri vendo-a abrir um imenso sorriso. 

— Quero muito, quero tanto! 

— Eu também Bells, eu também. - Falei dando um selinho carinhoso nos lábios dela. 

[...]

Na semana seguinte nos mudamos para o novo apartamento que era espaçoso e todo decorado a gosto de Isabella, já que não entendo nada de moda, muito menos de decoração. Eu passava o dia todo trabalhando fora, enquanto Bells só estava por meio período no museu onde trabalha há um ano e meio. Quando chegava a noite, ela me enchia de mimos, carinhos, perguntava como tinha sido meu dia. Comíamos juntos, sempre assistindo alguma série ou filme de terror e no fim da noite, fazíamos amor. Era a vida perfeita que eu tanto queria e a única coisa que conseguia sentir dentro de mim era uma imensa felicidade.

Naquela agradável quinta-feira acordei cedinho, mas Bella não estava ao meu lado. Já estava me arrumando quando ela entrou no quarto. Vestia somente uma camiseta minha mas como é muito baixinha, a mesma ficava larga e comprida em seu belo corpo. Em suas mãos havia o motivo de muitas das nossas brigas, o maldito cigarro. 

— Edward! - Bella me lançou outro olhar de reprovação quando peguei o cigarro das mãos dela e o joguei no lixo do banheiro. 

— Fiz isso para o seu bem. Deve parar de fumar logo ou esse cigarro vai acabar te matando, querida. - Falei retornando para o quarto para vestir minha camisa. 

Ela deu risada. 

— Dramatico, hein? Você é tão certinho e acho isso tão fofo em você... - Comentou indo até mim me ajudar a dar o nó na gravata. 

Mesmo trabalhando de terno e gravata a anos, ainda tenho dificuldades com o bendito nó.

— Obrigado. - Agradeci indo buscar minha maleta que estava em cima da cômoda. 

— Onde vai? 

— Trabalhar Bells pra conseguir dinheiro pra comprar aquela casa no campo que você tanto sonha. 

— A casa afastada da cidade onde iremos morar com nossos dois filhos, o Bob e nosso cachorro. 

— As vezes você me assusta com tantos planos. - Fiz outra careta, enquanto colocava os sapatos. 

— E você com a falta deles, senhor Cullen. - Fez o bico que costuma fazer quando está brava comigo. 

— Não é bem assim. - Fiquei de joelhos em frente a ela e beijei seus lábios - Eu só sou um pouco lento para planejar as coisas, mas a única certeza que tenho nesta vida é que não importa como será meu futuro, desde que seja com você. 

— Seu lindo. - Não resistindo ao meu charme, minha garota envolveu as mãos ao redor do meu pescoço e me beijou de novo - Te amo! 

— Idem. - Respondi sorrindo para ela, me levantando e pegando minha maleta novamente - Até mais tarde, Bells! 

— Nosso compromisso de mais tarde ainda está de pé, não? 

— Claro. 

— Bom trabalho, querido. 

— Obrigado Bells. - E fui embora de casa.  

[...]

Enquanto em casa está tudo okay, no trabalho nem tanto. 

Apesar de ter sido promovido recentemente com um aumento de salário muito interessante, venho analisando as finanças do banco e notando uma disparidade em algumas contas deles. 

— E aí Ed? Como vai? - James, meu melhor amigo e colega de trabalho indagou ao entrar na minha sala - Ed? 

— Er... - Coçei a cabeça, guardando os documentos na gaveta em seguida - Vou bem cara e você? 

— Também. - O loiro de olhos azuis sorriu se aproximando da minha mesa - E a Bella? Como está? 

— Ótima e em casa, é dia de folga dela hoje. - Contei. 

— Está tudo bem mesmo? Você parece tenso. 

James e eu somos melhores amigos desde a infância. Estudamos na mesma escola, na mesma universidade e ele me deu muita força quando me apaixonei pela Isabella, tanto que sempre diz que se um dia nós nos casarmos oficialmente ele deveria ser o padrinho. 

— Feche a porta. - Pedi estalando meus dedos, mania que tenho desde pequeno quando fico nervoso com algo ou alguém.  James obedeceu - Venho notando umas divergências nas contas do banco, entende?

— Como assim? - O loiro arregalou os olhos.

— Acho que algum funcionário está desviando o dinheiro daqui para uma conta falsa na Suíca, mas por enquanto isso é apenas uma desconfiança. - Desabafei pois já tem dias que venho desconfiando de tudo isso sem contar a ninguém, nem mesmo meus superiores pois não quero acusar um inocente. 

— Você deve estar se confundindo, cara. - James sorriu visivelmente nervoso pois o conheço muito bem e sei analisar cada uma de suas expressões - Esquece isso e vai cuidar logo do seu casamento, quero ser padrinho hein?!

— É sério, James. Realmente estou desconfiado que alguém esteja nos roubando, mas vou investigar tudo melhor para ter certeza. E Bells e eu não estamos casados, só morando juntos. É diferente. 

— Tão diferente quanto água com gás e sem gás. - James deu risada novamente - Bom, vou deixar você trabalhar aí. - Acenou para mim, saindo de minha sala em seguida. 

Não sei por quê mas a atitude de James me deixou confuso. 

Ele ficou nervoso com o que lhe contei e desconversou, se não o conhecesse tão bem diria que ele tem algo a ver com esses roubos, pois sempre foi bastante ambicioso. Vivia com mania de grandeza dizendo que um dia seria muito rico etc. Achava engraçado, por isso nunca levei a sério as coisas que ele dizia, mas agora fiquei confuso. Na dúvida irei investigar cada um dos funcionários, inclusive James. Também troquei a senha do banco de onde o dinheiro estava sendo surrupiado, assim o bandido não conseguirá mais roubar e muito menos transferir para lá os milhares de dólares que andam sendo desviados. Anotei a nova senha na caderneta de anotações que sempre levo comigo e fui almoçar. 

[...]

Enquanto almoçava em um restaurante próximo ao banco, troquei algumas mensagens com Bells. 

"Amor, não esquece do nosso cineminha de hoje a noite. Você prometeu, hein..."

Sorri. 

"Fique tranquila que não esquecerei. Te pego as oito, okay?" 

"Okay. Ah... Colocarei aquela lingerie vermelha que você tanto gosta para no fim da noite te fazer uma massagem bem gostosa, uma dança sensual e outras coisitas mas..."

"Mal posso esperar por isso, princesa." 

[...]

Voltei para o trabalho e minutos depois, James apareceu em minha sala novamente. 

— Mano, conheci uma gata muito gostosa no horário do almoço, marquei de nos encontrarmos hoje a noite depois do trabalho para eu tirar o atraso se é que me entende. 

— Vai lá e curte bastante, cara. - O aconselhei enquanto assinava alguns papéis. 

— E você? Tem planos para hoje ou vai ficar em casa mesmo? 

— Vou sair com a Bells para o cinema de sempre. Vai estrear um filme de terror muito maneiro e ela está louca para irmos assistir juntos. - Respondi sem dar muita atenção a ele. 

— Ah... - O ouvi dizer antes de mudar de assunto novamente. 

[...]

Após o trabalho, passei em casa para buscar a Bells e juntos fomos ao cinema assistir a estréia de Um Lugar Silencioso. Adoramos o filme, mas incomodamos as demais pessoas presentes no cinema pois ficávamos conversando o tempo inteiro e fazendo um monte de brincadeiras. Quando o filme terminou, nós dois fomos até uma banca próxima ao cinema comprar batatas fritas e depois, fomos em direção ao lugar onde estacionei meu carro que foi um pouco distante do cinema, já que não haviam lugares mais próximos por conta da lotação do local em dia de estréia.  

— Amanhã vou passar o dia inteiro fora para cuidar da exposição das minhas peças que serão no fim do mês, amor. - Bella comentou roubando um pouco da minha batata frita, coisa que ela sempre adorou fazer.  

— Que bom Bells, fico muito feliz por você.  

— Promete que vai estar lá no dia da minha exposição? É muito importante para mim. 

— Faça sol ou faça chuva, prometo de dedinho que vou na sua exposição assistir de camarote o sucesso da garota mais incrível do mundo. 

— Mesmo não entendendo nada das minhas obras? - Gargalhou. 

— Mesmo não entendendo nada das suas obras. - Sorri de volta para ela. 

— É por isso que te amo, sabia? - Sorriu lindamente para mim. 

— Idem. 

— Ei! - A morena parou de caminhar - Por quê você nunca diz que me ama?  

— Como? Mas é claro que digo. - Ri, amassando o saco de batatas e o guardando no bolso para jogar no lixo. - Inclusive falei agora. 

— Não, você apenas diz "idem" quando eu falo que te amo. - Retrucou - Não é a mesma coisa. 

— Sério que vamos ter uma DR por causa de três palavras tão bobas? - Fiz uma careta - Eu já não demonstro o que sinto por você através das minhas atitudes? Ou acha que estamos morando juntos por nada e... - De repente Isabella mudou sua feição, me deixando confuso - Que foi? Está brava comigo? 

— Vamos embora logo. - Entrelaçou sua mão na minha e apertou o passo. 

Olhei novamente para trás e vi que havia um sujeito mal encarado nos observabdo. Entendendo o recado, caminhamos mais rápido ainda em direção ao nosso carro, mas o homem também acelerou o passo e foi para cima de nós, nos interceptando e apontando uma arma na direção de Bella que deu um grito agudo bastante assustada com aquela situação adversa. 

Estava indo pegar minha carteira para entregar a ele pois deduzi que tinha sido um assalto, quando o bandido deu um tapa no rosto de Isabella.  

— Cala essa boca, sua vadia histérica! 

Toda a minha sensatez foi para o ralo naquele momento pois não aceitaria que aquele porco nojento encostasse suas patas imundas e agredisse minha mulher na minha frente. 

— Desgraçado! - Impulsivo, fui para cima do bandido iniciando uma luta corporal com ele para desarma-lo. 

— Não faça isso, Edward! - Ouvi Isabella dizer mas era tarde demais para voltar atrás. 

De repente ouvi um barulho de tiro e o criminoso saiu em disparada. Fui atrás dele mas o trombadinha era muito ágil e depois de um tempo conseguiu me despistar na rua seguinte. 

— Mas que filho da mãe... - Resmunguei ofegante retornando para onde Bells estava. - O maldito me despistou. Como você está querida?

Antes de olhar para minha namorada ouvi seus gritos e um choro de desespero e  quando olhei para onde ela estava, vi uma cena chocante, totalmente inacreditável. 

Bella estava de joelhos no chão, com a blusa e as mãos cobertas de sangue gritando por socorro. Em seus braços estava... Eu de olhos fechados. 

— Por favor meu amor, não me deixe!! - Ela gritava sacudindo meu corpo inerte, tremendo e chorando tão amargamente que conseguia sentir sua dor. 

Só então me dei conta de que o tiro que ouvi segundos atrás havia me atingido e que agora eu não estava mais... Vivo.