Aconteceu enquanto te Odiava escrita por BeaFonseca


Capítulo 2
Capítulo 02 - O acordo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776055/chapter/2

Pov. Barry Allen

— ...nem vou perguntar o motivo desse mal humor todo. – Íris, a minha meia-irmã, comentou, claramente se divertindo com meus resmungos constantes.

— Aposto dez dólares que o motivo tem nome e sobrenome. – Laurel sorria, debochada.

         Pensei em ignorar os comentários maliciosos que ambas insistiam em me lançar, e tentei me concentrar na comida a minha frente. Geralmente a comida deveria tranquilizar e relaxar, mas no momento, aquele almoço só estava me lembrando a cara de Emma Bennet. Xinguei mentalmente a primeira, segunda, terceira geração daquela garota atrevida.

— Desculpem o atraso. – Ouvimos Oliver Queen de repente, acomodando-se na cadeira ao meu lado. – Stain me pediu um favor. – Justificou. – Perdi alguma coisa?

— Não perdeu nada de novo. – Laurel deu de ombros.

— A srta. Bannet...?

         Olhei para Oliver agora, com a pior cara eu poderia fazer de poucos amigos. O cara era meu melhor amigo, mas isso não significava dizer que eu estava disposto a ouvir uma de suas piadinhas raras. No geral, Oliver não era um cara muito divertido, o que causava muita comoção e medo por onde passava. Nos tribunais, ele era lendário por extrair confissões rápidas diante dos juízes.

— Eu realmente quero almoçar em paz. – Pedi, recuperando qualquer vestígio de paciência.

— Então pare de resmungar. – Íris soltou, recebendo meu olhar de irritação. Ela estava certa. Como sempre.

— Stain me contou que ainda está com problema para se adaptar com a secretária. – Oliver iniciou. – Da forma como as coisas vão, eu não duvidaria se o Dr. Wells assinasse permanentemente o contrato de Emma como secretária do nosso departamento.

— Não fale isso nem brincando. – Soltei, preocupado. – Ela é um pesadelo. Não consegui não fazer um gesto como que estava esganando alguém.

— Só está achando ruim porque a garota tem personalidade e não cede a seus caprichos. – Íris afirmou. – Kendra de mimava demais, pelo visto.

— Não é isso! – Barry se alterou. – Ela não faz nada que eu peço na hora, e ainda reclama. Sem contar que não para de aparecer com biscoito e café naquela sala. – Suspirei, frustrado. – Tem um temperamento horrível e não tem modos.

— Eu não vejo ela tão acomodada, porque do contrário, Stain seria o primeiro a dispensar a sugestão do Wells, uma vez que eles são amigos suficiente pra isso. – Laurel interviu a favor da castanha.

— Barry... – Oliver me encarou desta vez, com sua típica seriedade. – Já parou para pensar que você é ansioso e agitado e não consegue enxergar que as pessoas nem sempre conseguem acompanhar o seu ritmo? – Foi sugestivo e fiquei pensativo.

— A Kendra acompanhava a minha rotina. – Expressei, satisfeito com a resposta rápida.

— Ela está a cinco anos como sua secretária, é no mínimo esperado que consiga se adaptar a essa altura. – Íris mordeu a língua. Ela estava sempre estava dizendo coisas obvias e que conseguiam me atingir com eficácia, tamanha sinceridade. – Acho que esperou muito de alguém que só ficaria seis meses a sua disposição.

         Abri e fechei a boca diversas vezes, mas não conseguia pensar em nada interessante para responder aquilo. Eu já falei que Íris estava sempre certa? Estava comprovado. Bufei, irritado por ter sido vencido mais uma vez.

— Se parece de jogar tantas tarefas em cima da pobre moça, e desacelerar um pouco a sua rotina, vai perceber que poderia ter sido bastante proveitosa as oportunidades. – Laurel bebericou o suco, e notei risos abafados de Íris e Oliver.

— O que quer dizer com isso? – Confrontei, me sentindo o único idiota incapaz de entender uma piada interna.

— Quando crescer, a gente conta. – Oliver deu duas tapinhas em meu ombro, ignorando a minha onda de resmungos acompanhados de palavreados realmente inapropriados.

— E como foi com Stain? – Laurel perguntou de repente, mudando de assunto. Agradeci mentalmente por isso. De qualquer forma, eu também estava curioso com o resultado da reunião com Oliver.

— Ele me pediu para deixar o novo chefe a pá de todo o departamento. – Todos assentimos.

         Estava óbvio que todos nós sabíamos que Stain estaria se despedindo. Ele mesmo havia feito uma reunião há três dias. No entanto, não tínhamos certeza sobre quem ocuparia o seu cargo chefe, uma vez que nenhum de nós quatro almejou isso até então.

— E ele começa quando? – Íris perguntou.

— Amanhã.

***

         No fim do horário de almoço, eu realmente não havia conseguido arrancar qualquer informação deles sobre o fato de acharem que eu deveria estar perdendo “oportunidades”, o que só piorou o meu humor já abalado. Eu certamente teria problemas para dormir, de novo.

         Quando cheguei na sala, Emma já estava concentrada em seu monitor. Pensei em dizer alguma coisa, mas não sabia exatamente o que. Dei dois longos passos até a minha porta, mas retornei os olhos para a castanha que nem se deu o trabalho de me encarar e entender o que estava acontecendo. Era óbvio que eu estava chamando demasiada atenção com aquilo, e ainda assim, ela nem piscava. Isso era extremamente frustrante, e apenas desisti de falar, embora ainda não soubesse o quê.

— Argh! – Soltei um som indecifrável. Um claro sinal de inquietação.

         Agora sentado em minha cadeira, eu encarava a parede de vidro que me separava dela. Oliver e Íris estavam certos sobre eu ter exagerado, talvez. Então pensei em fazer uma nota mental sobre refletir qual era o meu problema real com a Bennet. Eu realmente faria isso mais tarde.  

         Depois de mais algumas horas ponderando sobre chamar sua atenção ou deixar para lá, percebi que havia se levantado de sua cadeira, carregando um maço de papel em mãos. Sem hesitar, entrou em minha sala pisando firme. Eu teria achado graça outrora, mas na minha atual condição, não havia espeço para uma expressão simpática demais.

— Aqui está o seu relatório, Sr. Allen. – Esticou a mão, deixando o relatório pouco acima do meu nariz. Era uma atitude um tanto quanto exagerada, mas estava bem óbvio que sua intenção era, praticamente, esfregar na minha cara que havia feito o que eu pedi, até bem antes das 17h.

         Encarei a castanha a minha frente, pensando seriamente se deveria repreende-la por isso, no entanto, eu só consegui suspirar e pegar o relatório.

         Bingo! Sua expressão parecia surpresa, por um momento. Imaginei que não estivesse esperando por isso. Fez uma leve mensura com a cabeça antes de virar-se para sair da sala, mas a chamei, mesmo não tendo certeza do por que.

— Pode se sentar por alguns minutos aqui? – Apontei para a cadeira a minha frente. Não era muito confortável conversar assim, havendo um sofá, mesmo pequeno, em minha sala. Mas preferi manter certa distância, por talvez saber que era seguro para nós dois.

         Hesitando, apertou os olhos, bastante confusa e desconfiada, mas isso não a impediu de se sentar, mesmo com certa cautela. Eu havia acabado de perceber que admirava sua coragem.

— Se vai corrigir o relatório na minha frente, então espero que se sinta decepcionado por eu não cometer erros. – Disparou, com o nariz empinado.

         Por um segundo, eu tive vontade de responder a esse comentário impertinente, mas me contive, até descobrir que riria disso depois. Com toda certeza.

— Sei que não cometeria erros, porque é algo realmente muito importante. – Sorri, cinicamente, ciente de que isso seria o suficiente para abalar sua confiança quando olhou, muito discretamente, para o relatório, em dúvida. Mas ela não admitiria, é claro. – Enfim... – Apoiei os braços na mesa, cruzando as mãos. – Nós não temos nos dado muito bem, nesses últimos três meses, e temos mais três meses pela frente...

Eureka...— Sussurrou, quase de forma inaudível. Ignorei.    

— Seria interessante se fizéssemos um acordo de paz até lá.

— Sabe que um acordo de paz entre duas pessoas precisa ter o consentimento das duas pessoas, não sabe? – Disparou.

— Mas é claro! – Quase bufei.

— Então isso significa que você está incluso.

Isso é obvio. – Sibilei, me sentindo irritado e quase arrependido.

— Só queria deixar claro. – Deu de ombros. Revirei os olhos. Eu estava arrependido.

— Podemos fazer isso? – Perguntei, esperando outro comentário ácido de sua parte.

— Eu não tenho dificuldade para manter a paz. – Disse, simplista.

         Erguia a sobrancelha, claramente debochado. Ela deveria está de brincadeira com a minha cara. Não é possível que acreditava mesmo nisso. Dei uma tossidela, afim de não dizer nada que pudesse comprometer a minha pouca disposição para a paciência.

— Ótimos, então vamos tornar a nossa relação saudável, nos próximos três meses.

         Nem eu mesmo consegui ouvi o que acabara de dizer, e quando me dei conta, percebi que tinha colocado muito mal as palavras. Pela cara de Emma, deduzi que ela havia interpretado errado a palavra “relação”.

— Quero dizer... a nossa interação de trabalho. Não propriamente uma relação... você sabe... homem e mulh..

— Eu sei! – Me interrompeu bruscamente. – Não havia necessidade de explicar, porque isso não é nem cogitado.

— Parece ter muita certeza. – Provoquei, e nem sabia do porque estava fazendo isso. Só parecia divertido vê-la extremamente constrangida.

— Mas é claro que tenho! – Disparou. – Você não? – Cruzou os braços, me pegando de surpresa.

— Claro!

         O Silêncio pairou no ar, e nossos olhos desviaram com tanta repressão, que eu imaginei que não chegaríamos a nos encarar mais durante o resto do dia.

— Enfim... – Outra tossidela amena. – Já que estamos de acordo, posso esperar não ser mais contrariado quando pedir alguma coisa, imagino.

— Claro! – Ela de repente sorriu, sem mostrar os dentes. – Assim como espero mais compreensão quando não o puder fazer na hora, como no caso de hoje.

         “É claro que ela diria isso” – Pensei, crispando os lábios. Em todo caso, eu certamente não pediria mais nada em horários “importantes” como estes.

         Assenti, concordando por fim.

 - Isso foi um grande avanço, não acha? – Notei que tinha um tom ameno e sem nenhum toque de provocação. Era a primeira vez que estávamos conversando sem um desentendimento.

— Hm... – Concordei com a cabeça, não sabendo exatamente o que dizer.

— Se precisar, estarei bem ali. – Ela apontou para a sua mesa, e estava claro que nem mesmo ela sabia o que dizer também. Contive a vontade de rir da situação incomum, apenas assentindo para a sua saída.

         Quando me vi sozinho – Mas nem tanto devido a parede de vidro -, pude suspirar profundamente. As coisas não precisavam ser tão ruins assim, e eu estava certo de que aquele momento havia sido necessário para que os próximos dias sejam, no mínimo, suportáveis. Emma havia concordado com muita rapidez, e imaginei que esperava por isso também. Algo do qual concordamos, no fim das contas.

         Olhei para o relatório e não evitei sorrir. Estava impecável, como ela mesmo havia se gabado, dizendo. E mesmo com o acordo, eu jamais admitiria isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando! ♥
Até o próximoo!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aconteceu enquanto te Odiava" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.