Os dias se passaram um pouco mais tranquilamente. – Faltava apenas um dia para o baile e algumas garotas pelos corredores da escola pareciam que surtariam a qualquer momento. –  Algumas preocupadas com as roupas que usariam, outras choramingando porque ainda não haviam recebido nenhum convite.

Passei os últimos dias ajudando Sam e o grêmio na decoração para o baile. – Tive que aturar as provocações do Elliot já que ele estava lá também, mas eu sempre devolvia tudo no mesmo tom. – Sam estava ficando quase louco com nossas pequenas discussões.

Quase não vi Guss fora das aulas, e Izzie já estava ficando irritada porque a fiz me esperar até acabar as coisas para que eu não fosse embora sozinha.

— O Elliot não te ofereceu carona aquele dia? – Ela me provocava falando isso a quase todo tempo quando voltávamos pra casa.

No intervalo nós duas fomos para o nosso lugar na biblioteca.

— Você não sabe o que aconteceu! – Ela disse chegando um pouco depois de mim. 

Izzie tirou um pacote de salgadinhos da bolsa. – Ela sempre entrava com comida escondido aqui, mesmo sabendo que não podia.  –  Tinha uma expressão de quem iria explodir se não me contasse logo o que havia acontecido.

Izzie se sentou ao meu lado no chão, encostando na prateleiras de livros igual a mim.

Fechei o livro que eu estava lendo e olhei pra ela com atenção.

— O que houve? – perguntei com interesse.

— A Lindsay convidou o Guss pro baile! – falou e eu senti meu coração bater na garganta. Sentia como se um vento forte tivesse passado por mim. – E adivinha? Ele recusou! – Izzie soltou uma gargalhada tapando a boca com as mãos.

— Ele o que? – soltei a respiração que nem percebi ter prendido. Um alívio repentino chegou até mim.

— Recusou! Eu escutei ela contar pras amigas enquanto passava por uma sala de aula vazia... “Eu achei que ele diria sim! Não acredito que o Guss recusou. Isso é inacreditável...” – Ela imitou Lindsay e depois voltou a rir.

Não conseguia parar de pensar no que ela havia me contado. O Guss poderia ter aceitado ir com a Lindsay, ela era bonita, popular... Mas ele recusou, porque já iria comigo.

As aulas passaram com rapidez e logo chegou a hora de terminar de decorar a quadra onde seria o baile de boas vindas.
Encontrei com Guss perto dos armários quando ele estava saindo.

— A Izzie me disse que vocês vão ficar hoje de novo pra terminar as decorações... – Ele falou.

— Sim, nós vamos. Amanhã já é o baile né!

— É verdade... Eu passo na sua casa amanhã pra te buscar. – Ele sorriu gentil.

— Até, Guss. – devolvi o sorriso antes dele ir embora.

Assim que Guss tomou distância Lindsay passou por mim. Ela me olhou estranho. – Será que havia escutado? Mas agora isso não era mais tão importante.

Fui até a quadra e todos do grêmio já estavam por lá. – Elliot encostado mais ao longe olhou pra mim assim que entrei no lugar. – Sentia um leve rubor de vergonha em meu rosto. Ele olhava-me tão diretamente que era inevitável não me sentir envergonhada.

Começamos a decorar o lugar. – Izzie apareceu após mim e acabou tendo uma discussão acalorada com Sam Scott, só apenas depois disso ela resolveu nos ajudar.

— Não sei como vocês aguentam ele! Ele é quase um pesadelo quanto a Lindsay! Na vedade acho que os dois se dariam muito bem juntos! – Izzie falou segurando o riso.

— Só em uma realidade paralela esses dois ficariam juntos! – falei entrando na onda dela.

— Já imaginou? – Ela indagou soltando uma risada, Sam olhou feio para nós duas.

— May, pode ir buscar uma caixa na sala do grêmio? Tem os últimos itens de decoração nela.... está dentro do armário. – Sam pediu ajeitando os óculos com impaciência.

Izzie e eu nos entreolhamos, e antes que a gente começasse a rir como loucas, fui fazer o que ele havia me pedido.

Cheguei na sala e assim como ele falou fui até o armário. – A caixa estava na última prateleira, e cinco minutos depois e muitas tentativas ela ainda permanecia lá. – Bufei frustrada, por que fabricam armários tão altos?

Peguei uma cadeira para usar de auxílio, subi em cima dela e tentei mais uma vez, fiquei na ponta do pé, sentia meu dedo doer pelo esforço de impulsionar meu corpo pra cima. – Mas minha mão havia encostado na caixa.

Puxei ela na minha direção. Porém não consegui manter o equilíbrio, eu tombaria com a cadeira, e com a caixa. – Fechei os olhos esperando a queda que eu ia tomar.

Meu corpo tombou pra trás, mas ao invés de sentir o chão, tudo o que eu senti foi alguém me puxando na direção oposta com força, mãos firmes me seguraram pela cintura impedindo minha queda. – O barulho da caixa ao mesmo tempo me fez abrir os olhos sem pensar duas vezes.

Elliot olhava-me nos olhos, e pela nossa proximidade não tinha como não olhar diretamente nos seus também. – Azuis, tão profundos que chegavam a ser hipnotizantes se olhasse por muito mais tempo.

As mãos dele ainda me seguravam com firmeza. – E só aí percebi o quão próximos estávamos, perto demais. Perto de um jeito que nenhum garoto jamais esteve. – Nem mesmo Guss.

O olhar dele desceu pelo meu rosto, o vi fitar minha boca por um instante. – Não que eu realmente conseguisse acreditar que alguém como ele fosse desejar me beijar.

Mas mesmo assim me afastei dele. Suas mãos agora estavam longe da minha cintura, me causado um incômodo por sentir segurança quando elas estavam ali.

— O que você está fazendo aqui?! – indaguei desviando o olhar para as coisas caídas da caixa no chão, me abaixei para recolher e colocar tudo dentro da caixa novamente.

O rubor de vergonha e constrangimento tomou conta do meu rosto. – Será que ele havia percebido isso?!

— Você estava demorando... o Sam me pediu pra vim ver se precisava de ajuda... – Ele abaixou ao meu lado recolhendo as coisas.

— Pode ir, eu posso fazer isso sozinha! – falei ainda sem encara-lo.

— Consegue mesmo?! – Elliot disse.
O olhei e ele sorria com convencimento.

— Pode ir, Elliot! – disse com irritação.

— Você não consegue parar de ser teimosa?

— Não preciso da sua ajuda! – falei terminando de colocar as coisas na caixa.

— Não parecia que você não precisava a alguns minutos atrás! – Ele disse jogando alguns objetos dentro da caixa que agora estava em meus braços.

— Foi um acidente, seu idiota! – falei sentindo-me irritada.

Irritada acima de tudo por ter sido ele que evitou meu tombo. Irritada por um motivo que eu ainda não sabia qual.

Mas aí eu percebi que estava sendo realmente mal educada, Elliot havia me segurado, eu poderia ter levado um tombo feio se ele não estivesse lá.

E foi quando ele me deu as costas e saiu andando que eu percebi isso.

— Elliot, espera! – o chamei quando estávamos no corredor.

Ele parou e eu fui até ele. Voltamos a caminhar em direção a quadra. – Permanecemos um bom tempo em silêncio até eu engolir meu orgulho e falar.

— Olha... Me desculpa por ter sido mal educada! Você me salvou do tombo... – falei atraindo a atenção dele.

— Você me dizendo isso?! Nunca imaginei que escutaria essas palavras da sua boca! – Elliot riu, e enquanto eu olhava para o sorriso dele foi inevitável não sorrir junto.

— Não quer dizer que eu ainda não te acho um idiota!

— Não quer dizer que eu te ache menos mal educada! Ou irritadinha... – revirei os olhos pra ele.

— Obrigada! – agradeci quando entramos na quadra.

— Salvei a sua vida, você me deve uma! – Ele sorriu convencido e eu balancei a cabeça rindo.

Todos os demais nos olharam quando entramos juntos. Entreguei a caixa para o Sam.

— Vocês demoraram, Rose May! – Ele disse ajeitando os óculos. – O que houve?

— Tive dificuldade em pegar a caixa... só isso! – falei e logo sai dali indo até Izzie.

— Me conta! – Izzie falou sorrindo.

Olhei para o lado oposto e as duas garotas do grêmio me encaravam e falavam baixinho entre si.

— Não aconteceu nada demais! – expliquei pra ela que me lançou um olhar descrente. – Eu quase cai com a caixa, e ele me segurou... Foi isso!

— Sério? – Izzie sorriu ainda mais. – Mas ele te segurou como?

— Segurando Izzie! Meu Deus! – falei irritada.

Encerramos a conversa sobre aquele assunto, mas vez o outra Izzie me lançava sorrisinhos presunçosos. E pra ajudar ainda mais, Elliot as vezes me olhava do outro lado da quadra.

Quando terminamos tudo Izzie disse que ligaria para o Guss para que ele viesse nos buscar.

— Bom trabalho! – Sam nos parabenizou. – Espero que todos tenham um bom baile.

De longe essa foi a melhor decoração já feita para um baile de boas vindas. – Sabia que Sam estava se dedicando ao máximo pra mostrar que ele era um bom presidente e que nossa chapa era boa. Ainda mais com essa eleição surpresa.

— Tenho que agradecer até a você Izzie! – Sam falou.

— Não foi uma obrigação! – Izzie ironizou.

Segurei o riso e vi que Elliot fazia o mesmo. Nos entreolhamos e por pouco não soltei uma gargalhada.

Izzie e eu saímos da quadra quando ela disse que Guss já estava nos esperando lá fora. – Caminhamos pelo corredor e é claro que ela me fez contar em detalhes o que havia acontecido.

Só não contei o fato de que ele parecia querer me beijar. – Era ridículo pensar isso, seria ainda pior dizer em voz alta. Alguém como ele nunca iria desejar me beijar, mesmo Elliot sendo um idiota nas horas vagas, ele era bonito. Isso era incontestável.

— Caramba! Ele te salvou. – Izzie disse sorrindo. – Ele não é tão idiota quanto você pensa!

— Só por que ele me livrou de levar um tombo? Aí Izzie, por favor! – disse revirando os olhos.

Mas eu sabia que Izzie estava certa. Se Elliot fosse tão babaca, teria me deixado cair com aquela caixa e riria da minha cara.
Quando saímos do colégio Guss já estava lá fora nos esperando encostado no carro.

— Como foi? – Ele perguntou assim que entramos no veículo.

— Cansativo! Fui obrigada a ajudar. – Izzie reclamou me fazendo rir.

— Ela e Sam Scott discutiram por causa de uma tesoura! – continuei a rir sendo acompanhada agora por Guss.

— Não é como se você não tivesse discutido por qualquer besteira com o Elliot!

— Izzie! – repreendi ela.

Guss me olhou pelo espelho retrovisor já que eu estava sentada atrás.

— Aquele garoto novo?! Tem certeza que ele não anda te perturbando May? – Guss indagou preocupado.

— Claro que não! Eles adoram ficar se provocando em discussões intermináveis e bestas! – Izzie falou e eu fuzilei ela com o olhar.

Guss me lançou um olhar estranho pelo espelho. – Mas o assunto se encerrou ali, e não falamos mais sobre até chegarmos na frente da minha casa.

Abracei a Izzie ainda dentro do carro e nos despedimos.

— Não acredito que amanhã você não vai dormir na minha casa! E ao invés disso iremos para o baile. – Ela lamentou antes de eu abrir a porta do veículo e descer.

— Vai ser legal, Izzie! – disse sorrindo e fechei a porta.

Todas as noites dos dois anos do baile de boas vindas eu dormia na casa da Izzie. – Nós nunca íamos, então seria estranho esse ano.

— Espero que seja mesmo! – Ela abaixou o vidro da janela e falou.

Guss desceu do carro e me acompanhou até a entrada de casa.

— Amanhã, as oito eu te busco. Tudo bem pra você? – perguntou.

— Sim. Claro! – sorri pra ele.

— May...

— Sim?

— Você e aquele garoto, o Elliot, estão bem próximos... – Percebi a onde ele queria chegar.

Nunca pensei que Guss acharia que eu estaria envolvida com o Elliot. – Isso seria tão impossível quanto ele próprio se apaixonar por mim.

— Não! Com certeza não. – falei antes mesmo dele concluir. – Nós dois não temos nada haver!

— Desculpa May... É que eu me preocupo com você.

— Tá tudo bem, Guss! – sorri pra ele que retribuiu.

Ele se aproximou mais e apertou minha bochecha com carinho como sempre fazia. – Guss me olhou uma última vez antes de se despedir.

— Até amanhã, May.