O Fantasma da Ópera escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 35
Edward IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775688/chapter/35

P.O.V. Beverly.

Ela tinha acabado de destruir um exército inteiro e salvar a cidade de Londres de um ataque. Mas, a culpa por ter matado até mesmo os cavalos a consumiu. Melissa chorou a noite toda até dormir.

O problema foi que assim que o dia nasceu, um punhado de soldados e três padres vestidos com batinas vermelhas de veludo e colares de ouro puro. Vieram.

—Recebemos denuncias de uma bruxa.

—E acreditaram nas calúnias de uma bruxa?

—Não, rapaz tolo. Recebemos denuncia de que há uma bruxa cá entre vós. Na pensão.

—Mas que bobagem, senhor. Não há bruxas aqui.

O problema foi que o padre viu a Melissa deitada na cama e ela estava com aparência fraca e cansada.

—A jovem está enferma?

—Só cansada.

—Nós vimos os corpos queimados do lado de fora da cidade. Na rua.

O padre começou a examinar Melissa, mas no processo ele a acordou e quando abriu os olhos...

—Demônio! Criatura maligna! A bruxa! Prendam a bruxa! E prendam os outros dois também, por conspiração. Por ajudarem a bruxa.

—Não. Faça o que quiser comigo, mas não machuque meus amigos. Eles só queriam me ajudar.

—Bom, quem diria que se entregaria tão facilmente? Vamos.

—Melissa...

—Vai ficar tudo bem. Eu vou ficar bem.

Ela me abraçou, passou a mão na minha e senti-a colocar algo lá.

—Cuide dele por mim até eu voltar.

Sussurrou no meu ouvido.

—Vamos bruxa!

Os soldados agarraram Melissa e a arrastaram para fora, ela foi sem protestar. A jogaram numa carroça de prisioneiros e eles foram embora.

Tinha que fazer alguma coisa, mas não tinha o Poder pra isso, só que acho que conheço alguém que tem. 

P.O.V. Melissa.

Estou na Torre de Londres. O lugar onde centenas de milhares de pessoas foram trancadas, torturadas e morreram. O local tem uma energia terrível, pesada. Sei o que é isso. Energia de sacrifício. Centenas de almas presas. Espíritos vingadores.

O torturador veio me buscar e me amarrou num balcão de estriamento. Toda vez que ele girava aquela roda, sabem o que eu sentia? Nada. E ele percebeu isso.

—Pode faz isso o quanto quiser, não vou sentir nada.

Então, ele tentou outros métodos. Afogamento, mas como sou metade vampira e uma filha do Clã Corvinos, não preciso respirar então... não fez muita diferença. 

Açoites, mas as chibatadas não penetraram a minha pele.

P.O.V. Beverly.

Amarrei a pedra no pescoço, coloquei a capa vermelha e com o capuz cobrindo meu rosto e a cabeça baixa consegui passar pelos guardas sem problema.

—Eu não a esperava tão cedo.

Quando tirei o capuz, ele ficou claramente decepcionado.

—Sinto muito, mas acho que esperava outra pessoa. Só que essa outra pessoa salvou a cidade ontem e como recompensa... foi presa por uns idiotas da Igreja.

—Conseguiram capturá-la?

—Ela foi de boa vontade. Pra me proteger e o Jeremy.

—Então foi levada para a Torre de Londres.

P.O.V. Torturador.

Todos os métodos que conhecia. O balcão de estriamento, açoite, a cadeira da inquisição e até mesmo a dama de ferro. Nenhum deles a afetou.

—Você gosta de fazer isso? Isso te traz alegria? Prazer?

—O que... você é?

—Sou uma pessoa complicada. Tá, eu já to cansada disso.

Ela arrebentou as algemas e antes que pudesse reagir, me vi amarrado ao balcão de estriamento.

—Guar...

Ela começou a virar a roda e por Deus, como doía. Usou em mim todos os instrumentos que usei nela. Tentei gritar, pedir ajuda aos guardas, mas fui ignorado.

—Por favor, pare. Por favor, misericórdia.

—Não se preocupe. Só falta mais um.

A mulher com olhos azuis/violeta carregou a dama de ferro para dentro da cela.

—Não. Não, por favor, por favor, piedade.

—Não é tão divertido agora, é?

Fui colocado dentro da Dama de Ferro.

—Doces sonhos, torturador.

—Não! Por favor! Por favor!

Senti quando os espinhos me perfuraram, gritei, então a dama de ferro foi aberta.

—Por favor, por favor, piedade.

—Você já teve... piedade de alguém? Alguém que veio parar aqui?

—Já. Já.

—Mentiroso.

Senti-a enfiar a mão no meu peito, o gosto do sangue.

P.O.V. Melissa.

Arranquei o coração dele e bebi o sangue que havia sobrado no órgão até ele ficar seco e esmaguei-o com a mão. Ele se estilhaçou.

—Coração de pedra.

Tirei as chaves do cinto do guarda e sai da cela. Drenei o sangue de cada guarda que cruzou meu caminho. Chegou a um ponto em que comecei a simplesmente matar, arrancar o coração e jogar fora, a cabeça.

Quando acabou, estava de volta ao cenário inicial. Cercada de cadáveres, mas desta vez não estava chocada e nem sentia remorso. Abri as celas uma á uma.

—Você tem um nome?

—Melvin.

—E o que você fez Melvin?

—Roubei.

—O que e porque?

—Pão. Porque estava com fome.

Dava pra ver. O coitado do rapaz era pele e osso. Abri as algemas e a porta.

—Vamos, Melvin.

A maioria dos prisioneiros havia cometido crimes semelhantes. E eu verifiquei a história deles. Roubei moedas para comprar pão, roubou pão porque estava com fome.

Ainda faltava um guarda. Ele achava que podia se esconder de mim.

—Olá guarda.

—Por favor. Por favor, eu tenho filhos, tenho uma esposa.

—Eu sei. Mas, não é por isso que vou deixar você viver seu pedaço de merda. Preciso de um mensageiro. Entregue a minha mensagem para o Rei Edward IV.

Ele foi correndo. E eu tirei os prisioneiros de dentro da Torre.

—Porque nos libertar?

—Porque os seus crimes foram tentar sobreviver numa era onde é muito difícil fazer isso. Vocês estavam roubando porque não tinham escolha, estavam famintos, sozinhos, abandonados. Não mais.

P.O.V. Valerie.

Apesar do sangue que pingava de sua boca, ela não estava ferida e começou a cantar.

She's underwater again.  Somebody's dauther, A friend.  In the night in the dark in the cold. As she walks far away... Nobody's watching. Drowning in words so sweet. Mild is the water, caught as a bird, once free...

Era como se na música que cantava falasse de si mesma.

—Aqui. Isto vai ser o suficiente para vocês saírem do Reino, pelo menos por agora.

Ela nos deu pão e moedas.

—Vão para o mais longe daqui que puderam.

—Quem é a senhora?

—Senhorita. Sou a filha de alguém, uma amiga.

P.O.V. Edward VI.

Estava prestes a mandar meus guardas pessoais até a Torre quando, um dos guardas vem á galope.

—Guarda á caminho! Abram alas! Abram alas!

—O que está fazendo aqui, guarda?

—Sou o último. O último que sobrou, os outros ela matou.

—Melissa?

Perguntou Beverly.

—Silêncio! Como era esta tal mulher?

—Era uma bruxa. Os olhos azuis, mas violeta. Brilhavam no escuro.

—Espere, está me dizendo que uma mulher sozinha matou todo um contingente de soldados?

—Sim. Arrancou-lhes os corações e decepou-lhes as cabeças usando nada além de suas duas mãos. Bebeu o sangue deles.

—Impossível. E como você sobreviveu?

—Ela me deixou viver, Vossa Graça.

—Então, todos os guardas, os sentinelas, os soldados da infantaria da torre de Londres estão mortos?

—Sim, Vossa Graça.

—Isso é possível? Ela pode fazer isso?

Perguntei chocado. E a minha cópia respondeu como se fosse algo óbvio:

—É claro que pode. Ela é um milagre, uma lacuna da natureza. Foi assim que ela parou o ataque á cidade ontem. Colocando a magia negra pra fora.

—Magia negra? Então ela é realmente uma bruxa?

—A magia negra é só uma parte. Ela tem magia de luz também, é como a natureza funciona. O bem não pode existir sem o mal e visse versa. Não é culpa dela, ela tem que colocar pra fora. E se não tivesse feito, a cidade teria queimado. Mulheres teriam sido violentadas incluindo a minha irmã.

—E onde ela está agora?

—Não sei, Vossa Graça. Ela libertou alguns dos prisioneiros e... mandou-lhe uma mensagem.

—Que mensagem?

O homem não respondeu.

—Que mensagem?!

—Por favor, Vossa Graça sou apenas o mensageiro.

—Diga.

—Que aqueles que ela libertou não eram culpados de crime algum. Que pelo crime deles o senhor era culpado. Por ser um governante tirano, egoísta, mesquinho, metido e mulherengo. Um imbecil.

—E ela não tem a coragem de me dizer isso na cara?! Quem ela pensa que é para dizer estas calúnias sobre a minha pessoa?

—Calúnias?

—Melissa!

—Oi Beverly. E se fossem calúnias,teriam obrigatoriamente que ser mentiras. Mas, nós dois sabemos que você é um governante tirano, egoísta, mesquinho, metido e mulherengo! Um imbecil!

—Como ousa!

—Já saiu deste Castelo?! É óbvio que não. Porque se o tivesse feito... saberia que lá fora... mulheres afogam seus bebês para não ter que vê-los morrer de fome e frio no inverno! Saberia que o seu povo, passa fome! Vive na miséria! Sozinhos, abandonados, desesperados! 

—Não falarás comigo assim!

—E o que vai fazer a respeito?! Me matar? Isso não vai funcionar!  O seu torturador tentou todos os métodos que conhecia. Fui esticada no balcão de estriamento, açoitada, espancada, colocada dentro duma maldita dama de ferro e nada daquilo me feriu!

—Meu Deus Melissa! Que coisa horrível.

—É melhor do que ser cobaia de laboratório.

—E como se posso perguntar sou culpado dos crimes daqueles desgraçados?!

—Não grite. Pare de xilique Edward. É simples, você tem todo o Poder do mundo, poder para ajudar essas pessoas, mas não ajuda. Então sim, é culpa sua.

—Xilique?! Eu sou seu Rei!

—É um menininho mimado e egoísta que não escuta nada além do som da própria voz. 

—Sua criatura des...

—É isso! Essa é a resposta.

—Cale...

—Silencia!

Tentei falar, tentei gritar, mas minha voz não saia.

—Oh! Finalmente. A minha cabeça vai explodir. Meus sentidos são hiper-aguçados sabia? Posso ouvir o coração de alguém batendo á quilômetros de distância ou seja, essa sua gritaria me deu enxaqueca e já que não consegue falar... talvez seja hora de começar a ouvir. Talvez para ouvir o que tenha que ouvir, precise mudar de forma.

O que?

—Jeremy, Edward, troca corporum neum corporum sua nominato. Pronto. Vai se olhar no espelho.

Quando me vi, o reflexo não era o meu. Bom, era mas... não era.

—Mudamos de roupa? O que é isso o Príncipe e o Plebeu?

—Basicamente. E não mudaram só de roupa, mudaram de corpo. Coloquei a consciência de um no corpo do outro. Mas, a maldição foi com o Edward.

—Eu não sou Rei. Não sei ser Rei.

—Você não tem que ser Rei. Tem que ser o Edward. É só se comportar como um idiota mimado.

—Isso é fácil.

—E quanto a ser Rei, posso cuidar disso.

Você não vai tomar o que é meu!

—Ele não vai. E nem eu. Isso é temporário Edward. Todo feitiço tem uma brecha e eu dei a brecha do seu de bandeja. Vai ter que ouvir. É só o que tem que fazer.

Por meses escutei mexericos de criadas, críticas destes bastardinhos mal agradecidos. Por algum motivo a única pessoa com quem conseguia me comunicar era ela. A maldita aberração que me tirou a voz.

—É bom ver você de novo Edward. Ainda não conseguiu falar? Bom, então não aprendeu a ouvir.

Escutei mexericos de criadas, servos insolentes e mal agradecidos por meses.

—Escutou, mas não ouviu. Há uma diferença. Você escutou, de fato. Entrou por uma orelha e saiu pela outra, mas ouvir que é bom nada. A única coisa que você ouve ainda é o som da sua própria voz.

A calma dela era enervante. E odiava quando ela chamava-me de Jeremy.

—Vamos Jeremy, vamos dar uma volta. Precisa esvaziar esta cabecinha.

Ela me jogou aquele maldito trapo velho que a minha cópia sempre usava sobre os ombros.

—É um casaco. De couro. Agora vamos.

Ela me levou para fora do Castelo.

—Benjamin! Abra os portões, por favor!

Quem é Benjamin?

Os portões se abriram.

—Obrigado Benjamin!

Nós atravessamos a ponte levadiça para o lado de fora. E demos de cara com uma enorme roda d'água que chorava. Ela literalmente chorava.

—Não é a roda que está chorando. Porque não vai olhar mais de perto? Vai lá. Não está com medo está?

Eu nada temo. Eu sou o Rei!

Cheguei mais perto e... eram bebês. Milhares de bebês colocados nos vãos da roda. O que é isso?

—Isso é chamado de a roda dos rejeitados. As mães miseráveis como já o são deixam seus filhos aqui para morrerem afogados ou de fome.

E veio outra mulher. Uma que carregava uma criança e estava em prantos. De repente, perguntei. Minha voz saiu.

—Porque está abandonando seu filho?

—Esta é a coisa mais difícil que já tive que fazer em toda a minha vida, senhor Howe. Mas, sabe porque estou fazendo isso. Já quase não temos comida, a colheita foi generosa, mas não conosco. Foi generosa com ele, o Rei. Os tributos são cada vez mais altos e logo estaremos mortos. Apesar de tudo o que o senhor e a senhorita, sua noiva tem feito por nós... eles são mais sangue sugas do que a senhorita. Nós temos um saco de farinha e os homens do Rei levam dois. Um para o Rei e outro como donativo para a Igreja. Diga-me senhor Howe, que Deus faria isso a uma mãe e a um bebê inocente?

—Espere, está me dizendo que meus homens te tomam mais do que pode dar?

—Seus homens? O senhor tem Homens? Por Deus, se é que ele existe... se o senhor tem homens, pode usá-los para acabar com aquele maldito bastardo! Que rouba nosso alimento, nos força a vender e matar nossas crianças! Eu sei sobre a semelhança. O senhor é um homem bom senhor Howe. Daria um bom Rei. Tenho uma amiga, ela trabalha no Castelo. Ela pode seduzi-lo e envenená-lo enquanto se deita com ele. Como a senhorita diria... ele nunca nos verá chegando.

—Você mataria seu Rei?!

—Não tenho mais nada a perder mesmo. Meu marido está doente, no momento em que ele partir deste mundo miserável... estarei só. Terei de vender-me. Terei de ser uma mulher da vida.

A mulher desabou num pranto inconsolável.

—Sinto muito, Roxanne.

—Pode curá-lo?

—O que ele tem?

—Febre.

—Todo mundo aqui tem febre. Não é surpresa nenhuma. Viver na imundice dá nisso. Daqui á alguns anos vai ser uma epidemia. Servo ou nobre ninguém estará imune. Todos vão ficar doentes, pois todos vivem no mesmo mundo, na mesma imundice.

—Como sabe disso?

—Eu sei. A humanidade não aprende nunca. Valar Morgulis. Todos os homens devem morrer. Estão mais unidos do que pensam. Rico, pobre, velho, jovem, camponês, homem, nobre. Mulher, meretriz, Princesa, Duquesa, Baronesa. Nada disso importará. Terá tanta importância daqui a alguns anos quanto tem agora. Nenhuma. A Peste vai consumir a todos. A bactéria não diferencia nobres, de plebeus. Para ela são apenas hospedeiros. Sacos de carne os quais ela vai devorar. Cristãos, ateus, bruxas ou judeus não importa. Vocês são todos humanos.

—Bactéria. Isso é um demônio?

—Algo assim. É um organismo vivo, mas ela não consegue sobreviver por muito tempo sozinha. Precisa de um hospedeiro. A bactéria é também uma das criações de Deus, da natureza. Verdade seja dita, as bactérias foram a primeira forma de vida que Deus criou. Depois vieram os outros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Fantasma da Ópera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.