Time Travel escrita por Doctor Stephen S Stark


Capítulo 5
Capítulo 5: Planejamentos




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A verdade era que — não que ele fosse admitir — ele dormia muito melhor quando estava encolhido no chão do quarto de Strange. O travesseiro tinha o mesmo cheiro que o confortava nas primeiras semanas que se seguiram após o desastre; durante aquelas semanas ele havia adormecido várias vezes com o rosto enfiado na capa, inalando aquele cheiro, e isso o acudia tão bem agora. Assim que deitara, adormeceu em poucos minutos e ficou por um longo tempo sem pesadelos.

Mas ele não conseguiu passar a noite toda sem eles. O pesadelo mais comum que ele tinha atualmente era aquele em que todos — tanto os que tinham se desintegrado quanto os que sobreviveram — se reuniam para jogar na sua cara o trabalho patético que ele tinha feito para proteger a Terra e acusá-lo de não ter feito o suficiente. Alguns, como Peter e Pepper, choravam quando perguntavam por que ele não os salvara. Outros, como Rogers e Barnes, se enfureciam e tentavam acertá-lo. E como sempre, o pesadelo terminou com dezenas e dezenas de outras pessoas aparecendo e gritando com Tony, que ele havia falhado e que ele não merecia estar vivo enquanto elas estavam mortas.

Ele acordou de um desses pesadelos, um gosto amargo em sua boca e a palavra desculpa em seus lábios, prestes a ser pronunciada. O teto acima dele o confundiu por vários longos momentos paralisantes até que ele se lembrou de onde estava. Certo. Quarto do Strange.

Ontem à noite, após o jantar, ele foi para o quarto que Strange lhe designou e deitou-se por cerca de quinze minutos antes que a sensação de pânico e perda o empurrasse para fora da cama.

Ele se acomodou no corredor do quarto de Strange, em frente à sua porta, sabendo que era massivamente invasivo. Mas sendo incapaz de se conter, disse a si mesmo que iria embora muito antes de Strange acordar. Mas então ele adormeceu. Porque por mais que treze horas de sono tenham sido maravilhosas, não foi suficiente para aplacar os meses em que ele mal fechou os olhos.

Sem que fosse uma surpresa, Strange tinha descoberto, embora Tony não tivesse certeza de como. Ele não tinha certeza do porque Strange reagiu do jeito que ele tinha reagido. Por que ele não o enviou de volta ao seu quarto? Por que ele tinha sido gentil o suficiente para arrumar uma cama para Tony em seu quarto? Por que ele estava permitindo que Tony agisse dessa maneira? Não saberia dizer. A única conclusão que Tony poderia tirar era de que havia um homem gentil por trás do exterior ácido e calculista do mago mais do que Strange queria admitir.

Se encaixava. Ele só tinha falado com Wong brevemente na primeira vez em que se viram — antes de Strange morrer. Depois que o mago morreu, Tony conversou com ele algumas vezes. Wong não sabia muito sobre os aspectos da viagem no tempo, então as informações que ele forneceu não foram tão úteis. Mas ele estava disposto a falar sobre Stephen Strange. Tony aprendera muito sobre o homem corajoso qual foi seu companheiro de equipe por tão pouco tempo, e ele poderia dizer que gostou do que ouviu. Essas conversas só consolidaram sua decisão de procurar Strange quando voltasse ao passado; e parecia que essa poderia ter sido a melhor decisão que Tony já havia tomado.

— Você está acordado.

Tony virou a cabeça lentamente na direção de onde a voz tinha vindo e viu Strange sentado em frente à sua mesa, lentamente pressionando as teclas de seu laptop. Parecia que ele estava trabalhando em registros financeiros. Tardiamente, Tony se perguntou como o santuário se sustentava e sustentava as pessoas que moravam ali. Strange e Wong eram pagos pelo que faziam? Eles tinham outra fonte de renda?

O silêncio se arrastou até que Tony percebeu que Strange esperava pacientemente uma resposta. Um pouco envergonhado, respondeu:

— É. — Respirou fundo antes de continuar — Eu sinto muito por toda a sessão de ontem do lado de fora do seu quarto. Eu prometo que não sou um estranho pervertido.

Strange deu um sorriso.

— Não é isso que as revistas dizem.

O comentário provocador fez Tony relaxar um pouco. Evidentemente, Strange não estava zangado, embora não tivesse certeza do motivo. 

— Você nunca ouviu falar que não se deve acreditar em tudo que lê? — Ele brincou. Os jornais não sabiam, mas a última vez que Tony foi para a cama com alguém foi a dois anos, não muito antes de ele e Pepper terem terminado.

— Eu acho que todos que já estiveram nos holofotes aprendem essa lição cedo ou tarde. — Ele se afastou de seu laptop para olhar minuciosamente para Tony. — Eu estive pensando sobre algo. Você precisa consultar um médico antes de nos depararmos com Thanos?

— Um médico? — Tony ecoou inexpressivamente. — Você quer dizer, um psiquiatra?

— Eu quero dizer um médico médico, que poderia cuidar de quaisquer feridas — esclareceu Strange. — Percebi que às vezes você segura o braço esquerdo como se estivesse doendo.

Ele não percebeu que estava fazendo isso, ou que Strange notara. Ele instintivamente colocou a mão direita sobre o ombro esquerdo de forma protetora. 

— Não. Não há nada que um médico possa fazer. Eu machuquei uma vez em uma luta. Danificou alguns nervos. E depois houve aquela multidão, e este foi o braço que eles quebraram. Está tão curado quanto pode ficar.

Strange assentiu. 

— Ok. Café da manhã? E depois eu também gostaria de revisar nosso plano para deter Thanos com Wong, com o máximo de detalhes que você puder nos dar.

— Claro — disse Tony, um pouco confuso. Aparentemente, eles não falariam sobre a “cama” no chão do quarto. Ele levantou-se e começou a dobrar os cobertores, mas a voz do mago o parou.

— Deixe aí por enquanto — disse ele, fazendo um sinal de negação com a cabeça, indo em direção à porta.

Aceitando que não adiantava discutir, Tony o seguiu. Ele estava começando a decorar os caminhos e corredores do santuário, embora admitisse que o lugar fosse desconcertante de uma maneira que ele não esperava. As vezes ele poderia jurar que os corredores e cômodos mudavam de lugar. Mas ele não era corajoso o suficiente para perguntar, apenas pela possibilidade de ele estar errado, mas não o teria surpreendido se realmente fosse aquele o caso.

Wong estava na cozinha quando eles entraram, comendo sopa. Ele grunhiu quando Strange o cumprimentou com um “bom dia” e Tony logo deduziu que ele não era uma pessoa muito confraternizadora — justo, porque Tony também não era. Ele sempre costumava trabalhar à noite quando tudo estava quieto e não havia mais ninguém para incomodá-lo. Isso foi outra coisa que mudou depois de Thanos: ficar sozinho significava lembrar de tudo o que ele havia perdido.

— Sente-se — disse Strange. — Enquanto comemos, você pode nos dar mais detalhes.

— Eu já te disse praticamente tudo — respondeu Tony, mas não havia raiva em sua declaração. Era fácil entender por que Strange gostaria de ouvir a história mais de uma vez. 

O menor dos detalhes pode significar a diferença entre uma vitória e uma outra perda. E eles não poderiam perder de novo. Eles simplesmente não podiam.

Durante um café da manhã com torradas com manteiga, geleia e café, Tony repetiu tudo o que sabia sobre Thanos e o que acontecera naquele dia. Ele começou com a chegada de Strange através do portal. Depois, Bruce contou a ele o que havia acontecido — Tony repetiu a história, com todos os detalhes sobre o conflito na nave de Asgard. Era importante que Strange e Wong entendessem completamente o que Thanos era capaz de fazer.

Então ele passou a detalhar a luta real, ou o tanto quanto ele sabia, considerando que eles se separaram. Ele não podia explicar tudo o que o Strange daquela linha do tempo fez, mas imaginou que Strange poderia adivinhar como ele havia lutado. Falou sobre o seu sequestro e à decisão impulsiva que Tony tomara para segui-lo. Infelizmente isso também significava que ele tinha que falar sobre Peter. Mesmo depois de seis meses, sempre tinha que se esforçar para impedir que sua voz se quebrasse enquanto ele falasse sobre Peter ter aparecido.

— Então, até aí, eram apenas nós três — disse Strange. Era a primeira vez que ele falava em horas, permanecendo em silêncio para deixar Wong fazer perguntas esclarecedoras ou comentários. Ele não tinha mostrado qualquer reação desta vez à descrição de sua tortura, e seus pensativos olhos cinzentos não deixaram o rosto de Tony uma única vez. A atenção era enervante e reconfortante, uma estranha justaposição.

— Isso. Nós só nos encontramos com os Guardiões quando pousamos em Titã.

Strange se inclinou ligeiramente para frente, atento. 

— Prossiga.

Então Tony contou o resto; descrevendo o plano que eles tinham feito, sobre Strange ter olhado o futuro, como Thanos tinha dado uma surra neles, como eles chegaram tão perto. Ele fechou os olhos e ficou quieto por alguns instantes, momentaneamente dominado pelo peso em seu peito. Ele tinha falado muito sobre aquilo, repetindo a história várias vezes para Bruce, Steve, Shuri, Natasha — e basicamente qualquer um que achasse que precisava ouvir. A maioria deles atacou Peter Quill. Já Tony não o culpava: ser confrontado pelo assassino de alguém que você amava era uma das coisas mais dolorosas que alguém poderia experimentar.  Acontece que a perda de controle de Quill foi no pior momento possível.

— E o que então? — Wong perguntou, depois que o silêncio durou por mais de um minuto. — O que você pretende mudar?

Tony havia tocado nisso brevemente enquanto conversava com Strange no dia anterior, mas desta vez ele esclareceu e pontuou tudo.

— Acho que devemos deixar as coisas acontecerem como antes. Não podemos deixar Thanos chegar à Terra. Há uma outra joia do infinito aqui e há um grande risco de ele pegá-la. Nossa melhor chance de derrotá-lo foi em Titã.

— Você acha que pode manipular o curso da batalha? — Wong perguntou.

Tony encontrou seu olhar, o devolvendo de maneira profunda.

— Eu sei que posso. Eu já refiz a cena da batalha e a testei de diferentes modos, dezenas de vezes, no meu sistema AI e no de Wakanda, que é o mais avançado do mundo. Há um momento em que eu posso claramente parar Quill. Uma vez que ele estiver contido, podemos remover a manopla da mão de Thanos. E eu poderei matá-lo. — Sua mão se fechou em punho. — E então podemos destruir as joias.

— Você confia muito no seu plano — observou Strange. — Você não está preocupado que seu “outro eu” possa agir de maneira diferente quando te ver?

— Ele não vai me ver — disse Tony. Ele colocou a mão sobre o reator de arco. A luz azul voltou fluir em torno de seus dedos. E aos poucos, a armadura foi se moldando ao seu redor. Porém, desta vez, conforme se moldava, ele desaparecia.

Quando o reator arc foi removido, ele nunca pensou que haveria um dia em que ele o colocaria de volta. No entanto, o reator arc salvou sua vida várias vezes. E ele sabia agora, graças às modificações que fizera em Wakanda, que salvaria o universo.

Porque por mais que o pequeno grupo passava a maior parte do tempo trabalhando no dispositivo de viagem no tempo, todos precisavam de algum tempo de folga de vez em quando. Tony passara a trabalhar na armadura, reparando as nanopartículas e os danos no traje feitos durante a luta contra Thanos. Shuri ajudou, oferecendo sugestões — e vibranium. Com acesso a todos os recursos de Wakanda, tanto tecnológicos quanto materiais, a armadura do Homem de Ferro era agora feita de uma mistura de vibranium e liga de titânio-ouro que até mesmo alguém como Steve Rogers teria dificuldade de atravessar. Dado o quão bem a armadura original resistiu a Thanos, Tony estava ansioso para ver como essa se saía.

Ele também quebrou com sucesso a impossibilidade de invisibilidade a longo prazo, graças a algumas discussões longas com Sue Storm. A armadura do Homem de Ferro podia agora ficar invisível por mais de vinte e quatro horas sem precisar recarregar os recipientes de energia específicos. Qualquer coisa mais do que isso seria forçar, mas Tony percebeu que era tempo o suficiente. Bruce, Jane e Nebula ofereceram suas próprias sugestões para a atualização do armamento para a armadura; não era uma tecnologia alienígena, mas estava muito perto. O único pedido de Nebula foi que Tony explodisse a cara de Thanos — Deus, sentia falta dela.

— Você pode se tornar invisível — disse Wong com ceticismo.

— Sim, eu posso. Nem tudo precisa ser feito magicamente — disse Tony, desativando a armadura. — A ideia é eu ficar invisível, seguir meu outro eu, Peter e você até a nave e ficar escondido no fundo até chegarem a Titã e darem início ao plano. Ninguém vai saber que eu estou lá até o momento certo.

— Eu estive pensando sobre isso e não sei se gosto desse plano. Depende de muitas variáveis. E se você for atingido durante as lutas? Ou não chegar até a nave? — Strange disse.

— Eu vou ficar afastado durante a luta, e eu vou fazer isso funcionar — disse Tony. — Eu sei que isso parece arriscado pra você, mas é tudo que tenho a oferecer. E eu vim aqui por uma razão. Eu não confiei em mais ninguém. — Ele olhou diretamente para Strange enquanto falava. Era a verdade.

Voltar no tempo e ir até o Stark do passado teria sido um erro. Tony sabia disso desde que colocou o relógio em seu pulso. Ele teria acabado de passar pela Guerra Civil e ter quase perdido Peter; ele estaria muito estressado a essa altura para lidar com qualquer outra coisa. Um Tony do futuro aparecendo teria solicitado muitas perguntas e demandas por informações. Tony só não tinha as três semanas que levaria para convencer seu eu do passado de que ele estava dizendo a verdade. Era uma pena que ele não tivesse esse tempo, porque dois Tony Stark’s poderiam ter feito coisas grandiosas para deter Thanos.

Ele se perguntou se ele teria a chance de conversar com seu eu do passado em algum momento.

— Você disse que fiquei para trás — disse Wong.

Voltando seu olhar para ele, Tony assentiu. 

— Bruce me disse que você não podia deixar o santuário desprotegido.

— Eu precisarei fazer a mesma coisa desta vez. Por mais que eu prefira ajudar, não podemos arriscar deixar o santuário sem alguém para protegê-lo. Não faria bem a ninguém se nós tivéssemos sucesso contra Thanos, mas alguém entrou aqui e roubou algo que o torna uma ameaça tão grande quanto. — Ele fez uma pausa, olhando para o nada por um tempo considerável, antes de concluir: — É arriscado. — Ele colocou sua xícara vazia de chá na mesa. Era final da tarde, beirando o início da noite. Eles estavam conversando por horas, literalmente. Não é de admirar que a garganta de Tony estivesse ficando dolorida.

— Eu não sei mais o que eu poderia fazer. Reuni informações e dicas de todos os meus companheiros de equipe. Esse é o nosso melhor plano — disse Tony.

Wong levantou a mão. 

— Eu disse que era arriscado. Eu não disse que era um plano ruim. Agora que temos tempo para nos preparar, poderemos executá-lo com mais chances de sucesso. — Ele se virou para Strange. — Há um livro que eu quero mostrar a você na biblioteca. Há feitiços nele que podem lhe servir bem.

Strange assentiu e se levantou. Tony se ergueu e automaticamente seguiu atrás deles enquanto saíam da cozinha, murmurando uns para os outros em voz baixa. A biblioteca revelou-se uma enorme sala que, para os olhos de Tony, parecia não ter fim. Todos os livros aparentavam ser empoeirados e velhos. Alguns deles foram até acorrentados. A maioria dos livros estavam em línguas que nem Tony saberia ler. Não demorou muito para ele ficar entediado. Ele saiu da biblioteca e entrou na sala do outro lado do corredor, que tinha uma pequena televisão. Com as portas abertas, ele ainda podia ver Strange e Wong.

Ele ligou a televisão e, sem ter certeza do que assistir, mudou para o que parecia como um canal de notícias. Muitos programas de televisão simplesmente desapareceram depois de Thanos. Centenas de atores e atrizes, escritores, diretores — muitas das pessoas que faziam os shows de televisão e os filmes morreram. As coisas só voltaram a funcionar de maneira razoável quando Tony teve que voltar ao passado. Ele concluiu ali, em frente a pequena televisão, que todos os esforços da humanidade para continuar e seguir em frente eram para nada agora.

A âncora do programa falou um pouco sobre carros elétricos e o preço do gás. Então a tela mudou para uma visão familiar: o Homem de Ferro. Tony balançou para trás, chocado com a visão da velha armadura enquanto lutava contra algum idiota em um terno rosa. Ele mal se lembrava daquela luta, mas tinha certeza de que foi a última vez que participou de uma antes de Thanos aparecer.

Ele tocou o reator de arco novamente e estremeceu. A capa imediatamente envolveu-o em um abraço. Ele deu um tapinha distraído em agradecimento, os olhos grudados na tela quando o Homem de Ferro pousou no chão. O capacete da armadura foi retirado, para então revelar o rosto do passado Tony Stark. Ele não parecia bem; mas Tony sabia, em comparação, que atualmente ele parecia muito pior.

Mas não importava mais. Thanos era a única coisa relevante agora.

Dois dias. Não era o suficiente, mas era tudo o que eles tinham. Apenas mais dois dias.


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Notas finais do capítulo

Desculpem, realmente não acontecem muitas coisas nesse capítulo. Eu pretendia juntar com o próximo, mas eu ando cansado e não tô com energia para revisar mais 3k de palavras.

Aliás desculpem se tiver algum erro. Eu revisei três vezes, mas ainda sim não revisei tanto quanto os outros caps, então posso ter deixado passar algo.
Anyway muito obrigado pelos comentários que estão deixando ♥ faz toda diferença
Amo vocês



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