Time Travel escrita por Doctor Stephen S Stark


Capítulo 1
Capítulo 1: Relógio


Notas iniciais do capítulo

*há dois mantos/capas nessa história, e Tony está com uma delas (e obviamente Strange com a outra)*



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Fazia cinco meses, vinte e quatro dias, oito horas e vinte e nove minutos desde que Thanos estalou os dedos e 50% do universo foi destruído.

Nesse pequeno período de tempo, Tony Stark tinha certeza de que ele tinha envelhecido vinte anos. Era quase engraçado, de certa forma. Ele podia lembrar como sua ansiedade e depressão estava fora de controle antes de Thanos. Tudo isso parecia fácil de se lidar em comparação com a vida agora. Nem um dia se passou sem que Tony não encontrasse alguém que o culpou pelo que aconteceu; a dor estava em toda parte ao redor dele e dentro dele, esmagando seu coração, engolindo-o inteiro.

Ele recostou-se na cadeira, esfregando as mãos nos olhos cansados. Ele se acostumou com a dor de cabeça que pulsava na parte de trás de sua cabeça. Lentamente, aprendeu que quanto menos rápido ele se movia, menos ele ficava tonto. Ele olhou em volta para seus companheiros. Bruce, Shuri, Nebula e Jane pareciam tão cansados ​​e exaustos quanto Tony se sentia, mas pela primeira vez em semanas Tony pôde ver uma centelha de esperança em seus olhos. Ele olhou de volta para o que eles estavam trabalhando desde a batalha com Thanos. O pequeno relógio parecia tão inofensivo.

— O que vocês acham? —  Ele perguntou, sua voz soando excessivamente alta na sala silenciosa. — Quem deveria voltar?

Mesmo que fosse a pergunta óbvia, ninguém tinha decidido até agora. Tony odiava ser alguém que criava o elefante na sala, mas agora que eles descobriram viagem no tempo — viagem no tempo! — eles tinham que eleger alguém para usá-lo. 

Por causa da escassez dos materiais (alguns dos quais Nebula teve que ir ao espaço para encontrar), o quão perigoso era trabalhar com eles e a enorme quantidade de trabalho delicado envolvido, eles só tinham um relógio. Isso significava que apenas uma pessoa era capaz de voltar. 

— Thor? — Jane se aventurou. Foi uma sugestão lógica. Com o Stormbreaker ao seu lado, os poderes de Thor haviam crescido exponencialmente. Tony começou a concordar, mas Shuri já estava sacudindo a cabeça.

— Isso não é uma boa ideia. Sabemos o quão instável esta tecnologia é e os poderes de Thor são uma variável imprevisível. Ele pode acabar interferindo na magia do relógio e parar em qualquer espaço do tempo. Ou ele pode quebrá-lo completamente. — Shuri parecia muito pequena, encolhida em si mesma com os braços enrolados frouxamente em volta da cintura. Tony não a conhecia antes de T'Challa morrer, mas ele tinha ouvido que ela se tornara uma pessoa completamente diferente.

Todos eles se tornaram.

Bruce pôs a mão no ombro dela.

— Shuri está certa. Tem que ser outra pessoa. Steve?

Algo no coração de Tony torceu, mas ele não conseguia encontrar as palavras para discutir, embora sentisse fortemente que Steve não era a escolha certa para isso. Não se podia confiar em Steve para tomar decisões claras quando elas envolviam Bucky Barnes. E desde que Bucky tinha desaparecido, Steve tinha voltado a ser o homem frio e afiado que ele era quando saiu do gelo pela primeira vez. Parte de sua cabeça conseguia visualizar um novo futuro em que Steve sacrificara todos os outros pelo bem de Bucky. Não, não poderia ser Steve.

— Não. Deveria ser Tony — disse Nebula.

Tony virou-se para ela, espantado. 

— O que?! — Ele exclamou. A capa se agitou ao som de sua voz, agitando-se em seus ombros como se estivesse sendo soprada por um vento invisível. Bruce olhou para eles cautelosamente, estudando a situação.

— Dos cinco de nós, você é o melhor guerreiro. Com sua armadura, você é mais forte do que eu — disse Nebula. Parecia lhe doer admitir isso, mas ela continuou. — Você também tem mais conexões na Terra do que Bruce, mas você não tem os mesmos problemas na batalha do que ele. Eu não conheço o Steve. Eu não me sinto confortável dando a ele a tecnologia que nós trabalhamos tão duro para construir.

— Ele é o Capitão América. — Bruce disse, como se isso significasse alguma coisa; talvez tempos atrás tivesse surtido efeito. Mas o mundo mudou enquanto Bruce esteve fora. Tony não se incomodou em alertá-lo. Ele não achava que Bruce se importaria. Além disso, toda a "Guerra Civil" parecia tão longe e distante agora. Centenas de rostos encheram seus dias e, a cada manhã, chegava a descoberta de uma nova pessoa que se foi. Não apenas Peter e Strange, ou mesmo os Guardiões, mas Pepper e metade da diretoria da Stark Industries e o novo assistente pessoal de Tony, ou até aquele barista que fez seu café perfeitamente e seu alfaiate favorito. Você pensaria que depois de um tempo a dor deixaria de ser tão afiada e fresca, mas não funcionava dessa maneira.

Nebula torceu o nariz.

— O que isso significa para mim? Eu não sou do seu planeta. Ele não nos ajudou. Tony colocou tudo que tinha nisso. Meu voto é para ele.

— O meu também — disse Jane. Tony piscou para ela estupidamente.

— E o meu. — Shuri acrescentou com um aceno de cabeça.

Bruce encolheu os ombros. 

— É o bastante pra mim. — Ele tentou sorrir, mas era como se ele tivesse se esquecido como.

Tony olhou para eles, espantado. 

— Vocês querem que eu vá? Mas isso é--

— É o único jeito — disse Nebula. 

Ela pegou o relógio e entregou a ele. Apesar de não pesar mais do que um relógio de pulso normal, era incrivelmente pesado na mão de Tony. Ele a encarou, tentando ver um único indício de dúvida. Notavelmente, não havia nenhum. Jane, que tinha sido uma casca de si mesma desde que perdeu Darcy, encontrou os olhos de Tony com confiança e assentiu.

— Você consegue fazer isso — confortou ela.

— Tudo bem — assentiu. Não soou confiante como gostaria. — Ok — Sua mão esquerda tremeu um pouco quando ele tocou a adaga que pendia ao seu lado. Thor desapareceu por dois meses depois de Thanos. Quando ele voltou cerca de cinco semanas depois, ele trouxe presentes para dois dos Vingadores: um punhal para Tony e uma espada para Steve. Thor disse a eles que as armas eram feitas de Uru, um metal divino. Normalmente, tal coisa nunca teria sido dada a um mortal, mas Thor parecia pensar que era importante que os Vingadores carregassem uma arma que pudesse derrotar Thanos. Por que ele escolheu dar uma arma a Tony e não, digamos, Bruce, Natasha ou Sam, não era uma questão que Tony tivesse coragem de perguntar.

— Você deve ir agora. — Shuri disse suavemente. — Antes que alguém descubra. Eu não quero que eles tentem nos impedir.

— Há uma boa chance de que todos vocês deixem de existir assim que eu chegar ao passado — ressaltou Tony. 

— Bom. — Jane disse categoricamente — Espero que sim. Espero que todo este mundo miserável desapareça e seja pavimentado com as mudanças que você fará. — Os outros concordaram com a cabeça e Tony não podia culpá-los.

— Tudo bem. Eu vou garantir que isso aconteça — prometeu Tony, surpreendendo-se com a súbita onda de determinação que o percorreu. Ele tinha a capa, a adaga e o reator arc que abrigava os nanorrobôs e, portanto, sua armadura. Ele estava tão pronto quanto ele iria conseguir.

Por um momento, ele desejou que eles tivessem sido capazes de construir mais dispositivos. Ele teria apreciado a companhia de Nebula, ou mesmo a de Jane. Ambas eram legais, e Nebula era uma lutadora extremamente competente. Mas simplesmente não havia material suficiente. Nebula tinha dito a eles que fazer mais levaria meses, talvez até anos, e nenhum deles queria esperar tanto tempo.

— Seis meses, lembre-se — alertou Bruce. Ele parecia preocupado, mas atualmente Bruce sempre parecia preocupado. — Isso é o mais longe que você pode ir.

— Seis meses. Faltando uma semana para Thanos chegar. Já é tempo o suficiente — disse Tony, esperando que soasse mais confiante do que realmente se sentia. Mais uma vez, ele se arrependeu: mais materiais e mais tempo significavam que ele poderia viajar mais para trás. Ele poupou um segundo para desejar poder voltar antes da "Guerra Civil", ou até mesmo antes de Ultron. Isso lhes daria mais tempo para se preparar.

Mas se uma semana fosse tudo o que conseguissem, Tony agarraria isso de qualquer jeito.

Ele pegou o relógio e amarrou-o no pulso. Logo antes de apertar o botão, ele olhou em volta.

— Se eu morrer, cuidem de FRIDAY e dos meus 'bots', ok?

— Nós vamos — disse Jane. Ela estava prestes a desabar.

Tony olhou fixamente, tentando fazer seu cérebro exausto memorizar seus rostos e, em seguida, assentiu uma última vez. 

Ele apertou o botão. 

E o mundo girou ao redor dele. 

A maneira mais próxima que ele poderia descrever era que alguém havia mudado o canal. Um momento ele estava de pé nas entranhas do palácio de Wakanda e no momento seguinte, estava em Nova York. 

Ele cambaleou com a mudança inesperada e caiu com força em um só joelho, sentindo-se repugnantemente fraco, manchas pretas dançando na frente de seus olhos e seu pulso queimando de maneira horrível.

Provavelmente levou uns bons quatro ou cinco minutos antes que Tony parasse de sentir que ia desmaiar ou vomitar. Ele respirou superficialmente enquanto erguia lentamente a cabeça, percebendo que os demais desviavam dele. Ninguém olhava para ele. Ele ficou muito grato pelo anonimato. Independentemente do dia, a última coisa que ele precisava no momento era de alguém notando Tony Edward Stark no meio da calçada. A última vez que isso aconteceu, ele escapou de uma multidão furiosa.

Ele lentamente se pôs de pé e cambaleou para fora da calçada, entrando em um beco onde ele pôde colocar as costas contra uma parede de tijolos e apenas respirar. Suas mãos tremiam muito e ele podia ouvir a respiração ofegante se misturando ao pânico. A capa agarrou-se contra ele, apertando-o com tanta força que doeu, mas a pressão era estranhamente reconfortante. Tony deslizou lentamente para o chão e fechou os olhos, concentrando-se na sensação do "abraço" da capa. Ainda não sabia como o manto mágico e vermelho havia escapado de se desintegrar junto com Strange, mas Tony seria eternamente grato por isso. A capa tinha sido sua companheira constante nos últimos cinco meses e meio, e às vezes ele achava que ela o conhecia melhor do que ele próprio.

Strange. Ao concentrar seus pensamentos no feiticeiro, ele pôde sentir-se calmo. Ele respirou fundo mais profundamente e finalmente abriu seus olhos, olhando para o céu azul acima, antes de olhar para o relógio. Pelo menos isso explicava a sensação de queimação: o relógio explodiu e nada mais era do que uma bagunça fumegante. Tony o tirou, encolhendo-se ao ver a queimadura por baixo. Ele precisaria encontrar algo para tratar disso, mas —

Ele não deveria estar em Nova York, devia? Ninguém havia dito nada sobre o relógio transportando a localização do usuário ao mesmo tempo. Talvez não tenha funcionado. Talvez eles tivessem descoberto o teletransporte em vez da viagem no tempo. Tony reprimiu uma risada histérica e se arrastou, cambaleando de volta para a entrada do beco. O sol parecia dolorosamente brilhante depois de semanas escondido no palácio, mas ele não se importava muito. Ele se juntou à multidão e se deixou levar, olhando ao redor atordoado, até que parou em frente a um outdoor eletrônico.

Abril de 2018.

Suas pernas quase cederam de novo quando seus olhos se encheram de lágrimas de puro alívio. Tony piscou com força, olhando para o jornal até que alguém esbarrou nele. Ele voltou a andar ainda em transe, sua cabeça girando. Eles conseguiram. Ele não sabia como ou por que ele estava em Nova York, mas isso não importava. Eles conseguiram. Eles ainda tinham cinco dias e meio até Thanos coletar todas as pedras do infinito e mudar todo o universo para sempre. Cinco dias e meio para se preparar e, desta vez, Tony ia estar preparado.

O primeiro passo era garantir que todos os outros estivessem preparados também. Ele olhou em volta até encontrar o nome de uma rua que ele reconheceu vagamente. De lá, ele voltou para o Central Park e depois para o oeste, em direção ao "santuário" ou o que quer que Strange tivesse chamado. A primeira vez que Tony havia estado lá, ele antes tinha passado por um dos portais laranja de Strange. Mas sair do santuário e ter que ir lutar contra Maw, um dos servos de Thanos, o fez gravar a localização. Ele sabia exatamente onde o santuário estava.

A capa tremulava animadamente enquanto Tony se aproximava, o que não era uma coisa ruim: o poder de levitação estava na verdade ajudando Tony a manter-se de pé. Ele não estava fora de forma, mas também não dormia há dias e não se lembrava da última vez em que comera ou bebia. Comida e sono pareciam necessidades insignificantes quando a equipe estava tão perto de descobrir viagem no tempo. Mas ele se arrependia; o suor lhe escorria pelas costas e as manchas pretas voltavam aos seus olhos. Ele estava arfando pesadamente e desejando que ele pudesse usar um de seus cartões de crédito para comprar comida no momento em que chegasse ao santuário, mas isso arriscaria alertar certas pessoas de sua presença antes que ele estivesse pronto.

Ele cambaleou pelas escadas da frente. Antes que ele pudesse bater na porta, a capa envolveu a maçaneta e se torceu. Tony balbuciou quando a porta se abriu, revelando uma visão que ao mesmo tempo era familiar e ao mesmo tempo não era. Ele só tinha visto isso na vida real uma vez, mas ele tinha sonhado com isso inúmeras vezes. Ele ficou parado por um momento, sem saber se deveria entrar, até que a capa cansou de esperar e avançou, arrastando Tony para dentro. Então, uma vez que ele estava completamente dentro, ela bateu na porta e a fechou. O som ecoou por todo o lugar e ele congelou.

Ele olhou para ela voando a sua frente.

— O que diabos você está fazendo? — Ele sussurrou nervosamente.

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa.

Oh. O coração de Tony balançou quando ele se virou devagar, olhando para as escadas. O Dr. Stephen Strange estava parado ali, vestido com o mesmo uniforme que ele se lembrava, com a capa vermelha em volta dos ombros. Ao contrário do dele, o manto que Strange usava nunca tinha sido rasgado — ou pelo menos, ainda não tinha sido rasgado. A capa de Tony tinha perdido 1/4 inferior de tecido durante a luta com Thanos. As bordas irregulares haviam se suavizado, mas a capa nunca recuperara o que perdera. Era bom também, porque Tony era baixo o suficiente para que a capa agora fosse perfeita para ele.

— Strange — Tony respirou, sentindo-se subitamente trêmulo. A capa percebeu seu estado, e voltou aos seus ombros, tentando lhe passar conforto.

As sobrancelhas de Strange se franziram. 

— Já nos conhecemos antes, Sr. Stark?

— Sim — disse Tony, e depois — Não. — E então — Deus, me ajude. — Ele riu. 

Ele não pôde se conter. O riso durou apenas um momento ou dois antes que Tony percebesse que não estava rindo; ele estava chorando, soluços profundos e amargos saindo de seu peito, deixando-o ofegante. Ele teria caído se a capa não estivesse segurando-o. Os olhos de Strange se voltaram para ele e, mesmo com a histeria, Tony conseguiu ver que os olhos dele se arregalaram de espanto.

— E como? — Strange sussurrou.

Tony balançou a cabeça e cobriu o rosto, envergonhado e em pânico de uma só vez. Não deveria ser assim. Ele se assustou quando sentiu um toque inesperado, cambaleando para trás e levantando as mãos defensivamente. A capa deixou-o afundar no chão quando Strange ergueu as próprias mãos, mostrando que não segurava nenhuma arma. O que era ridículo, francamente, porque Tony sabia exatamente de que tipo de dano Strange era capaz. Você não precisava de uma arma quando podia fazer o tipo de coisa que Strange podia fazer com as mãos.

— Você está tendo um ataque de pânico, Sr. Stark — disse Strange. Sua voz profunda estava calma. — Eu sou médico. Eu posso te ajudar. — Ele se ajoelhou na frente de Tony.

Não havia espaço para humor com o maremoto de emoções que o rodeava, mas Tony ainda sim soltava uma risada amarga. 

— N-não, você não p-pode. — Ele gaguejou. Ninguém poderia.

Strange franziu a testa e ficou de pé, e de repente Tony percebeu que não suportaria se Strange — a única prova viva de que o mundo não colapsou durante sua viagem no tempo — desaparecesse. Ele avançou e passou os braços ao redor do mago com um soluço desesperado. Era embaraçoso e invasivo, mas não pôde evitar. Apertou o rosto no manto de Strange e inalou o cheiro familiar que se agarrara ao manto durante semanas após o desastre. Tornou-se um cheiro reconfortante e Tony ficou desesperado quando finalmente desapareceu. Ele procurou por um longo tempo, mas nunca foi capaz de encontrá-lo.

O pânico que estava sacudindo-o de dentro para fora facilitou seu aperto um pouco.

— Sr. Stark — disse Strange, parecendo ao mesmo tempo confuso e desajeitado.

— Sinto muito — sussurrou Tony. As lágrimas pareciam queimar. Ele o viu morrer, e ele assim como todos os outros morreram por sua culpa. Ele não pensou que isso iria pesar mais do que já pesava, mas quando o viu, ele desmoronou. — Me desculpe, me desculpe, eu... merda, eu sinto muito--

Algo tocou sua cabeça. Ele abriu os olhos e viu a magia dourada do mago o envolver. O maremoto de pesar e medo foi engolido por uma exaustão pesada. Antes mesmo de entender o que estava acontecendo, Tony afundou no próprio sono e foi como cair em um rio de água fria. 

 

 

 

 

 

 

Ele não conseguia dormir bem em cinco meses. Nenhum deles conseguia, afinal: havia uma razão pela qual frequentemente trabalhavam até tarde da noite, porque somente quando você estava realmente exausto você conseguia dormir sem ter pesadelos. E mesmo assim, toda vez ele ainda sim acordava gritando.

Dessa vez ele não sonhou, foi como entrar e sair de um coma; sem nenhuma noção do passar do tempo.

Ele congelou ao perceber que estava deitado em uma cama, com a capa estendida sobre ele. Por um momento, a dor do pânico arranhou seu peito e ele pensou que tudo tinha sido apenas um sonho — mas então seus olhos se acostumaram com a escuridão e ele viu que não estava sozinho. Strange estava de pé do lado de fora da porta, conversando com alguém em um tom baixo demais para se ser ouvido. Wong, provavelmente. Tony havia ido até ele algumas vezes para fazer perguntas sobre viagem no tempo, mas a informação que Wong lhes dera não era confiável na melhor das hipóteses.

Strange virou-se imediatamente quando Tony se sentou, terminando a conversa e entrando no quarto. Enquanto caminhava em direção à cama, seus dedos se moviam. Uma bandeja apareceu no colo de Tony em meio de faíscas douradas. Mesmo sabendo que não o queimariam, o pensamento de queimaduras ainda o alertava instintivamente, por causa de seu braço. Ao pensar nisso, percebeu que não doía mais, e então ele viu o porquê. Alguém — provavelmente Strange — tinha cuidado disso enquanto dormia. Seu braço, desde o pulso até o cotovelo, estava agora coberto de ataduras brancas.

— Isso não era tecnologia humana — disse Strange, se referindo ao relógio. Era uma maneira estranha de iniciar uma conversa, mas Tony estava exausto demais para se importar.

— Não inteiramente. Foi em parte alienígena, em parte mágica, parcialmente humana. — Sentiu-se um pouco mais calmo agora, o suficiente para pegar o copo de suco de laranja. Sua mão tremia quando ele levou o copo aos lábios e tomou um gole. O gosto do suco o fez estremecer. Comida e bebida tinham gosto de papelão por tanto tempo que ele quase esquecera como tudo podia ser vibrante.

— Para qual propósito? — Strange perguntou. Ele parecia estar disposto a reter qualquer julgamento, desde que tivesse as respostas que queria.

— Foi para v-- minha adaga! — Tony de repente percebeu que sua adaga havia sumido. Ele olhou em volta, frenético. — Não! Eu preciso disso para matar Thanos!

—  Quem?

— Thanos! Ele é-- ele vai destruir 50% do universo. Ele está atrás das jóias do infinito. — Tony estava praticamente hiperventilando. Ele já tinha fodido tudo antes mesmo de começar.

— Eu estou com sua adaga. Eu coloquei em um lugar seguro. Se você me explicar mais, eu vou pegar para você.

— Você está com ela? — repetiu Tony.

— Estou.

Tudo bem, pensou, respirando fundo. Tony confiava nele para manter a adaga segura. Ele se ajeitou devagar, tardiamente percebendo que o movimento era mal calculado e derrubou a bandeja, vendo que agora havia torrada e suco nos lençóis. 

— Desculpa, eu n--

— Está tudo bem — disse Strange suavemente, com um olhar ilegível. — Por que você não toma banho? Conversamos mais depois.

Um chuveiro. Quando foi a última vez que ele tomou banho? Parecia maravilhoso, mas também significaria deixar Strange sumir de sua vista. Algo em Tony se recusou a isso. Ele esfregou a capa, sem olhar para o outro, mas também sem se mexer. Ele não conseguia deixar de sentir que perder Strange de vista significaria que nada disso havia realmente acontecido, e isso seria insuportável.

Strange pareceu perceber qual era o problema. 

— Você pode deixar a porta encostada se quiser. Não sairei do quarto.

Tony hesitou por mais um momento, mas finalmente assentiu.

— Ok.


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