Anna Chegou Ao Céu escrita por Sebastian


Capítulo 1
I | o caminho dos justos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O CAMINHO DOS JUSTOS

I

 

Quando enfim abriu os olhos e caiu em si, não sabia ao certo; não sentia nada — dor ou culpa, amor ou ódio, confusão ou sensatez —, apenas o vazio, dentro de si e abaixo de seus pés, acima de sua cabeça e ao seu redor, um relutante vazio. Tentou andar, mas a impressão era de estar dentro de um caixa cúbica, inaudível, na qual se sentia constantemente observada. Não compreendia como havia chegado naquele lugar e só notava um pequeno incômodo em seu peito. Não chegava perto de uma sensação, todavia assemelhava-se à uma lembrança. Se recordasse o motivo do desconforto, com certeza saberia porquê estava ali.

Esforçou-se o máximo que pôde, mas não conseguiu, sua mente havia sido deletada. O mais intrigante: só lembrava seu nome, Marianna D’ávilla.

Seria um sonho? Pesadelo, quem sabe? Até mesmo a morte? Teria chorado, se fosse capaz.

—  Anna —  uma voz ressoou atrás de si, suave e magnífica aos seus ouvidos. Ela se virou em silêncio. —  Minha amada, Marianna, cara de banana.

A garota franziu o cenho. Aquele rosto, parecia conhecê-lo.

— De onde você surgiu? — ela  perguntou, vagamente.

— Eu sempre estive aqui — ele respondeu, tranquilo. O  tom da voz havia mudado, agora sim, muito mais familiar, tinha certeza que o conhecia.

Ele poderia estar falando a verdade, afinal, Anna estava perdida no tempo e espaço, aquelas paredes brancas, deixaram-na tonta e quem sabe que tipo de droga havia sido injetado nela.

—  Isso é um cativeiro?! — ela indagou, tentando expressar indignação. —  Se tocar em mim, você vai estar muito ferrado! Minha família não te dará um tostão, sabe quem eu sou? —  O rapaz sorriu, fazendo-a querer ter um ataque de fúria, caso, estivesse em seu estado normal. — Pode rir, a desgraça vai chegar para você. —  Aquelas palavras o fizeram gargalhar, o único na sala capaz de sentir e expressar alguma coisa.

— Ah, Anna, cara de banana —  falou entre risos. — Continua a mesma, a mesma. —  Parou, sério, parecendo lembrar porquê estava ali. —  Seu pai não vai poder fazer nada, ele não tem poder sobre as coisas abaixo e acima da Terra.

— Quem é você? — Como queria demonstrar o quão assustada estava.

— Um anjo — o rapaz retorquiu, mantendo sua excepcional tranquilidade. — O seu anjo.

— Que brincadeira de mal gosto. — Anna caçoou.  — Isso só pode ser um sonho, é ridículo.

— Não é um sonho — falou ele, mas não parecia ofendido. — É real.

A garota ficou em silêncio. Ao menos ainda podia pensar. Um anjo e uma sala branca; não se lembrava de nada… estaria com medo de completar esse raciocínio, se pudesse.

— Então. — A voz soou mais baixa que o esperado. — Eu morri? — Ele fez que sim. — E você não deveria ter me salvado?

— Sua hora chegou, não havia nada a ser feito.

— Espera, houve um engano. Eu sou jovem e eu estava… deveria estar no auge da minha vida, não é justo — Anna atropelava ao falar. — Por que não me lembro?

— Eu estou com sua essência, suas lembranças são minhas até o dia do julgamento. —  Ele pausou, pensativo.

“O julgamento”, ela refletiu. Se pudesse se lembrar, talvez poderia medir o peso de seus pecados.

— Eu não fui uma pessoa tão ruim, não é?

— Vejo que está nas suas melhores roupas — ele respondeu após um minuto de mudez. — Essa é sua substância.

— Não foi isso que eu perguntei — ela murmurou, após observar a elegante vestimenta. Provavelmente esteve em uma festa e queria ser o centro das atenções.

— Sou seu anjo da guarda, vou interceder por você. O grande problema, minha querida Anna, é que nenhum vivo está rogando por sua alma.

— Olha, acho que ainda houve um engano.

— Deus não comete enganos, Anna.

— Ah, não? —  Ela alterou o tom de voz. — Você acha isso justo?

—  Blasfemar não te ajudará encontrar o caminho do justos. —  Ele suspirou. — É assim com todos. Ninguém aceita a morte de primeira, ainda mais um não devoto. Tudo o que você costumava acreditar caíu por terra, mas eu estou aqui para te ajudar, eu sempre estive.

— Desculpa, eu… é demais para mim. — Após um longo minuto de silêncio, Anna percebeu um chiado em seu ouvido, aquele pequeno zoom irritante, como se tivesse uma televisão antiga sem sinal em sua cabeça. — Que barulho é esse? —  indagou em um tom quase conformado.

—  São as outras almas, você não está sozinha — o anjo respondeu como se tudo aquilo fizesse parte do protocolo.

— Por que não posso vê-las?

— Eu ainda não contei sua história, minha amada Marianna, você não pode sofrer junto com elas sem saber o motivo.

Ao ouví-lo, a garota se arrepiou. Será que havia sido uma pessoa tão ruim assim?

— Sofrer — sussurrou para si.

—  Um meio entre o seu céu e o inferno não é um mar de rosas. As almas do purgatório sofrem até a hora do julgamento, temem o resultado e ao saber o que fizeram, ah, Anna, dariam tudo para viver outra vez. —  A voz dele ressoou trêmula, parecia triste. — O que alivia toda essa dor são as preces, alguns vivos devem rogar por sua alma até hora a hora do julgamento.

Anna tremia toda vez que escutava a palavra julgamento e temeu perguntar se havia alguém para rogar por sua alma.

— Você pode me contar — hesitou, uma parte de si não desejava saber, todavia a outra gritava de curiosidade. — Como eu morri?


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