Fazia semanas que não conseguia tirar aquele humano da minha cabeça, desde o dia em que ele me confrontou na floresta. Daquele dia em diante ele sempre vinha me ver, e mesmo que rosnasse ordenando que me deixasse em paz, ele continuava vindo e sua determinação acabou me vencendo, já não me incomodava mais com a sua presença. Cheguei ao ponto de ansiar por vê-lo e acabei reconhecendo e aceitando que ele era meu macho.

O macho que sempre procurei em minhas andanças durante a floresta.

No dia em que me machuquei fiquei furiosa por não poder ir ao seu encontro, mas ele veio atrás de mim. Meu macho havia me encontrado e cuidado de mim enquanto sentia seu cheiro, era como se conhecesse aquele cheiro e aquele homem, mas não sabia de onde. Depois que roubei sua camisa quando me machuquei, acabei transformando isso em um hábito pois não conseguia dormir em meu esconderijo sem seu cheiro. E ele não parecia aborrecido com isso, podia ver em seus olhos que ele gostava de me ver ir embora com a sua camisa na boca.

Houve um noite, enquanto dormia que acabei sonhando com meu macho, mas ao em vez de ser uma loba, eu era uma humana. E isso me deixou confusa, não sonha e não pensava desde que me lembrava, mas assim que esbarei com ele tudo mudou.

Sonhava todas as noites com lembranças que pareciam ser de outra pessoa, e logo consegui identificar o nome do meu macho, ele se chamava Elliot.

Lembrar do seu nome fez uma verdadeira revolução em mim, logo uma enxurrada de memórias invadiu a minha mente me lembrando de quem era antes de ser uma loba.

Eu era Leah Clearwater, filha de Sue e Harry Clearwater, irmã de Seth Clearwater.

Eu era beta de Jacob, a mãe de Ária Marshall e havia sofrido um imprinting por Elliot Marshall, o humano que sempre me esperava na floresta e me tratava com tanto carinho e amor, como se eu ainda fosse a mulher por quem ele era apaixonado.

Meu corpo inteiro começou a tremer de repente assim que me lembrei de quem era, logo me transformei na humana que era antes de decidir viver como loba. Ainda meio confusa, afinal não estava mais acostumada a viver como humana, me levantei meio cambaleante e sai do meu esconderijo, seguindo o cheiro de Elliot.

Apesar da chuva forte, ainda conseguia sentir seu cheiro, percebi que ele estava na varanda da minha casa tomando uma xícara de café, pelo cheiro, enquanto estava sentado no balanço da varanda olhando pela floresta. Sabia que ele estava preocupado comigo, pensando se eu estaria segura em algum lugar seco, ou se estaria na chuva.

Olhá-lo ali, tão perto de mim me deu forças para continuar andando em sua direção, mesmo não tendo controle sobre as minhas pernas. Assim que me viu, Elliot deixou a xicara cair no chão e veio correndo até mim e cai em seus braços sem forças.

—Você voltou pra mim Leah. - Elliot soluçou entre lágrimas enquanto me segurava de encontro ao seu peito, não se importando de ficar ajoelhando na lama enquanto chovia.

—Você...Voltou... Pra...Mim...- sussurrei ainda com dificuldade de falar, afinal não fazia isso há um tempo.

—Jamais vou te deixar de novo. Me perdoa pelo idiota que fui. - ele sussurrou tocando meu rosto com carinho e franzi a testa confusa, não me lembrando do que havia acontecido para que ele me pedisse desculpas.

—Eu...Não...Lembro...-sussurrei meio perdida tentando lembrar de mais alguma coisa, mas forçar minhas lembranças me deixava com dor de cabeça.

—Está tudo bem, não precisa ficar nervosa você irá lembrar de tudo com calma. Agora vamos entrar, antes que você pegue um resfriado. - Elliot disse me pegando no colo e se levantando antes de me levar para dentro.

—Pai, você me ajuda com o trabalho...- Ária disse e se interrompeu assim que Elliot entrou em casa comigo no colo.

—Mãe? - ela sussurrou entre lágrimas assim que me reconheceu.

—Filhote. - disse entre lágrimas e ela sorriu antes de correr para o meu lado.

—Sempre soube que você iria voltar. Papai e eu nunca duvidamos por um só minuto. - ela disse emocionada enquanto segurava a minha mão. - Eu te amo tanto mãe.

—Eu também te amo querida. - disse suave e apertei a mão da minha filha.

Meu filhote estava tão diferente, parecia muito maior e seu cabelo comprido havia sido cortado na altura dos ombros e repicado, valorizando as ondas naturais que Ária possuía.

Meus Deus, por quanto tempo fiquei como loba?

—Filha, vou levar a sua mãe para o quarto para examiná-la. Você liga para a sua avó avisando, que a Leah voltou? - Elliot pediu me tirando dos meus pensamentos e olhei novamente para Ária que concordou.

Assim que chegamos ao meu quarto, Elliot foi em direção ao banheiro e me colocou sentada no tapa do vaso sanitário, enquanto ele ligava a torneira para encher a banheira. E a zoada da agua irritou meus ouvidos. Não estava acostumada a todo aquele barulho e claridade, era como se não estivesse mais acostumada a ser humana.

—Amor, o que foi? - ele perguntou preocupado depois que se ajoelhou na minha frente e tirou as minhas mãos dos ouvidos.

—Está tudo tão...Claro e barulhento... Minha cabeça dói...- reclamei tentando me concentrar mas estava sendo dificiel.

—Eu sei. Se concentre apenas em mim... Na minha voz... Na batida do meu coração... No meu calor... No meu cheiro...- ele pediu segurando as minhas mãos e respirei fundo tentando fazer o que Elliot me pedia.

Minha mente estava uma bagunça, não conseguia me lembrar por quanto tempo havia ficado na forma de loba, e isso me deixava nervosa, mas me concentrar em Elliot me ajudava a não perder o controle.

—O que foi? - Elliot questionou sorrindo sentado na beirada da banheira que havia no meu banheiro, assim que me viu olhando para ele sem desviar os olhos.

—Você é muito mais lindo do que me lembrava. - disse ainda admirada por estar de frente com o Elliot real e não o dos meus sonhos.

E meu comentário o fez corar em um vermelho delicado resultando em uma agitação desconhecida dentro de mim.

—Obrigado. E você também é muita mais linda do que me lembrava. - ele disse amoroso e sorriu para mim assim que se recuperou do meu comentário.

—Elliot? - chamei suave e ele parou de ensaboar as minhas costas com meu sabonete líquido de orquídeas.

—Sim, amor.

—Eu te amo. - disse da forma mais sincera e simples, enquanto olhava em seus olhos castanhos e Elliot sorriu apaixonado para mim.

—Eu também te amo meu amor. - ele disse apaixonado e sorri me aproximando mais dele sem deixar de olhar em seus olhos.

—Então, entra aqui comigo. - pedi e ele sorriu surpreso por minha proposta.

—Apesar de estar tentado em aceitar a sua proposta, acho melhor não. - ele disse frustrado por não satisfazer seu desejo e o meu, o que me deixou confusa.

—Porque não? Não sou atraente para você? - questionei confusa, afinal quando eu era uma loba, mesmo que não pudéssemos ficar juntos ele demonstrava que se sentia atraído por mim, mas agora eu era humana como ele e nada nos impedia de ficarmos juntos.

—Você não sabe o quanto amor... Não sabe quanta falta me fez, mas conheço minha mulher. Se eu entrar ai, não vou resistir a você e vamos acabar fazendo amor nessa banheira. E quando se lembrar porque decidiu se tornar uma loba em tempo integral, vai ficar furiosa porque fez amor comigo sem ter tido a chance de gritar antes. - ele explicou e pisquei confusa fazendo-o rir com carinho.

—Os humanos são complicados. - disse frustrada e ele sorriu concordando.

—Isso é verdade, agora está na hora de você sair e colocar uma roupa seca. A sua mãe já deve estar lá em baixo te esperando.

—Tudo bem. - disse e Elliot me ajudou a tirar todo o sabão antes de me enrolar em uma toalha felpuda e quentinha.

—Eu não gostei disso, elas pinicam. - disse me referindo ao vestido que ele havia me ajudado a vestir e Elliot sorriu suave.

—Você está linda amor. - ele disse colocando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, assim que terminou de pentear meus cabelos que estavam abaixo dos ombros.

—Eu prefiro ficar sem elas. - disse e ele me olhou de cima a baixo antes de sorri de forma maliciosa, o que me agradou.

—Eu também prefiro você sem elas. - ele disse e sorri antes de começar a abrir os botões do vestido, mas ele me impediu me deixando confusa. - Só quando estiver nós dois. Mas agora, você precisa ficar com elas.

Frustrada vi Elliot abotoar os botões que havia aberto e meu corpo se arrepiou todo quando sua pele entrou em contato com a minha. Depois que estava devidamente vestida e arrumada, ele pegou a sua maleta que estava em cima da minha poltrona e começou a me examinar de cima a baixo, apesar de não gostar disso me mantive quieta, afinal gostava do seu toque em minha pele.

—E então? - questionei a ele depois que tirou o aparelho de pressão do meu braço.

—Aparentemente, você está bem. Mas assim que possível, vou leva-la para o hospital para alguns exames de sangue. - ele disse ainda preocupado comigo.

—Eu estou bem, cansada mais bem. Não precisa se preocupar, Elli. - disse suave e ele concordou antes de me ajudar a deitar na cama.

—Senti saudade de ouvi-la me chamando de Elli. - ele disse com a voz embargada e segurei a sua mão antes de puxá-lo para o meu peito onde Elliot chorou sem parar.

—Me perdoe por ter sumido. - sussurrei sem saber direito o porquê tinha decidido virar um loba em tempo integral. Afinal, eu amava Elliot e a nossa filha, e jamais me separaria dos dois de livre espontânea vontade.

—Não me peça perdão, amor. Você não teve culpa de nada, eu que tenho que te pedir perdão. - ele sussurrou assim que se afastou de mim para ver meu olhos e o olhei confusa.

—Elli, amor, o que aconteceu? - questionei aflita, pois era perceptível a dor nos olhos dele.

—Muita coisa, minha vida. Mas tudo isso pode esperar, você deve estar cansada. - ele disse suave acariciando meu rosto com carinho.

—Um pouco, mas não gosto de te ver triste, isso machuca meu coração.

—Não tenho mais motivos para ficar triste. Afinal, você escolheu voltar pra mim. Me escolheu pela segunda vez e vou ser digno da sua escolha dessa vez. Isso é uma promessa. - Elliot jurou me olhando nos olhos e acariciei seu rosto com carinho antes de encostar sua testa na minha.

—Você sempre foi digno da minha escolha. O imprinting me mostrou que você era o homem certo, mas a decisão de aceita-lo como meu companheiro foi minha, e eu aceitei você e jamais me arrependi da escolha. Não importa o que aconteça. - sussurrei e ele concordou antes de me abraçar apertando, como se quisesse ter certeza de que eu estava mesmo ali e fiz o mesmo com ele.

—Senti tanto a sua falta. Quase fiquei louco de saudades. - Elliot sussurrou em meu pescoço antes de beijá-lo.- Senti falta do seu cheiro...Do seu calor...De você por inteira...Eu não sei mais viver sem você.

—Eu também não amor. - sussurrei sentindo o cheiro de Elliot, aquele cheiro que representava meu lar, meu aconchego.

Passamos um momento precioso matando a saudade um do outro, era como se precisássemos reavivar a nossa memória sobre o cheiro um do outro, ou como a nossa pele reagia ao toque ou calor do outro, nos certificando de que estávamos juntos novamente.

—Será que posso entrar? - minha mãe questionou assim que abriu a porta do meu quarto e nos viu deitados na cama. -Se eu estiver atrapalhando, posso voltar outra hora.

Assim que matamos a saudade um do outro, Elliot se deitou na cama e me puxou para o seu peito antes de começar a fazer carinho no meu cabelo, algo que adorava. Era o momento em que não conversávamos sobre nada, apenas desfrutávamos da companhia um do outro.

—Você não atrapalha Sue. Só estávamos matando saudade da companhia um do outro, mas podemos continuar mais tarde, afinal você deve estar louca para abraçar e beijar a sua filha. - Elliot disse se separando de mim e olhei para ele em pânico.

—Por favor, não me deixa. - implorei nervosa assim que segurei seu braço.

—Amor, nunca mais vou te deixar. Eu prometo isso. - Elliot disse segurando meu rosto em suas mãos. - Só vou até a cozinha fazer algo leve para você comer, qualquer coisa é só me chamar que veio correndo pra você. Tudo bem?

—Tudo bem. - disse concordando e o soltei, mas antes de se levantar da cama Elliot beijou a minha testa de forma demorada.

—Qualquer coisa estou lá embaixo. - ele assegurou de novo para mim e concordei antes de vê-lo sair do quarto.

—Não se preocupe filha, daqui a pouco Elliot estará de volta. Ele não prometeu?

—Prometeu. Mas mãe, não sei explicar direito...Só de pensar que ele não está perto de mim eu fico em pânico.

—Isso vai passar meu amor. - ela disse amorosa e se sentou na minha cama com cuidado antes de sorrir para mim. - Há minha garotinha, você não sabe quanta falta me fez.

—Eu também senti sua falta mãe. - sussurrei antes de abraçar a minha mãe com carinho e ela me encheu de beijos o que me fez rir. -Eu te amo mãe.

—Eu também te amo e estava com saudades filha. Fiquei tão preocupada com você. - ela disse suave enquanto acariciava meu rosto com carinho.

—Mãe, você pode me contar o que houve? Porque decidi virar uma loba em tempo integral? -pedi assim que nos separamos e ela respirou fundo antes de acariciar meu rosto com carinho.

—Amor, não sou a pessoa certa para lhe contar o que houve. Essa é uma conversa que você e seu noivo precisam ter. Tudo que peço e que o escute, não faça nada de cabeça quente, porque vocês dois já sofreram muito longe um do outro. -Minha mãe me aconselhou e concordei antes de abraça-la apertado.

—É tão bom ter a minha garotinha de volta. - ela disse ainda me apertando e sorri suave, mas no fundo estava frustrada por ninguém me contar o que houve.

Era como se todos estivessem tentando me proteger de algo doloroso, o que me deixa ainda mais preocupada.