Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 18
Queimada




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No dia seguinte ao jantar que tanto tentou atrapalhar, Luís chegava na escola com um curativo no nariz. Luciano, que havia chegado cedo para praticar mais um pouco de violão (e prática era algo que ele realmente precisava), notou o que aconteceu um amigo.

—Seu nariz…

—Não fala nada! - interrompeu Luís - Sim. Tive uns problemas com o meu nariz ontem à noite, mas nada de grave.

—Se você tá dizendo - disse Luciano, voltando a tocar seu violão.

—E aí, pessoal? - Carioca, o outro garoto da sala, acabava de chegar e se aproximar dos dois.

—Fala, Carioca - cumprimentou Luciano.

—O que é isso aí no seu nariz, carinha? - perguntou Carioca.

—É só um probleminha que tive. Nada demais, não precisa se preocupar - respondeu Luís.

—Já sei. Foi fazendo a barba, né? - perguntou Carioca.

—Barba? Mas eu nem tenho barba! - retrucou Luís.

—Não? Ué, achei que todo mundo já tinha barba na nossa idade - disse Carioca que, por sinal, possuía já alguns pelos de barba - Olha o Luciano.

Luís observou Luciano e notou que ele também tinha um pouco de barba no rosto.

—Bem, temos desenvolvimentos diferentes - disse Luís - A puberdade chega de um jeito diferente para cada um.

—”Puber” o quê? - perguntou Luciano.

—Puberdade! Já estudamos isso em biologia, não lembra? É quando várias coisas no nosso corpo começam a mudar - respondeu Luís.

—Tipo ter barba? - falou Carioca.

—Tipo isso - confirmou Luís - E mudança de voz também.

—Podicrê, aí - disse Carioca, sorrindo - Minha voz mudou. Achei que só estava rouco por causa de uma dor de garganta, mas depois que eu sarei, a voz continuou mais grossa.

—Sei lá. Não reparei se minha voz mudou, não - falou Luciano - Aí. Será que se ela mudar, vai melhorar meu desempenho na música?

—No seu caso, acho que o negócio é mais complicado - disse Luís.

—Mas eu pratiquei bastante. Até já consigo puxar uma Legião Urbana. "É preciiso amaaar as pessooaaas como seee não houveeese amanhããã"!

—Tá, tá, já pode parar, por favor - interrompeu Luís - Ainda precisa praticar mais.

—Vocês vão ver só. Até o fim do mês já devo fazer o primeiro show lá na lanchonete - reclamou Luciano.

—E você, Luís? - perguntou Carioca.

—O que tem eu? - retrucou ele.

—O que tá mudando em você? Voz? Barba?

—Por que tá me perguntando isso? - estranhou Luís.

—Ué? Tu não tem a mesma idade que a gente? Deve tá mudando alguma coisa, não tá, não?

“Droga! Pior que não tenho nem barba e nem minha voz está mudando”, pensou Luís.

—E aí? - insistiu Carioca.

—As coisas estão diferentes comigo - disse ele - Certamente, meu organismo investe demais no cérebro e deixa as outras mudanças para mais tarde.

—Bom, inteligente tu é, isso aí é real - confirmou Carioca - Ah, entendi. Pô, agora que saquei.

—O que foi? - estranhou Luís.

—A mudança foi no teu nariz, não é? - perguntou ele - Começou a crescer pelo no nariz em vez de barba. Por isso que tu colocou esse curativo. Entendi.

—Não é nada disso! Isso aqui é outra coisa! - rebateu Luís.

—Tá legal, tá legal. Tô ligado que essas coisas de puberdade a gente não gosta de ficar espalhando. Mas todo mundo aqui é amigo, cara. Pode contar com a gente.

—Não vou falar mais nada - concluiu Luís.

Naquele dia, as aulas correram normalmente, incluindo a aula de educação física no último período. Com uma sala de apenas sete alunos não dava para variar muita coisa.

—Puxa, queria que vocês jogassem alguma coisa hoje - falou a professora com todos os sete alunos de primeiro ano reunidos na quadra. Ela era uma mulher jovem, magra, cabelos castanhos e sem nada de muito estranho (bem, o fato dela morar na cidade vizinha e apenas dar aulas em Vila Baunilha, explicava muita coisa) - Mas com sete pessoas não tem muita graça.

—Estava pensando no quê, professora? - perguntou Anne.

—Algo como vôlei ou queimada - respondeu ela - Mas com um número ímpar de alunos fica complicado.

—Tudo bem. Eu posso ficar de fora - disse Luís - Estou com o nariz machucado mesmo.

—Aliás, o que aconteceu com o seu nariz, heim? - perguntou a professora.

—Eu...prefiro não falar sobre isso - disse Luís, tentando fugir também dos olhares curiosos das meninas.

—Tudo bem, vai - disse a professora - Vamos jogar queimada. Todo mundo conhece as regras?

—Eu não conheço - falou Carioca.

—Você nunca jogou queimada? - perguntou Anne.

—Acho que já, mas não lembro - disse ele - Fala aí de novo, professora.

—É fácil - continuou a professora - O objetivo é tentar acertar os membros da equipe adversária com a bola. Quem for acertado sai. É mais legal com mais gente, mas dá para ter uma ideia com seis pessoas.

—Você perde se a bola te acertar, mas pode pegá-la com as mãos se conseguir - disse Anne.

—Nossa, você conhece bem esse jogo - disse Kelly.

—Jogava bastante na minha antiga escola - explicou Anne.

—Tá legal. Já que você sabe como joga pode escolher seu time, Anne - disse a professora - O outro que escolhe será o...Luciano. Pode ser você?

—Eu? - disse ele - Ah, pode ser.

—Pode escolher primeiro - disse Anne.

—Não, escolhe você. Depois vai dizer que eu não sou cavalheiro de deixar as damas começarem - respondeu Luciano.

—Tá legal. Eu escolho…

Mas antes que Anne terminasse de falar, Ian já entrou no time dela, não sem antes segurar e beijar a mão direita da garota.

—Não precisa terminar - disse ele - Posso ver em seus olhos apaixonados o quanto deseja a minha presença em seu time.

“Ian, seu maldito”, pensou Luís, que havia ficado de fora do jogo. “Vai aproveitar para tirar uma casquinha da minha Anne, não é?”

—Eu ia escolher a Kelly, na verdade - falou Anne.

—Pode ser eu, você e o Ian, então - disse Kelly - Tranquilo?

—Por mim tudo bem - disse Ema - Luciano, eu fico no seu time, tudo bem?

—Tanto faz. Vambora - disse ele.

—Muito bem - prosseguiu a professora, enquanto os alunos se organizavam na quadra - Nada de jogar a bola muito forte. Esse jogo pode ser perigoso.

—Sem problemas - disse Luciano - Não vou exagerar contra um time com a maioria de meninas.

—E você acha que por sermos meninas não aguentamos jogar contra você? - perguntou Anne.

—Bem, meninos tem mais força, você sabe - disse Luciano, confiante.

—Tá legal… - falou Anne em tom irônico.

E o jogo começa. Luciano começou jogando. As meninas se desviaram facilmente, mas Ian foi pego logo na primeira jogada.

—Ai! - disse ele, caído no chão.

—Ah, lembrei. Então é assim que joga. Maneiro, aí! - comentou Carioca.

—Esse jogo...é mais perigoso do que eu pensei! Amada, Anne. Acho que não sobreviverei por muito tempo. É uma pena. Já estou com saudades do que não vivemos ainda.

—Mas nós acabamos de começar! - reclamou a garota.

—Calma, Anne - disse Kelly - Isso acontece.

—Tá legal - disse Anne pegando a bola e praticamente pisando em cima de Ian enquanto ele se demorava para levantar - Agora é a nossa vez!

—Espera, só não tenta jogar na....

Mas Anne mirou em Ema que, por sua vez, pegou facilmente a bola com as mãos.

—Tá devagar, heim? - disse Ema.

—Nossa, ela é boa - disse Anne espantada.

—Era o que eu estava tentando dizer. A Ema é nossa melhor atleta - explicou Kelly.

—Bom, estou pronta - disse Anne - Pode vir!

—Não quer mesmo que eu pegue leve? - disse Ema.

—Claro que não! Manda ver! - desafiou Anne.

—Ela é tão corajosa - balbuciou Luís, que assistia a partida de longe.

—Concordo. Não poderia me apaixonar por uma garota com mais virtudes! - disse Ian, que também havia se aproximado de Luís após ser eliminado da partida.

“Esse cara”, pensou Luís, com uma expressão de desgosto.

A partida continuou e Ema lançou a bola com força. Anne se desviou e fez questão de provocar Ema após isso.

—Haha! Errou! - riu a garota.

—Anne! Cuidado! - mas o aviso de Kelly veio tarde. A bola ricocheteou na parede e acertou Anne pelas costas, levando a garota ao chão.

—Gente, ela tá bem? - perguntou Ema preocupada.

—Aposto que tá fazendo manha - reclamou Luciano.

—Sei não, cara - disse Carioca - Parece que ela desmaiou mesmo.

Foi mesmo uma bolada forte. O que será de Anne?


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Notas finais do capítulo

Claro que não foi nada grave, mas vamos ver onde essa pancada vai nos levar, né?

"Saudades do que não vivemos ainda". Desculpa, não deu para esperar o meme esfriar.

Até a próxima! ;)



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