We Love You, Olivia! escrita por Sunny Spring


Capítulo 3
ღ CAPÍTULO 02


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Muito obrigada QueciaC por favoritar e comentar, e Violet Lestrange por comentar ♥ ♥

Mais um capítulo. Espero que gostem. Bjs *.*



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Guarda teu amigo sob a chave de tua própria vida.”

— William Shakespeare

 

Termino de desembaraçar a última mecha de meu cabelo, em frente ao espelho. Não deixo de encarar meu reflexo. Eu sou a mistura de minha mãe e de meu pai. Olhos castanhos, cabelos ondulados, castanhos claros, acobreados e com umas pontas mais desgastadas e desbotadas que as outras, além de uma porção considerável de pontas duplas, pele pálida e bochechas rosadas. Nunca me achei bonita. Não sou nada de mais. Isso já me incomodou mais, no entanto, eu já me conformei. Beleza é algo subjetivo. Não é porque você não se encaixa nos padrões impostos pela sociedade que você é feio. Também não é porque você se encaixa que vai sentir-se bonito. Isso é algo que vem de dentro. Claro, às vezes  em algumas de minhas crises, eu não consigo me lembrar disso. Porque, obviamente, às vezes a insegurança, a baixa autoestima e lembranças ruins falam mais alto. Meu lado interior anda bem capenga.

Deixo meu cabelo meio preso e desço para tomar café da manhã. Encontro minha mãe e meu pai. Meu pai está fazendo alguma coisa na cozinha enquanto minha mãe espera. Minha família é um pouco atípica. Meu pai é o cozinheiro e minha mãe nem chega perto do fogão. Me pego observando os dois. Eles são tão apaixonados que parecem aqueles casais de comercial da margarina. Os dois se conheceram ainda na faculdade, minha mãe, Helena, é totalmente brasileira e, meu pai, Paul, é totalmente canadense. Eles se casaram antes de se formarem e logo me tiveram.

—Bom dia, pai. Mãe. - Eu me aproximo e me sento à mesa, ao lado de minha mãe.

—Bom dia, meu amor. - Minha mãe sorri para mim. Ela tem uma papelada em cima da mesa, sempre muito atarefada com contas. Afinal, ela é uma arquiteta.

—Bom dia, princesa. - Meu pai responde, sem tirar os olhos da frigideira. Eles está fazendo panquecas. Ele serve as panquecas em três pratos e coloca sobre a mesa. - Ah, na na não. - Ele tira a papelada da minha mãe de cima da mesa e ela resmunga. - Senhora Carter, o que eu lhe disse sobre trabalhar enquanto come? - Pergunta brincalhão. - Faz mal para a saúde. É preciso descansar. - Ele coloca tudo de lado. Minha mãe não discute. Até porque, discutir com um psicanalista, no caso, meu pai, é uma das coisas mais difíceis que existe. Sempre que minha mãe o xinga no meio de uma briga, ele solta um “E como se sente sobre isso?” com a maior tranquilidade e é impossível continuar com raiva.

—Se não tem jeito. - Minha mãe suspira, rendida. Ele dá um beijo nela, quase longo demais.

— Eu estou aqui ainda. - Pigarreio e os dois riem.

— Não tá na hora de ir para a escola não? - Meu pai brinca e minha mãe dá um tapa em seu ombro.

Como minha panqueca e tomo um copo de suco de laranja. Termino de comer e me despeço dos dois. Tenho que ir para mais um dia de aula. Logo que deixo minha casa, dou de cara com um carro prata na porta da minha casa.

—Hey, gatinha!!! - Ele praticamente grita. - Olha, se não é a garota mais fofa de toda Toronto. Desse jeito vai roubar meu coração. - Eu rio. Henry Brown. Brownie, por causa do sobrenome. Meu melhor amigo desde de sempre. Nos conhecemos desde a barriga de nossas mães, é o que minha mãe costuma sempre dizer. Somos praticamente irmãos. Além de tudo, ele é meu vizinho da casa ao lado. - Anda logo, criatura! Não sou seu chofer não. - Me apressa. Eu me aproximo do carro.

—Carro novo?

— Meu pai me deu. - Ele abre um sorriso largo, revelando as covinhas.

—Brownie, você é um burguês muito exibido! - Brinco e entro no carro, colocando o cinto.

—Mas, por que? - Ele finge estar ofendido.

—Nossa escola nem é tão longe assim, dá para ir a pé. - Respondo calma. - Sem contar, que está poluindo o meio ambiente.

—É elétrico, sua estraga prazeres. - Cantarola e dá partida no carro. Ele liga o som do carro e está tocando California Girls, da Katy Perry.

— Por que está tão animado? - Pergunto curiosa.

—Porque eu falei com a minha namorada ontem a noite. - Sorri. - E nada vai me tirar do sério hoje.

A namorada de Vancouver, Maggie. Ela é dois anos mais velha que Henry e os dois se conheceram em um festival de música no verão passado.

Não deixo de reparar no pingente de pé de coelho pendurado no retrovisor.

—Acho que preciso de um desses. - Comento. - Sou muito azarada.

— Não é não. - Ele responde. - Se você fosse, não conheceria esta pessoa tão maravilhosa que sou eu. - Brinca. Eu rio.

—E super modesto também. - Acrescento. Ele ri. Henry tem cara de “bad boy” e ele poderia muito bem trabalhar nesses filmes adolescentes estilo “10 Coisas Que Odeio Em Você” e “Curtindo a Vida Adoidado”. Com o cabelo mel um pouco acima do ombro, e um par de olhos verdes folha, o maxilar bem desenhado, suas roupas sempre muito elegantes e intimidadoras que ele faz questão de usar, quando está sério ele parece a pessoa mais  sinistra da Toronto South High School. Mas, na realidade, Henry é a pessoa mais adorável que eu já conheci, e ele está bem longe de ser um garoto mau.

Henry dirige tranquilamente enquanto cantarola a música. Não demoramos a chegar na nossa escola. Respiramos fundo e saímos do carro. Escola. Esse deveria ser o melhor lugar para se estar, já que é onde você adquire dos mais sábios conhecimentos. Mas a realidade é um pouco diferente. As escolas tornaram-se um lugar tóxico. Onde alguns alunos estão sempre brigando entre si mesmos, querendo provar quem é melhor. Enquanto outros, tentam apenas sobreviver.

— Chegamos ao inferno. - Henry suspira. Trocamos um último olhar antes de entrar. Tento passar despercebida pelos meus colegas e eu consigo, com sucesso. Não sou o tipo de pessoa que os outros reparam muito. Acredite, isso é bem melhor do que ser notada para ser motivo de piada, e eu digo isso por experiência própria. - Nos vemos na aula de Biologia, Liv. - Ele me dá um sorriso antes de ir para a sua aula.

Respiro fundo. Estar numa multidão sem os amigos é um tanto pior. Pego meu livro de literatura. Tudo que eu tenho que fazer é sobreviver e passar despercebida até a sala do sr. Phillips, meu professor de Literatura. Fecho a porta do armário. E, lá está ele. De novo. Noah. Hoje é não está vestindo sua jaqueta vermelha, mas um casaco preto. Ele se despede dos amigos e vira no meu corredor. Desvio o olhar rapidamente para que ele não perceba. No entanto, ele está vindo na minha direção. Espera… Ele está vindo na minha direção? Meu Deus. Noah está vindo na minha direção. Isso deve ser alucinação da minha cabeça. Por que ele estaria vindo na minha direção?

Eu o encaro e ele vê. Me lança um sorriso por causa disso. Haja naturalmente, Olivia!

Tento pensar em mil coisas ao mesmo tempo. Não surte e haja naturalmente.

— Oi. - Ele sorri. Sinto minhas pernas ficarem moles como marshmallow derretido. Lembro-me de respirar. O que eu faço agora? Eu não sei o que fazer. Eu preciso responder nos próximos segundos antes que ele pense que eu sou maluca.

— Oi. - Sorrio, tentando ser mais natural e despretensiosa possível. Ele sorri de novo. Eu vou surtar.  

— Você é Olivia, né? - Pergunta. Ele sabe meu nome. Noah sabe o meu nome. Assinto com a cabeça. - Posso te chamar de Liv?

— Tudo bem. - Dou de ombros. Ele sorri.

— Desculpa incomodar, Liv. - Ah. Não incomoda. Não incomoda nem um pouco.— Eu me sinto um idiota por isso. - Ele ri, sem graça. - Mas, você é amiga da Rosie, né? - Sinto-me murchar por dentro na hora. É claro. Por que ele falaria comigo, afinal?

— Sim. - Respondo, sem encará-lo muito.

— Você sabe se ela vai na festa da Jess?

— Acho que sim.

— Ah! - Ele ri. - Você sabe se ela vai com alguém? Eu pergunto isso porque eu queria convidá-la pra ir comigo. Mas, eu tenho medo de levar um fora. - Confessa. Quem diria. Noah Gauthier tem medo de levar um toco.

— Acho que não. - Eu quase gaguejo.

— Você acha que eu deveria convidá-la? - Pergunta sem jeito. Os olhos brilhando de esperança. O que responder? Está na cara que ele está apaixonado por ela.

— É! Acho que sim. - Dou um sorriso fraco. E aqui estou eu, incentivando meu crush a chamar minha amiga para sair.

— Certo. - Ele sorri. - Obrigado, Liv.

— De nada. - Respondo e ele se afasta.

Seguro o livro bem firme no peito e vou para a aula.

 

ஐﻬﻬஐ

 

O sr. Phillips acaba de terminar de explicar a nova tarefa de hoje da aula. E, é em dupla, o que eu não gosto nada. Nem Rosie, nem Henry são da minha aula de Literatura e os outros alunos não são muito lá meus amigos. Prevejo algo nada bom vindo.

— Muito bem. - Ele diz. - Agora vamos separar as duplas. Lembrando que serão as mesmas duplas do trabalho final do semestre. - Suspira. - Esse ano será diferente. O foco será em temas sociais, como alcoolismo na adolescência, entre outros. - Seus olhos percorrem por toda a sala. - Depois que eu separar as duplas, vou sortear os temas. - Ele pega a lista de chamada e começa a separar as duplas. Os alunos começam a trocar de lugar para trabalhar com seus parceiros. - Srta. Olivia Carter… - Ele diz meu nome. Sinto meu estômago se agitar. - Sr. Jaden Mitchell.

Não. Eu quase resmungo. Jaden não é uma boa opção. Eu sei que ele não vai aceitar isso. Ele é do tipo popular, que não se mistura com não populares. Jogador do time de hóquei. Um idiota.

— Sr. Phillips.  - Jaden levanta a mão. Um sorriso malicioso nos lábios. - Se me permite, eu não quero trabalhar com a nerd… Quero dizer, Olivia. - Ele me lança um olhar com certo desprezo. - Não dá para escolher outra dupla? - Ele solta uma risada. Desconforto. Vergonha. Rejeição. É tudo que eu consigo sentir. E, vontade de acertar Jaden com um soco.

—Bem. - O professor parece estar numa saia justa. - Eu não posso obrigá-los a trabalharem juntos, mas… - Ele hesita. - As duplas estão contadas. - Quando estou prestes a sugerir que eu faça o trabalho sozinha, alguém fala.

—Sr. Phillips, eu posso trabalhar com a Olivia. É bem melhor. - Diz Bash, lá do fim da sala. Todos o encaram.

— Tudo bem então. - O professor dá de ombros. - Está tudo bem para você, srta. Carter?

—Sim. - Assinto. Jaden solta uma risada baixa. Bash troca de lugar e se senta do meu lado, em silêncio. Eu quase pergunto porque ele fez isso. Eu o olho de relance e depois encaro as minhas próprias mãos, sem saber muito como agir. O professor volta a separar as duplas.

— Não ligue para o Jaden. - Bash diz para mim, baixinho. - Ele é um babaca. E é estúpido. Se trabalhasse com você, a burrice dele iria sobressair ainda mais. - Ele ri. Solto uma risada fraca. - O que ele tem de músculos, falta de cérebro. - Brinca. Eu quero dizer obrigada para Bash, mas dou apenas um sorriso. Ele parece entender o que eu quero dizer.

—Bem, voltando a aula. - O professor chama a atenção de todos. - Eu pedi para que vocês lessem em casa o Soneto 116, de William Shakespeare e fizessem a interpretação. - Ele pega um livro. - “De almas sinceras a união sincera— Recita. -
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou. — Termina. - Então, o que Shakespeare quis dizer nas primeiras linhas, quando ele explica algo sobre o amor? - Pergunta.

Os olhos do Professor percorrem toda a sala. Eu conheço aquele olhar, quase maléfico, quando o professor está prestes a perguntar a alguém em particular. É como um predador escolhendo sua presa com cautela. E, parece que quanto mais você teme, mais o atrai para escolher que você responda.

—Srta. Carter?

Droga. Respiro fundo. Aperto minhas próprias mãos, sentindo meu estômago revirar e minhas bochechas esquentarem. Só alguém introvertido e tímido sabe o quanto é difícil falar em público.

— Ele quer dizer que o amor não é verdadeiro se ele se desfaz em meio às dificuldades. - Respondo. O sr. Phillips sorri. Bash está olhando para mim com uma sobrancelha arqueada.

—Muito bem, srta. Carter. É exatamente isso que ele quer dizer.  - Responde. - Na tarefa de vocês, eu quero que vocês façam uma análise de linguagem do Soneto e tentem reescrevê-lo numa linguagem mais atual. Quando acabarem, passem na minha mesa para pegar o tema do trabalho final do semestre.

— Você é tão nerd! - Diz Bash baixinho. Mas, não há tom de ofensa ou zoeira em sua voz. É apenas um comentário.

—Obrigada? - Franzo o cenho. Ele dá um sorriso.

Pego meu caderno e começamos a tarefa. A hora voa, mas conseguimos terminar a tarefa no tempo certo. Bash se levanta e vai até a mesa do professor, onde recolhe um papelzinho na urna. Ele se senta ao meu lado novamente.

—Bullying nas escolas. - Ele dá um sorriso fraco e me entrega o papel. - Não é um assunto tão difícil de desenvolver. - Não. Teremos bastante assunto para tratar.

ஐﻬﻬஐ

 

Na hora do almoço, eu vou direto para a mesa onde costumo me sentar sempre. Não demora muito e Rosie chega. Ela está feliz como não a vejo há tempos. Ela se senta na cadeira de frente para mim.

—Liv? - Seu sorriso se fecha, e ela assume uma expressão preocupada. - Preciso conversar com você. - Ela suspira. - Hoje, o Noah me convidou para ir a festa da Jess com ele. - Acrescenta com certa cautela. - Mas eu não respondi.

—Por que não? - Arqueio uma sobrancelha.

—Porque eu preciso saber. Você gosta dele?

Eu quase engasgo com o suco. Ela está me encarando. Esperando por uma resposta. Sim. Eu gosto do Noah. Mas, ele não gosta de mim e não há nada no mundo que faça isso mudar. Ele gosta da Rosie. E, eu a conheço muito bem para saber que ela também gosta dele. Eu não sou egoísta. Não vou ficar no caminho dos dois. Rosie é minha amiga e nossa amizade é muito mais valiosa que qualquer paixão platônica.

— Não. - Dou de ombros.

—Você tem certeza? - Insiste.

—Claro! Aceite, Rosie! Eu sei que você gosta dele. Eu te conheço.

Ela sorri.

—Se está tudo para você. Está tudo bem para  mim também!

Sorrio de volta. O jeito é aceitar e esquecer de uma vez por todas o Noah.


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