Famous escrita por Ero Hime


Capítulo 3
Eu quero que você me agite


Notas iniciais do capítulo

EU NEM DEMOREI AGORA HEIN
Mayara retorna cheia de vitalidade com uma atualização fresquinha nessa fic que eu amo demais
Espero que gostem, estamos no começo ainda, mas bastante gente acompanhando e comentando, tenho altas expectativas ♥
Obrigada a todos que não desistiram de mim nesse tempo que fiquei afastada, qualquer comentário, sugestão, crítica, só me mandar!!!
p.s.: esses títulos maravilhosos são das músicas que eu cito no capítulo ♥



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Good Morning America @GMA

Acompanhe ao vivo a apresentação da banda Hinoishi htttp://t.co/gp9U5WrS

 

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Eu quero que você me agite

Hinata reconheceu os primeiros acordes do novo single, lançado na semana anterior. Seus olhos estavam fixos no vocalista, que sorria demasiadamente e balançava o tripé do microfone enquanto esperava a introdução da música. A harmonia da bateria com o baixo era agradável de ouvir, ao vivo. Quando Naruto começou a cantar, em um inglês perfeito, todas as fãs o acompanharam.

Você se lembra do verão de 2009? Quero voltar para lá toda noite.

Apertou o microfone entre seus dedos, assistindo a apresentação mais afastada da grade, ao contrário de seus colegas. Atenta, Hinata permaneceu hipnotizada pelo Uzumaki, acompanhando seus movimentos pelo palco; internamente, convenceu-se de que não queria perder nenhuma imperfeição que ele pudesse cometer, mas havia algo a mais. Ela nunca tinha estado em um show da Hinoishi – ao contrário de Sakura, que tinha ido, fielmente, a todos os shows feitos em Los Angeles –. Pessoalmente – e bem de perto –, a energia transmitida por aqueles meninos tinha algo de especial. Provavelmente eles teriam sua idade, ou até mais velhos, mas a Hyuuga não conseguia pensar neles dessa maneira. Pareciam tão jovens e deslumbrados, com as roupas chamativas, os acessórios exagerados, os sorrisos brilhantes.

Eles tinham potencial – ela não seria tão cretina. Eram bons. Afinados, tinham presença de palco, e eram ridiculamente bonitos – quer dizer, a pele daquele vocalista não tinha uma mancha, chegava a ser injusto –. Hinata não conseguia entender porque eles desperdiçavam talento cantando aquelas músicas industrializadas. Quer dizer, qualquer pesquisa no YouTube mostraria centenas de composições como aquelas. Era animada, sim, e feita para vender. A maneira que o vocalista a cantava, a vibração das suas cordas vocais – Hinata sabia que ele tinha paixão. Podia ser muitas coisas, sim, contudo, ele tinha paixão.

Ela nunca admitiria para Sakura – a não ser que quisesse sacrificar toda sua paz de espírito para sempre –, mas tinha uma playlist secreta com todas as músicas em japonês que a Hinoishi lançou nas mídias digitais, além dos covers. Da primeira vez que escutou, enquanto passeava distraidamente pelo Tumblr, se apaixonou instantaneamente. Spring Day era um dos arranjos mais lindos que ela já tinha ouvido. Se alguém descobrisse, ela negaria até a morte, claro – mas se tornou um tanto obssessiva com eles, antes de assinarem com a Vocal Records e estourarem na América. A Hinoishi de antes tinha essência, tinha conteúdo. Mesmo os covers feitos por Naruto eram tocantes, apenas a voz e um violão. As letras em japonês também a lembravam de casa.

Tudo aquilo parecia ter sido há muito tempo – antes da banda se tornar americana e do vocalista se transformar em um perfeito babaca.

A primeira música acabou, e eles emendaram a segunda sem parar, assim como informava o cronograma repassado para a mídia. Hinata trocou o peso para a outra perna, começando a sentir câimbras. Enquanto julgava mentalmente o cantor, ela percebeu alguns sinais. Atentou-se, cerrando os olhos. O Uzumaki continuava a sorrir com todos os dentes, mas parecia quase forçado. Seus ombros estavam tensos, e ele evitava propositalmente os cantos do palco, concentrando-se no centro e na pequena passarela que levava a plataforma secundária – coincidentemente, as laterais do backstage eram os reservados para a cobertura de mídia.

Não precisava ser um gênio para sacar. Naruto estava tenso, e, se Hinata o conhecia bem – e, infelizmente, ela conhecia –, podia esperar por uma cena durante a coletiva. A relação da banda com os tablóides não era exatamente perfeita, e, sendo justa, a Hyuuga tinha conhecimento do comportamento daqueles abutres. Se o Uzumaki já estava estressado, a pressão que eles fariam seria o estopim, e, mais uma vez, ele estamparia a capa de todos os jornais de entretenimento da costa leste – provavelmente com alguma manchete chamativa e letras garrafais.

Vigilante, saiu de seu canto afastado e costurou entre os demais jornalistas, que se acotovelavam pelo melhor ângulo. Alcançou a equipe de fotografia da Famous, e inclinou-se para cochichar no ouvido de um deles.

— Esqueçam o baterista e o baixista. Na coletiva, foquem no vocalista e o moreno com a guitarra. – ele assentiu e repassou a orientação para os demais.

Hinata mordeu o lábio, se afastando para encarar o loiro. Aquele era o seu trabalho, e não tinha tempo para se sentir culpada – se Naruto desse um escândalo, ela precisaria da melhor perspectiva, da melhor posição; o guitarrista moreno era o mais próximo do Uzumaki, e sempre interferia. Enquanto o acompanhava com os olhos, quase desejou que ele não fosse tão problemático – as pessoas se lembrariam dele pela sua música, e não por seus escândalos.

A bateria finalizou e as últimas harmonias da guitarra acompanharam o solo, até se perderem nos gritos entusiasmados das fãs. Naruto acenou, com as mãos no alto e o microfone empunhado. Mesmo ligeiramente suado, continuava bonito, com o cabelo loiro escorrendo pelos olhos azuis elétricos – Hinata não conseguia acreditar que aquele garoto vinha mesmo da Ásia Oriental.

— Senhores e senhores, Hinoishi! – Robin Roberts entrou, fazendo a platéia agitar – Fiquem ligados, depois dos comerciais teremos mais músicas e os garotos da Hinoishi respondendo tudo que vocês querem saber!

As câmeras cortaram para a aérea, filmando o estúdio, e entraram para a publicidade. Robin mexeu em seu ponto eletrônico, cumprimentando Naruto e lhe dando algumas instruções em voz baixa. O loiro assentiu, arrumando seu próprio comunicador, e, em seguida, se virou para o guitarrista. As fãs gritavam seu nome ensurdecedoramente. Hinata, por outro lado, não teve tempo para apreciar os belos bíceps exibicionistas no telão; organizou a equipe de filmagem, locomovendo-se com agilidade para a grade inferior. Aquele era um ótimo momento para algumas fotos e pegar alguma declaração.

Abaixo do palco principal, ela ligou seu microfone, aproveitando-se da fúria dos demais jornalistas. Jamais venceria uma disputa de grito, então, valeria-se da maré. Naruto os ignorou, como esperado, e caminhou até o palanque secundário, agachando para conversar com algumas fãs. Ele estendeu a mão e pegou presentes, tirou selfies e cumprimentou o máximo de garotas que pôde. Hinata, a espreita, ficou assistindo a cena. Discretamente, puxou sua própria câmera e fotografou do melhor ângulo que conseguiu. Aquele era um lado do Uzumaki que raramente ela via nos arquivos da editora.

— Sasuke! Sasuke, uma palavrinha! – Hinata se virou, e alguns repórteres se acotovelavam sobre a grade. O guitarrista arrumava alguns dos cabos conectados aos amplificadores. Ignorando-os, ele revirou os olhos, dedilhando as cordas para obter o resultado que desejava.

A Hyuuga reprimiu uma careta. Embora a estilista deles soubesse o que estava fazendo – a combinação de roupas parecia por demais exagerada as vezes, mas definitivamente sabia valorizar um bom peitoral –,  maquiagem nenhuma seria capaz de disfarçar aquela cara antipática. De todos os integrantes, o guitarrista era o que Hinata menos gostava. Sim, ela passava o dia amaldiçoando aquele vocalista, contudo, ela simplesmente não conseguia simpatizar com Sasuke Uchiha. Não entendia como ele podia ser o favorito de Sakura – ainda que a garota já tivesse passado duas horas listando cada qualidade que ele supostamente tinha. Se fosse para escolher um, a morena provavelmente escolheria o baterista ruivo.

A equipe de filmagem se movimentou quando anunciaram a volta do programa. Os apresentadores se posicionaram estrategicamente, e Naruto retornou para o microfone, sorrindo como se sua vida dependesse disso. Hinata orientou os fotógrafos, registrando alguns bons ângulos, e anotou possíveis pautas frias – como “qual estilo de Naruto Uzumaki combina mais com você?” e merdas assim –.

— Voltamos com o Good Morning America, e aqui do meu lado está o vocalista da banda do momento, Naruto Uzumaki! – gritos histéricos tomaram conta do estúdio – A Hinoishi vem escalando uma trilha de sucesso desde que estreiou na América, em 2015. Esses quatros garotos deixaram suas vidas, suas famílias, seus amigos, em busca de um sonho. Naruto, me conta, como foi chegar em um país totalmente desconhecido, sem saber se as coisas dariam certo? – era quase uma obrigação ter aquela pergunta, mas, mesmo assim, eles registravam furiosamente cada palavra dita, anotando-as para as matérias.

— Bom dia Robin, bom dia América! – gritou, lançando o punho para cima e enlouquecendo a platéia. O desgraçado era mesmo carismático – É impossível descrever em palavras. Mesmo estudando e me dedicando a vida toda para isso, quando desembarcamos aqui em Los Angeles e percebemos que era real, nossa! – assoviou, tirando alguns risos – Foi absurdo. A Vocal Records já tinha entrado em contato para uma audição, mas nós não sabíamos se eles gostariam de nós, se iriam investir em nós. Tudo que eu tinha era dez dólares, um violão e esses caras aqui, meus irmãos. – se virou, sorrindo, e o público foi a loucura. Hinata rolou os olhos, tomando nota. Robin esperou a comoção passar, sorrindo para ele.

— Bom, só podemos agradecer que eles aceitaram o risco! – ela se virou para a câmera novamente – A Hinoishi foi a primeira banda japonesa a conseguir um disco de platina, batendo um milhão de vendas em seu último álbum, You Only Live Once. Com oito músicas no top 10 da Billboard Hot 100, seu último single ocupou o primeiro lugar por vinte e quatro semanas! – aplausos entusiasmados – É, também, a primeira banda não americana a receber duas indicações ao Grammy. Com um sexto álbum a caminho e uma nova tour, vocês esperam conseguir uma terceira indicação esse ano?

— Bom, eu estaria mentindo se dissesse que não. – encolheu os ombros com um olhar maroto, fazendo Robin rir – Quer dizer, é o sonho de todo artista. Mas nós somos muito gratos ao que conseguimos até agora, e devemos tudo aos nossos fãs. – mais gritos, e Hinata xingou mentalmente – Acho que se tivermos uma terceira indicação, seria maravilhoso, mas não estamos fissurados. Só queremos curtir nossa música.

— Naruto Uzumaki e a Hinoishi, senhores e senhores! Esses garotos são mesmo preciosos. – o auditório rompeu em aplausos, enquanto flashes explodiam no palco principal. Robin alargou o sorriso enquanto apertava o ponto em seu ouvido – Oh, minhas fontes me informaram que temos uma presença muito especial aqui. – burburinhos de expectativa. Hinata alertou-se, aproximando o gravador de um ponto estratégico – O que me diz, Naruto, alguém em específico no backstage? – as câmeras se moveram como abelhas, apontando para o fundo do palco, onde surgiu uma figura loira, acenando como se parecesse tímida – Ino Yamanaka!

A gritaria foi insana. Hinata fez uma careta, orientando para que todas as câmeras focassem na garota. Contudo, em vez de mover-se para os fundos, ela permaneceu, analisando as reações do vocalista. Ele continuava sorrindo, mas seu rosto estava congelado, o sorriso amarelo e os olhos vidrados. Interessante. Anotou em seu bloco pessoal de informações. Enquanto isso, Ino Yamanaka continuava a acenar e sorrir timidamente, como se tivesse mesmo sido pega de surpresa, apesar de não ter um fio fora do lugar e não parecer, realmente, envergonhada – ela era tão bonita e espontânea que deixava Hinata com raiva.

Com a confirmação do namoro pelas mídias sociais, era de se esperar que Ino marcasse presença no evento – Hinata definitivamente não estava interessada no assunto, mas ter que escrever três matérias sobre o assunto não lhe deixavam muitas opções –. O tweet apaixonado de Naruto e os stories dela no Instagram não pareciam deixar dúvidas sobre o relacionamento, mas a Hyuuga achou particularmente curioso analisar as reações do vocalista, que estavam longe de ser ardentes. Ele parecia quase incomodado. Ino acenava e ria como se tivesse sido pega no flagra admirando o crush da escola, despojada e divertida, por outro lado. Aquilo definitivamente seria algo que Hinata iria anotar – se ela precisasse investigar cada rede social daquela banda estúpida para se tornar uma jornalista de verdade, que fosse. Tsunade apenas amaria sua cobertura.

— Eles não são uma gracinha? – Robin alfinetou, e Naruto, parecendo ter despertado do transe, acenou para Ino.

— Então essa música é para você, meu amor! – anunciando, e, com o timing perfeito, o baterista iniciou uma contagem, arrastando a guitarrista com ele em uma balada romântica pop lançada no último álbum.

Hinata se afastou da multidão, satisfeita com o material que tinha. Entrou de volta no corredor de acesso, acessando o celular e mandando uma mensagem animada para Tenten – ela ficaria louca com aquilo –. A apresentação continuou bastante animada. Recostada com os braços cruzados, a Hyuuga se aproveitou de uma visão privilegiada que muitas fãs morreriam para ter – inclusive sua melhor amiga, que, naquele momento, deveria estar surtando através de um link ao vivo.

Seus olhos acompanharam o vocalista de um lado para o outro. Não era exatamente sua intenção, mas sentiu-se atraída por algo nele. Seria a postura de ídolo do rock descolado? A maneira que ele dominava o palco? Seus ombros estavam relaxados, todavia, não completamente. Vestígios de olheiras muito bem disfarçadas despontavam com o suor. Ele parecia quase hiperativo demais. Indícios de uma possível ressaca? Mais interessante ainda.

O programa não se estendeu muito mais que duas outras músicas. As fãs, estarrecidas, cantavam cada refrão, além de chamarem pelos membros. No final, os quatro se despediram, lado a lado, e foram ovacionados. A morena apenas esperou pacientemente até que sua equipe se deslocasse corredor afora, para que aguardassem a coletiva de imprensa – aquilo seria estimulante. Conseguiu ouvir uma ou duas passagens gravadas, mas precisariam de um tratamento de som depois.

Estava começando a fazer calor, e a camiseta apertava. Prendeu o cabelo, afastando alguns fios grudados em sua nuca, e seguiu para o lounge. Não resistiu aos petiscos, e mordiscou algumas bolachas. A quantidade absurda de café começava a fazer efeito, contudo, não teve tempo para lamentar a cafeína destruindo seu organismo – chamaram todos os credenciados para se organizarem na coletiva. Hinata correu, com seu crachá dependurado, e pegou o microfone oficial da Famous. Conseguiu um lugar na lateral, perto o suficiente para fotografar as reações, mas, infelizmente, longe o bastante para precisar gritar.

Os jornalistas estavam como urubus prestes a atacar sua carniça – e ela estava sendo gentil. Se acotovelavam, desde revistas sensacionalistas até jornais conceituados. A Hinoishi era, para todos os efeitos, a banda do momento, e uma coletiva oficial era raro; o foco, no entanto, era conseguir uma declaração do vocalista problemático. Manchetes exorbitantes atraíam mais cliques e visualizações que reportagens sérias, e Hinata estava pronta para concorrer naquele meio.

Eles chegaram em silêncio, mas o burburinho os denunciou. Sentaram-se na mesa comprida, com garrafas de água mineral cara e microfones desligados. Como uma comitiva, o baixista sentou-se no canto, seguido do baterista ruiva. O guitarrista sentou-se no meio, o que era uma novidade; o vocalista sentou-se ao lado dele, com o assessor executivo da banda, Kakashi Hatake – era uma posição estratégica. Hatake era mestre em livrá-los de perguntas embaraçosas e controlar as respostas atravessadas do Uzumaki. Provavelmente, manter o guitarrista no centro matava dois coelhos com uma cajadada só: ser o rosto destaque – porque o desgraçado era lindo – e conter Naruto.

Depois de organizados, os jornalistas se sentaram, e aguardaram a liberação das perguntas. Uma abundância de mãos cobriu o ar, agitando-se, e vozes se intercalavam incessantemente. Se não gostasse tanto da área, Hinata indiscutivelmente desistiria do ramo. Hatake olhou por cima, com olhos de gato, verificou suas possíveis opções, e apontou para uma das primeiras fileiras. O representante do Los Angeles Times se levantou. É claro.

— Como está sendo o processo criativo do novo álbum?

— Bom, está realmente bom. – o baixista respondeu. Hinata se lembrava dele das outras coletivas; era calmo e tinha espírito de liderança, sabia contornar transtornos e transmitia a tranquilidade que o vocalista certamente não tinha – Vamos começar uma nova tour em breve, e esperamos que visitar os lugares que gostamos nos ajude a finalizar algumas letras. Estivemos compondo em nosso apartamento, juntos, separados, apenas aproveitando o que pudermos. Iremos visitar o estúdio na próxima semana, e começar a gravar o quanto antes. – polido e entusiasmado. Mais mãos e vozes se ergueram, e a coletiva continuou.

Hinata esperou até que os grandes meios de comunicação tivessem sua vez; eram sempre as priorizadas, em vez dos tablóides sensacionalistas – por que será? –. Enquanto aguardava, cravou os olhos em Naruto, que não tinha respondido nenhuma pergunta ainda. Mantinha os braços cruzados e o rosto displicente. A garota, então, teve a mesma sensação de quando o viu entrar no palco. Algo estava errado.

Depois de três ou quatro questionamentos, uma mulher do The Sun foi chamada, surpreendentemente.

— Eu gostaria de perguntar para Naruto Uzumaki. Ele poderia falar mais sobre seu relacionamento com Ino Yamanaka? – alguns murmúrios animados embasaram a pergunta, porém, antes que Naruto pudesse fazer menção de responder, Hatake puxou o microfone para si, falando com aquele tom condescendente e firme.

— Desculpe, perguntas sobre o relacionamento dos integrantes não serão respondidas. – uma onda de protestos e comentários invadiu o salão.

— Por que não? – de repente, eles se calaram. Pouco a pouco, todos se voltaram para ela. Hinata, em um movimento impulsivo muito idiota, tinha se levantado, com o microfone firme em suas mãos. Era sua chance. Ela tinha de representar a Famous, e assim o faria. Até mesmo os integrantes se voltaram para ela, mas a morena não pôde apreciar o fuzilar irritado que estaria recebendo do vocalista – Por que não irão comentar? Por acaso têm algo a esconder? – provocou, mantendo um tom enérgico que não sabia que tinha.

O silêncio era mais perigoso que se todos eles tivessem começado a gralhar ao mesmo tempo. Hinata permaneceu de pé, enquanto era observada pelos olhos famintos e ansiosos dos demais redatores, ávidos por uma boa polêmica. Hinata não pensou nas consequências – atrair fama negativa para a revista, ou até mesmo ser reconhecida pelas fãs malucas da banda e perseguida para sempre nas redes sociais. Naquele momento, parecia o certo a se fazer.

Mas ela estava com sorte.

Naruto também se levantou, antes que Hatake ou o guitarrista pudessem impedi-lo. Seus olhos não pareciam focar, ainda que a encarasse, e, de longe, ele não pôde ler seu crachá, embora pudesse supor qual veículo ela representava. O cabelo preso e os óculos de descanso a deixavam mais velha e profissional.

— E o que você tem a ver com a minha vida pessoal, doçura? – inclinou-se, a voz exalando sarcasmo, mas Hinata não se deixaria abalar por algo tão ridículo.

— Bom, você é uma figura pública, e divulga tudo em suas redes sociais. Não estou perguntando nada demais, a não ser que você tenha algo a esconder. – terminou com um sorriso afetado.

Aconteceu tudo muito rápido. Ele pareceu ter perdido a paciência, e espalmou a mão contra a mesa, derrubando o microfone. Por estar acoplado aos outros, puxou todos em uma sequência de queda livre, criando uma interferência sonora insuportável. O vocalista parecia querer rodear a mesa e avançar sobre os jornalistas, mas Sasuke Uchiha – justamente como ela previra – o impediu, segurando firmemente seu braço. O Uzumaki debateu-se, gritando algo como “Você quer saber o que...!”.

É claro que cada câmera disparou centenas de flashes contra a cena, e Hinata crispou os lábios, grata pela atenção ter sido desviada dela – lamentavelmente, ao custo do pavio curto do garoto. Os demais integrantes se levantaram rapidamente, ajudando o guitarrista a arrastar Naruto, e Hatake deu a coletiva como encerrada, finalizando o cortejo que caminhava para a saída.

Assim que eles desapareceram no corredor, as equipes se organizaram, prontas para ir embora e editar todo aquele material bruto de qualidade. Hinata suspirou pesadamente, reunindo-se com os fotógrafos e entregando o microfone a eles, com todas as gravações daquela manhã. Orientou-os a preparar a van para irem embora sem ela, e os encontraria na editora em poucos minutos.

No momento em que se viu sozinha, Hinata correu – quase literalmente — para o banheiro dos convidados. A primeira coisa foi esvaziar a bexiga – porque ela estava realmente cheia de café. Em seguida, estagnou na frente do espelho, com as mãos apoiadas sobre a bancada. Respirou fundo, deixando que o cansaço finalmente a abatasse. Nunca tinha saído da redação – nenhum estagiário tinha –, e aquela rotina era simplesmente insana. Sua cabeça doía, e ela desfez o nó do cabelo, deixando que caísse sobre suas costas. Retirou os óculos de grau, substituindo-os pelas lentes escuras. Puxou da bolsa uma blusa de flanela, tirando a camisa formal e se livrando do aperto daqueles botões.

Finalmente, puxou o crachá do pescoço e guardou na carteira, com um sentimento de satisfação e dever cumprido. Àquela altura, a maioria das equipes já tinha ido embora, e ela poderia sair pelos fundos sem pegar uma multidão. Contornou o corredor do banheiro, esgueirando-se até a saída de emergência, nos fundos, mas estava enganada; gritos e empurra-empurra tomavam conta do lugar.

Hinata parou, surpresa. O que estava acontecendo? Um corredor de fotógrafos e papparazzi, que não podiam entrar nos eventos oficiais em estúdio, aguardavam do lado de fora, atropelando-se com as máquinas em riste. Aquela era a saída dos fundos, e a Hinoishi – supondo que a banda era o motivo de todo aquele alvoroço – sempre saía pelo caminho principal.

Sua pergunta interna foi respondida quase que imediatamente. Da intersecção dos corredores, surgiu o vocalista, com as roupas amassadas e o rosto molhado. Ele parou quando viu a quantidade de gente, o rosto em pânico. Ao avistarem o líder, começaram a gritar, e uma onda de luzes iluminou o corredor. Havia mais ou menos trinta pessoas, que só não invadiam o prédio porque três seguranças brutamontes seguravam-nos na saída. Mesmo assim, o Uzumaki precisava sair; todavia, seria impossível, naquela situação.

Vão comer ele vivo!

Hinata odiava papparazzi, com todas suas forças. Eram vermes parasitas que se aproveitavam de todo e qualquer momento de falha para vender isso à revistas nojentas de fofocas – tampouco ela negava a culpa da Famous nisso. Uma coisa era registrar uma resposta atravessada, uma queda no palco, um deslize na entrevista. Outra coisa era invadir o espaço pessoal de uma pessoa, obrigá-la a agredi-los simplesmente para poder andar.

A confusão estava se tornando generalizada. Naruto tentava avançar, mas pares de mãos tentavam agarrá-lo. Não havia outro jeito, e Hinata conseguia ver o desespero em sua fisionomia.

Com poucos segundos para pensar, a garota tomou o que seria a pior decisão de toda a sua vida.

Em passos firmes, alcançou o vocalista pelo pulso e o puxou, desequilibrando-o, e, sem olhar para trás, começou a correr.

 


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Notas finais do capítulo

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