Atlântida escrita por Petty Yume Chan


Capítulo 10
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

AAAAAH PENÚLTIMO CAPÍTULO !!!!!!!
Estão ansiosos????? Eu estou *000*
Curiosidade: As cenas finais desse capítulo foram as primeiras cenas que eu imaginei... Sim, toda a fic surgiu por causa desse capítulo rs'
Boa leitura !!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774550/chapter/10

Entre empurrões e solavancos eles acabaram por alcançar o enorme hall do que parecia uma espécie de castelo medieval. As paredes seguiam em um degrade do branco ao verde e diversas pilastras incrustadas por conchas variadas se espalhavam pelo salão. As enormes janelas que ornamentavam as paredes davam-lhes a sensação de estar presos dentro de um grande aquário e no fim do corredor uma escadaria se estendia até uma única porta dupla.

Ainda cercados por tridentes e lanças ambos foram postos no meio do local, obrigados a esperar por alguns minutos enquanto os guardas trocavam palavras desconhecidas entre si. Depois de algum tempo finalmente um dos guardas se pôs a frente de todos trazendo um grito de anuncio.

— Em sua presença, a rainha Níneth de Atlântida.

Em segundos todos da sala se dobraram sobre um único joelho em sinal de submissão, sobrando apenas Armin e Mirela de pé no meio do salão. Não demorou para que as grandes portas se abrissem, revelando a bela figura feminina que seguiu a descer pela escadaria.

Era irônico como a rainha do lugar era aquela a qual tinha a aparência mais próxima de um humano comum. A pele de um branco intenso – semelhante ao das perolas – carregava tatuagens de flores aquáticas em seus ombros, os cabelos seguiam em um degrade de azul, ondulando atrás de si como se tivessem vida própria. O corpo bem definido trajava um longo vestido preto com enormes fendas em suas laterais, de forma que ambas as pernas ficassem completamente expostas, pernas essas que, ainda que apresentassem um aspecto humano, eram incrustadas por diversas escamas azuis escuras e os pés envoltos por membranas que se alongavam como nadadeiras, ao todo, era como ver a cauda de uma sereia ser divida ao meio e lhe servir como pernas.

A mulher se aproximou dos dois, permitindo assim o vislumbre de suas feições. Os enormes olhos bicolores que iam do verde ao azul apresentavam um brilho gentil e, em conjunto com os lábios carnudos e rosados, davam-lhe uma aparência inocente, quase infantil, ainda que símbolos desconhecidos estivessem pintados em uma linha vertical desde a sua fronte até a altura dos seios. Os olhos da mulher vagaram de Mirela para Armin antes de ela abrir um enorme sorriso e soltar uma voz doce e melodiosa.

— Perdoem os meus guardas. É que já faz tanto tempo desde que recebemos visitantes que eles acabaram por se esquecer como ser bons anfitriões. Vocês devem estar cansados da viagem, vou providenciar a melhor recepção. Ande, deixei-os ir.

Com as simples palavras da mulher todos os guardas saíram de suas posições de ataque, deixando Mirela e Armin completamente livres. Todos na sala adotaram uma atmosfera calma e despreocupada, como se não houvessem sequer os ameaçado de morte alguns segundos atrás. A mulher deu um aceno para que ambos a seguissem mas, no fundo de si, Mirela sentia um pequeno incomodo que a alertava para ficar cautelosa.

 — Eu não confio nela.

Sussurrou para Armin no momento em que ficaram a uma distancia segura tanto da mulher quanto de seus guardas, à medida que eram guiados para a grande porta no fim da escada.

— Não se preocupe, eu também não confio. Mas vamos seguir o jogo por enquanto, até conseguirmos ter certeza do que estamos lidando.

Acenaram em concordância um para o outro, era verdade que estavam em um terreno desconhecido e em clara desvantagem, começar uma guerra por conta de suposições seria, no mínimo, imprudente. Enquanto seguissem com cautela poderiam conquistar a confiança da moça e, provavelmente, sair dali sem maiores problemas. Assim eles seguiram sem protestar, fazendo o seu papel de bons convidados.

{✠}ݯݮݯݮݯݮݯݮ◣ ◥ݯݮݯݮݯݮݯݮ{✠}

Seguindo com a boa convivência, os dois acabaram por se surpreender com o quão receptiva Níneth poderia ser, fazendo questão de apresentar-lhes um enorme jantar baseado em frutos do mar. O entusiasmo preenchia a voz da mulher conforme ela contava cheia de orgulho sobre a sua cidade, seus costumes e seu povo. Embora a desconfiança ainda estivesse presente no fundo da mente, poderiam dizer que, por um momento, apreciaram de uma boa companhia, a rainha não hesitava em responder todas as perguntas que eles faziam, e no fim se ofereceu para leva-los pessoalmente em um tour pela cidade.

Caminharam por horas pelas ruas da cidade, que agora se encontravam muito mais movimentadas uma vez que, os supostos invasores, agora eram convidados oficiais da rainha. As luzes naturais do ambiente davam um brilho mágico ao local, e a peculiaridade de seus habitantes agora já não era visto com olhos de estranheza, mas de beleza e apreciação. Tudo ao redor se sentia leve, e eles sentiam que poderiam dizer terem tido uma missão bem sucedida, infelizmente, isso só durou até o momento em que passaram pela enorme torre a qual sustentava o relógio da cidade, e Mirela percebeu então que lhes restavam apenas mais trinta minutos antes do amanhecer.

— Desculpe, mas acho que chegou a hora de irmos.

Ela iniciou cautelosa, chamando a atenção dos dois acompanhantes para o enorme relógio. Embora não tivesse estudado muito sobre a cidade, com um pouco de dedução chegou à conclusão de que uma cidade que só estava aberta para o publico durante a ultima noite de verão, provavelmente se fecharia quando a mesma acabasse, não permitindo que nada entrasse e, consequentemente, não saísse. Tal teoria só se provou mais correta no momento em que recebeu uma afirmação de Armin.

— Muito obrigado pela hospitalidade Níneth, gostaria que pudéssemos ficar mais tempo. Quem sabe não voltemos no ano que vem.

— Vocês não podem sair. — A resposta veio seca e sem emoção, fazendo um arrepio correr pela espinha dos dois. Por um momento, Mirela quis acreditar que Níneth era apenas o tipo de anfitriã que adorava visitas e sempre insistia para que elas ficassem por mais algum tempo, entretanto, o rosto inexpressivo da mulher também lhe causavam serias duvidas. — Vocês pertencem a Atlântida agora.

A realização infelizmente atingiu o consciente de Mirela tarde demais, mas agora todos os pontos se encaixavam. Eles haviam ultrapassado as barreiras de uma cidade mística que estava escondida a sete chaves sob o oceano e, ao invés de serem jogados em alguma masmorra, foram tratados como convidados de honra, podendo assim desbravar todos os segredos do lugar. Era claro agora, desde o começo estavam sentenciados a ficar para sempre naquele lugar, afinal de contas, eles sabiam demais.

Inconscientemente ela agarrou o pulso de Armin, a mente refazendo todos os caminhos que haviam tomado pela cidade desde o momento em que haviam chegado até agora, esperava que só as suas lembranças fossem o suficiente para conseguir improvisar o caminho mais rápido. Afinal de contas eles só teriam meia hora e, levando em conta o clima pesado que se formava no ar, eles provavelmente seriam perseguidos.

— Temos que ir, agora!

Mirela puxou o braço do rapaz e ambos se puseram a correr, saindo do local só em tempo de ver a forma imaculada de Níneth se desfigurar em algo ameaçador. Os símbolos dispostos em sua pele brilharam e o branco dos olhos cedeu espaço ao preto, os lábios rosados exibiram os enormes dentes pontiagudos e, as flores que uma vez foram apenas pinturas, desabrocharam em flores reais, trazendo consigo ramos espinhosos que se enrolaram pelos braços de sua hospedeira, subindo para o pescoço e chegando até a cabeça, formando uma espécie de coroa.

— Não podem sair! Guardas!

Os pés já batiam velozes contra o pavimento das ruas. A mente de Mirela tentando assimilar os caminhos o mais rápido possível enquanto eles faziam curvas aqui e ali, tentando despistar os guardas que os perseguiam. Vez ou outra acabavam por se encontrar encurralados, mas não demorava até que as espadas trabalhassem juntas para abrirem a força um caminho para si. Não sabiam se era por conta de já terem lutado um contra o outro diversas vezes, mas conheciam seus movimentos de forma que estavam perfeitamente sincronizados, não importava o ângulo de que se olhassem, eles formavam uma boa equipe.

— Foram sete pra mim.

— Não é hora de competições Armin.

— Então você admite a minha vitoria?

Em uma parada súbita a garota se virou, a arma já disposta para o ataque, Armin só teve tempo de vislumbrar a escuridão interior do cano da arma antes de ouvir o som do disparo e o baque de metal atrás de si, se virando bem a tempo de ver um dos guardas ir ao chão.

— Com esse foram nove. Acho que você esta perdendo o ritmo, está cansado?

— Estou só me aquecendo. — Disse com o sorriso debochado costumeiro.

— Ótimo, veja se consegue me acompanhar.

Embora trocassem provocações entre si – em uma tentativa de agir como se toda a situação estivesse sob o seu controle – a verdade era que a tensão devorava-os por dentro. Ambos estavam cientes de que o seu tempo estava acabando, fato que só era confirmado pela atmosfera da cidade que se preparava para fechar suas portas. Todo o ar ao redor voltava a sua forma liquida, fazendo com que agora eles se encontrassem mais nadando do que correndo, coisa que lhes dava uma clara desvantagem em relação aos guardas e suas nadadeiras. O oxigênio já não mais existia naquele lugar e tudo o que eles tinham era o pouco de ar que conseguiram segurar em meio ao cansaço, mas os pulmões já começavam a ser maltratados pela água salgada do mar.

Estavam a beira da exaustão quando viram a superfície enorme da redoma se estender diante de si, a ultima parede que separava aquele lugar de sua realidade, a esperança de sair trazendo a ultima das forças que precisavam para se mover em direção a saída. Uma distancia que não iria muito além de cinco passos, isso era tudo o que os separava da liberdade, já podiam quase sentir o momento em que cruzariam a barreira e voltariam para casa, voltariam a sua rotina comum, provavelmente encontrariam algum motivo para digladiar-se entre si sobre as mesas do Centauro Prateado, mas seria diferente, uma vez que dessa vez seus interiores saberiam que uma vez foram companheiros. Todavia, toda a imagem se dissolveu no momento em que Mirela sentiu o seu corpo ser segurado e uma forte dor lhe açoitar o antebraço esquerdo.

O grito saiu mudo, deixando apenas pequenas borbulhas na água. Buscou o local da dor apenas para encontrar a videira espinhosa que lhe perfurava a carne, o vermelho de seu sangue já começava a manchar os arredores e, a distancia, ela viu os guardas se aproximando. Tentou lutar contra o ramo, mas cada movimento lhe trazia uma dor dilacerante, até que ela se viu mais incapacitada no momento em que outros dois ramos se enrolavam a sua coxa e cintura.

Armin chegou ao seu lado, lutando contra a pressão da água para conseguir cortas as vinhas, mas quando o fez apenas se viu sendo agarrado pelas mesmas, fazendo com que ambos se encontrassem igualmente presos. Mirela olhou para trás, para os guardas que se aproximavam, claramente o seu tempo estava acabando. Olhou para frente, para a redoma que estava diante de si, estavam tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Olhou para o homem ao seu lado, ambos já flutuavam muito longe do chão, feridos e cansados, com no maximo mais alguns minutos de vida. Os olhares se encontraram, o contraste da escuridão do mar com os corais luminosos davam uma coloração especial aos profundos olhos azuis a sua frente. Não conseguiam dizer o que pensavam, mas não precisavam de palavras.

Era como se o tempo houvesse parado, esquecendo a dor em seus corpos, esquecendo o ardor da falta de ar, esquecendo os perigos ao redor, naquele momento apenas os dois existiam. Ninguém saberia dizer o que se passou pela mente dos dois no momento em que seus lábios se tocaram, mas não havia necessidade de saber, aquele seria um segredo dos dois a qual morreria com eles. Seu amor se perderia com Atlântida.

Quando se separaram Mirela esperava sentir o pouco que restara de seu ar se esvair – não que ela se importasse, seu interior acreditava ter gasto o ultimo suspiro em uma boa causa – todavia, para o seu espanto, presenciou uma sensação contraria ao esperado, como se os seus pulmões estivessem mais cheios de ar. Entretanto, quando abriu os olhos, viu sua confusão migrar para o desespero uma vez que o homem a sua frente estava a ponto de sucumbir perante a força das águas. Seus dedos tentaram alcança-lo, mas ele respondeu repelindo-a e, com suas ultimas forças, cortou as ultimas vinhas que a seguravam.

Não teve tempo de reagir, não teve tempo de protestar, todas as videiras se entrelaçando no corpo de seu agressor e, os braços fortes que uma vez lhe abraçaram, agora a empurravam para longe. Mirela sentiu as costas colidirem contra a parede gelatinosa, e então ela estava fora. Havia conseguido sair, mais isso não importava, uma vez que estava sozinha. Nadou em direção a redoma mais uma vez, conseguia ver a figura do rapaz tão próxima de si, sentia que quase poderia alcança-lo e puxa-lo para si, mas no momento em que tentou os dedos se encontraram com a superfície, agora solida, da redoma.

O desespero assumiu o controle de suas ações, os punhos – tão fechados a ponto das unhas cravarem na própria pele – socavam o vidro a sua frente com toda a determinação de quebra-lo, mas era em vão, tudo era em vão. Viu os guardas se aproximando ao fundo, mas diferente de antes, eles não tinham pressa, marchando em um ritmo constante, como se tivessem todo o tempo do mundo disponível. Ali Mirela percebeu que o seu tempo havia acabado.

Buscou o rosto de Armin uma ultima vez, ele estava claramente entregue a exaustão, o corpo envolto por vinhas não se movia, todo o seu arredor sendo mesclado pelo vermelho do sangue que se espalhava, o rosto perdera toda a cor que uma vez teve, mas ainda assim os seus olhos se encontraram, e ele sorriu para ela, o mesmo sorriso sacana de sempre. Ela sentiu um aperto no peito e um nó se formar na garganta, se não estivesse mergulhada em água, provavelmente seria possível ver lagrimas escorrerem dos olhos mogno.

Assim como outrora foi puxada para baixo, Mirela sentiu novamente a pressão da água se movendo em alta velocidade ao seu redor e, como se houvesse caído no meio de um rodamoinho, ela se viu puxada de volta para a superfície. Mas não antes de imaginar ter visto o brilho se desvanecer dos profundos olhos azuis.

O ar entrou de uma vez em seus pulmões, em um ímpeto quase desesperado, fazendo com que suas narinas ardessem e ela se engasgasse sob a sua própria respiração. Caída à beira da praia ela tossiu algumas vezes, trazendo de volta uma quantidade razoável de água que havia engolido, os ferimentos ardiam em contato com o sal, mas não era nada comparada a dor em seu peito.

E, uma vez que já se encontrava mais estabelecida e com os pulmões novamente cheios de ar, ela gritou. Gritou para o nada e para o tudo, gritou para quem quisesse ouvir, gritou para os sentimentos que manteve trancafiado nos últimos tempos, gritou para o céu que era tingido pelos primeiros raios de sol de uma nova estação.

E assim, a ultima noite de verão chegou ao seu fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não me matem ainda !!!!! ashuahsua
Esse seria meio que o último capítulo da fic, mas nós aindas temos um epílogo com uma passagem de tempo. Então não tirem conclusões precipitadas e esperem até amanhã para decidirem se vocês vão me odiar ou não ♡
Obrigada pelo seu comentário.
Até amanhã !!
Kissus da yume. ♡



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Atlântida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.