Insieme escrita por Ariel F H


Capítulo 1
Insieme


Notas iniciais do capítulo

eu s e m p r e quis escrever uma fanfic em que o will e o nico são trans

minha missão aqui eh espalhar a falada da transgeneridade.

uh,, acabou saindo isso aqui. espero que gostem ^-^

me avisem qualquer erro por favorzinho ♥

boa leitura! ♥

ah! qualquer dúvida é só pedir :P



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774392/chapter/1

Will ficava um pouco assustador segurando uma seringa.

Ou talvez isso fosse apenas porque Nico, mesmo depois de quatro meses, não tinha superado totalmente o medo de agulhas.

Will, obviamente, achava aquilo um pouco engraçado.

“Você tem essa cara de punk, com essa tatuagem de caveira no braço e ainda assim tem medo de agulha” era o que ele dizia.

“Eu não tenho medo de agulha” Nico sempre respondia.

A verdade é que ele tinha, sim. Graças à uma história da infância, mas jamais admitiria isso em voz alta — mesmo que ele achasse que sua irmã provavelmente contaria a tal história para Will em algum momento apenas para ver a cara de Nico.

Will levantou o rosto para pegar um pedaço de algodão e seus olhos encontraram os olhos de Nico encarando as duas seringas em cima da bancada da cozinha. O canto da boca de Will se curvou para cima. Ele segurou uma seringa na frente do rosto e disse, como se fosse um enfermeiro e Nico fosse uma criancinha:

— Eu prometo que você só vai sentir uma picadinha.

Nico forçou uma cara feia para ele.

— Eu odeio você.

Will deu uma risada ao mesmo tempo em que fez um gesto vago em direção à Nico.

— Vira. — ele disse.

Nico se virou, pensando, mais uma vez, que aquela era a única situação em que não ficava feliz em ouvir Will pedindo para que se virasse de costas.

Abaixou a própria calça de moletom, sentindo, logo em seguida, na nádega direita, o frescor do algodão molhado em álcool.

Apoiou uma das mãos no mármore da bancada, sabendo o que viria a seguir. Já estava se acostumando com aquilo, mas sempre ficava meio nervoso. Não doía, não de verdade, mas a sensação de uma agulha o furando o deixava agoniado.

Foi rápido, como sempre. Antes que se desse conta, Will estava esfregando novamente o algodão nele e deixando a seringa em qualquer canto.

Nico suspirou.

— Pronto. — Will murmurou. Ele de um beijinho no ombro de Nico enquanto Nico colocava a calça no lugar. — Só uma picadinha, viu?

— Cala a boca. — Nico resmungou, amarrando a cordinha do moletom novamente. — Eu não tenho medo de agulha.

— Eu nem ao menos mencionei isso.

— É sempre bom deixar claro.

— Eu não sei como você não desmaiou de medo quando foi fazer a tatuagem.

— É diferente.

— Você tem conceitos bem estranhos de diferença.

Nico se virou para Will, ficando de frente para ele, com um argumento na ponta da língua, mas se perdeu quando viu Will com a outra seringa na mão, aplicando a dose de testosterona na própria barriga como se não fosse nada demais. Claro, já tinha visto ele fazer aquilo várias vezes, mas mesmo assim...

Farabutto! — Nico deixou escapar, o sotaque italiano carregado como sempre quando dizia algum palavrão no idioma materno.

Ficcati un dito in culo. — Will disse, sem nem desviar o olhar, soletrando as palavras lentamente, sem muita prática.

Ele só sabia o que estava ouvindo e dizendo porque Nico o ensinar palavrões em italiano era um passatempo muito divertido. “Ficcati un dito in culo” era a frase favorita de Will no momento. Às vezes, ele a dizia sem contexto algum, apenas pelo prazer de as dizer.

Nico ficou aliviado quando Will colocou a seringa na bancada, junto com a outra e, ainda passando algodão em si mesmo, disse:

— Viu? Meu italiano está ótimo.

Nico precisou dar uma gargalhada. Will mal conseguia dizer “buongiorno”.

— Por favor, não deixe meu pai ouvir isso. Ele já está de mal humor com você por te ver colocando ketchup na pizza mês passado. Sabe como meu pai é.

— Seu pai me ama. — Will disse, com uma convicção adorável.

— Meu pai te acha uma pessoa decente para um estadunidense. Só isso.

— Uh… Isso provavelmente é verdade.

Will largou o algodão junto com as seringas e se aproximou de Nico, segurando seu rosto com as duas mãos e dando um selinho rápido em seus lábios.

— Como está sua voz em quase cinco meses de testosterona? — ele perguntou.

Nico sorriu.

— Eu só quero uma barba. — respondeu. — A vida é injusta. — comentou, levantando uma das mãos e tocando com a ponta do dedo a bochecha de Will. — Você já tem pelinhos e eu não tenho nada.

— Eu tenho uns fiapos. — Will disse. — Que parecem pentelhos, por sinal. Precisou tirar.

— Não fale assim da sua barba. — Nico o repreendeu. —  Eu gosto dela.

Will fez um barulho engraçado com a garganta.

— Você vai ter uma barba um dia. — falou, olhando para o rosto de Nico, como se procurasse por algo. — Logo vai nascer pêlos no seu rosto e eu vou comprar pra você todo tipo de produto esquisito que existe pra passar na barba… Mas eu vou passar o resto da minha vida tirando os pentelhos da minha cara.

— Respeite a barba, Will. — Nico tentou fingir um tom repreensivo, mas estava sorrindo. “Você vai ter barba” era uma frase que o deixava tão feliz que chegava a ser bobo.

Toda vez que parava para pensar, não conseguia deixar de refletir o quão surreal era aquilo tudo: os dois, fazendo aplicações de testosterona juntos e criando planos para o futuro.

Há dois anos atrás, quando começaram a namorar e ainda eram apenas garotos no ensino médio, essa situação toda parecia muito longe de se tornar real, mas ali estavam eles.

Na primeira vez em que Will aplicou os hormônios, os dois estavam na casa de Nico, as mãos de Will estavam tremendo, Nico chorou de felicidade por quase meia hora e Will ficou gravando vídeos extremamente aleatórios. “Para registrar como a gente era antes da T”, ele disse.

Agora eles faziam as aplicações no apartamento em que dividiam, as mãos de Will estavam firmes e, sempre depois de uma aplicação, gravavam um vídeo juntos para comparar o que estava mudando em seus corpos — e em suas mentes também. Além disso, tinham outros planos, como, por exemplo, mastectomia, ou onde passariam o ano novo, como comemorariam o aniversário de namoro, qual seria o jantar daquela noite, o que dariam de presente de noivado para seus amigos que estavam de casamento marcado.

Nico puxou Will pela nuca, colando seus lábios novamente, dessa vez em um beijo mais demorado. Se sentia o homem mais sortudo do mundo por poder beijar o homem mais lindo do mundo e ainda ouvir que era amado por ele.

Não havia sensação melhor do que essa.

— Vamos. — Will disse, quase num sussurro, dando selinhos em Nico e o puxando pela cintura. — A gente precisa gravar o vídeo desse mês.

Nico se deixou ser levado para a sala, onde Will dizia que a iluminação era melhor.

Não poderia estar mais feliz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Insieme" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.