Amávio
Prólogo

Eu tinha uns doze anos quando me apaixonei a primeira vez. Ele era um garoto cheio de amavio e poder sobre mim. Era uns três anos mais velho e eu nem tinha idade para namorá-lo. Minha mãe não permitia que eu falasse com ele também, então a gente se via através da cerca da minha casa em alguns horários estratégicos e ele deixava alguns recados presos no tronco da minha casa na árvore. Tenho todos guardados até hoje numa caixinha em formato de coração. O meu favorito é um que ele deixou no meu aniversário de treze anos e mesmo que eu tenha sofrido muito após aquele bilhete, hoje em dia vejo como me fortaleceu em alguns aspectos.

“Lorena,
tu és a melhor, mas não damos mais certo há algum tempo.
Te amarei para sempre,

Luiz.”

A segunda vez, no entanto, me apaixonei por Maria Eustáquia. Era uma garota que veio do interior para Porto Alegre tentando uma carreira de modelo. Ela era sempre mediana para as agências, no entanto, era sempre a melhor para mim. Foi o meu primeiro beijo: cheio de luxúria, língua e apertões. Ah, Maria Eustáquia sabia bem o que fazia quando apertava minhas nádegas contra a sua cintura!

Acabamos com o final do ano em que completei quinze anos. De repente, não fazia o menor sentido namorar alguém. Não fazia o menor sentido mais nada, na verdade, então terminei com ela. Eu sofri como não achei que sofreria, enquanto duas semanas depois ela já estava beijando outra garota no banheiro da escola.

Eu só superei Maria Eustáquia quando, aos dezesseis, abri meu coração para que João Vitor se alojasse lá dentro por algum tempo. Lembro-me desse tempo com as seguintes palavras: poesias, gramado, nuvens, outono, canivete e gloss de melão. E foi um ótimo tempo, até eu abrir as pernas e João Vitor fechar o seu coração. Ah, João Vitor… Eu não te perdoo e ainda quero as suas entranhas!

Mas o sol sempre nasce de novo. E mesmo que você diga que nunca vai amar de novo, que nunca vai superar, que nunca vai deixar ir… Você acaba fazendo. Você acaba lidando. No fundo, você sabe que ainda tem alguma força, mesmo que o medo seja quase maior.

Eu sabia que ainda tinha alguma força quando me apaixonei por Domingues. De repente, no auge dos meus dezoito anos, me vi em uma situação completamente diferente de qualquer outra em que eu já me enfiei.

Eu estava apaixonada pelo chefe da minha mãe.