Quando foi mesmo que começou a se sentir assim? Se pudesse lembrar da primeira vez que começou a ver Lucy Heartfillia com outros olhos, Natsu, certamente, pararia a si mesmo... Ou talvez não. Não que achasse realmente ruim se sentir romanticamente - e sexualmente, diga-se de passagem - atraído pela companheira de time, ele até gostava. Contudo, odiava a parte do ciúme excessivo que sentia ao vê-la perto de outros homens, dos olhares indiscretos que ela não percebia e, mais ainda, do desespero que sentia sempre que a via triste ou infeliz. Porém, assim como odiava tudo isso, amava cada sorriso e alegria expressada pela garota. Seus sentimentos eram assim, uma constante montanha russa de gostos e desgostos.

Agora, encostado em uma parede distante no canto da guilda, Natsu permanecia com os olhos fechados e com o semblante sério. Sério demais para alguém tão animado e energético como ele. Até mesmo Mirajane não entendia o que estava acontecendo com o mago. Ah, mas Natsu definitivamente não estava desapercebido. Embora parecesse que estava alheio ao que acontecia, o olfato e audição do Dragneel estava atento a uma presença especifica no local.

Ela havia chegado a exatos 43 minutos e 15 segundos e, no momento, estava puxando o banco para se sentar no balcão onde Mira trabalhava. Nos 3 primeiros minutos em que adentrou a guilda, foi abordada por Cana, a qual insistia para que bebesse com ela. Lucy, é claro, recusou. Passou 15 minutos conversando com Levy sobre algum livro que Natsu não fazia ideia do que era e, honestamente, não lhe interessava. Mas a voz de Lucy sim, ela estava empolgada. Exatos 2 minutos depois, Gajeel chegou, importunando a pobre McGarden e atazanando Lucy. Natsu daria o troco pela loira depois, isso com certeza faria. Nos próximos 10 minutos, Wendy se achegou a ela e lhe perguntou sobre o perfume que a Heartfillia usava. A Dragon Slayer sentiu a fragrância suave e, curiosa, lhe indagou. O mago também havia sentido no primeiro segundo que Lucy chegou. Gardênia. Agora era um dos perfumes preferidos de Natsu. Um alerta soou na cabeça do Dragneel quando a loira confessou ser um presente, seu semblante se tornou sério, mas logo se suavizou quando descobriu que fora Anna Heartfillia - parente distante de Lucy - que havia presenteado. A partir desse momento, uma conversa sobre cheiros se iniciou, no entanto, fora interrompida em 2 minutos e 35 segundos por um Gray exposto demais para o gosto de Natsu. Ele sabia que o mago de gelo já havia tirado boa parte das roupas e não gostou. Aquele exibicionista seria tostado se não se afastasse de Lucy em 2 segundos. Quando estava prestes a acender um chama em suas mãos, Juvia aparece para tirar seu Gray-sama de perto da "rival do amor". Natsu agradeceria mais tarde, mas deixaria claro que Lucy não era sua rival, mas sim, inteiramente dele.

Por 9 minutos e 58 segundos conversou com Erza sobre a última missão solo da ruiva e a Scarlet lhe aconselhou sobre como funcionava o reequip. Aparentemente Lucy estava curiosa sobre isso e queria saber se conseguiria utilizar o mesmo princípio em seu Star Dress. Natsu sorriu, orgulhoso da loira, ela queria se tornar mais forte e ele a ajudaria com isso com todo o prazer. Além, Lucy também provocou Erza em relação a Jellal, ela queria tanto quanto a Scarlet que o relacionamento entre eles evoluísse. Erza corou e Lucy gargalhou. Oh! Aquele doce som era música para os ouvidos do mago. Por fim, se dirigiu ao balcão e durante sua caminhada parou para cumprimentando Alzack e Biska, além de chamar Asuka-chan para comer com ela, a pequena lhe sorriu e agarrou as mãos da maga, arrancando um sorriso de Lucy e outro de Natsu. Por um breve momento, Natsu se permitiu vagar em algum sonho distante, onde ele e Lucy andavam de mãos dadas a uma pequena criança. Ela seria uma mistura perfeita dos dois, mas certamente, puxaria Lucy. Natsu desejava isso.

Quase não se conteve quando Lucy perguntou por ele. Teve que morder a parte inferior dos lábios para reprimir o sorriso que ameaçava surgir ao saber que a - sua— loira procurava por ele.
—Onee-san, Natsu não saiu daquela parede o dia inteiro. Será que tá doente? - Aaaah minha querida Asuka-chan, sempre tão esperta! Porque Natsu definitivamente estava doente e o nome de sua doença era Lucy Heartfillia. Assim como sua cura era a mesma maga celestial.

— Ele está bem? - Lucy indagou Mira, com a voz um pouco mais baixa que o usual. Mesmo ela tendo praticamente sussurrado, ele sentiu a entonação inquietante na voz delicada. Seu ego inflou, ela se preocupava com ele.

— Eu não sei, Natsu não se mexeu um centímetro se quer desde que chegou.

— Hmm..

Ela viria até ele. Sabia disso. Podia ouvir os dedos delicados da maga celestial batendo na madeira do balcão. Sentia seus olhos cravados no rosto dele e, mais do que tudo, ouviu seu nome sendo sussurrado pelos lábios levemente avermelhados. Abriu um pequeno sorriso. Lucy se levantava da cadeira e se preparava para ir até onde ele estava. Ela levaria exatos 8 segundos para chegar até ele.

8...7...6... Lucy interrompe sua caminhada. Algum infeliz atravessa seu caminho correndo, quase derrubando a loira. Ele se desculpa e ela prossegue sua caminhada.

3... Lucy sobe o primeiro degrau.

2... Ela está a 45 centímetros de distância.

1... Natsu abre os olhos, surpreendendo a Heartfillia que agora está a 30 centímetros de si.

— Yo, Lucy. – Ele a cumprimentou, fazendo com que a maga não entendesse se ele, de fato, tinha algum problema.

— Natsu, tá tudo bem?

— Hm. – Ele apenas acena a cabeça concordando e, logo depois, solta um pequeno riso anasalado, deixando Lucy ainda mais confusa. O Dragneel, enfim, se desencosta da parede e se aproxima ainda mais da loira, que por puro instinto, retrocede um passo para trás. – Nee Luce... O que acha de fazermos uma missão juntos?

Por breves segundos Lucy segurou a respiração. O mago estava tão perto de si que a razão a abandonou. Era impressão sua, ou Natsu usou um tom rouco de propósito? Bom, fosse o que fosse, Lucy acabou se esquecendo quando fixou a mirada nos olhos de Natsu. Ele, é claro, percebeu cada movimento e reação que a loira demonstrava a si. Não pode deixar de sorrir quando ouviu o coração da maga acelerar e ela se encolher, extremamente envergonhada. O rosto, tão angelical, estava pintado de rubro e um leve cheiro de desejo exalava do corpo feminil. Não havia mais volta e ela sabia. Mas o que mais envergonhava era saber que, agora, ele também sabia. Não restando muitas opções, Lucy, por fim, apenas morde os lábios inferiores antes de responder.

— Sim.