A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 2 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 4
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Capítulo Quatro
O convite.

Após parcialmente recuperada de toda a surpresa, Tori desceu com Lance para o térreo outra vez, para dar notícias aos outros dois que haviam ficado esperando. E assim que a porta do elevador se abriu, ela percebeu que Akin havia chegado ali e parecia meio sério.

— E então? — Jeniffer e Olívio perguntaram ao mesmo tempo.

— Ela está bem. — Tori respondeu com um enorme sorriso — Mas o senhor MacMillan não precisou fazer nada. — explicou.

— Mas por quê? — a menina estranhou.

— Aí é que está: não sabemos o que aconteceu. Talvez alguém tenha chegado antes de nós... Akin, foi você? — perguntou ao conhecido.

— Não. — respondeu meio seco.

— Então foi o Snape. Só pode ter sido ele, por mais que seja difícil de acreditar que ele tenha um pingo de humanidade... — Tori deu de ombros.

— Eu duvido muito. — Olívio balançou a cabeça.

— De qualquer forma, eu estou grata! — sorriu.

— Bom, papai e eu já vamos então. Quanto mais cedo começar meu sermão por ter saído de casa sem avisar, mais cedo ele acaba! — avisou Jeniffer, dando de ombros.

— Tudo bem. — se aproximou e a abraçou — Obrigada por hoje, Jen, e me desculpa por te colocar em problemas! — pediu.

— Não tem problema, Tori, o importante é que com esse "problema" acabei ajudando alguém. Teve lá seu lado positivo! — disse enquanto desapertava o abraço.

— Obrigada pela ajuda, senhor MacMillan. E me desculpa qualquer coisa! — segurou a mão do adulto e apertou uma vez.

— Está tudo bem, Tori, você só quis ajudar. De uma maneira um pouco irresponsável, mas acabou ajudando! — ele sorriu de leve.

Os dois foram saindo devagar do lugar, enquanto o pai abraçava a filha pelos ombros. Por serem tão bonitos, todos que passavam por eles sempre olhavam uma segunda vez.

Observando eles, Tori teve o azar de se lembrar de seus sonhos repetitivos e do quanto era semelhante ao seu pai lá. Por sorte, era apenas um sonho ruim e nunca precisaria se preocupar com a presença dele na realidade.

Tentando dispersar esses pensamentos, a menina piscou algumas vezes, respirou fundo e se virou para os outros dois que havia sobrado ali. Ela percebeu que Akin permanecia meio sério e isso a preocupou.

— O que foi, Akin? — perguntou, enquanto encarava a expressão séria dele.

— Ainda pergunta? — cruzou os braços e permaneceu com a mesma expressão — Tori, você saiu sozinha no meio da noite e cruzou a Inglaterra, e ainda fez dois amigos cometerem o mesmo erro. Vocês deram muita sorte que nada de ruim os surpreendeu, ou estariam encrencados agora por terem que usar magia fora da escola, onde mesmo sendo para se defender poderia custar uma expulsão. Você me cobrou franqueza, mas não foi totalmente franca comigo. Fez uma promessa e a quebrou, e eu estou chateado com você por isso! — explicou.

— Eu sinto muito, Akin. Eu estava desesperada, agi sem pensar direito... — a menina lamentou e tocou em um lado da bochecha que ficou quente de vergonha, para logo depois erguer o olhar para o adulto outra vez — Mas que coisa. Vocês do Ministério trabalham com Bola de Cristal? Sabem de qualquer passo de todas as pessoas, credo. Cadê minha liberdade de expressão? — bateu o pé e cruzou os braços.

— Seu direito de expressão acaba quando quebra uma regra de propósito! — Akin rebateu.

— Me desculpa, Akin. De verdade mesmo. Eu não queria me meter em problemas, apesar de ter ido direto para ele. Eu só quis ajudar. Me desculpa, vai? Por favor, não continue com raiva de mim! — tocou a mão dele e ficou a chacoalhando algumas vezes.

— Não estou com raiva, só desapontado. Relaxa, Tori. Só me prometa, de verdade dessa vez, que não vai mais ir de encontro com a confusão. Eu não quero que você se machuque! — soltou sua mão e a levou até o topo da cabeça da menina.

— Isso eu não posso prometer, porque não sei das minhas necessidades futuras. E se eu precisar ajudar outra pessoa? Não consigo ficar esperando quando sei que posso ajudar. Então me desculpa, Akin, mas não dá! — ela afastou a mão dele e suspirou.

— Só pensa que você tem um irmão e ele precisa de você viva. Harry já perdeu gente o suficiente, não acha? — disse Akin, fazendo a menina ficar pensativa — Então tente não se matar,  isso! — conseguiu abrir um meio sorriso.

— Tudo bem, eu sei me cuidar. Mas Akin, por que você sabe de tudo que acontece comigo? Isso é muito esquisito e meio desconfortável! — Tori levou a mão até o pulso e o segurou. 

— Coisas de Ministério, seria tedioso para você se eu te explicasse tudo. — mexeu os ombros.

— Ok. Mas... Se eu pedir para isso parar, tem como? Eu não preciso de uma "câmera de segurança" sempre acima da minha cabeç... Oh não. Não me diga que sou seguida por ser filha de um Comensal e o Ministro desconfia do meu caráter? — ao cogitar aquilo, ela deu alguns passos assustados para trás.

— Não é isso. Realmente tem algo rondando todos os lugares onde você está, é por isso que eu estou aqui, por isso que o Ministério está aqui. Seu caráter está totalmente visível para quem quiser perceber, nem é preciso observar muito. — o adulto tratou logo de resolver o mal entendido.

— Hum. — ela ficou um pouco cabisbaixa e cruzou os braços.

— Melhore essa cara. Ninguém desconfia que você tenha queda pelo lado das trevas, não se preocupe! — voltou a afirmar.

— Se você diz. — deu de ombros e permaneceu carrancuda.

— Eu conseguiria um sorrisinho se te dissesse que você recebeu uma carta do Cedrico Diggory? — Akin retirou um envelope dobrado de dentro do bolso.

— Cedrico? — a tromba no rosto de Tori se desfez e ela pegou o envelope rapidamente — Ah, por que não disse logo? — abriu um sorrisão.

Um pouco afobada demais, Tori rasgou o envelope e logo puxou a carta, passando os olhos na caligrafia conhecida enquanto um sorriso ia se abrindo em seus lábios.

 

Querida Tori,

Como vão as coisas?

Espero que bem.

Por aqui está tudo bem também, exceto por uma "certa pessoa" que não me deixa em paz e quer conhecer logo minha "felizarda". Acho que te meti em problemas tentando me livrar de problemas. E eu lamento por isso.

Caso ainda queira continuar com essa loucura, sábado está bom para você?

Vamos encarar logo a situação que nos envolvemos.

Aguardo sua resposta antes de amansar a 'fera' aqui.

Beijos,

Cedrico Diggory.

— Ah, meu Deus! — bateu na própria testa.

— É um convite do Cedrico? Convite de quê? — Olívio perguntou, acabando por assustar a amiga que nem havia reparado que ele espiou a carta por cima do ombro dela.

— Curioso! — acertou um tapinha no amigo — É um convite de almoço na casa dele. Os pais querem conhecer a melhor amiga dele! — deu de ombros.

— Melhor amiga? Achei que fossem namorados! — estranhou.

— Namorados? — Akin se meteu e cruzou os braços, encarando a menina com um sorriso divertido nos lábios e ao mesmo tempo parecendo cobrar explicações.

— Acho que ouvi a Abie me chamar... — dito isso, Tori saiu correndo para dentro do elevador, segundos antes da porta se fechar.

Enquanto ele subia, ela olhou a carta mais uma vez e sentiu as bochechas ficarem quentes. Com todos os acontecimentos havia se esquecido do compromisso que estava para ser marcado, então nem teve tempo de se preparar física e psicologicamente. E agora além de nervosa, estava ansiosa por não ter nada bonito para usar. Sabia que conforme andavam as coisas com tia Petúnia, ela jamais a levaria no shopping para comprar algo.

Quando o elevador se abriu no quinto andar, Tori dispersou seus pensamentos e caminhou até os conhecidos da amiga, que ainda estavam por ali.

— Bom dia, senhores. — cumprimentou o pai a a mãe — E a Abie? — perguntou.

— Ah, olá, Tori. Abie está no quarto dela, mas estão arrumando alguns detalhes, fazendo perder a cara de hospital. Bom, pelo menos tirando alguns aparelhos enquanto Marie foi em casa buscar alguns enfeites do quarto dela! — Hilary respondeu.

— Então ela está mesmo bem? — perguntou, animada.

— Ao menos aparentemente. Até agora, nenhuma convulsão. Só precisamos dos resultados dos exames, mas acredito que ela está bem. Minha garotinha é forte! — sorriu — Quer ir vê-la? Ela pediu pra te chamar, mas eu pensei que tivesse ido embora. Então vá até lá, Tori. — apontou para a porta.

— Obrigada, senhora Simmons. Com licença, senhor McGregor! — radiante com a notícia, Tori saiu apressada até a mesma porta que viu a amiga sair minutos atrás.

Ao abrir a porta, viu a amiga um pouco emburrada, mas que mudou assim que a viu entrar.

— Achei que tivesse ido embora. — Abigail sorriu.

— Eu vim me despedir primeiro. Não seria educado passar meses sem te ver e logo de cara te deixar falando sozinha! — deu de ombros e foi para perto da cama.

— Esse é o último aparelho, Abigail. Esse outro aí, por hora, tem que ficar, ok? — a enfermeira avisou, parecendo com um pouco de medo de dizer qualquer coisa, e empurrou um aparelho para perto da porta.

— Tudo bem, obrigada! — a menina sorriu, causando uma expressão surpresa na adulta.

Quando a enfermeira saiu e fechou a porta, Abigail soltou uns risinhos enquanto Tori a encarava com expressão de dúvida.

— Impressão minha ou ela estava com medo? — perguntou.

— É... digamos que não tive uma fama muito boa nesse hospital, ganhei uns "amigos" por isso. E... Hum, o que é isso? — puxou o papel da mão da amiga, logo o abrindo e lendo — Ah, meu Deus. Tori, você tem uma cartinha de amor! Por que não me contou que está namorando? — bateu nela usando o papel.

— Será que é porque você estava em coma? — Tori revirou os olhos e riu.

— Espera... É impressão minha ou você está usando você no vocabulário? Quer dizer que a escola nova deu um jeito em suas esquisitices? — Abigail riu outra vez — Mas me conta, quem é Cedrico? — afastou o corpo para o lado e deu espaço para Tori se sentar também.

— É um garoto... — respondeu o óbvio enquanto se acomodava e tomava sua carta de volta.

— Ah, não me diga! Pensei que era uma garota! — ironizou e revirou os olhos.

— Eu não me aguento, não aguento você, então acha mesmo que eu me envolveria com uma garota? — disse Tori, acabando por fazer o quarto voltar ao silêncio.

Até que as duas começaram a rir daquele papo estranho, risos com direito a dor na barriga e lágrimas nos olhos. Risos que Tori estava precisando fazia muito tempo. 

— Ele é seu namorado? — após conseguir parar de rir, Abigail perguntou.

— Namorado barra disfarce. Eu precisei esconder uns assuntos meus lá na escola e usei ele como disfarce quando quase me pegaram no flagra. Mas é só isso, eu não quero me preocupar com essas bobeiras agora... — explicou, enquanto mexia os ombros uma vez.

— Só isso? Tori, isso é um convite para você almoçar na casa dele, para conhecer os pais dele. Não me parece um relacionamento de só isso. — negou e brincou com o fio do aparelho preso em seu dedo.

— Faz parte do disfarce, Abie. Mas logo vamos desfazer isso, não se preocupe. E sim, é só isso sim! — reafirmou Tori.

— Sei. — a amiga não se deu por convencida.

Para a sorte de Tori, alguém bateu na porta antes que o assunto se prolongasse. As duas olharam para lá e esperaram.

Foi Olívio quem apareceu.

— Bom dia! — ele cumprimentou a paciente e depois focou na conhecida — Tori, Akin está te chamando para ir embora. — deu o aviso.

— Tudo bem, Olívio. Avise que eu já vou. — falou para o amigo.

— Tudo bem. Com licença, garotas! — o garoto sorriu.

Antes da porta ser fechada, Tori reparou em uma troca de olhares demorada demais entre os dois amigos, com direito a sorrisinho e tudo. Diante disso, acabou ficando desconfortável e séria.

— Meu Deus, quem é essa gracinha? — Abigail encarou a amiga toda empolgada logo após ficarem sozinhas outra vez.

— Ninguém para seu bico! — rebateu, azeda.

— Ele é o Cedrico? — se assustou com a possibilidade de ter cobiçado a homem da próxima.

— Não, doida, esse é o Olívio Wood, um amigo da escola! — respondeu e fez uma caretinha.

— Olívio. — repetiu o nome sorrindo — Bem bonitinho ele, além de educado. Mas por que ele estava aqui? — ela estranhou.

— Hum... ele veio me dar apoio. Eu estava meio para baixo por causa do seu estado de saúde e ele se tornou um grande amigo nos últimos meses, então veio me apoiar! — explicou Tori, enquanto arrastava o olhar até a porta.

— Se eu soubesse que algum gatinho iria vir torcer por mim, eu tinha ficado mal um pouco mais para ele não ir embora tão cedo! — fez biquinho e depois começou a rir.

— Abigail, para! — ela reclamou e se levantou da cama.

— Pelo menos fez algo bom nesses meses nessa escola nova: virou amiga de pessoas melhores, deixando de lado aquele tosco do ruivo! — Abigail revirou os olhos ao se lembrar do menino.

— Eu não deixei de ser amiga do Fred. Aliás, ficamos mais próximos ainda. Além dele tem o Jorge, o gêmeo dele que você já conheceu, e o Lino. Eles se tornaram meus melhores amigos, mas é claro que abaixo do Harry. — a carranca deu lugar ao sorriso quando falou dos amigos.

— Eu tinha me esquecido que a desgraça veio em dose dupla! — Abigail cruzou os braços.

— Não fale assim deles dois, sua boba! — a amiga reprovou, mas acabou soltando um risinho e voltou a se sentar.

Outra vez alguém bateu na porta, surpreendendo-as ao ser a mesma pessoa.

— Você ainda está aí sentada, Tori? — Olívio reclamou.

— Para que a pressa? Vem, senta aqui também. Tem espaço para todo mundo! — a paciente o chamou, brincalhona.

— Não liga para ela, Olívio. Acho que as drogas aplicadas no sangue dela a deixaram um pouco fora da casinha. — Tori avisou sobre a amiga enquanto ria e se levantava outra vez — Vamos? — parou perto dele na porta.

— Você que é a Abigail, não é? — o garoto perguntou, ignorando um pouco a conhecida.

— A própria. E você o Olívio. — Abigail também mostrou que estava por dentro das coisas.

— Sim. — olhou rapidamente para Tori, imaginando que ela havia falado sobre ele — Fico feliz que esteja bem agora e que não vim até aqui a toa! — sorriu para a outra, simpático.

— Obrigada pela gentileza. — a menina retribuiu o sorriso.

— Você não estava com pressa, Olívio? — Tori cortou o assunto e entrou na frente do amigo.

— Sim, mas... — Olívio tentou argumentar, mas foi interrompido.

— Vamos embora agora. — puxou ele pelo braço — Até mais, Abie! — a despediu de maneira apressada e fechou a porta.

— Vai com calma aí. Quer arrancar meu braço? — o garoto reclamou, fazendo uma careta.

— Não, mas deveria. Quem te disse que pode ficar paquerando minha amiga? Quem te disse que pode fazer isso? Hum? — se irritou e cruzou os braços, batendo a ponta do pé algumas vezes no chão.

— Paquerando? Eu não! — negou e apertou o botão para o elevador parar naquele andar.

— Você é um péssimo mentiroso, Olívio Wood! — Tori grunhiu — Quer saber? Tchau! — dito isso, seguiu apressada em direção às escadas.

◾ ◾ ◾

Assim que o carro de Akin parou em frente a Rua dos Alfeneiros, número 4, Tori se despediu do adulto e apenas acenou para o garoto no banco de trás. Saiu pisando forte até abrir a porta e chegar dentro de casa, onde a fechou e ficou alguns segundos encostada.

— Agora vai ser assim? Sai a hora que quer, quando bem entende, sem precisar deixar algum bilhete ou algo do tipo? — Petúnia apareceu e parecia aborrecida.

— Eu lamento muito, tia, eu tive que fazer alguma coisa pela Abie. — se afastou da porta e caminhou até tia — Mas... Podemos conversar em particular? — pediu.

— Se não for tomar muito do meu tempo, fique à vontade para tagarelar suas baboseiras de criança! — dito isso, Petúnia caminhou para a porta da cozinha.

Tori a seguiu em silêncio, mesmo sem ter certeza de que a tia queria mesmo ouvir o que ela tinha a dizer.

Chegando na cozinha, a mulher foi para perto do fogão mexer em algo que estava no fogo e a menina puxou uma cadeira, ocupando o lugar e cruzando as mãos sobre a mesa enquanto esperava.

— Não vai começar a falar? — a mulher a encarou brevemente pelo canto do olho.

— Sim, mas a senhora não vai se sentar? — apontou para a cadeira ao lado.

— Não. Minha audição funciona da mesma forma daqui! — negou e voltou a mexer a panela.

— Tudo bem. — deu de ombros — Antes de qualquer coisa, me desculpa por estar sendo uma sem educação desde que voltei para casa. Eu só estava um pouco irritada porque a senhora e o tio esconderam tantas coisas de mim, inclusive que não sou uma legítima Potter! — a menina se entristeceu ao se lembrar desse fato.

Com o susto da notícia, Petúnia derrubou a colher que estava em sua mão e ficou um tempo parada. Tempo até demais, antes de resmungar e apanhar o objeto outra vez, o levando para a pia e abrindo a torneira.

— Foi o velho que te contou? — perguntou sem se virar.

— Não, não foi o Dumbledore. — a corrigiu — Foi outra pessoa. E a força, com direito a amarras e tudo! — suspirou pesado com a lembrança.

— Eu tentei te alertar sobre aquela Escola. Sua mãe parecia toda feliz, mas olha só o que aconteceu... Se explodiu! — agora Petúnia havia se virado e encarava a sobrinha — Sabe que ainda está em tempo de desistir dessa loucura toda, não sabe? — pegou um pano de prato e secou as mãos.

— Não vou desistir de Hogwarts, tia. Não importa o que diga ou o que aconteça, eu comecei e vou até o fim! — Tori respondeu, determinada — Mas não era esse assunto que eu queria envolver a senhora, era outro... — colocou uma mecha por trás da orelha.

— Desembucha! — voltou a se virar para a pia.

— Tia, o que está acontecendo comigo? Estou com alguma doença do crescimento? Eu sinto raiva por bobeiras, sinto vontade de chorar por idiotices, perco a paciência muito rápido, me desespero por pouca coisa... Tudo está tão intenso, que está sendo difícil de lidar. Sem falar os garotos... — abaixou o olhar e sentiu o rosto queimar um pouco.

— Garotos? — Petúnia se virou outra vez.

— Garotos. — repetiu — Por que antes eu não dava a mínima para eles, mas agora consigo percebê-los melhor? Nossa, eu fiquei emburrada com meu amigo da escola só porque ele ficou de papinho com Abie! — riu sozinha ao se lembrar.

— Garotos, Tori? Você mal saiu das fraldas e quer pensar nessas coisas? — a mulher ficou séria e uma ruga de irritação se formou em sua testa.

— Eu sei disso, tia, e eu tento falar o tempo todo para os meus amigos que nenhum de nós tem idade para essas coisas. Mas eles não me dão ouvidos! — disse Tori, jogando os braços para o ar — Garotos só dão problemas, por isso quis conversar com a senhora! — abriu um sorrisinho amarelo.

— Não estou gostando nada desse assunto. — resmungou.

— Eu lamento, tia, mas na ausência da minha mãe, a senhora que é minha família feminina. Não quer que eu fale isso com o Harry, um menino que não tem nem dez anos, quer? — mexeu os ombros.

— Essa conversa já está levando tempo demais. Vá direto ao ponto, Victória! — Petúnia encheu um copo de água e se sentou em um lugar da mesa, enquanto ingeria a bebida.

— Eu comecei a namorar na escola, tia. — Tori revelou e fez a tia cuspir e engasgar com água — Não, tia, se acalme, que é namoro de mentira. A senhora não está prestando atenção na conversa? Eu não quero essas coisas para mim! — falou rapidamente.

— Victória! — Petúnia grunhiu pouco antes de uma nova crise de tosse.

— Mas, eu acabei começando um namoro de mentirinha que acabou me ferrando. Os pais dele querem me conhecer no sábado, num almoço. Mas eu só tenho suas roupas que não te servem mais e algumas do Duda. Tia, eu não tenho nada da minha idade para usar. Será que a senhora não poderia me comprar alguma coisinha? Ou não tem nenhum outro vestido jovem guardado e que pode me emprestar? — uniu as mãos e sorriu.

— Espera... Deixe-me ver se entendi: todo esse papo sentimental e sobre eu ser sua única família feminina em casa, era só para ganhar uma roupa nova? — a adulta se levantou devagar.

— Claro que não, eu realmente estou precisando desabafar com alguém que entenda o que estou passando. A roupa nova era o assunto final... Eu sei que a senhora e o tio me deram uma máquina de costura, mas se esqueceram de comprar os itens necessários para o uso e de me ensinar a usar, então nã... — começou a tagarelar, mas foi interrompida.

— Quem te disse que compramos algo para você? Até parece! — a mulher soltou um riso debochado.

— Não foram vocês? — Tori estranhou — Quem pode ter sido, então? — se levantou.

— Não faço ideia ou me importo. Agora com licença, que seu tempo expirou! — colocou o copo na pia e voltou para o fogão.

— Ah, droga. Um novo mistério! — a menina murmurou enquanto se levantava e seguia apressada para fora da cozinha.

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