A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 2 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 19
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Capítulo Dezenove
O desesperado reino do amor. | parte 1

Apesar do dia cansativo, tanto físico quanto psicologicamente, Tori aceitou passar um tempo a mais com as amigas logo após o jantar.

O típico grupo seguiu direto ao dormitório, sem enrolar na sala como costumavam fazer. Todas substituíram o uniforme pelo pijama, se reuniram no tapete ao centro do quarto com almofadas e cobertores para se protegerem contra as correntes de ar que a aproximação do Outono trazia para o castelo.

— É sério mesmo, a professora McGonagall tem que fazer alguma coisa para resolver isso, está passando de todos os limites de uma visita casual. Qual o sentido de ter uma seleção das casas, se a pessoa pode ficar transitando livremente entre outras mesas? — Angelina continuou sua reclamação que já vinha desde o jantar, uma carranca que não melhorou mesmo na ausência da citada.

Se tratava do mesmo assunto de sempre: a presença constante de Aurora na mesa e Grifinória em vez da mesa da própria casa.

Os diretores pareciam não se incomodar tanto quanto Angelina, a quem sentia tanto "amor" pela Corvina e não conseguia nem se esforçar em disfarçar.

Se a Grifinória já pegava no pé de quem gostava, por que não pegaria de quem não?

— Eu não me incomodo com a presença dela. — Tori falou e deu de ombros, se envolvendo ainda mais em seu cobertor.

— Sua opinião não conta, você está envolvida pela invasora! — a menina rebateu, franzindo a testa.

— Quem disse? Nós meio que brigamos hoje... — a ruiva contou, causando um sorrisinho animado na amiga — Não foi nada grave, já está tudo bem. Foi mais para uma bronca do que uma briga, pois ela mais uma vez machucou o Flint tentando me defender e eu já tinha reclamado disso antes. — revirou os olhos de leve com a lembrança de horas mais cedo.

— Machucou o Flint? — Alicia sorriu de maneira divertida — Acho que Aurora pode não ser tão ruim quanto pensamos, talvez devêssemos dar uma chance a ela... — ponderou apenas para provocar a outra amiga, que mordeu a isca e deu um empurrãozinho no braço dela.

— E não é. Vocês veriam isso se não fosse o ciúmes doido da Angelina! — Tori negou.

— Por que ainda estamos falando dessa nojenta, quando podemos falar sobre Quadribol? — Angelina fez uma careta irritada e arrumou sua almofada de forma nervosa.

— Quadribol de novo? Ahh... — Rita bufou entediada.

— Eu não quero falar sobre o motivo do meu corpo inteiro estar latejando! — até mesmo Alicia concordou que aquele não era um bom assunto.

— Podemos falar sobre... garotos! — Jeniffer sorriu de lado e jogou uma mecha do cabelo claro para trás — Não os estranhos do nosso ano, claro, mas os mais velhos. Talvez... fazer uma lista dos mais-mais. — deu de ombros ao sugerir.

— Esse assunto eu não quero me envolver, mas adoraria ver vocês passando essa vergonha. — riu a Evans, enquanto se encostava em um malão e se cobria até a altura do pescoço.

— Por que vergonha? Os meninos falam coisas piores sobre meninas! — Angelina deu de ombros.

— Isso é verdade. Meu irmão já me falou sobre garotas que ele quer distância, das garotas que são mais o tipo dele... — a Macmillan entregou os desabafos do irmão.

— Peter é um ótimo começo de lista dos mais-mais, mesmo tendo quase nossa idade. — Rita sorriu extremamente interessada.

— Bonito, mas parece ser muito exigente. Vamos para alguém mais nosso nível. Vejamos... — Alicia balançou a cabeça e depois pensou por alguns segundos — O Carlinhos. Ele é muito bonitinho e de quebra ainda é inteligente, certinho, é um ótimo Apanhador e Capitão, além de um Monitor super justo. Superem isso! — desafiou e encarou as outras.

— Tem o Eli. Ele também é inteligente, além de ter braços enormes por ser Batedor. O cabelão dele é tão charmoso! — suspirou Jeniffer, enquanto desabava no colo de Rita e recebia um empurrãozinho.

— Tem o Fred, Jorge e o Lino. — Tori se envolveu e causou um silêncio no quarto — São meus melhores amigos, então para mim ninguém supera os três, nem mesmo os mais velhos! — arrumou a postura e jogou os cabelos para trás em uma pose exibida.

Todas soltaram os risos presos ao mesmo tempo.

— Não vai falar dos seus outros amigos também, Tori? — a Macmillan abriu um sorrisinho malicioso nos lábios.

— O Silas? Super gatão! — ironizou Angelina, fazendo as meninas rirem ainda mais.

— Não fale assim, sua maldosa! — Tori jogou sua almofada na cabeça da amiga, que caiu para o lado em cima de Jeniffer — E... bom, tem o Olívio. Ele não está no mesmo nível físico que os mais velhos, mas é bonito. E não me olhem assim, que eu sei que vocês pensam o mesmo que eu! — se irritou quando todas começaram a olhá-la com curiosidade.

— Olha só aquela que disse que não ia se envolver... — Alicia debochou — E ainda está ficando mais vermelha que o próprio cabelo! — riu e as outras fizeram o mesmo.

— Nada a ver, eu só estou com calor com esse cobertor gigante. É só isso. — Tori tentou se defender e se afastou do cobertor, apesar de estar com frio.

— Calor após falar do Olívio. — até mesmo Rita entrou na brincadeira.

— Como vocês são chatas! — o alvo da brincadeira puxou o cobertor outra vez e se escondeu.

Um silêncio irritante dominou o quarto, sendo possível ouvir apenas as respirações e mínimos sussurros de conspiração. Mesmo na calmaria, Tori pôde sentir estar sendo observada.

A pressão dos olhares fez com que ela puxasse o edredom outra vez alguns segundos mais tarde, aproveitando o tempo em que arrumava o cabelo bagunçado para se recompor e tomar coragem.

— Eu, talvez, sinta umas batidas de coração descompensadas quando fico perto dele. Acho que ele me causa uma reação alérgica... — confessou e abaixou o olhar para o colo, fingindo-se de inocente.

— Meu Merlin! — Alicia gritou, estérica — Você não deixou a infantil reação do Cedrico ao levar um fora comprometer seu julgamento com outros garotos e até se apaixonou de novo. Menina, você é um orgulho! — ergueu os braços em comemoração e fez graça.

— Grita mais alto, talvez Hogwarts inteira escute! — ironizou a citada, sentindo que ficava ainda mais vermelha — E não é porque assumi que gosto de alguém, que significa que vou dar atenção...  — avisou.

— Significa sim. Eu duvido que se OW se declarar, que você não caia molinha nos braços dele! — Jeniffer tentou anonimar o envolvido do assunto, tudo para poupar a amiga das possíveis fofocas.

— Eu não!— a Evans negou, cruzando os braços e fingindo indiferença — Mas... Ele me parece lerdo demais. Até me trata com muito cuidado, é fofo, me abraça sempre que tem a oportunidade. Acho que compartilhamos do mesmo sentimento, só que ele não confessa. Sempre que penso que vai sair alguma coisa, ele muda de assunto e fala algo totalmente diferente do que eu esperava. Talvez eu deva esquecer isso, pode ser só uma bobagem dos hormônios! — suspirou.

— Você não precisa esperar por ele, isso é tão ultrapassado. Tome a atitude e conte tudo! — Rita aconselhou, recebendo um assentir em concordância das outras.

— Eu ir até ele? Até parece! — Tori balançou a cabeça — Se eu fosse alguém nível Eileen, eu até teria essa confiança toda. Mas sou estranha e não quero me tornar uma piada! — ao terminar de falar assoprou uma mecha que caiu em frente ao seu rosto.

— Pare de besteira. Você é linda, Tori! — Angelina se esticou e acertou um soquinho no braço da amiga, que resmungou.

— Pode até ser... mas não no nível da Eileen. — novamente a menina se diminuiu, causando um suspiro irritado nas outras.

— É ainda mais. Você é natural e não artificial como aquela exibida! — Alicia reclamou.

— Mas a exibida chama a atenção não só de Hogwarts inteira, como do OW... — continuou a dramatizar, achando graça no quanto aquilo irritava as amigas.

— Amanhã! — se irritou Jeniffer, se levantando e apontando com convicção — Amanhã você vai chamar atenção do Olívio, vai ofuscar a Eileen, vai chamar atenção de todo mundo. Eu me encarrego disso! — afirmou e apontou algumas vezes para o próprio peito.

— Eu não quero chamar atenção, prefiro ser neutra. Sem falar que aparecer diferente do nada é muito estranho, no mínimo suspeito. — Tori livrou o corpo do edredom e começou a se preparar para levantar, um pouco receosa das consequências dos seus dramas.

— Mas tem que ser suspeito. Se não for, o OW vai continuar sendo lerdo! — Rita rebateu, fazendo a menina se calar por algum tempo.

— Meus Deus, estou recebendo conselhos de meninas de doze anos que sabem tanto quanto ou até menos do que eu! — a Evans riu enquanto pegava suas coisas — Boa noite, malucas! — caminhou de forma apressada em direção a cama.

— Amanhã. — Jeniffer relembrou.

— Esquece, doida! — ela negou e pulou na cama, se escondendo nos cobertores.

◾ ◾ ◾

Pela manhã, Tori travou uma luta quase insuportável para manter os olhos abertos, principalmente porque foi tirada da cama cerca de uma hora antes do horário de costume. Só não desistia de lutar essa batalha por causa das muitas mãos mexendo nela, esfregando seu rosto algumas vezes, puxando e enrolando seu cabelo, até mesmo arrancando seu tipico All Star e substituindo por um sapato desconfortável.

— Eu não sei como pude permitir isso, é uma besteira sem tamanho! — Tori reclamou enquanto tentava mais uma vez abrir os olhos e falhava.

— Você não permitiu, nós é que te obrigamos. — pôde ouvir a voz de Jeniffer muito próxima.

No momento seguinte, algo frio e perfumado foi espirrado diversas vezes na pele e roupa da menina, na última causando cerca de três espirros seguidos.

— Terminamos! — Rita avisou e foi possível notar um sorriso só pela voz.

— Que ótimo. Pensei que iriam me matar sufocada mais um pouquinho. — a Evans ironizou, enquanto pisava no chão e impulsionava o corpo a levantar.

O sapato diferente fez que que a menina caísse no chão no instante em que se colocou de pé. Com o impacto, ela finalmente venceu a luta contra o sono e abriu os olhos, mirando-os para os pés calçados com sapatos de plataforma média.

— Estão tentando me matar? Eu me machuco até de chinelos! — reclamou aos gritos enquanto era ajudada por Angelina e Jeniffer, que a colocaram sentada de volta no malão.

— Não temos culpa que você é quase tão baixinha quanto o professor Flitwick. Como espera beijar o OW, se nem ao menos alcança o queixo dele? Quer provocar um problema de coluna? — Alicia explicou, dando de ombros uma vez quando recebeu um olhar assustado da amiga.

— Eu não vou beijar ninguém! — Tori gritou mais uma vez e encarou os sapatos estranhos — Meu Deus... se o sapato é exagero todo, imagine o resto! — se esticou e tomou um espelho que estava nas mãos de Alicia.

Ao olhar o reflexo, primeiramente fez uma careta estranha, para logo depois encarar as amigas de relance, então voltar para o espelho novamente.

Por incrível que pareça, não havia exagero nenhum. Seja lá o que as meninas fizeram, ainda ficou algo natural. A cor do rosto estava melhor e fazia um ótimo contraste com o cabelo. A boca estava colorida por um rosa quase cor de boca e os olhos destacados apenas pela coloração dos cílios, que tornaram-se pretos e intensificaram a cor azul. O cabelo estava solto, mas enrolado nas pontas. Um simples e bonito que dispensava um penteado.

— Bom... — elogiou após um tempo calada — Ficou discreto, então não vou chamar a atenção da escola inteira. Se eu estivesse parecendo uma palhaça, ia bater em todas vocês usando esse sapato! — devolveu o espelho e até abriu um sorrisinho, bem pequeno para não dar tanta liberdade assim.

— Então já podemos descer para o café para testar se alguém nota algo diferente. — empolgada, Rita estendeu as mãos para ajudar a amiga a ficar de pé.

— Podem ir na frente, que eu não arrumei meu material para as aulas do dia e vou fazer isso agora. — apontou para a saída — Vão, que eu prometo não descer as escadas rolando. — ainda brincou, mesmo se sentindo um pouco desconfortável.

— Juro que se você trocar os sapatos, no intervalo voltamos aqui e colaremos os seus pés dentro desse! — Jeniffer estreitou os olhos para a menina de forma ameaçadora, mas riu de si própria no fim das contas.

— Eu não vou trocar os sapatos. Eu juro. — prometeu e ergueu as duas mãos para comprovar que não estava mentindo.

— Ficaremos de olho! — Alicia apontou dois dedos para os olhos e depois para a ruiva.

— Tchauzinho. — a menina se despediu das amigas outra vez.

Cada uma recolhendo sua bolsa e colocando nas costas, todas foram seguindo para a porta do dormitório e saindo, até restar apenas Tori e toda a bagunça feminina por ali.

Mas ela permaneceu sentada, lançando olhares inseguros para os sapatos e prestando atenção no barulho vindo da Sala, cada minuto diminuindo um pouco mais.

Quando ficou no silêncio, a menina enfim tomou coragem e se levantou, mas logo abaixou e resolveu engatinhar para a sua cama um pouco distante de onde estava. Seguiu assim até conseguir puxar sua mochila e colocá-la nas costas, agora tendo uma missão pior: ficar de pé o tempo inteiro e não descer as escadas rolando.

Unindo força e coragem, Tori se levantou e desequilibrou uma vez, tendo que dar um passo para trás para não cair. Recuperada da quase queda, ela voltou a tentar dar passos para frente e conseguiu. Devagar, mas foi melhorando conforme se esforçava. Resolveu treinar algumas voltas pelo quarto até que parasse de perder o equilíbrio. Conseguiu apenas não cair, mas ainda cambaleava vez ou outra.

Temendo se atrasar para a aula, Tori decidiu realmente aprender a não cair na prática. Arrumou outra vez a mochila nas costas e caminhou para a escada, encarando-a um tempo e pensando se doeiria demais se ela descesse rolando. 

Era outra coisa que teria que aprender na prática.

Um pé de cada vez, muito mais lerda do que se estivesse com seu típico tênis, ela foi diminuindo a distância entre o dormitório e a sala. Seguiu assim até faltar apenas três degraus.

Tudo ocorreria bem, se a pressa não fosse inimiga da perfeição.

Tori perdeu a paciência em andar tão devagar e resolveu apressar a descida, sem pausas. O primeiro passo aconteceu muito rápido, seguido do segundo, mas o terceiro foi onde o problema aconteceu.

O corpo desequilibrou ao não pisar direito no segundo degrau e ela caiu para frente, enquanto gritava em sofrimento adiantado ao saber que aquilo iria doer.

Mas o inesperado aconteceu. Não doeu.

O queda foi amortecida por um corpo, que Tori logo reconheceu e saiu imediatamente de cima, o olhar preocupado em ter matado uma das pessoas mais importantes para ela.

— Lee, fale comigo! — choramingou e tocou o braço do amigo.

Em resposta, Lino soltou um resmungo que não deu para entender e então se moveu, virando o corpo para cima e se sentando com certa dificuldade.

— Eu estou bem. — garantiu, apesar do queixo estar ralado.

— Eu quase te matei! — Tori resmungou e desceu o olhar até seus pés — Sapatos... idiotas! — xingou enquanto tirava os dois e jogava do outro lado da sala.

— Que sapato é esse? Eu nunca te vi usando isso antes. — o menino questionou, enquanto olhava para um par caído próximo a lareira.

— As meninas tiveram a ideia genial de me deixar diferente hoje. Mais bonitinha, talvez. O sapato mais alto faz parte disso, já que dizem que eu sou quase tão minúscula quanto o professor Flitwick! — resmungou, completamente azeda.

— Mais bonita? Tori, você já é linda! — Lino foi sincero demais, percebendo isso tarde demais e se envergonhando — S-sabe, você é minha amiga, uma das poucas meninas que eu passo tempo demais olhando para a cara. Então... então eu sei que não precisa ser melhorada. — deu de ombros e passou a mão no ferimento, fazendo uma careta em seguida.

— Você é fofo, Jordan. — sorriu — Eu sei disso porque seu corpo amorteceu minha queda, evitando que eu me arrebente no chão. Pareceu até meu colchão do dormitório! — brincou e riu, fazendo o amigo rir também.

— Ingrata. — fingiu-se de ofendido — Agora pegue seus sapatos e vamos descer logo. Estamos os dois atrasados para a primeira aula. — se levantou e logo depois estendeu as mãos para ajudar.

— Se eu colocar esses sapatos, talvez cheguemos na sala de aula só no nosso sétimo ano! — Tori aceitou as mãos e foi puxada para ficar de pé.

— Vai descalça, ué. — foi a vez de Lino brincar.

— Ou eu poderia colocar os sapatos e você me carregaria por aí... — a menina riu da própria sugestão e recolheu os sapatos, um em cada lado da sala.

— Eu carregaria mesmo. — se aproximou quando notou que a amiga havia colocado os sapatos outra vez.

— Até parece, Lee! — revirou os olhos e sorriu — Um braço e não me deixar cair já é suficiente. — enlaçou seu braço no dele para manter o equilíbrio.

— Como quiser, madame. — o menino concordou.

Os dois começaram a andar até a saída da Comunal, primeiro devagar e logo depois com mais pressa e confiança. Até mesmo nas escadas, que era o maior temor de Tori, não foi tão difícil de passar.

O caminho não foi tão rápido, levando em consideração que não poderiam correr, mas logo eles pararam em frente a sala de Feitiços, as primeiras duas aulas do dia.

— A propósito... — Lino falou pouco antes de entrarem na sala, atraindo a atenção da amiga — Você está bem bonita. — sorriu.

Como sempre reagia ao receber elogios, Tori apenas sorriu amarelo e então mudou de assunto, avisando da bronca que provavelmente receberiam pelo atraso.

◾ ◾ ◾

Enquanto seguia para o almoço, Tori aproveitou que estava sem os amigos e retirou os sapatos, carregando-os nas mãos. Dessa forma, ela chamou mais atenção do que quando estava tão alta de repente, mas não se importou. Ao menos chegou ao Salão Principal de forma mais rápida.

— Que isso? — Jorge perguntou assim que a amiga se sentou e começou a colocar os sapatos outra vez.

— Sapatos? — Tori ironizou, rindo logo em seguida.

— Não me diga! — o menino devolveu a ironia — Para quê tudo isso? — apontou para ela.

— Tudo isso o quê? — continuou a fingir de desentendida.

— Toda bonitona, cheirando como se tivesse dormido numa banheira de flores e chocolate, pela primeira vez com o cabelo penteado... — brincou no final e depois riu — Brincadeira. Está bonita e até parece mais alta. — concluiu.

— É tudo um exagero das meninas. Eu meio que não concordei com isso, mas tive escolha? Não! — enfim parou de graça e desabafou.

— Tem algum motivo especial ou é só frescurite de meninas? — Jorge a encarou desconfiado.

Para o alívio de Tori, os amigos chegaram em peso para se sentar ali, salvando-a da pergunta tão incômoda. Isso incluiu Olívio e os outros meninos mais velhos, que foram diretamente para uma outra parte da mesa. Mas antes de se sentar, ele ainda a encarou com a mesma simpatia de sempre, enquanto acenava uma vez e se voltava para os amigos.

Nenhum outro tipo de tratamento ou reação.

— Não acredito! — Jeniffer, que estava olhando na mesma direção que a amiga, comentou de forma inconformada.

— Eu avisei que ele era lerdo. — Tori relembrou e suspirou desanimada.

— Talvez esteja ocupado e não teve tempo de reparar direito. Talvez mais tarde na comunal. — Rita manteve as esperanças.

— É, talvez. — a menina resolveu ter um pouco de confiança também.

Como de costume, Fred apareceu alguns minutos mais tarde acompanhado de Aurora. Em típica implicância, Angelina fez questão em se alargar no banco, tudo para não ter espaço para eles.

— Eita, está meio cheio aqui hoje. — Aurora comentou, enquanto notava um único espaço ao lado de Tori — Melhor irmos para outro lugar, Fred. — sugeriu.

Mas o menino pareceu estar a cabeça longe demais para dar atenção. Ele encarava Tori com os olhos curiosos e a boca um pouco entreaberta, parecendo surpreendido. Permaneceu assim por mais de um minuto, obrigando a companhia a chamar sua atenção.

— Fred? — a Corvina cutucou o ombro dele com a ponta do dedo.

Só então o menino piscou, ao mesmo tempo que tomava um susto.

— O quê? — desviou o olhar para ela, mas ainda parecendo meio distraído.

— Precisamos de um lugar para almoçar e aqui não tem. — repetiu, parecendo um pouco irritada com a distração.

— Tem um. — apontou para o espaço entre Tori e Lino.

— Mas somos dois. — relembrou.

— Eu sei, mas... Só hoje poderíamos sentar cada um na mesa de sua casa, não acha? Levando em consideração que não tem espaço e tal... — Fred falou, dando de ombro uma vez e abrindo um sorrisinho culpado.

Mesmo se pareceu, por um momento, que Aurora iria surtar, onde o rosto ficou tão vermelho quanto o laço em seu cabelo e os punhos ficaram apertados, ela simplesmente sorriu no fim das contas.

— Tudo bem, príncipe. Depois nos falamos então! — e se virou, se afastando dali rapidamente.

Soltando um suspiro aliviado, Fred se sentou ao lado dos amigos. Ele cheirou o ar de repente e depois outra vez, como se procurasse de onde vinha um cheiro específico. Acabou guiando o nariz até o cabelo de Tori, que se assustou com a aproximação repentina.

— Perfume. — ele concluiu enquanto se afastava outra vez para encara-la — Por que está perfumada? Alguma ocasião especial? — perguntou.

— Pessoas não precisam de ocasiões especiais para usar perfume. — Angelina respondeu pela amiga — Só seu caso é diferente, que só deve tomar banho em feriados! — debochou.

— Andou me cheirando, Angelina? Que comprometedor! — o Weasley rebateu com um sorriso de lado.

Em resposta, ela apenas mostrou língua e voltou a almoçar quieta.

— Por que está perfumada? — repetiu a pergunta para a mesma pessoa.

— Angelina já não te respondeu a pergunta? — Tori desviou o olhar de seu prato e encarou o amigo.

— Você não se perfuma desse jeito no dia a dia. — insistiu, parecendo cada vez mais curioso.

— Pessoas mudam o tempo todo. — ela voltou a olhar para o prato.

— Ok. — deu de ombros.

O assunto morreu ali.

Durante o almoço, Tori notou Fred cheirando o ar mais algumas vezes, também encarando-a com curiosidade. Por sorte se tratava de um dos melhores amigos, então ser encarada não se tornava algo tão desconfortável assim.

Os devaneios da menina foram interrompidos quando o rosto de Fred virou rápido para outra direção, assim como de todos que foram seguindo o embalo. Quando também olhou na mesma direção, ela notou do que se tratava.

A típica presença de Eileen.

Mas ao contrário de todos, que encaravam a mulher se aproximar da mesa dos professores praticamente desfilando, Tori focou numa segunda pessoa que caminhava atrás da mulher.

Snape.

O professor de Poções tentava andar um pouco mais afastado, como se tentasse passar a despercebido ou até mesmo estivesse tentando ocultar sua participação em algum crime. Mas a companheira de trabalho sempre o esperava para andarem mais perto.

— Acho que em um ano, essa é a primeira vez que vejo o professor Snape se atrasar para algo. Ele é sempre todo pontual, até mesmo nos horários de refeição. — Tori comentou com os amigos, mas apenas as meninas pareciam ouvir de fato, os meninos estavam ocupados demais babando.

Virando o rosto para encarar outra vez, Tori continuou a observar os dois professores tão distintos em personalidade. Acabou sendo surpreendida pelo terrível flashback do dia do acidente no lago. Do ato heroico e inesperado de Snape, de estar no lugar certo e na hora certa, da sorte em que ela e Eileen tiveram por essa ótima coincidência.

Apesar de tão grata, não conseguia entender o que o professor fazia por lá em horário de aula, levando em consideração que era tão detalhista com suas obrigações. Nada convincente passava por sua mente, nada que fizesse sentido se tratando de Snape.

Mas talvez não precisasse fazer sentido mesmo.

— Meu Deus! — arfou de susto e soltou seu garfo no mesmo instante.

— Que foi, Tori? — Lino e Fred pareceram enfim acordar do transe, compartilhando do mesmo olhar confuso que os outros amigos ao encarar a menina.

Em vez de responder, a Evans começou a rir. Riu a ponto de ter de se curvar pela pontada na barriga que o excesso do riso causava, quase enfiando o rosto no próprio prato. Até mesmo quase derrubou uma jarra inteira de suco ao dar um soquinho na mesa em certo desespero por não conseguir controlar o próprio riso.

— Acho que a Pomfrey adoraria te ver, Tori... — comentou Alicia, que a olhou com estranheza.

— Tenho certeza que ela terá um ótimo remédio para a cabeça. Vai te fazer bem, amiga. — Rita garantiu, as duas sobrancelhas erguidas de susto.

— Não preciso da Ala Hospitalar. Eu só... — Tori riu mais um pouco antes de continuar — Eu entendi o motivo do professor Snape ter surgido do nada e pulado na água para ser herói do dia. — secou o cantinho dos olhos, que estavam repletos de lágrimas.

— Porque é o que qualquer um faria, não é? — Fred ironizou.

— Não. Ah, como meninos são lerdos... — revirou os olhos e então se encurvou para perto dos amigos, passando a falar mais baixo pois não queria o salão inteiro por dentro daquele assunto — Ele surgiu de repente porque estava espiando a aula. Não aula em si, mas algo mais... bonito do que ver vários pré-adolescentes apanhando de Diabretes. — falou em tom malicioso e mexeu as sobrancelhas uma vez.

— E o que seria mais interessante que isso? — os gêmeos perguntaram ao mesmo tempo.

— Acho que o professor Snape está afim da professora Eileen! — revelou baixinho e voltou a rir.

Contar suas suspeitas e motivos dos seus risos não fez com que os amigos parassem de encará-la com estranheza, não acreditando muito bem na situação.

Mas era totalmente natural não conseguir acreditar de cara que uma pessoa feita de gelo pudesse ter um coração e se apaixonar.

— Pobre Eileen... Olha o encosto que ela arrumou! — Jorge lamentou, enquanto fazia uma expressão de luto.

— Encosto maior que todo o sexo masculino da escola arrastando uma asa para ela o tempo inteiro, inclusive os pirralhos feito vocês? — Angelina rebateu e encarou os três amigos — E em meio a catástrofe de ter alguém tão estranho afim dela, ao menos tem um ponto positivo: ele é adulto, maduro e não deve mais fazer xixi na cama! — continuou.

— É, talvez um banho de 3 meses resolva toda aquela aparência sebosa dele. — falou Fred, causando risos em todos do grupo, exceto em Tori.

— Nenhum de vocês conhecem o Snape antes de ser professor. — a menina rebateu.

— Nem você, amiga. — Jeniffer deu de ombros.

— Não é difícil de imaginar. — argumentou e suspirou — Ele não deixa ninguém chegar perto o suficiente dos seus sentimentos, é ótimo em ser indiferente, descobriu a rigidez como uma boa arma para manter as pessoas afastadas. Meu palpite para isso é que ele foi alguém que já sofreu por alguma coisa ou alguém, sofreu ao extremo mesmo, então ele afasta todo mundo para não passar por isso de novo. — supôs enquanto voltava a pegar seu garfo e cutucava a comida sem interesse em voltar a comer.

— Então se ele prefere não passar pelo sofrimento de novo, não faz sentido ele se permitir ficar apaixonado e até demonstrar isso. É suicídio! — Lino encolheu os ombros uma vez e encarou a amiga por algum tempo.

— Só gente morta que não se arrisca. — Tori falou — Snape está bem vivo e acho que ele quer arriscar de novo sim. Vai saber quanto tempo faz que ele sofreu. Uma hora o machucado cicatriza. Então... — fez uma pausa enquanto abria um sorriso travesso.

— Ihhh, ela está com aquela cara de quem vai aprontar alguma! — observou Fred, a quem já conhecia bem a menina.

— Conte com a gente, se é para ver o morcegão passando vergonha ao levar um fora da Eileen! — divertiu-se Jorge, batendo uma mão contra a do irmão e trocando olhares travessos idênticos.

— Vocês seriam as últimas pessoas que eu pediria ajuda para juntar um par. Jorge, você é debochado demais. E Fred, você é piegas demais para o meu gosto! — a Evans negou e apontou para os dois amigos, rindo um pouco ao ver a falsa expressão de ofendida dos dois.

— O que você pretende fazer, Tori? Trancar Snape e Eileen em um armário de vassouras e deixar que se resolvam? — Alicia perguntou, enquanto empurrava seu prato vazio para o lado.

— Seria mais rápido e prático, mas não é isso. Eu prefiro o romantismo. — abriu um sorriso bobo e suspirou — Tudo o que eu sei é que vou agir. — permaneceu com o sorriso nos lábios.

— Quando ele descobrir sua loucura em se meter na vida pessoal dele, vai te deixar de detenção pelos próximos cinco anos! — Rita tentou colocar algum juízo na mente fértil da amiga.

— Ele não vai descobrir. Mas caso aconteça, ele já vai estar feliz demais para querer me punir. Vai querer me agradecer, isso sim! — Tori deu de ombros uma vez e continuou a sorrir.

— Você é doida. Principalmente porque eu duvido muito que uma pessoa bonita como Eileen esteja disponível para o Snape! — foi a vez de Alicia reprovar a ideia.

— Fiquem tranquilas, meninas. Quando eu terminar essa operação cupido, todos vão me agradecer. O professor Snape vai se tornar alguém bem mais agradável e as aulas dele vão deixar de ser tortura pura! — o jeito esperançoso de ser fez com que os olhos da Evans brilhassem, enquanto o olhar dos amigos era de preocupação.

— Espero que esteja certa disso. Tenho medo de ficar pior do que já está! — Jeniffer estremeceu com a ideia das aulas de Poções ficarem ainda mais terríveis.

— Confiem em mim. — pediu e puxou as pernas para se levantar da mesa — Já até sei quem possivelmente pode me ajudar nisso e vou atrás disso agora mesmo! — se colocou de pé e iniciou passos cuidadosos para não cair com o sapato novo outra vez.

Tori deu a volta na extensa mesa, que pareceu ainda maior devido aos seus passos tão lentos e inseguros, até enfim se aproximar do lugar onde a pessoa que procurava estava sentada.

Alguns rostos se viraram para olhá-la com certa curiosidade pela visita tão incomum por ali, enquanto um dos rostos conhecidos acertou com o cotovelo no outro de maneira discreta. O atingido também virou o rosto para olhar do que se tratava e seu rosto ficou levemente pálido de surpresa.

— Olá, Cedrico. — Tori abriu um pequeno sorriso nervoso para ele.

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Notas finais do capítulo

Amores, eu voltei.

Me perdoem pelo sumiço. Eu tava sendo torturada por algo chamado Bloqueio e não conseguia escrever nada. Mas acho que agora tá tudo bem. Assim espero.

E vocês não tem noção da agonia que me deu em escrever esse capítulo, de tentar criar uma personagem autêntica e depois colocar ela pra se arrumar e mudar quem ela é só pra chamar atenção de boy.

Mas infelizmente foi necessário pra história.

Eu já fui muito tonta por boy um dia, então é óbvio que personagem minha nunca vai passar batida. Vai ser tonta, vai sofrer, vai passar por perrengue, vai ser real mesmo.