A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 2 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 14
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Capítulo Quatorze
Teste de Quadribol | parte 1

Após caminhar algum tempo pelo Castelo e não encontrar nem sinal de Aurora, Tori acabou desistindo e voltando ao Salão. A menina não iria sumir para sempre, então quando aparecesse, conversaria com ela.

De volta a mesa da Grifinória, acabou reparando que Angelina havia ficado emburrada com ela. Revirando os olhos para isso, Tori se levantou com seu prato em mãos e seguiu até a parte da mesa onde Olívio estava, se sentando entre ele e Carlinhos.

— Me diz que você voltou ao normal, por favor! — Tori suplicou — Quero de volta o meu amigo doido por Quadribol, não gostei nada dessa versão "enfeitiçada" dele. — reclamou e o garoto riu.

— Eu ainda estou aqui, tartaruga. — Olívio respondeu e tocou o topo da cabeça da menina, bagunçando ali de propósito.

— Ei, seu chato. — ela o empurrou com o cotovelo — Você tem que parar de me chamar assim, ou vou inventar um apelido para você também. Talvez... Hum... Grilo, pois você é magrelo como um! — riu.

— Magrelo? Eu não estou tão mais magrelo... — riu de volta e ergueu parte da camisa para fazer graça enquanto estufava a barriga, logo depois forçando os braços para parecer mais forte.

Imediatamente Tori reprimiu qualquer sinal de sorriso, corou e virou sua atenção para seu prato quase vazio.

— Vou mudar seu apelido quando você entrar para o time. Aí vou te chamar de Artilheira. — ele avisou e pareceu nem reparar no desconforto da menina.

— Que bom... — ela sorriu amarelo — Eu acabei aqui e já vou indo. Depois conversamos mais, ok? Tchauzinho! — e praticamente correu dali.

Ao passar pela porta outra vez, Tori se encostou na parede mais próxima e ficou respirando pesado algumas vezes. A conversa com o garoto havia a lembrado da escolha que teria de fazer: Olívio ou as meninas?

Teria que escolher um lado para alegrar e outro para decepcionar.

◾ ◾ ◾

Com os olhos ardendo e a cabeça um pouco tonta de sono após a último aula do dia, sendo de História da Magia, Tori seguiu rumo a sua Comunal disposta a se jogar na cama e só levantar de lá no horário do jantar. Mas seus planos acabaram mudando quando viu Aurora passar apressada por ela, com uma pose murcha e sem nem sequer olhar para os lados.

— Aurora, eu estava te procurando! — Tori gritou e correu para alcançar a menina, que não havia parado mesmo após ter sido chamada.

Correndo um pouco mais, a Grifinória conseguiu alcançá-la, mas teve de puxá-la pela capa para receber atenção. Só então percebeu que a menina chorava em silêncio.

— Eu realmente não quero problemas para você, Tori. — Aurora livrou sua capa e fez menção em se mover dali.

— Não, espere. — Evans a segurou, dessa vez pelo braço — Não vai me causar problema nenhum. Vamos conversar, por favor! — suplicou.

Ficando alguns segundos calada parecendo ponderar entre aceitar ou não a conversa, a Corvina acabou relaxando os músculos e pareceu estar disposta a ouvir. Tori pegou uma das mãos dela e seguiu para ali por perto, em uma escada comum onde se sentaram lado a lado.

— Olha, eu lamento muito pela Angelina. Digamos que ela é um pouco... "difícil" às vezes, mas juro que conhecendo melhor ela se torna totalmente diferente, se torna uma menina maravilhosa! — Tori começou a falar, enquanto sorria de leve — Tenho quase certeza que ela não quis te chutar da mesa, só estava num dia ruim, talvez. — sorriu amarelo.

— Quase certeza? — Aurora arqueou uma sobrancelha.

— Ok, tenho certeza absoluta que ela quis sim. — confessou, enquanto reprimia o sorriso — Mas olhe por um outro ângulo a situação: ela era a única que queria isso, era uma opinião só contra todas as outras. Ninguém mais queria te expulsar dali, só ela. Mas isso é questão de tempo até ela se acostumar com você, então você vai ser tratada melhor! — mexeu os ombros.

— Tori, nem você mesma acredita em suas palavras. — a menina falou e se moveu para levantar — Não se preocupe comigo, eu não vou morrer só porque pessoas não querem minha amizade, por pessoas me tratarem com tanta indiferença sem antes dar a oportunidade de me conhecer melhor. Eu vou ficar bem sozinha como sempre fui! — novas lágrimas surgiram e ela fez menção em correr dali.

Novamente foi puxada pela capa.

— Você não vai ficar sozinha! — garantiu Tori, enquanto se levantava e soltava a menina — Aurora, eu passei anos tendo apenas meu irmão como amigo. Todas as pessoas da vizinhança e escola eram indiferentes comigo, e por mais que o amor do meu irmão me fosse suficiente, um amigo ainda fazia uma falta danada. Então não quero isso para você. — contou, sentindo uma nostalgia ruim daquela época.

Com uma nova crise de choro, Aurora se sentou no degrau outra vez e encostou o rosto nos joelhos. Sentindo a mesma pena terrível em saber da solidão de Abigail, Tori se sentou ao lado da menina e a envolveu em um abraço lateral.

— Você não vai ficar sozinha. Eu prometo. — garantiu.

Ambas ficaram assim durante algum tempo, até que a Corvina conseguisse controlar suas lágrimas e voltar a erguer o rosto. Ela passou as mãos para tirar o excesso de umidade e então respirou fundo, acabando por soltar pequenos soluços em alguns intervalos.

— Por que está fazendo isso por mim, Tori? Eu te vi discutindo com o Fred no Beco Diagonal por minha causa e eu podia jurar que vi ciúmes no ar. Então você me ajudando é meio estranho quando não consigo ter 100% de certeza de que gosta mesmo de mim. — Aurora questionou, enquanto encarava a menina ao lado.

— Ciúmes? Eu? Até parece! — Tori começou a rir de maneira exagerada — Ciúmes... Essa foi ótima! — deu alguns tapinhas na coxa enquanto ainda ria.

— Então não era ciúmes? E era o quê? — perguntou a Corvina, passando a manga da camisa pelas bochechas ainda úmidas.

Tori acabou se calando diante da pergunta, sem saber exatamente o que responder. Nos últimos meses, conforme sua fase de crescimento, tudo estava muito confuso e então não tinha muita certeza de nada.

— Acho que... proteção. É, proteção mesmo. Eu vi alguém da noite para o dia se aproximando do meu melhor amigo e acho que senti um instinto protetor. Eu não te conhecia, sabe? Mas agora está tudo bem. — se justificou e sorriu de leve.

— Mas ainda você não teve tempo de me conhecer totalmente... — deu de ombros.

— Conheço o suficiente para saber que você não magoaria meu amigo. E é justamente por isso que vou dar meu jeito para te incluir no nosso grupo de amigos! — Tori sorriu como se aquela fosse a ideia mais simples do mundo.

— Você não vai desistir disso, não é? — suspirou Aurora, parecendo cansada de rebater.

— Não mesmo! — a menina aumentou o sorriso.

— Ok, Tori, faça como quiser. Mas saiba que eu não acredito que isso dará certo! — deu de ombros.

— Se não der, pelo menos eu tentei. Seria muito pior não tentar e nunca saber se daria certo ou não, porque eu sou muito curiosa! — riu sozinha e depois o reprimiu, focando seu olhar na outra menina, que ainda estava chorosa — Anda, seque essas lágrimas, pois você é ainda mais bonita sem toda essa cara inchada! — passou as mangas da blusa pelas bochechas dela.

— Obrigada por tentar melhorar as coisas, Tori. Você é tão especial quanto eu soube por aí. — Aurora enfim conseguiu abrir um sorriso sincero, de uma alegria sincera.

Tal elogio fez com que Tori corasse um pouco, além de não saber o que dizer. Não sabia bem como reagir a elogios de tantas pessoas, pois antes de Hogwarts o único de quem ouvia coisas fofas era de Harry.

— O que vai fazer agora? Estava pensando em pedir umas aulinhas de Poções com você, pois soube que é muito melhor do que eu. Diante de certas circunstâncias que eu me envolvi, acho que vou ter que melhorar bastante na matéria para evitar certas discussões... — tagarelou para mudar o foco da conversa.

— Claro que eu te ajudo, não me custaria nada! — assentiu e sorriu de maneira gentil.

— Aí está você, Tori. — uma voz conhecida fez com que as duas olhassem para um outro lado do corredor — Oi, Aurora! — sorriu diferente para a outra menina.

Era Fred, acompanhado pelo irmão e Lino.

— Viemos te procurar para ir vadiar no pátio, talvez rir de uns bobocas, ou fazer nada juntos. — Lino falou diretamente para a antiga amiga e apenas assentindo breve para a novata.

— Seria legal, mas... — Tori ia respondendo, mas foi interrompida.

— Mas a Tori vai estudar Poções comigo agora. Vai deixar para vadiar apenas quando estiver boa o suficiente em Poções para faltar reclamações do professor Snape! — Aurora empinou um pouco o nariz e acenou um "tchauzinho" para os três meninos enquanto ria de leve.

— Desculpa. — a outra menina mexeu os ombros e fez uma caretinha para os amigos.

— Ótimo. Minha amiga nerd está transformando minha amiga legal em nerd também! — Fred reclamou, com um leve bom humor no tom de voz.

— E pensar que tivemos tanto trabalho para livrar a Tori de tanta chatice de livros e regras. — lamentou Jorge, balançando balançando cabeça algumas vezes.

— Bobos! — a citada riu e se levantou em companhia da Corvina — Vejo vocês no jantar. Não aprontem muito, por favor! — pediu.

As duas meninas saíram caminhando de braços dados e conversando sobre assuntos aleatórios.

◾ ◾ ◾

Após uma tarde estudando Poções na biblioteca com Aurora, Tori nem ao menos teve ânimo para dar atenção aos três amigos no horário do jantar. Estava exausta. Pior ainda por saber que seu trabalho do dia ainda não havia acabado e estava longe de se encontrar com sua aconchegante cama.

Pouco antes do fim do jantar, viu Filch mancar em direção a mesa da Grifinória e, de prontidão, Tori afastou seu prato, puxou as pernas para fora e se colocou de pé.

— Onde vai? — Angelina perguntou, enquanto os outros do grupo pareciam ter a mesma dúvida.

— Detenção. — assentiu em direção ao Zelador, que agora estava perto.

— Que orgulho! — Jorge comentou, sorridente.

Quando Filch chegou perto, Tori ficou séria outra vez e o acompanhou em silêncio. Não gostava nada do homem, principalmente por sugerir tortura como castigo. Ficar perto dele se tornava ainda pior por não saber o que ele e Snape fizeram com Silas.

Mas assim que passaram pela porta do Salão Principal, a expressão da menina mudou de rígida para confusa ao encontrar o amigo Sonserino parado ao lado de fora.

— Silas, que bom que você está inteiro! — sorriu Tori, enquanto tocava o braço do menino para ter certeza que ele era real.

— Estou bem sim, obrigada. — Silas sorriu de leve e empurrou a armação dos óculos para mais perto dos olhos.

— O que está fazendo aqui? — ela quis saber.

— O mesmo que você, provavelmente. — deu de ombros uma vez e encarou o Zelador de relance.

— Andem logo! — resmungou Filch.

Obedecendo ao mais velho, os dos amigos começaram a caminhar na mesma direção. Eles foram guiados para baixo, caminho semelhante ao porão da Lufa-Lufa. E em algum momento da descida, Silas escorregou na ponta de um degrau e caiu de bunda, quase rasgando a camisa de Tori ao tentar evitar a queda.

— Desculpe... — o menino lamentou, com os olhos assustados e o rosto vermelho.

— Está tudo bem, Silas. Vem, deixe que te ajudo. — a Grifinória segurou o braço do menino para ajudá-lo a se recuperar.

Enquanto isso, não pôde deixar de reparar em um sorriso animado no rosto feio de Filch, sorriso de alguém que parecia ter ganho algo que muito queria.

Antes que os dois pudessem buscar entender, o Zelador continuou a andar e foi seguido.

Indo para um lado oposto ao da entrada da Comunal da Lufa-Lufa, Filch parou muito perto de um quadro e se aproximou a ponto de ocultar seja lá o que pretendia fazer. Ele se mexeu um pouco e então deu um passo para trás, ao mesmo tempo que uma passagem aparecia diante dele.

— Entrem, que a diversão vai começar! — novamente mostrou os dentes.

Trocando olhares entre eles, os dois alunos passaram pela passagem e se depararam com um enorme espaço que parecia ser uma cozinha tão larga quanto o Salão Principal. Haviam fogões e fornos à lenha, cinco mesas exatamente na posição das mesas no Salão e diversos elfos domésticos andando de um lado para outro.

— Fora. Todos fora e não voltam enquanto eu não voltar para buscar esses moleques! — o Zelador ordenou de forma rude e todos os elfos começaram a desaparecer dali.

Até que restou apenas os três ali.

— Bom trabalho, crianças. — abriu um sorriso debochado e apontou para pilhas e pilhas de louça suja sobre todas as mesas — E não se esqueça, Monaghan: para cada louça derrubada, um dia a mais de detenção para você. — relembrou ao Sonserino e então desapareceu pela porta.

Assim que restou apenas os dois no local, Tori soltou um grunhido inconformado e caminhou até uma das mesas para observar melhor.

— Céus, nós nunca vamos terminar isso tudo sem magia. E se terminarmos, nossos dedos ficarão esfolados! — reclamou — Talvez se eu contasse tudo ao senhor Dumbledore... — refletiu sozinha.

— O senhor Diretor não poderia interferir em castigos merecidos vindos de dois Diretores de casas. Nós provocamos isso, Tori. — Silas caminhou devagar até um enorme balde ali perto e pegou uma esponja — Vem, vamos começar logo. — pegou outra e estendeu para a menina.

Mesmo irritada, Tori pegou a esponja e partiu para a mesa onde calculou estar embaixo da mesa da Lufa-Lufa, pois pretendia limpar a sujeira de todas as outras, menos a que um dia pertenceu a Snape.

A limpeza seguiu silenciosa, exceto pelas vezes em que Silas deixou derrubar algum talher, prato ou copo, o que sempre o deixava muito irritado e chateado. Talvez por ser verdade o que Filch falou pouco antes de deixar o lugar.

Logo após um sexto item derrubado, Tori percebeu que o menino havia ficado muito nervoso e isso causou o sétimo e oitavo desastre dele.

— E então, você também tem vida difícil fora de Hogwarts? — foi para perto do menino, tirou a esponja dele e depois o puxou para se sentar em um dos bancos.

— Tori, o que está fazendo? Temos que terminar! — murmurou Silas, ficando vesgo brevemente para observar uma sujeira na lente de seu óculos.

— Precisamos de uma pausa, eu não sinto meus dedos! — ela ergueu as duas mãos e mostrou as palmas muito vermelhas — Fora que já limpei mais do que você. — apontou para a louça da mesa da Lufa-Lufa totalmente limpa e organizada, enquanto da Corvinal com os primeiros itens limpos.

— Desculpe... sei que não sou de grande ajuda aqui. — fungou, tirando o óculos e esfregando a lente na barra da camisa.

— Que mania de pedir desculpa para tudo. — sorriu Tori, enquanto observava o jeito especial do provável novo amigo.

— Desculpe. Quer dizer... e-eu sinto muito. — Silas voltou a colocar os óculos e piscou algumas vezes.

— Deu na mesma, cabeção! — riu e cutucou o ombro dele uma vez, que também abriu um pequeno sorriso — Onde você mora, Silas? — tentou puxar assunto.

O menino ficou meio sério.

— Moro em Consett, Inglaterra. — fungou ao responder.

Esse parecia ser um tique dele.

— Me fale um pouco sobre sua família. Eles são legais? Ou são chatos? Será que superam meus tios? — o encheu de perguntas e soltou um risinho ao lembrar dos familiares.

— Eles são... b-bem legais. Ótimos, na verdade, e me são t-tudo o que preciso. Mas minha mãe não é como nós. Quer dizer... ela não é Bruxa, sabe? — o Sonserino passou as mãos suadas e, de repente, tremulas na barra da calça.

— Está tudo bem? — Tori percebeu o nervosismo e resolveu perguntar.

— Sim. Mas... Me fale sobre você. É... é sua vez agora. — abriu um sorriso não muito verdadeiro.

— Ok. Bom, eu vivo em Little Whinging com meus tios, primo e meu irmão Harry Potter, que obviamente você já ouviu falar. Lá era um lugar bem chato de se viver, as pessoas eram bem chatas... ainda são, na verdade. Mas enfim, era difícil de se encontrar alguém agradável que não fosse o Harry, e então o Akin apareceu. Akin é um Auror disfarçado de Policial que vive lá por perto para cuidar de nós dois, ele é maravilhoso e se tornou meu melhor amigo adulto. Seria bem legal vocês se conhecerem um dia, não acha? Enfim, além dele, também tem a Abigail, que agora é minha melhor amiga, mas antes era uma chata que infernizava todos os meus dias na escola trouxa; agora ela é uma das pessoas que mais gosto e fico muito chateada de poder conviver com ela tão pouco. — após tagarelar quase que sem pausa, Tori suspirou com a lembrança da amiga, parecendo entre saudosa e triste — Mas me fale mais de você, Silas, nos mínimos detalhes assim como eu fiz. — voltou o foco ao menino.

— Eu... eu não tenho o que falar, Tori. A minha vida não é tão movimentada como a sua, eu poderia até mesmo dizer que é chata e sem novidades. — Silas se apoiou na mesa e se levantou, parecendo querer fugir daquele assunto — Vem, vamos terminar logo isso, que eu estou um pouco cansado. — e caminhou de volta ao trabalho.

Mal deu dois passos e foi obrigado a parar, quando algo frio bateu e molhou a parte de trás de sua nuca e o fez tremer. Se virando devagar, ela encontrou Tori o encarando com um sorriso travesso e uma esponja ensopada em mãos.

— Isso é para você aprender a não ser tão misterioso diante de uma pessoa curiosa como eu! — ela falou, fingindo magoa na expressão.

— Desculpe... — Silas se virou para apanhar sua esponja — E me desculpe por isso também. — voltou a encarar a menina e acertou um punhado de água e espuma no uniforme dela, começando a rir logo em seguida.

— É guerra, Monaghan? — a atingida estreitou os olhos e começou a erguer as mangas da camisa.

— Não, até porque eu perderia feio de você. Ei, pode parando de me olhar assim, está me assustando! — negou e recuou alguns passos ao ver a amiga o olhando de forma maldosa e divertida — Não, Tori! — reclamou e riu ao mesmo tempo quando um novo jato de água o atingiu.

— Você não tem para onde correr, eu estarei em todos os lugares! — Tori falou de forma teatral e soltou um riso de vilã.

Resolvendo por entrar de vez na brincadeira e relaxar um pouco, Silas devolveu o jato de água, apesar de ter errado a mira. A menina logo rebateu e os dois ficaram jogando água um no outro e correndo ao redor das mesas.

Permaneceram assim até uma tentativa de Silas em fugir de um novo jato de água acabar mal. Ele escorregou em uma poça de espuma e caiu de costas, soltando um gemido misturado com riso.

— De novo? — Tori se aproximou tentando não rir, apesar do menino estar fazendo isso.

— Acho que o chão gosta de mim. — se apoiou nos cotovelos.

— Vem, eu te ajudo. — a menina segurou um braço do desastrado e o puxou devagar.

Quando ouviu um barulho de um talher caindo, acabou se atrapalhando e soltando o menino resultando em uma nova queda.

— Que bagunça! — dois rostos conhecidos falaram ao mesmo tempo.

Eram Fred e Jorge.

— O que fazem aqui, meninos? Querem ficar encrencados também? E como é que passaram pelo Filch? — Tori os encarou, confusa.

— Soubemos do tipo de castigo e viemos ajudar. — Fred respondeu.

— Adoraríamos nos encrencar também, pois tornaria o começo de ano menos monótono! — foi a vez de Jorge responder, seguido de um bocejo forçado.

— E não passamos pelo Filch. Ao menos não para entrar aqui... só fizemos uma visitinha para deixar um lanche da noite para ele. — o primeiro voltou a falar e depois continuou aos sussurros para apenas a amiga ouvir — Depois, viemos por uma passagem ali atrás na dispensa, com aquele nosso segredinho que você conhece. — piscou.

— Se alguém aparecer e pegar vocês dois aqui, não digam que eu não avisei! — ela aconselhou e então voltou para ajudar Silas a se levantar.

O menino foi ajudado não apenas pela parceira de detenção, mas também pelos outros dois.

— Silas, esses dois doidinhos são Fred e Jorge Weasley. — Tori apontou para os dois meninos — E meninos, esse é Silas Monaghan. — agora apontou para o outro.

— Muito prazer, filho do Sn... — Jorge foi interrompido por um olhar ameaçador da amiga — ...de Deus. Filho de Deus! — se corrigiu e o irmão riu ao seu lado.

O mais quieto estendeu a mão gentilmente e apertou de cada um dos gêmeos, acabando por fazer uma careta ao ter a mão apertada de forma exagerada por Fred.

— Ela esqueceu de acrescentar, mas eu sou Fred, o melhor amigo! — jogou um indireta enquanto recolhia a mão.

— O ano começou ontem, não sei muito das pessoas daqui. — Silas massageou a mão — Tori, podemos continuar nossa detenção agora? Estou meio cansado, queria terminar logo para voltar ao dormitório. — e virou o rosto para encarar a menina.

— Nossa, você se arranhou todo quando caiu! — ela notou as costas arranhadas do menino e se preocupou — Está doendo, não é? Pobrezinho... Acho que deve ter algum pano limpo por aqui, se os meninos me ajudarem eu acho num instan... — foi interrompida.

— Não sei se você se lembra, mas Hogwarts tem a Madame Pomfrey, Tori. — resmungou Fred.

— Eu sei. — ela revirou os olhos para a birra do amigo — Mas vai demorar até que possamos sair daqui. Silas pode pegar uma infecção e morrer! — dramatizou e começou a andar de um lado para outro.

— Não vamos não. — o menino negou.

— Como não? Vai demorar horas pra limpar tudo isso, até porque eu não posso usar magia, pois vão conferir as últimas magias feitas pela varinha e eu seria pega! — Tori arqueou uma sobrancelha e depois cruzou os braços.

— Você não pode, pois descobririam quando conferissem sua varinha. Mas você está na mira, nós não! — Jorge explicou e se referiu a si e ao irmão — Limpar. — apontou em direção as louças ainda sujas e pronunciou.

Um jato de luz saiu da ponta da varinha do menino e toda a sujeira começou a desaparecer cada vez que a magia tocava a louça. Em poucos minutos tudo estava limpo, assim como era o objetivo ali.

— Isso não vai acabar bem, vão desconfiar que terminamos rápido demais e vamos nos encrencar mais ainda. Ou na pior das hipóteses, os dois vão ser pegos e vão ter que se juntar a nós! — Silas se assustou ao ver que o trabalho acabou em segundos.

— Difícil é nos pegar! — Fred gabou-se, mexendo na gravata — Só se alguém contar... — e encarou o Sonserino como indireta.

— O trabalho acabou por aqui. Podemos ir, então? — a menina lançou um olhar feio ao amigo.

— O Filch pode ter voltado e esterá nos esperando aí fora. — o único negativo sugeriu e estremeceu.

— Vamos por outro lugar. — desse vez Jorge se apressou para responder antes do irmão, que parecia meio afiado naquela noite — Uma outra passagem de onde nós dois viemos. — explicou.

— Tudo bem. — disse Tori, assentindo e depois agarrou o braço de Silas com firmeza — Por precaução. Chega de tombos por hoje. — sorriu de leve.

— Vamos então. — o outro gêmeo os apressou e saiu andando na frente por saber exatamente onde ir.

Os quatro deixaram a cozinha.

◾ ◾ ◾

Durante o restante da semana, Tori e Silas continuaram a sofrer as consequências do passeio noturno. Logo após o jantar, eram ambos que iam para a cozinha para lavar toda a louça sem o uso da magia.

Pelo menos sem sair da varinha deles. 

Fred e Jorge participaram de todas as noites, adiantando a tarefa com magia. Por sorte Filch não era muito esperto e sempre acabava comendo os doces alterados dos dois meninos, que a cada dia causava uma reação diferente.

Na segunda semana de setembro o castigo havia acabado, para o alívio dos dois. Ainda assim, Tori percebeu Silas desanimado no café da manhã enquanto alguns garotos de sua mesa conversavam e gargalhavam para ele, que parecia não dar a mínima.

Observando algo tão comum para o primeiranista, a menina suspirou e encarou seus três amigos inseparáveis: Fred, Jorge e Lino.

— Meninos, eu posso pedir um favor a vocês?— Tori pediu, encarando-os, que assentiram em positiva — Vocês fariam por outra pessoa o que fizeram por mim ano passado? — perguntou.

— Como assim? Que pessoa? — Jorge perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Silas. Eu acho que o pessoal da Sonserina pega muito pesado com ele. E o pior é que ele nunca reclama, parece relevar tudo! — suspirou, passando o dedo em volta de seu cálice de maneira desanimada.

— Se ele lida muito bem, não vejo muito o que podemos fazer por ele. — disse Lino, coçando o queixo.

— Quer que combinemos com os garotos do time e quebremos a cara dos Sonserinos que mexem com ele? — sugeriu Fred, dando um soquinho na palma da mão.

A menina acabou rindo, mas logo ficou séria para disfarçar a vontade de concordar com aquilo.

— Não. É melhor quebrarmos eles com palavras e não fisicamente. Vale lembrar que vamos poder quebrá-los no Quadribol também! — falou e abriu um sorrisinho triunfante — Enquanto ao Silas, eu estava pensando em fazer algo para mostrar a ele que Hogwarts pode ser legal, apesar de certas pessoas... — e revirou o olhar em direção a mesa da Sonserina.

— E o que você pretende fazer? — o Weasley perguntou.

— Eu estava pensando em... Bom, uma reuniãozinha em algum lugar para distrairmos ele. Um lugar onde aqueles idiotas não possam ir atrás dele. Talvez... — pausou e encarou os três com carinha de anjo — Talvez o nosso lugar. — e sorriu amarelo.

— De jeito nenhum. E se alguém o pressiona e ele acaba contando sobre lá? — negou Jorge, balançando a cabeça.

— Ele não vai contar. Vocês viram que ele nem abriu a boca sobre a ajuda de vocês dois, Fred e Jorge. Acredite, eu tento perguntar sobre o que ele passa dentro da Comunal e ele sempre muda de assunto. Além de que ele não costuma falar muito e gagueja para caramba! — Tori argumentou.

— Como pode confiar tanto em alguém que acabou de conhecer? — Fred resmungou.

— Pergunto o mesmo a você, que defendeu a Eileen como se a conhecesse desde sempre! — rebateu, revirando os olhos.

— É diferente. Ela é adulta e muito segura. Não precisa de guarda-costas por não ter capacidade de abrir a boca para pedir ajuda! — falou, estando sério.

— Fred Weasley sendo idiota outra vez. Que ótimo! — a menina suspirou pesado e se levantou — Deveria saber que denunciar um agressor não é uma coisa fácil, que passar por humilhações não é uma coisa fácil. Se esqueceu do que eu passei ano passado? — perguntou retoricamente e se afastou para se sentar com o pessoal do time.

◾ ◾ ◾

Após aulas em que preferiu ficar calada o tempo todo, respondendo apenas quando algum professor dirigia uma pergunta à ela, Tori correu para fora da sala com uma ideia surgindo em sua mente.

Mal pisou fora da sala e encontrou Olívio, que já trajava roupas de Quadribol e sorriu animado ao vê-la.

— Pronta para o teste daqui à pouco? Eu já falei com a Hooch, com o Carlinhos novamente e está tudo certo para você participar. É só ir até lá e fazer tudo o que tanto treinamos, que confio muito que você entra fácil no time! — tocou um ombro dela e apertou de leve — Vai, tartaruguinha! — e a abraçou, chacoalhando-a algumas vezes.

— Para, Olly. — pediu, rindo das graças do amigo — Eu vou. Só vou buscar uma coisinha no dormitório e já vou ir. — abriu um sorriso nervoso.

— Ótimo. Estamos todos te esperando, Tori. Boa sorte! — apertou o ombro dela outra vez e então se afastou visivelmente em êxtase.

— Onde eu fui me meter? — a menina lamentou — Droga! — resmungou e saiu correndo.

◾ ◾ ◾ ◾ ◾ ◾


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