Como a Lua, Tão Bela escrita por hina dono


Capítulo 1
Tsuki ga Kirei desu ne


Notas iniciais do capítulo

Meu presente de amigo secreto para o zackary uchiha, do grupo Igreja Nejihina. Espero que goste, pois foi de coração ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773977/chapter/1

Prelúdio

Aquele convite foi algo inesperado. Só não mais do que o encontrou ao alcançar aquele que o tinha convidado.

Tinha conhecimento sobre a enfermidade que havia se abatido sobre o Xogum, mas nenhum dos rumores fez jus à gravidade da situação. Assim, quando chegou ao castelo do líder militar daquela Nação, embora soubesse que algo não estava certo, não esperava encontrá-lo em seu leito de morte, tampouco que a última ordem do pobre moribundo fosse: 

— Do dia em que eu partir desse plano em diante, vocês, Hyuuga Hiashi, Uchiha Madara, Senju Hashirama, Otsutsuki Momoshiki e Nara Shikaku, serão conhecidos como Regentes dessa Nação, tornando-se os cinco responsáveis por proteger a vida de meu herdeiro, Namikaze Naruto, até que este alcance a maioridade. - O homem, outrora tão forte e imponente, precisou interromper seu discurso em busca de ar. Apenas quando sua tosse foi controlada é que ele voltou a falar: - Sei que vocês servirão ao meu herdeiro como serviram a mim: com lealdade extrema.

Surpresos, os cinco homens de aparências, personalidades e posições sociais distintas se entreolharam. Durou apenas um segundo, mas aquele único olhar foi o necessário para que eles soubessem: apesar de terem assentido, concordando imediatamente com seu Xogum, nenhum deles tinha intenção de viver em uma liderança conjunta.

ATO UM

Observá-la sempre fora um deleite para seus olhos. 

Quando menino, gostava de assistir às suas aulas de etiqueta - naquela época, ainda era muito ressentido por ter nascido em uma posição inferior a dela, então vê-la ser constantemente humilhada por sua falta de jeito lhe era extremamente prazeroso.

No entanto, tal atividade prazerosa eventualmente lhe foi proibida. As horas que antes eram gastas divertindo-se secretamente com o fracasso da prima, agora eram passadas na companhia de espadas. Mesmo que de um ramo inferior, nenhum homem do Clã Hyuuga poderia dar-se ao luxo de não saber manejar uma espada como se ela fosse um extensão de seu corpo.  

Felizmente, ele se demonstrou plenamente capaz disso, dominando a espada em tão curto tempo que chegou a ser chamado de "gênio" pelos demais Hyuugas. Infelizmente, nem mesmo sua genialidade o salvou de seu destino. Nascer como o  filho do irmão gêmeo - pouco apreciado por seu sangue - do Chefe do Clã não era muito diferente de nascer em uma família de simples criados. Com exceção de certos privilégios - à exemplo, ter um teto sobre sua cabeça durante as noites frias -, ele não passava disso: um criado. 

servi-la sempre foi o seu destino.

Por anos amaldiçoou tal carma e desejou o pior para seu tio por ter lhe dado esperanças de poder subir na vida, só para jogá-lo novamente aos pés da princesa Hyuuga, mas agora... tinha terminado por se tornar um tanto quanto grato por isso.

Observá-la sempre fora um deleite para seus olhos, afinal de contas.

Passado seis anos desde que se viram pela última vez, Neji reencontrou sua odiosa prima, e, com uma surpresa que não fazia sentido, notou que não havia sido o único a sofrer com o soprar furioso dos ventos do tempo. Antes tão desajeitada, Hinata agora parecia a personificação da graciosidade. Suas aulas haviam evoluído para temas mais domésticos - uma clara preparação para um futuro matrimônio -, e já não lhe proporcionavam tanto divertimento como antes. Na verdade, era um grande incômodo perceber que ela tinha se tornado uma dama valorosa.

Relutou em aceitar, mas, conforme o tempo passava, as vezes em que flagrava-se observando atentamente todos os movimentos dela tornaram-se mais recorrentes, o que o impossibilitou de continuar negando aquele terrível fato: sentia-se atraído pela prima.

Neji nunca fora homem de evitar encarar a realidade, porém, ao que parecia, havia uma primeira vez para tudo. Embora tivesse aceito que a mulher que sua prima havia se tornado lhe era muito agradável aos olhos, não passou disso. Não tentou cortejá-la, muito pelo contrário: certificou-se de manter seus olhos longe dela o máximo possível. É claro que o fato de estar incumbido de protegê-la, seguindo-a por todos os cantos como se fosse sua dama de companhia - fato que lhe rendia zombarias quando criança, mas que agora não mais eram ouvidas devido ao medo que sua habilidade com a espada impunha -, não tornou tal tarefa mais fácil. 

Toda essa situação atingiu seu ápice quando, no aniversário de 14 anos de Hinata, uma festa foi dada para celebrar a ocasião, sendo usada como pretexto para reunir os mais diversos pretendentes à mão da donzela.

Por aquela noite somente, Neji  foi liberado de suas obrigações, mas, antes que pudesse comemorar, descobriu que não estava liberado da festa em si - aparentemente, sua reputação de grande espadachim tinha corrido como chamas em palha seca e seu tio queria garantir que os demais Clãs, ainda que aliados, se lembrassem do lado de quem suas habilidades se encontravam. Apesar de odiar ser exibido como um brinquedo, entendia a importância daquilo. Eram tempos sombrios os que viviam... 

No entanto, nem mesmo seu senso de dever e honra tornaram mais fácil para ele tolerar aquele desfile de criaturas desprezíveis que almejavam unir-se ao Clã Hyuuga pelo matrimônio. Não havia um homem ali que fosse mais novo do que o próprio pai da debutante, tinha certeza disso! Alguns até mesmo lhe eram familiares, dos campos de batalha, e sabia já terem sido casados outras vezes, sendo agora viúvos, ou, ainda pior, serem simpatizantes do hábito de manter concubinas em seus palácios. E pensar que um pai permitiria que sua filha fosse apenas mais uma entre várias... 

Neji não conseguia entender como Hinata podia ficar ali - sentada no mesmo estrado que seu pai, ainda que um pouco distante -, em silêncio, enquanto era devorada com os olhos por aqueles animais. Ela não tinha orgulho?! Mas, acima de tudo, não conseguia entender o porquê dele próprio se importar tanto com isso! Costumava odiá-la! Se visse aquilo seis anos antes, se regozijaria com o sofrimento dela! O quê no inferno tinha mudado?!

À época, desconhecer as respostas para tais perguntas fez com que agonizasse por um bom tempo. Todavia, agora que as conhecia, poderia muito bem sacrificar todos os dedos de uma mão para ganhar a habilidade de viajar de volta para aquele momento, impedindo a si mesmo de descobri-las.

Ao fim daquela noite, no aniversário de 14 anos de Hyuuga Hinata, sua prima, Neji descobriu que a mulher que ela havia se tornado era forte - tão forte quanto qualquer outro Hyuuga -, e que o homem que ele havia se tornado a amava; profundamente. Não que tenha sido uma descoberta surpreendente, mas também soube, naquela noite, que seu amor era impossível. 

— Nii-san...

As lembranças que inundavam sua mente como uma enchente foram interrompidas por uma voz suave que insistia em chamar-lhe com uma intimidade jamais lhe concedida.

Adentrando de uma vez o jardim que a prima costumava usar como refúgio, aproximou-se do pequeno lago onde a moça estava à beira, observando as carpas. 

Moldando o seu tom de voz de forma a ocultar seus sentimentos, Neji disse:

— Uma dama que se refere de tal forma a outro homem que não seu noivo não deveria ser considerado sequer uma dama.

— Estranho seria se usasse tal termo para referir-me ao meu futuro senhor. Tenho a impressão que Jiraya-sama não gostaria mais de ser tratado fraternalmente por sua esposa do que gostou de minha recusa inicial em chamá-lo pelo nome de nascimento.

A ira queimou forte em seu peito por um instante, obrigando-o a morder a própria língua para impedir-se de praguejar. De todos os odiosos pretendentes de Hinata, seu tio havia escolhido dá-la ao pior: um velho cretino, conhecido por manter dezenas de concubinas; o tipo infame que nem sequer fazia questão de esconder sua permissividade em prol de manter as aparências.

O compromisso tinha sido assumido há três meses, somente dois dias após o aniversário dela, e teria sido oficializado na mesma semana se dependesse de Hiashi, todavia, o noivo negou-se, dizendo que não ousaria casar-se com tão nobre dama sem antes cortejá-la apropriadamente. Apesar de obviamente contrariado, o Hyuuga aceitou. Ele, mais do que ninguém, sabia quão importante sua união com um dos senhores feudais mais abastados daquela região viria a ser futuramente. 

Apesar de concordar que aquela tinha sido uma atitude nobre por parte do noivo, Neji não gostou nada daquilo, pois via nela um desafio ao seu autocontrole. Como protetor de Hinata, era sua obrigação assistir aos encontros dos dois, e, por conseguinte, aos flertes descarados do velho para com a moça. No dia em que ele se atreveu a pedir que ela o chamasse pelo nome somente, chegou a cogitar desembainhar sua espada, iniciando uma luta até a morte ali mesmo. 

Se não soubesse melhor, teria feito exatamente isso. Porém, a reputação de Jiraiya o precedia - e dessa vez não falava da má. O homem tinha feitos incríveis. Serviu como militar por décadas aos Xoguns, sempre sobrevivendo às mudanças abruptas na liderança do Governo devido às suas habilidades. Fazia apenas sete anos desde que havia aposentado-se, indo viver da terra,  surpreendendo a todos por ser bom nisso também. Se hoje era tão rico e cheio de terras, é porque era um homem astuto. Nem mesmo um gênio poderia com ele. Talvez dali a alguns anos, no entanto...

Neji suspirou internamente. Já não sabia se teria mais alguns anos...

— Perdoe-me a ousadia, Hinata-sama, mas a senhorita parece ter adquirido certa afeição para com aquele senhor... - Deixou suas palavras no ar, para que fossem carregadas pelo vento. Odiou com tudo o que era ter que pronunciá-las.

Após um longo silêncio no qual apenas a natureza podia ser ouvida, ela finalmente respondeu:

— Confesso que fui precipitada em meu julgamento. Os rumores não fazem jus à sua personalidade. Ele é surpreendentemente gentil.

— Então, em realidade, ele já alcançou seu coração...

Diferente de antes, a resposta veio rápida dessa vez.

— Não - Hinata negou, calma. - Sei que não deveria permitir que tais palavras deixassem minha boca, mas não posso mentir para você, Nii-san. Aquele homem não tem meu coração. Creio que nunca terá.

Alívio correu tão forte por sua veias, que levou cada gota de autocontrole que havia em si não aliviar sua postura, suspirando como se tivesse recebido a mais encantadora das notícias.

— Que infortúnio...

— De fato - ela concordou. 

Embora ainda olhasse fixamente para as carpas, sabia que agora a prima só tinha olhos para ele. Devia estar curiosa por seu súbito interesse nos assuntos do coração.

Sabendo que precisava afastar-se dela se quisesse voltar ao controle de suas emoções, ofereceu-lhe as costas, passando a andar, em silêncio, para longe do lago, das carpas e dela, talvez pela última vez.

***

Ser observada por ele era extremamente agradável.

Embora tivesse havido uma época em que aqueles olhos lhe causavam somente tristeza - seu primo nunca fora bom em esconder seus sentimentos, apesar de acreditar ser -, hoje já não era mais assim. Se quando criança temia aquele olhar, agora ansiava por ele.

Sabia que não era sensato, considerando todos os pormenores do destino que os prendia, mas não podia evitar: estava apaixonada por ele.

Não lembrava-se exatamente de quando tal tragédia abateu-se sobre si - talvez tenha sido quando o reencontrou após tantos anos sem se verem, ou, quem sabe ainda, nas vezes em que o flagrou olhando-a com certa admiração, ainda que raivosa -, a única certeza que tinha era quanto ao momento em que veio tomar conhecimento deste fato, aceitando-o como verdade absoluta: na noite de seu aniversário de 14 anos.

Durante toda aquela terrível festa, esteve apenas a um passo de desmoronar, arruinando a sua cuidadosa máscara de indiferença. Todos aqueles homens terríveis olhando-a como se não passasse de uma mercadoria à venda... e tudo com o consentimento de seu pai, seu próprio sangue... Nunca antes havia sentido tamanha solidão.

A única coisa que a impediu de quebrar foi sentir as ondas de ódio puro emanando de seu primo. A princípio, pensou tratar-se sobre a forma como ele próprio também estava sendo exposto por seu pai, como se não passasse de um brinquedo dele, mas não era isso. Quer dizer, não era apenas isso. Suas suspeitas foram confirmadas quando seu progenitor afastou-se, deixando-a sozinha no estrado, à mercê dos olhares famintos dos homens, que viram na atitude de seu anfitrião um convite aberto para apreciar mais de perto a beleza de sua primogênita. Antes que o mais corajoso deles completasse o caminho que havia começado a fazer até ela, Neji já estava ao seu lado, assumindo sua guarda, mesmo que tivesse sido liberado de suas obrigações para com ela durante aquela noite.

Hinata nunca antes tinha se sentido tão segura, tão protegida, tão amada... A atitude do primo acalentou seu coração, dando-lhe forças para suportar o restante da festa sem sucumbir às lágrimas. 

Depois daquilo, a relação deles nunca mais foi a mesma. Em três meses, aproximaram-se mais do que em todos os anos que conviveram juntos. Embora soubesse, em seu âmago, que era errado, que não era justo com nenhum deles, Hinata fez de tudo para fortalecer os laços entre os dois. Não conseguia importar-se com seu noivado, com o fato de que em breve estaria casada, sendo obrigada a partir com seu esposo, deixando para trás aquele que amava; não se importava se essa aproximação repentina iria tornar a despedida mais dolorosa, simplesmente queria tudo o que pudesse conseguir dele! Queria desfrutar o calor de seu carinho, o sabor de ter sua confiança, tudo!

E foi justamente essa ganância, esse constante desejo por mais, que, assim como o esperado, levaram-na ao desespero quando o momento da separação aproximou-se.

Todavia, o perigo iminente que ameaçava separá-los não era seu casamento, o fato de serem do mesmo sangue ou, ainda, o profundo respeito do primo às regras, mas sim uma guerra. Uma guerra que vinha rondando sua casa há tempos, mas que à Hinata, como a simples mulher que era, não foi dado o direito de conhecer o assunto. Não até que tal guerra alcançasse os portões do Clã, convocando os homens para tomarem partido nela.

Convocando os homens para lutarem e morrerem nela.

Quando tomou conhecimento disso, através de uma conversa sussurrada entre suas servas, entrou em desespero. Não tinha dúvidas de que ele partiria para lutar. Na verdade, agora que pensava nisso, aquela conversa tola iniciada por ele naquela tarde só podia significar que já tinha conhecimento do futuro que o aguardava.

Ele estava tentando assegurar-se de que ela ficaria bem...

Tolo! Tolo!

Hinata proferia maldições e preces em sua mente conforme avançava por corredores que lhe eram desconhecidos até então, mas que sabia que levariam-na até os aposentos dele - pelo menos foi o que as servas, assustadas por terem sido surpreendidas fofocando, lhe disseram.

Contudo, ao finalmente alcançar o lugar indicado, perdeu a coragem. Tinha medo de chamar por ele, de adentrar o quarto só para descobrir que já era tarde demais, que ele já havia partido... Mas ele não faria isso, certo? Não iria embora, muito menos sem se despedir, certo?!

Sua respiração tornou-se pesada, seu peito doeu e seus olhos arderam conforme seu desespero assumia a forma de lágrimas, fazendo com que todo seu corpo fosse dominado por tremores.

No entanto, quando pensou que desfaleceria, tamanha era a fraqueza que sentia, braços fortes a ampararam e uma voz tão querida aos seus ouvidos soou preocupada ao exclamar:

— Hinata-sama!

Ouvi-lo foi como finalmente ter alcançado a superfície depois de tanto tempo submersa, debatendo-se contra as ondas de seu próprio medo: gloriosamente aliviador.

Sem gastar um segundo sequer pensando se aquilo era ou não apropriado, Hinata lançou-se sobre ele, agarrando-se às suas vestes, ao seu corpo, prendendo-o em um abraço desesperado.

— Ainda bem! Ainda bem! - continuou a murmurar, entre lágrimas, apertando cada vez mais o pobre homem. Embora fosse tolice, considerando a diferença entre suas forças, queria certificar-se de que ele não desapareceria de suas vistas.

— Acalme-se... - ele sussurrou, finalmente retribuindo o abraço e passando a acariciar os fios de cabelo dela de forma hesitante. Quando sentiu que o choro dela tinha diminuído e que agora restava somente o fungar suave de uma criança necessitada de consolo, disse: - Venha, vamos entrar antes que alguém apareça.

Nenhum dos dois pensou muito a respeito da gravidade daquele convite, ou que tipo de consequência um possível flagra lhes traria. Naquele momento, ambos só conseguiam pensar no bem-estar um do outro.

— Como a senhorita soube? - Neji questionou, ainda virado de costas para ela após ter fechado a porta de seu diminuto quarto. Não era preciso ser um gênio para descobrir o porquê de tudo aquilo.

— Não foi por você, Nii-san... - Hinata rebateu, magoada. - Por que não me contou?

— Fui informado essa tarde.

— Antes ou depois de nosso encontro no lago?

Após um curto silêncio, voltou-se para ela, olhando-a fixamente nos olhos, e respondeu:

— Antes.

Embora a resposta dele já lhe fosse conhecida antes mesmo de ser pronunciada, doeu.

— Você partiria sem dizer adeus?

— Nunca fui afeiçoado a despedidas, Hinata-sama bem sabe disso - retrucou, aludindo à época em que eram crianças e Neji foi enviado para longe, para tornar-se um samurai, e também não se despediu dela.

— Os tempos eram outros. Nunca fomos próximos em nossa infância, mas agora...

— Agora o quê? - Ele a interrompeu.

— Nós somos amigos...

— Porque conversamos civilizadamente durante alguns minutos por dia? - Neji soou espantado, como se o pensamento de que fossem amigos por algo tão banal quanto conversar trivialidades fosse ridículo. - Seu conceito de amizade não condiz com a realidade, Hinata-sama.

— Não faça isso...

— Fazer o quê? Estou apenas sendo sincero, como poucos o são com a senhorita.

— Está tentando magoar-me! - acusou, zangada.

— Por que eu faria isso?

— Porque é um tolo! Porque acredita que será mais fácil para mim suportar sua ausência se eu odiá-lo! Como se eu pudesse odiar justo você de todos os homens que caminham por esta terra! Justo aquele que adentrou meu coração com tal falta de modos que sequer retirou os sapatos!

Àquela exclamação exaltada, silêncio se seguiu. Enquanto Hinata não conseguia acreditar ter deixado tais palavras escaparem de sua boca, Neji permanecia parado, parecendo perplexo pelo que tinha acabado de ouvir.

Com as bochechas queimando de vergonha, decidiu que deveria ao menos tentar explicar como sentia-se em relação ao primo, para que ele não tomasse sua desastrosa confissão como uma forma de manipulação. Todavia, a oportunidade lhe foi tomada pelo próprio ouvinte.

Aproximando-se tão rápido que ela mal pôde vê-lo, Neji a tomou nos braços e, com uma fúria desmedida, atacou-lhe os lábios, provando-os ao seu bel-prazer.

Hinata perguntou-se tolamente se era daquela forma que os inimigos dele se sentiam quando eram mortos por sua espada: gratos por terem sido ceifados por ele.

Apesar de mal conseguir mexer-se dentro do enlaço firme do homem, fez o possível para retribuir ao beijo, de forma que ele entendesse que ela o desejava na mesma, ou quem sabe até mais, intensidade. Deve ter funcionado pois, aos poucos, ele foi diminuindo o aperto sobre ela, permitindo que se movesse com maior facilidade - Hinata aproveitou-se disso para fazer algo que sempre desejou: acariciar os longos cabelos dele -, e tornou o beijo mais suave, diminuindo a brusquidão com que tocava os lábios femininos.

Quando o ar se fez necessário e ambos viram-se obrigados a se separar, Neji foi o primeiro a falar:

— Sinto muito...

— Acaso arrepende-se de ter beijado-me? - perguntou, ansiosa por saber qual seria a resposta.

— Não - confessou, trazendo alívio ao coração dela. - Eu deveria, mas não.

— Então porquê pede perdão?

— Por querer continuar... - Com a mão direita, acariciou circularmente a bochecha esquerda dela. Apesar de calejada, Hinata sentiu no carinho daquela mão mais suavidade do que em todos os finos lençóis que seu corpo já veio a deitar-se. - Por querer fazê-la minha apesar de saber que a senhorita nunca pertencerá a alguém como eu...

— Pois então... - Segurando a mão que lhe tocava, levou-a até os lábios, depositando um beijo cândido ali.

— Hinata-sama! - Neji tentou escapar de seu toque, sua criação falando mais alto do que seus sentimentos, mas ela não permitiu.

Olhando para aquele rapaz, que apesar de apenas um ano mais velho possuía olhos muito mais experientes, pediu:

— Deixe-me ser sua por esta noite e prometo que ainda serei sua quando retornar.

— A senhorita não pode prometer isso...

— Posso e estou - respondeu, firme, bem ciente de que talvez não conseguisse cumprir sua promessa, mas que tentaria até que a morte fosse sua única opção restante. - E quanto a você? - perguntou, esperançosa.

— Um samurai nunca vai à guerra com pensamentos de derrota em sua mente.

O quase imperceptível sorriso que ele esboçou foi aumentando conforme o dela também ia crescendo. Eram sorrisos tristes, mas, de certa forma, felizes. Afinal, felicidade nada mais é do que a capacidade de ter esperança, ainda que fraca, na própria felicidade.*

***

Agora que Hinata conhecia os pormenores do que estava acontecendo - à seu pedido, Neji tinha lhe contado tudo naquela noite -, seu temor em relação à segurança do primo havia aumentado exponencialmente.

Aquilo era traição!

Seu pai e outros quatro senhores tinham sido agraciados pela confiança do antigo Xogum que, em seu leito de morte, os tornou Regentes, ordenando que protegessem seu filho, até que o jovem herdeiro alcançasse a maioridade. No entanto, logo após a morte do mesmo, houve discórdia entre os escolhidos. Acusações foram feitas, mentiras criadas, verdades indesejadas espalhadas pelo vento, até que o inevitável aconteceu: uma guerra foi declarada.

A despeito de Hiashi estar entre os cinco escolhidos, o Clã Hyuuga conseguiu manter-se neutro durante o estágio inicial da guerra. Contudo, quando as tropas do Sul começaram a marchar, seu líder, Uchiha Madara, intimou-lhes a juntar-se a eles, do contrário, seriam vistos como inimigos e dizimados como tal. Hyuuga Hiashi odiava imposições - a não ser que fosse ele a impô-las, é claro -, e deixou isso bem claro ao reunir um pequeno exército e enviá-los ao auxílio de Senju Hashirama, no Oeste.

Após esse primeiro movimento, a situação piorou rapidamente. Segundo Neji, foi uma questão de dias até que ele fosse convocado. Partiria no alvorecer do dia seguinte para integrar a principal força do Clã, o exército liderado por seu pai.

Apesar dos pesares, Hinata conseguia sentir certo orgulho no tom de voz dele. Embora nem um pouco satisfeita com a situação, conseguia entendê-lo. Para um samurai como Neji, nada era mais importante do que sua honra; e o quê poderia ser mais honroso do que lutar na vanguarda de um exército amplamente conhecido por sua ferocidade em combate?

Entender, no entanto, não a impedia de sofrer com o caminho tortuoso que lhes fora atribuído pelo destino. Quando o amanhecer aproximou-se, foi com lágrimas em seus olhos que partiu dos aposentos dele, esgueirando-se pelos corredores do castelo como um ladrão, a incerteza se voltaria a vê-lo corroendo seu coração.

Horas mais tarde, houve um jantar entre a família principal, no qual seu pai manteve-se sisudo como sempre, ralhando com Hanabi quando notou a expressão chorosa que a menina fazia.

— Por que choras, criança? Eu esperaria isso de sua irmã mais velha, não de você.

Hinata somente cerrou os punhos àquilo. Estava preocupada demais para dar importância às grosserias do pai. Todos seus esforços estavam concentrados em não levantar-se e sair em disparada à procura do primo, que havia sido cruelmente excluído do jantar mesmo que um estranho como Jiraiya tivesse sido convidado.

E por falar em seu noivo...

— Sinto que lhe devo um pedido formal de desculpas, Hiashi-san - disse ele, mais sério do que Hinata jamais tinha o visto. - Embora desejasse agradar minha jovem noiva, deveria ter levado em consideração o momento difícil que já enfrentávamos na época e casado-me com ela o mais rápido possível.

— O que está feito, está feito - respondeu Hiashi, displicente. - Agora terá de esperar até minha volta antes de desposar minha primogênita.

— Estarei contando os dias!

Um resmungo, foi toda a resposta que tal comentário conseguiu arrancar de seu pai.

Hinata ouviu aquela pequena conversação com nervosismo. Não sabia se deveria agradecer por essa nova imposição ou temê-la.

— O peixe está mal-temperado - reclamou Hiashi, esta sendo sua última contribuição para a conversa, que não durou muito mais devido à necessidade de finalizar o jantar em um horário apropriado.

Poucos minutos depois, todos se recolheram aos seus aposentos.

Hinata não pôde dormir, tão ansiosa estava. Ficou em seu quarto, atenta a qualquer som, esperando uma visita que não veio.

Ao alvorecer, pôde ouvir o barulho característico de cascos de cavalo e armaduras tintilando. Assim como o esperado, não houve despedidas. Eles partiram como se planejassem voltar no dia seguinte.

Porém, quando o dia seguinte chegou, eles ainda não haviam voltado.

E à Hinata, que não pôde despedir-se de seu amado, apenas lembranças restaram. Aquelas preciosas lembranças, criadas nas horas passadas dentro daquele quarto, nos braços de Neji, foram o que a sustentou, impedindo-a de quebrar durante os anos que se seguiram - os mais terríveis anos de sua vida. 

ATO DOIS    

Nada passava tão lentamente quanto o tempo ou mais rápido que ele. Os dias que se arrastavam, acabaram por virar meses e, quando não estava olhando, dois anos inteiros já tinham se passado desde que o viu pela última vez.

Nesse ínterim, houve apenas um acontecimento realmente significativo em sua vida: sua mudança de residência.

Como estavam em guerra e nenhum dos lados tinha escrúpulos quanto ao que fazer para vencê-la, a possibilidade de um ataque ao castelo dos Hyuuga fora prevista desde o início. Então, antes que o inimigo pudesse agir, Jiraiya, que havia ficado responsável pela noiva e por tudo que a cercava, tomou as devidas providências para que pudessem sair de lá sem que nenhuma informação vazasse e levou-os para um lugar seguro.

E qual lugar seria mais seguro do que o palácio que servia de harém para um antigo general?

Se a situação fosse outra, nem mesmo Hinata teria conseguido ocultar seu ultraje, mas ela simplesmente não estava em posição de palpitar sobre o que era decente ou não. Além do mais, era evidente que Jiraiya tentou ao máximo disfarçar os fatos, fazendo suas concubinas passarem-se por servas - não que alguém tenha acreditado, mas... -, de modo que ela não se ofendesse. Apesar de sua óbvia permissividade, Jiraiya era um bom homem. Era inegável que ele se importava profundamente com seu bem-estar e, com o tempo, tais sentimentos tornaram-se recíprocos. Tinha quase certeza que seria feliz com ele se a situação fosse outra. Todavia, ela não o era, e, na realidade em que viviam, nenhum outro homem poderia jamais alcançar seu coração.

Ela pertencia de corpo e alma à Neji Hyuuga. E essa sensação de pertencer foi algo que nem mesmo o tempo transcorrido foi capaz de apagar.

***

Aconteceu no fim do outono: uma carta endereçada ao seu noivo chegou ao palácio. Hinata sabia que Jiraiya vinha se correspondendo com seu pai esporadicamente durante todo aquele tempo, assim como também sabia que as saudações que seu pai supostamente lhe enviava em suas cartas eram inventadas pelo noivo - Hiashi nunca fora um homem fraternal e isso ficou mais do que evidente na última carta enviada por ele.

Ele estava morrendo. Havia contraído uma doença desconhecida por todos há algumas semanas e vinha piorando rapidamente. Em sua carta, deixava claro acreditar não durar muito mais e, como sua última vontade, pedia à Jiraiya que intervisse na guerra em andamento, a fim de conquistar o que agora era dele por direito - considerando que Hiashi não possuía filhos homens, aquele que desposasse sua primogênita herdaria todo seu patrimônio.

Engraçado como mesmo em seu fim o que lhe era mais querido não eram suas filhas e sim seus bens materiais...

Hinata queria ser capaz de sentir-se surpresa por ele nem sequer ter guardado algumas linhas de sua carta, de suas últimas palavras, para alguma de suas filhas, mas a verdade é que já havia passado o tempo em que ousava ter fé naquele homem.

E ainda assim, mesmo que com aquela carta ele tenha selado o destino dela, o de Neji e o de Jiraiya, não conseguia odiá-lo... Chorou a iminente morte dele como uma criança, precisando ser vergonhosamente consolada pelo noivo. No fim, seu pai sempre teve razão: sua gentileza era um grande incômodo.

***

Como o esperado, seu casamento teve de ser adiantado, sendo celebrado no dia seguinte ao recebimento da carta. Não houve festa, muito menos consumação: somente algumas horas depois de ter se tornado uma mulher casada, semanas antes de seu aniversário de 17 anos, Hinata assistiu seu esposo partir para a guerra; em seu coração, a cruel certeza de que ele não voltaria.

ATO TRÊS

Guerra era uma ciclo vicioso de perdas excessivas e ganhos mínimos. Desde que aquela em que lutava havia tido início, poucas foram as vitórias se comparadas às inúmeras perdas.

Tinha perdido mais companheiros do que conseguia se lembrar no momento; seu braço esquerdo parecia estar com os dias contados também, tamanha era a inflamação que o atingiu após um ferimento passado despercebido durante uma batalha; o inimigo estava os pressionando cada vez mais, fechando o cerco de uma forma que não houvesse saída além da rendição - que todos sabiam que não aconteceria - ou a morte; e agora, para piorar tudo, seu tio e líder daquele exército havia morrido, após semanas lutando contra uma doença desconhecida.

A morte de Hyuuga Hiashi não podia ter ocorrido em pior momento. Após dois anos e oito meses em guerra, a desesperança já tinha invadido os corações dos soldados, tornando-os emocionalmente fracos, o que piorou drasticamente o desempenho de todos em batalha. Agora, sem seu líder, eles não passavam de um bando desordenado, uma presa fácil para um exército como o do inimigo, cheio de vitórias consecutivas. O próprio Neji já estava à beira de um colapso quando as notícias chegaram: um exército numeroso tinha sido avistado marchando do sudeste para o centro-oeste, onde a guerra estava em seu auge. 

Não foi difícil deduzir tratar-se dos homens de Jiraiya, considerando que tinha sido Neji o responsável por transcrever as últimas palavras do tio e enviá-las ao ex-general. No entanto, algo em tudo aquilo não parecia certo: o exército de Uchiha Madara não estava recuando. De certo que todas as vitórias obtidas por ele eram mais do que o suficiente para conferir-lhe confiança, mas até mesmo ele deveria mostrar um pouco mais de respeito para com aquele que por décadas sobreviveu à pior das guerras: as mudanças de xogunato.

Com um mau pressentimento, Neji, que de algum modo havia acabado na liderança daquele exército em frangalhos, ordenou que o restante de seu exército recuasse - moveriam-se para o noroeste e, com sorte, conseguiriam reagrupar com os aliados ali estacionados antes que fossem alcançados.

Por mais improvável que pudesse parecer, seu plano estava indo bem, o que apenas serviu para que seu mau pressentimento se intensificasse. Tudo finalmente fez sentido quando, ao aproximarem-se o suficiente, avistaram os estandartes que exibiam a imagens de luas crescentes, o simbolo dos Otsutsuki, aliados dos Uchiha naquela guerra.

Eles tinham derrotado os Senju e aguardado pelo momento em que os Hyuuga voltariam para lá, caindo em sua emboscada como coelhos indefesos. 

Assim que deu-se conta disso, tratou de marchar o mais rápido que pôde em direção ao norte, sendo perseguido de perto pelos três exércitos. Os Uchiha lhe seguiam pela retaguarda, os Otsutsuki ladeavam seu flanco esquerdo e o exército de Jiraiya - que agora estava mais do que óbvio tratar-se de traidores - havia alcançado seu flanco direito. Sabia que não havia escapatória. Conhecia bem demais aquela região para acreditar que um caminho milagroso surgiria. Seria mais fácil parar, se render e clamar por misericórdia - afinal, os responsáveis por ter iniciado aquela guerra estavam mortos e o único pecado dos Hyuuga tinha sido escolher o lado errado para apoiar -, todavia, nenhum deles faria isso. Não poderiam enfrentar o pós-morte com dignidade se ousassem sequer pensar em se render, tamanha a desonra que recairia sobre eles.

Portanto, continuaram a marchar, bem cientes de qual era o destino que os aguardava. Os inimigos também marchavam, na óbvia intenção de impedi-los de alcançá-lo.

Não conseguiram.

Estavam a quilômetros de distância quando Neji, na vanguarda de seu próprio exército, avistou as águas turbulentas que separavam as terras daquela Nação das que pertenciam aos nativos, onde nenhum deles tinha permissão para pisar.

À visão do mar revolto, um ofegar coletivo pôde ser ouvido. Samurais não eram conhecidos por sua expressividade, mas, dado as circunstâncias, aquilo era compreensivo.

Aquele não era o fim que tinham imaginado para si mesmos, contudo, seria um fim honroso. Afinal, deve-se viver quando é necessário viver e morrer quando é necessário morrer.* 

 Neji apenas esperava que, apesar de não ser um samurai, Hinata compreendesse isso.

Epílogo

A mente humana funciona de forma engraçada... Ela não conseguia lembrar-se com exatidão de algo que comeu no início daquela semana, entretanto, memórias de uma noite ocorrida há anos continuavam a surgir em seus pensamentos, tão vívidas que mais pareciam ter ocorrido há poucos minutos.

Eram memórias doces de quando foi tocada e amada por um homem pela primeira vez, envoltas em memórias amargas dos acontecimentos que se seguiram àquilo.

Mal podia acreditar que dez anos tinham se passado desde então - sendo quase três deles os mais sombrios de sua vida. Pensar que tudo aquilo já não passava de lembranças agridoces era... estranho.

— Cansou-se de ouvir as mesmas histórias que Jiraiya-san sempre conta?

Aquela voz... Toda vez que a ouvia era como se adentrasse o paraíso que os jesuítas tanto falavam.

— Poderia ouvi-las para sempre se contadas por você... - confessou. Havia aprendido a não esconder nada dele; mesmo seus pensamentos mais constrangedores lhe eram revelados.

— Sua ousadia muito me surpreende, Hinata-sama.

Hinata-sama... No início, a insistência dele em tratá-la tão formalmente mesmo que agora fossem casados lhe era muito desagradável, mas, com o tempo, ela entendeu que aquele era apenas um dos vários modos que ele usava para dizer "eu te amo" sem pronunciar tais palavras. Desde que havia alcançado a posição de senhor feudal, após a vitória milagrosa sobre os Uchiha, Neji nunca mais referiu-se a outra pessoa com tal honorífico - com exceção, é claro, de sua bela esposa.

— Você está bem? - ele perguntou, aproximando-se e aconchegando-a em seu peito, circulando-a com o braço que lhe tinha restado. - A criança...?

Hinata sorriu, levando a mão dele até seu ventre para que pudesse sentir o volume ali presente.

— Sinta você mesmo.

Estavam à espera de mais um filho - o quarto de duas meninas e um menino. O bebê deveria nascer em no máximo dois meses, embora Hinata sentisse como se fosse tê-lo a qualquer momento.

— Como cheguei até aqui? - questionou em um sussurro maravilhado.

Rindo, Hinata respondeu:

— Pela hora, acredito que Jiraiya-sama esteja quase chegando nessa parte!

Sempre que se reuniam no castelo do novo Xogum, ele exagerava nas doses de saquê e começava a contar suas aventuras, dentre elas a de como havia unido-se ao Clã Nara, conhecidos por sua aguçada inteligência, e criado um plano que pudesse reverter a situação da última guerra ocorrida antes que o Japão entrasse em um longo período de paz.

Segundo ele, o plano consistiu, basicamente, nos Senju derrotarem os Otsutsuki e então tomarem suas vestes, passando-se por eles por algum tempo. Com a primeira parte do plano concluída, Jiraiya entrou em contato com Madara, alegando que após a morte de Hiashi, não tinha porquê continuar apoiando financeiramente um exército que só perdia. Depois de ter chegado a um acordo com o líder dos Uchiha, o agora Xogum, tinha se posto a marchar em direção à guerra, encurralando, junto com os Senju, o inimigo sem que ele sequer se desse conta disso. Quando Madara percebeu que era ele e não Neji que estava sendo perseguido, já era tarde demais.

No entanto, devido à impulsividade do jovem Hyuuga, também quase foi tarde demais para ele e todo seu exército. Só de pensar que todos eles estavam prestes a cometer seppuku e então jogarem-se ao mar quando Jiraiya iniciou o ataque aos Uchiha, chamando-lhes a atenção... Hinata sentia todo seu corpo tremer de medo e alívio por tal tragédia não ter concretizado-se.

E isso devia-se única e exclusivamente ao seu ex-noivo que, por possuir um coração tão bondoso, cancelou seu casamento, fingindo que tal matrimônio nunca havia existido e cuidando para que tudo ocorresse de uma forma que sua honra não fosse manchada. Graças a ele, Hinata tornou-se livre para seguir seu destino, vivendo sua vida com a liberdade que nunca teve.

E pensar que Jiraiya fez tudo isso mesmo tendo conhecimento de suas intenções... Ele, que havia lido o bilhete que ela planejava enviar ao primo assim que viu-se casada, o bilhete no qual cruelmente ordenava à Neji que não permitisse que seu esposo voltasse vivo daquela guerra, para que assim nunca tivesse a oportunidade de consumar o casamento... Ele poderia tê-la matado na mesma hora, mas não, fez o contrário: lutou bravamente para que o amante de sua esposa sobrevivesse e então pudesse reivindicá-la, tomando-a de si. 

Quando Hinata soube da verdade, o questionou, em meio à lágrimas de arrependimento, sobre os motivos que o levaram a fazer aquilo, chamou-o de louco, mesmo que isso pudesse ser considerado ingratidão de sua parte, e obteve como resposta o seguinte:

 "Chame-me de louco se quiser, já fui chamado de coisas piores!", riu abertamente. "Honestamente, Hinata, eu apenas pensei que seria um desperdício abrir mão da amizade de uma dama tão agradável como você."

E com essas palavras, o relacionamento de três anos deles foi rompido, para que algo maior pudesse nascer no lugar.

— Prefiro não ter que passar por isso de novo - Neji resmungou, trazendo-lhe novamente para o presente. Todavia, Hinata sabia que seu esposo tinha adquirido um respeito imenso por Jiraiya e que, se preciso, lutaria até a morte por seu novo Xogum.

Suspirando, ele confessou:

— Você tinha razão sobre os rumores não fazerem jus à personalidade dele...

— Ele é gentil, não é?

— Um falastrão, indulgente, mulherengo... Mas, sim, é um homem gentil.

— Serei eternamente grata a ele.

— E eu serei a você.

Hinata inclinou seu pescoço para trás, de forma que pudesse olhá-lo nos olhos. Seu esposo continuava tão lindo quanto sempre.

— Neji, eu...

Ela quase disse as palavras, mas foi interrompida por ele:

— Hinata-sama, a lua está bela, não está?

Sorrindo, conformada pelo jeito de ser daquele que amava, Hinata acompanhou seu olhar, mirando a lua cheia que quase parecia alcançar a montanha sobre a qual o castelo tinha sido construído.

Teve de concordar: a lua parecia especialmente linda naquela noite.

— Sim, a lua realmente está linda, nii-san.

 

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguns adendos: tsuki ga kirei desu ne significa "a lua está bela, não está?" e é uma forma de dizer "eu te amo"

essa história se passa no fim do período sengoku, mas houve alterações para que o enredo fluísse melhor

"mas a felicidade é ter esperança, ainda que fraca, na própria felicidade" - dazai osamu

o nome da fic vem do anime "tsuki ga kirei"

zackary, como vc pôde ver, eu não segui um dos seus prompts - o hentai -, mas espero que vc tenha gostado mesmo assim.
aos demais, deixem seus comentários e me façam feliz!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Como a Lua, Tão Bela" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.