Estrelas no céu da boca - NatalClichê escrita por ThaayVi, QG Dramione


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa fic está mais do que atrasada. Um mês de atraso! Mas, infelizmente, fiquei sem computador e aí já viu.
Então, relevem o fato dela está completamente fora de época, e se deixem levar pela história.
Bom, o enredo foi inspirado na música "Can't Help Falling In Love", do Elvis Presley (ESCUTEM! Sério!), e é uma espécie de homenagem aos clichês usados no desafio, reunindo alguns deles na mesma história, culminando no maior clichê dos romances.
Então, preparem-se para todas as referências e vejam se estão ligadas, mesmo!

O QG chegou nº 100! Abram os champanhes e aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773901/chapter/1

Era inegável como aquela noite tinha algo de diferente. Sabe quando vivemos algo e sentimos aqui dentro que este, justamente este, será um daqueles momentos que serão lembrados até o fim de nossas vidas? Absolutamente, aquela noite era um desses. E ali, enquanto estava parada próxima aquele bar, eu tinha mais certeza disso. Como uma expectadora distante, o clima encantador daquela festa era ainda mais perceptível pra mim. Eu sabia que, se esticasse as mãos, poderia sentir a magia que parecia flutuar no ar, de tão palpável, tão real que era. 

Talvez por ser natal, talvez porque todos parecem mais agradáveis quando estão em festas como esta, mas as pessoas ao meu redor pareciam brilhar. Não por causa de suas roupas formais ou suas joias, mas porque estavam imbuídas por algo a mais. 

Mas havia uma pessoa dentre todas que brilhava mais. Não, brilhar era pouco. Resplandecia! Eh, resplandecer era o verbo mais adequado para retratar o Malfoy. Sim, Draco Malfoy definitivamente era uma daquelas pessoas que não precisavam de muito para se destacar. Enquanto ele circulava entre os convidados da festa, distribuindo entre eles um pouco da sua luz, eu estava ali, vidrada nele, impossibilitada de tirar meus olhos dele. Como um fiel devoto, como um adorador fanático, como uma mariposa que dá voltas em torno da luz. 

Chegava a ser irônico isso. Logo eu, tão acostumada a estar diante dos flashes, de repente me vejo uma fã deslumbrada. Não pude não rir dessa ideia. Mas, fazer o quê se ele exercia esse poder sobre mim?  

Ao tomar um gole da minha bebida e desfrutar da sensação que as bolhinhas do champanhe trouxeram ao céu da boca, as lembranças do dia em que vi Draco pela primeira vez me atingiram em cheio. As cosquinhas que as borboletas faziam em meu estômago era como se em minhas veias corressem o melhor dos champanhes. Eu nem fazia ideia ainda, mas pelo visto o meu corpo já estava em festa só por vê-lo. 

 

*** 

 

Finalmente sábado! Meu primeiro dia de preguiça após tantos dias de gravação ininterruptas. Eu estava irreconhecível para uma estrela tão badalada do show business: uma calça de moletom 2 números maiores, um cardigã meio puído, e minhas sapatilhas mais velhinhas (e, por isso mesmo, mais confortáveis). Meu cabelo estava um desastre à parte, com aquela tentativa catastrófica do tal coque frouxo que eu sempre via as tais blogueirinhas fazendo. Eu nem queria imaginar o que a minha personal stylist diria se me visse, muito menos o que aqueles apresentadores venenosos de programas de fofoca. No auge do meu look tragédia, fui atrás de algum lugar em que pudesse matar a fome. Estava tão distraída vendo as críticas sobre minha participação naquele seriado e fantasiando com um bom chocolate quente, que se quer prestei atenção que caminhava diretamente pra esbarrar em alguém. Foi tudo tão rápido. Um minuto eu estava quase entrando na bomboniere, no outro estava dando de encontro com um rapaz. Meu mundo, por um instante, tornou-se uma confusão de branco e azul. Branco, das folhas que ele trazia. Azul, dos olhos mais lindos que já tinha visto. Devo ter ficado uns bons minutos embasbacada olhando pra ele, enquanto ele me segurava, evitando assim uma queda nem um pouco glamourosa. Não quero nem imaginar o tipo de cara que fazia enquanto me perdia naquele azul cristalino.  

 

Só voltei a órbita quando percebi que ele falava alguma entre um sorriso e outro. 

— Você está bem? - ele perguntava em meio a um sorrisoprovavelmente de mim. 

— Han... Sim, sim. Desculpe - Respondi voltando a órbita e me dando conta que devia ter levado um tempo além do necessário pra “voltar ao normal” - Ai, nossa, deixa eu te ajudar – E já fui me abaixando pra catar as folhas que estavam soltas ao nosso redor, nem dando tempo pra ele recusar. 

 

Não sei o que era maior ali, se a vontade de o ajudar ou a de ter algo pra fazer com as mãos e pra onde olhar, só pra esconder o constrangimento que se instaurou em mim. Nisso, acabei sem querer lendo algumas informações em uma folha e outra, tinha umas propostas de marketing pra alguém, acho que ele trabalha com comunicação. Como minha língua não cabe na boca, acabei comentando isso. E ele, tão gentil, sorriu mais ainda e confirmou que era um profissional criativo, e aquelas folhas seriam as etapas de uma campanha. 

 

— A propósito, me chamo Draco Malfoy. É um prazer conhecê-la, Srta. Granger! - Caramba, que voz é essa? Ei, peraí... 

— Como você sabe meu nome? Eu nem me apresentei ainda? - Indaguei, dando atenção ao que realmente importava. 

— Seria impossível não reconhecer Hermione Granger. Assisti seu último filme. E, se me permite dizer, estava muito boa no papel, fez jus ao livro. Acho que posso dize que sou um fã. Mas juro que não sou nenhum stalker maluco e que esse encontro foi totalmente acidental. - Ele falou rápido e de um jeito tão fofo, que não teve como não rir. 

Mas, ao lembrar do jeito que estava vestida, por motivos óbvios, senti vontade de ser um avestruz. Bem que esse encontro poderia ter sido como nos filmes que eu interpretava: a mocinha vestida como se tivesse saído das páginas de uma revista e o cara se apaixonando com um olhar. 

— Literalmente, né? E do jeito que eu derrubei seus papéis, se tivesse sido proposital eu relevaria. - Ele sorriu, fazendo eu me sentir muito espirituosa por isso.  

— Bom, já tomei muito do seu tempo, tenho que ir agora. Novamente, foi um prazer encontrá-la, Sra. Granger. Desculpe pelo susto. - Ele disse, ajeitando a postura, parecendo um lord inglês.  

— Pode me chamar de Hermione. E sou eu quem devo me desculpar, estava distraída, não olhei pra frente... Foi um prazer conhecê-lo, Draco.  

— Até uma outra vez, Hermione. A gente se esbarra por aí, não exatamente, quero dizer... Ah, você entendeu! Tchau! - disse rindo, todo sem jeito.  

Enquanto me despedia, sorrindo de volta, por dentro desejava que Draco ficasse. Um último suspiro escapou antes que eu voltasse à realidade, minha fome desse as caras e eu, finalmente, entrasse na bomboniere. 

 

*** 

 

As gargalhadas altas me fizeram voltar para o presente e, automaticamente, voltei meus olhos para o foco do barulho. E, novamente, lá estava ele, sendo o centro de atenção um grupo de amigos. Draco tinha alguma coisa que o fazia transitar tão facilmente entre as pessoas, e mais facilmente ainda fazia com que grupos tão diferentes entre si interagissem de maneira natural. Talvez esse fosse algum tipo de dom dele, algo como um espírito apaziguador, diplomata. E o mais incrível era que nada era forçado. Ele não precisava assumir o papel de legalzinho demais, bonzinho demais, certinho demais... irritante demais! Muito pelo contrário, o Draco tinha uma das personalidades mais fortes que já conheci. Sabe aquelas pessoas que têm um “q” de realeza, sem nem precisar de uma coroa na cabeça? Ele é exatamente assim. Altivo, imperativo, dominante... E eu pude conhecer toda essa personalidade quando nos reencontramos alguns meses após ao incidente na calçada da bomboniere. Minha agente havia cismado que eu precisava de uma consultoria para minha carreira, principalmente depois de toda a confusão que uma fake News a meu respeito causou. Lembro que insisti por quase 3 semanas que não era necessário, mas, quando perdi o contrato para adaptação cinematográfica do meu livro preferido, vi o quão essas mentiras podem ser impertinentes e destrutivas. Enfim cedi às insistências da minha agente e fomos à tal empresa de comunicação de uns conhecidos dela. Quando eu vi quem era um dos profissionais que trabalharia comigo, eu realmente me arrependi de ter demorado tanto a ir. 

  

*** 

  

Eu estava uma mistura de ansiedade com tédio, ali sentada, esperando ser recebida na sala de reunião. Ansiosa para conhecer esses caras que a Gina tinha me garantido que eram os melhores no ramo. Entediada o suficiente para reparar nos detalhes da decoração que oscilava entre dois tons de verde e tons amadeirados, se eu ficasse mais um minuto ali, com toda certeza, seria capaz de dizer quantas linhas de verde musgo tinham na estampa do wallpaper aplicado na parede à minha frente. Fui tirada desse redemoinho de monotonia pela voz de nada satisfeita de Gina. 

  

— Dá pra parar de balançar essa perna, Hermione Granger? Se você continuar a balançar isso é capaz de ficar com alguma lesão por esforço repetitivo, garota. Credo! Eles já vão nos atender. – Minha super paciente agente falou. 

— Ai, Ginevra Weasley! Vai demorar muito ainda? Se eu continuar olhado pra essa padronagem nunca mais vou usar xadrez na vida. Tu não acha isso aqui meio antiquado demais pra quem diz que trabalha comunicação, hein? 

— Primeiro, me chama de Ginevra outra vez em público, e eu vou te dar uma charmosa cicatriz no nariz. – Minha agente querida respondeu entre dentes enquanto se aproximava de mim para cochichar e mantinha os olhos na secretária que, de repente, pareceu bem interessada em nossa conversa. – Segundo, não tem nada de antiquado, é clássico! Todo mundo ama um clássico! Terceiro, pra quem não queria vir, você tá muito ansiosa, hein, Mione... Você conhece algum deles? – Tava demorando pra “Srta. Maldo-tudo-que-for-possível-e-aquilo-que-não-for-também” aparecer. 

— Eu não  mais aguentando esperar, só isso... – devolvi enquanto já sentia ruborizar um pouco. 

— Sei, se- 

— Senhoritas, desculpem interromper, mas, por favor, me acompanhem. Os nossos sócios já as aguardam na sala de reunião. – A frase de Gina ficou pela metade com o chamado da secretária. Nos levantamos e a seguimos pelo curto corredor. 

  

Quando a moça abriu a porta, Gina ia na frente, o que tapou um pouco minha visão das pessoas de dentro. Como sempre, a minha boca grande não consegue ficar fechada, eu já fui entrando e reclamando da demora, como uma perfeita mimada. 

  

— Eu já estava criando raízes na sala de espera de voc—... – Eu queria saber em que buraco minhas palavras entraram, porque eu queria me esconder junto. 

— Olá, Hermione! Não é que nos esbararmos outra vez? – Draco tomava a iniciativa de se aproximar para nos receber. 

— Er... Oi, como vai? Draco, não é? Que coincidência... – Respondi com uma voz umas três notas mais aguda, fazendo tipo para disfarçar a vergonha que sentia, como se tivesse sido capaz de esquecer aqueles olhos, ou aquele sorriso, durante os últimos meses. 

— Olá! Sou Gina Weasley, agente da Hermione, e fui eu quem agendou esta reunião. Muito prazer. – Gina me deu um rápido olhar e se adiantou, percebendo minha nítida cara de paspalha atrapalhada. Eu já disse que amo essa garota? Pois, eu amo! 

— Olá, Sou Draco Malfoy, sou relações públicas. E estes aqui são Blaise Zabini, publicitário, e Pansy Parkinson, profissional em marketing. Bom, ainda falta um de nós, o Theodore Nott, que é o jornalista do grupo, mas ele está cobrindo um evento em outro país pra um cliente nosso. – E assim os demais também nos cumprimentaram. Eu espero de verdade que a Gina tenha prestado atenção no que eles iam dizendo, porque acho que só conseguia me concentrar no sorrido do Malfoy. – Mas, por favor, sentem-se, vamos conversar. 

— O que exatamente vocês esperam de nós? – Nem mal sentamos, o Blaise perguntou de modo direto. 

— Bom, como já adiantei ao entrar em contato, precisamos fazer um reposicionamento da imagem da Hermione. Acredito que todos esses boatos, inverídicos, já adianto, estão sendo bem prejudiciais pra carreira dela. 

— Isso já havíamos percebido. Mas, que tipo de imagem querem construir pra Srta Granger? Querem só desmentir, ou querem reformular a maneira como ela se apresenta para o grande público? – Se eu não tivesse tão anestesiada pela expressão sex-, digo, compenetrada que o Draco fazia, provavelmente teria implicado com o tom de voz arrastado que a mulher de cabelos pretos usava. 

— Bom, é aí que vocês entram... – Gina, que já estava com aquele ar sério que ela adquiria quando tratava de negócio, começou explicando todos os planos que ela tinha em mente. 

  

Eu permiti a mim mesma apenas acompanhar calada enquanto via minha amiga mostrar porque era conhecida como uma das melhores agentes do show business e, claro, aproveitar para babar (internamente) por aquele homem. 

Por um bom tempo, nosso trabalho conjunto foi bastante intenso. Draco fez questão de acompanhar minha rotina de trabalha de perto para que “as estratégias de posicionamento de marca”, como ele dizia, surtissem o efeito desejado. Eu me sentia um produto em uma prateleira, mas resolvi confiar no trabalho dele e concordei. E, com isso, ele praticamente se tornou uma espécie assistente. Então, quase que diariamente, trabalhávamos juntos, ele ficava a par de todos os roteiros que eu recebia, assim como qualquer tipo de convite ou proposta de trabalho, e sempre fazia questão de escolher aqueles que fossem mais satisfatórios para minha carreira. 

E se eu achava que seria um paraíso ter que olhar todo dia para aquele pedaço de mal caminho inglês, eu tirei meu pônei da chuva antes de completar o segundo mês de convivência, logo que tivemos nossa primeira discordância. Em toda minha vida nunca tinha conhecido alguém tão teimoso e cabeça dura. Ok, talvez eu mesma. Mas, definitivamente, Draco não precisava saber disso. 

Eu estava gravando as últimas cenas da minha participação em um seriado policial e fazia um bom tempo que não me divertia. Eu precisava espairecer, precisava de um tempo pra ser eu. Quando chegou o sábado, não pensei duas vezes e aceitei o convite pra sair de alguns colaboradores da produção. Eles iriam em um barzinho com música ao vivo e boa bebida. Pra mim, soava perfeito! Mas, pelo visto, meu “assistente de carreira” discordava. 

 

— Que ideia estapafúrdia é essa, Hermione? Você sabe muito bem que estarmos nesse quase fim de mundo não significa que você não será reconhecida. 

— Draco, eu preciso me distrair. Nem se atreva a sugerir alguma programação do hotel! - O interrompi exasperada, impedindo que ele dissesse outra vez algo do gênero e, pelo jeito que ficou com a boca aberta, devia estar pensando em dizer exatamente isso. 

— O que tá fora de cogitação é você se enfiar em um lugar sem nenhuma estrutura para oferecer segurança. 

—  Eu planejo ir a um lugar com bebida e música ao vivo, não pra uma "base terrorista altamente armada”. - Respondi revirando os olhos, enquanto me dirigia à saída do trailer. 

— A Gina me encarregou de te manter sob controle. Ela ameaçou me matar se algo acontecer contigo na ausência dela. - Ele se pôs a minha frente, parcialmente bloqueando a saída - Granger, aquela garota é assustadora. Não vou arriscar meu pescoço assim. - E o prêmio de maior dramático do ano vai para... 

— Malfoy! Eu não sou nenhuma estrela adolescente surtada à espera de uma oportunidade pra causar. Olha só, eu vou, quer queira você ou não. Já tá decidido. - Nem sei de onde tirei tanta coragem, mas fiz minha melhor interpretação de femme fatale e completei. - Mas, se você faz questão, pode vir junto. - Pisquei o olho pra ele, deixando-o levemente desconcertado, o que serviu para facilitar a minha saída. 

Mais tarde, naquela mesma noite, quando desci do quarto de hotel pronta para ir encontrar o pessoal da produção no tal barzinho, eu esperava encontrar muitas coisas, exceto um certo loiro todo parado no saguão. Até pensei em fingir demência e sair como se não tivesse ele parado ali, como uma daquelas estátuas do Louvre (Que droga! Ele precisava ser tão irritantemente lindo?), mas ele tinha outros planos enquanto vinha andando com um sorriso galanteador em minha direção. Plano A abortado 

 — Se não pode vencê-los, junte-se a eles. 

— Conheço o ditado. Mas, o que quer dizer com isso? - Perguntei um tanto quanto curiosa, se ele tivesse pensando em me convencer a ficar a noite inteira no piano bar do hotel, teríamos uma bela briga bem ali. 

— Bom, resolvi aceitar seu convite. Se não consigo te convencer a ficar, decidi ir junto. Pronta pra passar a noite comigo? -  Eu podia sentir meu estômago brincando de montanha-russa com meu coração. Por sorte, mantive postura e apenas lhe sorri cordialmente. Bom, eu não era uma das melhores atrizes da minha geração à toa. 

— Sério? Então, vamos! Porque a noite pode até ser uma criança, mas ela não espera ninguém. 

 

Eu ainda não sabia, mas Draco ter resolvido ir comigo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. O tal barzinho com música era pub underground, com uma banda de heavy metal (ou seja lá qual for aquele estilo). Bom, tinha música ao vivo e bebida gelada, eles não mentiram. Mas, tinha tudo para uma noite ser bem desastrosa, se não fosse a presença daquele loiro com um sorriso presunçoso na cara, com uma cínica expressão de “eu te avisei”. Mesmo quando era irritante eu ainda o achava lindo, ele só não precisava saber. Já estávamos lá mesmo, íamos aproveitar. Enquanto não encontrávamos os outros, fomos para o balcão. No tempo em que Draco tentava ser atendido, pude observar o lugar e, não vou negar, ele tinha o seu charme. Um estilo rústico, mas acolhedor, com muita madeira e sofás nas mesas laterais. Se não fosse o mar de roupas pretas, couro e os cartazes de banda emoldurados nas paredes do lugar, juraria que estava em um daqueles bares antigos. 

 

— Desculpa, acabei não perguntando o que você queria beber. - Saí da análise sobre a decoração do bar com a voz de Draco. - Espero que goste de cerveja. - Sorriu enquanto me estendia a long neck. 

— Sem problemas. Hey, olha, ali tem uma mesa. A gente podia esperar o pessoal lá. Vem! - Nem dei tempo dele responder e já fui me dirigindo à mesa, não ia perder aquela belezinha por nada. Mas Draco se fez presente ao segurar em meu ombro com a mão desocupada. Um gesto simples, sem nenhuma outra intenção envolvida, além da de não se perder de mim no meio pequena aglomeração que já mostrava as caras. Mas, no meu íntimo, aquilo parecia um gesto possessivo, de quem queria marcar território. Me perguntava se, para além das minhas fantasias, parecíamos um casal aos olhos dos outros. 

Só depois que nos instalamos na mesa, foi que percebi o quão romântico aquele lugar no canto parecia. O sofá de estofado vermelho, o ambiente em uma quase penumbra, iluminado apenas por algumas luminárias de tom amarelado... Observando melhor, percebi que aquele lugar, em sua maioria, era ocupado por casais. Inevitavelmente, senti meu rosto esquentar, claro, porque de todos os lugares possíveis, eu tinha que levar o Draco pra uma espécie de “cantinho do romance”. Jesus! Por que eu sempre faço isso comigo mesma? Tomara que ele não tenha percebido, tomara que ele não me interprete mal. Se bem que, se ele quiser, eu quero. 

 

— Então, não sabia que você curtia um rock mais pesado? - Saí do transe com a voz aveludada, com um leve toque de divertimento dele. 

— Hãn... o quê? 

— A música. - Draco disse simplesmente, fazendo um gesto com a cabeça. Só aí percebi que enquanto devaneava, fixei os olhos na movimentação que ocorria no pequeno palco que havia naquele lugar. 

— Oh, acabei me distraindo. Bom, não sou a maior das entusiastas, mas curto uma coisa ou outra. Se você olhar meu Spotify vai encontrar de músicas do Angra aos Noturnos 9 de Chopin. - Respondi, torcendo para que ele não me achasse muito nerd. 

— NÃO BRINCA! Qual deles é o seu favorito? Eu simplesmente sou fascinado pelo Nº 02. Lembra minha infância em Wiltshire, minha mãe sempre tocava pra mim nos fins de tarde de domingo. - Draco falava tão animado, que me fez sorrir. 

— O meu também! Olha só, temos um gosto em comum. 

— Nada disso! Demos match em pelo menos três coisas: Primeiro, Escolhemos a mesma bomboniere. Segundo, Chopin. E terceiro, mas não menos importante, eu também curto Angra. 

— O quê? Você não tem cara de quem curte isso! Não, mesmo. Eu posso te visualizar no piano bar do hotel, facilmente, Mas não ouvindo heavy metal. - Minha imaginação criou a cena, não aguentei e comecei a rir disso. 

— Pois fique sabendo, Srta Granger, que eu já fui inclusive em um show deles. Eles tinham trocado de formação e lançado o disco Rebirth. Eu estava na Holanda na semana do show, juntei o útil ao agradável e gritei muito ao som de Nova Era. - Draco falava aquilo com muito orgulho, e confesso que uma pontinha de inveja me despontou. 

— Meu deus, Draco, você conhece, mesmo! Quem diria que um engomadinho como você escondia um headbanger por dentro. - E por um momento só a risada dele preencheu meus ouvidos. Me perguntava se era normal olhos brilharem tanto quanto os dele. 

 

De repente, encontrar nossos amigos ficou completamente pra segundo plano. Embarcamos em um mundo só nosso, onde só nossa conversa importava. Até mesmo a banda que tinha começado seu show a alguns instantes não era suficiente para nos tirar da atmosfera que construímos pra nós. 

 

*** 

 

Se eu pudesse apontar um momento em que a atração que eu sentia por ele se transformou em um sentimento a mais, com certeza, seria naquele dia. Ali, naquele pub underground, em uma mesa num canto qualquer, regada pelo som de uma banda heavy metal, a sementinha do meu amor por Draco foi plantada. 

Lembrar daquele dia arrancou uma risadinha boba de mim, que fez com que o bartender me olhasse de canto, com uma expressão curiosa, de quem se perguntava se deveria suspender meu champanhe (ele que se atrevesse!). Acabei rindo mais ainda. Ora, que culpa eu tinha se o lugar mais improvável do mundo se tornou a minha referência de noite romântica.  

Mas o que parecia que iria desenrolar após aquela noite, com o passar dos meses, parece que andamos três casas para trás. Mais certeza tinha dos meus sentimentos por ele e mais dúvidas tinha se era correspondida ou se aquilo era certo. Uma coisa que sempre ouvi dos meus pais era sobre “o quanto era perigoso misturar amor e negócios”. Também sentia o Draco um tanto quanto embaraçado. Tudo isso fazia um grande caldeirão de inseguranças em mim. E como resultado tinha uma Hermione sem jeito e mais atrapalhada que nunca. 

Ao reparar na decoração ao redor do balcão em que estava, com suas incontáveis luzinhas douradas, iluminando e dando uma atmosférica lúdica ao ambiente, a lembrança da festa de natal de dois anos atrás veio em minha memória.  

Quando decidir ir para a confraternização natalina de uma produtora cinematográfica a qual eu já tinha participado de algumas produções, nem fazia ideia do quanto minha vida mudaria a partir dali. 

 

*** 

 

Estava quase desistindo de ir para a festa de fim de ano da Flourish and Blotts Production por estar sem companhia. Por sorte, uma de minhas melhores amigas (desde a época de escola) topou me acompanhar. Sonhadora como só ela, para Luna essa confraternização estava mais para uma aventura que do uma festa em si. 

Quando chegamos ao local do evento, fiquei encantada com ambientação do salão. Parecia até o cenário de um desses filmes de magia para adolescentes. A neve cenográfica deixava tudo tão lindo, que parecia um sonho tornado realidade. Olhei para minha amiga e, ao reparar o quanto seus olhos brilhavam olhando pra tudo, me senti satisfeita comigo mesma por tê-la arrastado pra cá comigo. 

Ter Luna ali, junto a mim, era providencial. Eu não precisaria me afundar em conversas superficiais e sem sentido, onde o assunto principal era sobre o desempenho de A ou B em alguma produção recente, ou se sabíamos sobre o último escândalo envolvendo algum diretor e celebridades emergentes. Eu iria me concentrar em minha amiga, mostrar todo o lugar pra ela, dançar, talvez apresentá-la a alguém interessante. Quem sabe poderia até fingir que estávamos em alguma festa da época da escola, quando ainda não precisávamos nos preocupar com paparazzis ou se iríamos ser notícia de algum site maldoso. 

 

— Mione, acho que tem alguém te observando! - A voz de Luna me tirou da análise minuciosa que eu fazia à mesa de doces. 

— Luna, estamos em uma festa cheia de celebridades. Alguém vai nos observar sim, nem que seja pra tecer algum comentário maldoso. 

— Não  falando desse tipo de ‘observação’! Pra uma artista, você deveria ouvir mais sua intuição! 

— A DiLua ataca novamente! - comecei a rir, lembrando do apelido que Luna tinha ganhado na época da escola por ser meio aluada e curtir uma vibe meio esotérica. 

— Então, tá. Mione, quando eu vou conhecer o Draco? - quase me engasgo com a trufa que comia. 

— Não sei, Luna. Você já provou esse doce aqui? É feito de abóbora! Aposto que vai gostar. - Tentei desviar o assunto, mas o que ela tinha de aluada, tinha de perseverante. 

— Achei que ele viesse pra essa festa. Confesso que a possibilidade de conhecer o tão famoso Malfoy foi um incentivo e tanto para aceitar teu convite. - Olhei pra minha amiga de semblante risonho com uma falsa feição de indignação. 

— Obrigada pela consideração. Você já valorizou mais minha companhia, Luna! 

— Aah, qual é, Mione?! Você tem que convir comigo, qualquer um que te conhecesse ia querer saber quem é o cara que você não parava de falar nos últimos meses. - Minha expressão muda, e Luna faz a pergunta que eu estava tentando evitar nos últimos tempos. - Qual o problema, Mi? Você parece chateada. Aconteceu algo entre você e o Malfoy? 

— Justamente o contrário, Lu. Não aconteceu! Desde a noite naquele pub... 

— A famosa “noite no pub”! - Sou interrompida por Luna, que já deve ter perdido as contas de quantas vezes teve que ouvir sobre aquela noite. 

— Sim! Desde aquela vez, eu o senti tão estranho, como se algo o incomodasse. Ele parecia fugir de mim. Era nítido que ele me evitava, Luna! Em que planeta um cara ignora uma garota depois que rola um clima entre eles? O pior é que eu sei que gosto dele, e toda essa indiferença me machuca. 

— Aaah, Hermione, eu sinto muito. Mas, você já parou pra pensar que ele pode estar vivenciando as mesmas inseguranças que você? E que só se afastou como forma de proteção? 

— Difícil, Luna. Ele não faz o tipo tímido, e nesses tempos em que trabalhamos juntos, nos aproximamos bastante. Acho que ele teria segurança de falar qualquer coisa pra mim. 

— Justamente. Vocês estavam trabalhan-do juntos. - Luna disse, ao segurar minha mão, frisando bem o trabalhando. - Para alguém tão inteligente, às vezes você é um pouco lenta, sabia?! - Piscou o olho pra mim, e antes que eu processasse o que ela tinha dito, já havia mudado o assunto. - Hey, aquilo ali são feijõeszinhos de todos os sabores? Ai, meu deus, não como isso faz o quê, uns dois séculos? 

 

Luna não esperou qualquer resposta, e já foi me puxando pra outra ponta da mesa de doces, onde estavam os tais feijões. Chegamos ao mesmo tempo que um outro rapaz parece que tinha a mesma predisposição da minha amiga para aquele tipo de guloseima. Ao olhar melhor, reparei que o conhecia. Antes que eu pudesse falar com ele, uma voz atrás da gente se fez ouvir. 

 

— Zabini, pelo amor de deus, você não tem mais idade pra correr atrás de balas. - Eu quase tinha esquecido como a voz de Draco era bonita. Quase. 

— Aaaah, Draco. Não são quaisquer balas... 

— São feijõeszinhos de todos os sabores! São fantásticos! - Completou Luna, já se metendo na conversa pra defender os tais doces. 

— E não é?! Eu já disse isso pra ele, mas Malfoy é chato demais pra entender a grandiosidade dessa maravilha. - Zabini falou, concordando com minha amiga. - A propósito, sou BlaiseBlaise Zabini. Você está sozinha aqui? 

— Olá, Blaise. Sou Luna Lovegood, não estou sozinha, vim com a minha amiga, Her 

— Olá, Draco! Quanto tempo, não é? - antes que minha amiga terminasse, intervir me dirigindo ao loiro a minha frente, quero ver só se ele iria se esquivar de mim, na cara dura. 

— Ow, Hermione, er... Pois é! Tantas coisas, não? Como você está? - Um muito sem jeito Draco me respondeu, enquanto coçava a nuca. 

— Muitas. Que loucura encontrar vocês aqui! Oi, Zabini. Bom, você já conheceu a Luna, minha amiga. Luna, este aqui é o Draco. - Antes de estender a mão pra cumprimentá-lo, minha amiga me deu um olhar significativo. 

— Prazer, Draco Malfoy! - E, mais uma vez, a humanidade foi brindada com um daqueles sorrisos arrasadores dele. 

— Prazer, Luna Lovegood. Oh, então você é o famoso Draco. Ouvi bastante sobre você. - Dei uma olhada pra Luna, rezando pra que entendesse que estava indo por um caminho muito perigoso. - Digo, do seu trabalho. - Rapidamente, ela consertou o que tinha dito. Agradeci aos céus por nossa comunicação não verbal ainda ser bem afiada. 

— Que mundo pequeno, hein? Estamos na mesma festa. Eu gosto de feijõeszinho, você gosta de feijõeszinho. Eu sou amigo do Draco, você é amiga da Hermione. Draco é af 

— Ok, Blaise, já deu. Todos entenderam que o mundo é uma pequena bola movida a coincidências. - Draco interrompeu Zabini, que apenas deu de ombros. 

— Eu não sei se acredito em coincidências. Acho que tudo está conectado. Algumas coisas estão destinadas a acontecer. - E a DiLua ataca novamente. 

Eu e Draco trocamos olhares, e me lembrei da última vez que estivemos tão perto. Será que ele pensava no mesmo que eu? Tentando impedir que qualquer clima estranho se apoderasse do lugar, interferir com outro assunto. 

— Meninos, a minha amiga aqui é uma talentosa artista plástica. Ela está com uma exposição incrível na Galeria da Madame Puddifoot. - Eu sentia muito orgulho da minha amiga, Luna era umas das pessoas mais talentosas que eu conhecia. E seus desenhos eram tão lindos que pareciam vivos. 

— Espera aí, você é a criadora da exposição Golden Chain? Meu deus, eu amei tudo ali. E, devo te dizer, alguns dos retratos ali pareciam me acompanhar com os olhos. 

— Óh, você visitou minha exposição? - Luna disse emocionada, ela era tão modesta que parecia até não entender o quão era talentosa. 

— O Zabini cismou que viu um deles se mexendo como se respirasse. - Draco zombou do amigo – Mas, seus quadros são realmente muito bons, Luna. Parabéns! - Acrescentou o loiro. 

— Aah, Malfoy! Olha, se eu não soubesse que eram pinturas, eu teria ficado com um pouco de medo. Mas tudo bem, eram incríveis, mesmo. 

— O conceito dessa exposição era mostrar as coisas que amamos tanto que se prendem a nós por laços de ouro inquebrantáveis. Como as amizades verdadeiras. - Minha amiga deu um pequeno aperto na minha mão. 

— Luna, eu soube que daquele outro lado do buffet tem um pudim dos deuses. Você não quer ir lá comigo? Aí aproveita e me fala mais sobre as tuas criações. - Zabini convidou minha amiga. Se eu soubesse que se daria tão bem, teria dado um jeito de apresentá-los antes. 

— Como você advinhou que eu AMO pudim? Vamos sim! - Então ela se vira pra mim, indecisa. Ao perceber a intenção dela, nem esperei que ela falasse nada. 

— Vao lá, Luna! Não me perdoaria se você perdesse a chance de provar “um pudim dos deuses”. - Disse sorrindo pra minha amiga. 

— Então, tudo bem. Vamos, Blaise. - E assim vi os dois se afastando, de baços entrelaçados. 

— Bom, Granger, acho que sobramos. - Só então me dei conta que eu tinha ficado sozinha com o Draco, e agora? Ai, por favor, que não fique um clima estranho. 

— Acho que sim! Como está a agência? Muitos clientes? - Nossa, que habilidade social a minha! 

— Aaah, está normal. Mas não vamos falar de trabalho numa festa de natal, né? Acho que aqueles dois não voltam tão cedo. Quando se trata de culinária, Blaise  pode ser um verdadeiro glutão. 

— Zabini é uma figura! Deu certo com a Luna. - Olhei para os dois que já estavam um tanto distantes de nós, provando várias iguarias e rindo animadamente. 

— Quer dar uma volta pelo salão? Eu ainda não vi tudo por aí. Claro, mas só se você quiser, não precisa aceitar por educação. Nós também podemos ficar por aqui, ou procurar alguma mesa pra sentar, o que você qui 

— Calma, Draco! - O interrompi sorrindo – Acho que dar uma volta é uma boa, também não vi tudo ainda. - O loiro sorriu pra mim, e pude jurar que se ele me pedisse o mundo naquela hora, eu o daria. 

 

Meu medo de que o clima ficasse estranho parecia infundado agora. Enquanto caminhávamos, conversamos sobre tantas coisas. A nossa conversa fluía tanto, que não houve espaço pra silêncios constrangedores. Era como se nos conhecêssemos de uma vida toda. A hipóteses de estarmos estremecidos parecia uma ideia bem distante agora. 

Era estranho o quanto eu me identificava com Draco, em como sentia vontade de dividir todos os detalhes da minha vida com ela. Bom, parecia que ele sentia o mesmo. Ele estava tão empolgado contando sobre suas últimas realizações, nem parecia o cara meio reservado que eu conheci há quase um ano. Isso me fazia feliz. Se não pudesse rolar nada entre nós, ao menos eu sabia que poderíamos construir uma boa amizade. 

Estávamos tão distraídos em nossa bolha, que só fomos perceber que havíamos perdido nossos amigos de vista um bom tempo depois. Luna e Blaise também pareciam pouco preocupados em nos achar. Então, seguimos fazendo companhia uma ao outro. 

Ao pararmos em um canto qualquer, mais afastado da pista de dança e de toda a movimentação da festa, pudemos admirar a banda tocando uma música do Elvis Presley. resolvi que seria aquele momento que questionaria Draco pelo súbito afastamento dele. 

 

— Draco, o que aconteceu depois daquela noite? Eu falei algo que te incomodou? 

—  Como assim. Hermione? 

— Depois que saímos juntos, eu sinto que você se afastou. Às vezes acho que fiz algo errado, ou que... - Percebi que ele olhava algo acima de nossas cabeças, bem concentrado. E, quando ergui meus olhos para a mesma direção, percebi o que tanto chamava a atenção do rapaz à minha frente: um visco! 

UM VISCO! Estávamos em abaixo de um visco. De tantos lugares que poderíamos ter parado, justamente embaixo de um visco. Draco devia estar constrangido, e se ele achasse que foi proposital? Ai, céus, eu precisava remediar isso logo. 

 

— Olha, não precisa se sentir obrigado a na— Nunca cheguei a completar aquela frase, pois fui interrompida pelo beijo que Draco me deu e eu correspondi de bom grado. Nesse instante, percebi que esperava por esse beijo desde o dia que nos esbarramos na bomboniere. Quando finalmente nos separamos, Draco desatou a falar. 

— Hermione, me desculpe. Eu não devia ter te beijado sem teu consentimento. Você deve estar me achando um troglodita, que sai por aí beijando sem perm 

Agora, quem não tinha deixado ele terminar de falar fui eu. Beijei Draco como se fosse a última coisa que fazia na vida. Enquanto o beijava, e era beijada por ele, rezava por dentro pra que ele percebesse o quanto eu estava apaixonada por ele. Nem queria pensar em outro afastamento. 

Dizem que o natal é mágico, e agora eu tinha mais que certeza disso. Só mesmo a magia poderia explicar aquele momento, e o que eu sentia nos braços dele. Estávamos tão envolvidos em nós mesmos, que era como se, naquele salão repleto de pessoas, não houvesse mais ninguém além de nós e a banda. 

Estava decidido! A partir daquele dia, definitivamente, aquela música do Elvis era a minha preferida. 

 

*** 

 

A lembrança daquele natal sempre seria uma das minhas preferidas. Não é todo dia que se ganha um beijo do teu maior crush, não, é?! Sem me dar conta, dei um suspiro audível, que pelo visto despertou a atenção do bartender. Com certeza, ele devia estar começando a se preocupar comigo ali. Talvez avaliando se deveria chamar o cerimonial da festa ou não. 

— Tudo bem com a senhora? Precisa de alguma coisa? - Percebi que ele me escrutinava, talvez a procura de sinais de embriaguez? Vai saber. 

— Está tudo bem, sim. Obrigada! - Lhe sorri gentil. 

— Tem certeza? Não quer nada, mesmo? - insistiu outra vez. - Se a senhora quiser, posso pedir pra trazerem algo. 

— Tenho sim! Não se preocupe, você está fazendo um trabalho excelente, viu? - Ele me sorriu tímido e continuo seu trabalho organizando as coisas no balcão. 

 

Enquanto conversava com o rapaz, não percebi que agora Draco também me olhava de longe. Quando retornei meus olhos para meu objeto de observação preferido, nossos olhares se cruzaram. E um pequeno sorriso surgiu em meus lábios, que se tornou mais evidente ao perceber que também era correspondido. 

Meus sentimentos por Draco se mantinham os mesmos, mesmo após dois anos daquela festa de natal. Aliás, eles aumentaram. Talvez até dobraram de tamanho. Desconfio até que nunca diminuirão. Como era possível amar tanto alguém assim? Me perguntava se entre os casais que eu via por aí existia um sentimento como o que eu tinha por ele. 

Presa em minhas divagações, não notei que Draco se afastou do grupo em que estava e se movia. Ao voltar minha atenção a ele, percebi que ele caminhava. E caminhava em minha direção. Instantaneamente, meu coração acelerou e mil borboletas se agitaram dentro de mim. Tomei um gole do champanhe, em uma tentativa falha controlar minhas reações. Mas, a cada passo que ele dava, meu coração batia mais rápido. Acalme-se, Hermione. Você precisa respirar. Um, dois, três, respira. Mas como é que se respira? Ai, meu deus, como é que esse homem me desconserta assim? Sorri meu melhor sorriso quando ele se aproximou de mim. 

 

— Olá, estranha. Você vem sempre por aqui? - Bom, por mais curioso que possa parecer. Draco tinha um bom senso de humor. Mas, apenas poucos compartilhavam dele. 

— É um bom lugar pra fugir um pouco dos holofotes. - Lhe respondi sorrindo. 

— Você não conseguiria fugir das luzes nem se tentasse, Hermione. Você tem seu brilho próprio. Como um farol. 

— Sempre um galanteador, hein? 

— Eu estou aqui, não é? Sua luz me guiou até você. - Ele disse sério, olhando em meus olhos. Mas logo mudou de expressão. - Mas, o que você fazia aqui, sozinha? Não gostou da festa? 

— Tá brincando? Eu nunca poderia esquecer essa festa, nem se quisesse. Eu estava só pensando, lembrando... 

— Tipo o quê? 

— De quando te conheci, ou de como foi sair a primeira vez juntos, ou daquela festa de Natal. Hoje faz dois anos... - Disse a última frase quase como um sussurro, mas alto o suficiente para ele ouvir. 

— Eu sei. Acho que o Natal me dá sorte. - Ele respondeu num tom mais baixo, como se compartilhasse um segredo só comigo. 

— Ah, é? Por quê? - Indaguei num tom de divertimento. Mesmo tom que ele usou ao me responder de maneira travessa. 

— Sim! Foi em uma época como essa que encontrei um disco do álbum branco dos Beatles, numa venda de garagem, acredita? 

— Aaah... - Acho que minha reação de decepção foi tão nítida, que ele começou a rir de mim. 

— Então, eu estou aqui. Você está aqui... 

— Sim, estamos aqui. 

— Em uma festa. E nas festas, as pessoas dançam. 

— É o esperado, Draco. - Comecei a rir das voltas que ele dava. 

— Me dá a honra dessa dança, Hermione? - Sacudi a cabeça afirmativamente e colocar minha mão na dele. 

 

Enquanto caminhávamos até a pista de dança, nem reparei nas pessoas ao redor. Acho que nem mesmo havia alguém. Estava tão envolvida em Draco, que nem prestei atenção no que era dito no microfone. E, quando os primeiros acordes da minha música preferida começaram a tocar, foi a deixa pra me desligar do mundo, e me concentrar no homem que me conduzia. 

 

Wise men say 

Only fools rush in 

But I can't help 

Falling in love with you 

 

Eu amava aquela música desde o dia em que demos nosso primeiro beijo. Cada palavra, cada verso, era exatamente o que eu queria dizer a ele. Eu queria puder fazer ele entender que só deixaria de amá-lo, quando o Sol girasse ao redor da terra. Saí de meus pensamentos ao ouvir a voz dele perto do meu ouvido. 

 

— Eu amo essa música. Ela tocou em um dos momentos mais importantes da minha vida. No dia em que eu soube que te amaria até o meu último suspiro. - Ouvir aquela declaração de Draco era como se eu explodisse em mil pedaços, só pra que ele me catasse de volta. O abracei mais forte. 

 

“Like a river flows 

Surely to the sea 

Darling, so it goes 

Some things are meant to be 

 

— Eu te amei desde a primeira vez, quando eu ainda nem sabia que te amava. Acho que a Luna tinha razão. Algumas coisas realmente estão destinadas a acontecer. - Lhe confessei, sentindo meus olhos marejarem. 

— Se não tivéssemos esbarrado aquele dia, eu voltaria no tempo quantas vezes fossem necessárias, até que nos encontrássemos. Porque, garota, eu não posso evitar amar você. - Draco me disse antes de me beijar e fazer o tempo congelar naquele momento. Ou era isso que eu sentia em meu coração. 

 

Take my hand 

Take my whole life too 

For I can't help 

Falling in love with you 

 

Enquanto a música chegava a seus últimos acordes, os aplausos e gritinhos de nossos amigos e familiares nos trouxeram de volta e, dessa vez, eu pude ouvir com clareza o que dizia o mestre de cerimônias. 

 

— Mais uma salva de palmas para o Sr. e a Sra. Malfoy, em sua primeira dança. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter chegado até aqui!
Espero que a leitura tenha sido boa.

E quem já não viu por aí alguma fic/romance onde alguém conhece alguma famoso e rola algo entre eles, não é?
E eis o maior clichê de todos: romance que termina em casamento.
Desculpem qualquer erro de digitação ou formatação. Prometo revisar logo.

Pra quem quiser escutar (ou conhecer) as músicas dessa história:
Nocturne op.9 No.2 (Chopin) - https://www.youtube.com/watch?v=9E6b3swbnWg
Nova Era (Angra) - https://www.youtube.com/watch?v=ZPIFITEfA-k
Can't help falling in love (Elvis Presley) - https://www.youtube.com/watch?v=vGJTaP6anOU



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estrelas no céu da boca - NatalClichê" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.