English Boy escrita por Kiki, Tyke


Capítulo 8
Capítulo 8




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Quando acabou o intervalo, Lina foi para aula de Estudos Comparados da Vida enquanto eu e James tínhamos Latim e Línguas Ameríndias. O professor Osmar já aguardava na porta da sala. Ele era um homem magrinho, cor de caramelo, cabelos grisalhos e usava óculos enormes que aumentavam seus olhos feito uma lupa. O homem começou a aula falando em tupi antigo, o cara era especialista em provavelmente todas as línguas que já foram faladas em solo sul americano. Depois da demonstração inicial, ele continuou a aula em latim como costumava ser.

Essa era uma das minhas disciplinas favoritas, pois a maioria dos feitiços que temos hoje foram e são influenciados por essas línguas. Nessa aula nos ensinavam como investigar o poder das palavras nos idiomas antigos e ocasionalmente até a criar feitiços novos. No entanto, esse encanto deveria estar apenas nos meu olhos, porque poucos alunos pegavam essa matéria para fazer. Talvez porque ela exigia muita leitura e atenção.

No final da aula Osmar passou um texto em latim para traduzirmos. A primeira semana pós festas era sempre tranquila. Ao deixar a sala com James, só então, percebi o quanto ele estava pálido.

ꟷ O que foi isso? ꟷ ele parecia abismado.

ꟷ Como assim?

ꟷ Essa aula, o que… Eu não entendi nada! ꟷ ele soltou um muxoxo desanimado, seu astral estava mais baixo do que nunca.

ꟷ É muito diferente das aulas de Hogwarts?

James demorou para responder parecendo com receio de dizer em voz alta o que acabou revelando depois de um tempo:

ꟷ ...Não temos essa matéria.

ꟷ Então por que se inscreveu? ꟷ usei um tom de reprovação que saiu sem querer.

ꟷ O nome pareceu legal! ꟷ ele disse e eu devo ter bufado. ꟷ Não imaginei que o professor só falasse em latim. Meu tradutor só funciona com o português! Você entendeu alguma coisa? ꟷ James adiantou se explicando. Ele falava tão rápido que quase não entendi.

ꟷ Bom, sim. Faço latim desde o terceiro ano.

ꟷ Por que diabos vocês aprendem latim? ꟷ James levantou um pouco a voz, ele estava realmente muito indignado e eu não entendia o porquê.

ꟷ Porque é a base da nossa língua e dos nossos feitiços. ꟷ devolvi a resposta do mesmo jeito.

ꟷ Inferno sangrento!

ꟷ Qual a merda do seu problema? ꟷ estanquei no meio no corredor.

Eu era obrigado a ficar para cima e para baixo com ele nesse primeiro mês, mas eu não suportaria aquele garoto falando comigo daquela maneira. Afinal, mal nos conhecíamos e não éramos amigos para que me tratasse assim. Vi James encolher um pouco os ombros e suspirar.

ꟷ Nada. ꟷ ele respondeu em um tom mais manso.

ꟷ Conversa com a diretora para sair. Não é uma matéria obrigatória, ela vai entender. ꟷ propus a solução a ele, falando de forma mais fria do que antes. Voltei a caminhar e James veio atrás.

ꟷ Ou você pode me ensinar. ꟷ ele sugeriu entre um sorriso hesitante.

ꟷ Não mesmo! Não sou escola de idiomas e já tenho muitas obrigações.

Talvez eu tenha sido um pouco ríspido, mas com razão. James não achava mesmo que eu iria ensiná-lo quatro anos de latim em um?... fora que já ajudava-o com o português. Como se eu tivesse tempo pra viver a disposição dele. Folgado.

ꟷ Tudo bem, eu entendo. Vou conversar com a diretora Cuesta.

Cruzamos o corredor até a Escadaria em silêncio.

ꟷ Em Hogwarts temos Runas Antigas. Eu gostava dessas aulas. ꟷ James comentou tentando recuperar o clima ruim que pairou entre nós.

Eu já tinha ouvido falar em História da Magia sobre os alfabetos rúnicos dos povos nórdicos da Europa e sobre sua influência na magia deles. Até fiquei surpreso com isso, eu nunca imaginaria que aprendiam runas na escola dele.

ꟷ Por que diabos vocês aprendem runas? ꟷ devolvi a frase que fui obrigado a ouvir a pouco. Meu tom foi de desdém, mas em seguida sorri.

ꟷ Justo. Me desculpe. ꟷ James abriu um sorriso amplo, pensei ter vistos seus olhos brilharem.

ꟷ Vou pensar. ꟷ mas o sorriso persistente no meu rosto indicava que eu estava brincando.

Castelobruxo e Hogwarts pareciam ser lugares muito diferentes. Me perguntei porque James tinha escolhido fazer intercâmbio na nossa escola. Geralmente, nos últimos vinte anos, os intercambistas costumavam vir de Beauxbatons ou Uagadou. Normalmente esses alunos não precisavam de tanto amparo, a maioria já pisava no Castelinho falando português ou espanhol.

Provavelmente meus amigos fizeram essa pergunta a James no primeiro dia, mas eu estava demasiado aborrecido com ele para ter me importado com sua resposta. Então, não me lembrava do motivo e estava me mordendo de curiosidade para saber.

Analisando bem, Castelinho era uma escola referenciada nas áreas de Herbologia e Magizoologia. Por exemplo, aqui podia-se fazer matérias como: Estudos Comparados da Vida; Manejo de Criaturas Mágicas; Microrganismos Mágicos; Herbologia de Vegetais Vasculares e Ecomagicologia dos Seres e Criaturas. James não estava inscrito em nenhuma (só a última, a qual era obrigatória).

Eu também nunca cogitei estudar esses assuntos. Nasci aqui e essa era minha escola, mas eu sempre caguei pra essa "vibe" de natureza. Meus interesses do primeiro ano ao último sempre foram História da Magia e afins. Pois é, eu era de humanas em uma escola de naturalistas. Exatamente por isso James me intrigava ao cruzar o oceano para não querer aprender sobre bichos e plantas.

ꟷ Por que você está fazendo isso? ꟷ James perguntou de repente.

ꟷ O que estou fazendo? ꟷ pisquei meio atordoado, pois essa era quase a pergunta que eu queria fazer a ele.

ꟷ Sendo meu guia. São ordens da diretora, certo?

ꟷ Sim.

ꟷ Ouvi Reginaldo dizer que é uma forma de te punirem.

Fiquei na dúvida sobre onde ele queria chegar. Bati meu dentes um no outro ao pensar bem como responder. Não queria ofendê-lo.

ꟷ Er é...mais ou menos isso.

ꟷ E tem haver com Marco, o antigo colega de quarto do Tião? ꟷ ele continuou parecendo alguém cavucando em um mistério.

Parei a marcha de novo, pois estávamos quase na porta do refeitório. Analisei o rosto do garoto procurando quais a suas intenções com o interrogatório. Achei ter encontrado somente curiosidade. James sabia de algo, provavelmente algum boato que andava pela escola sobre mim.

Eu já estava acostumado com a difamação da minha pessoa. Curiosamente sempre gostaram de inventar sobre mim ou distorcerem os acontecimentos. Nunca me importei com isso, nem mesmo para desmentir alguns absurdos, mas não queria que James tivesse uma imagem errado de quem eu era.

ꟷ Ok, pode parar de especular. O que você tem escutado?

ꟷ Não muito. ꟷ ele respondeu. ꟷ Só que Marco foi expulso por fazer mal a alguém e então você…

ꟷ Quase o matei? ꟷ completei a frase prontamente. Tinha escutado essa dos alunos do segundo ano, era hilário eles com medo de mim.

ꟷ Sim.

ꟷ Exagero. ꟷ eu ri e James semicerrou os olhos em dúvida.

ꟷ Mesmo?

ꟷ Sim, as caiporas não encostaram nele. ꟷ justifiquei me lembrando das criaturas pulando entre as árvores atrás de Marco. Eram boas lembranças.

James não parecia seguro da minha afirmativa Eu pensei um pouco se deveria contar tudo a ele e logo concluí que sim. Melhor ele saber a verdade do que acreditar que joguei Marco para ser comido vivo por uma cobra de fogo (essa escutei dos quartanista).

ꟷ Senta aqui que vou te contar. ꟷ o puxei pela capa para um dos banquinhos de pedra do corredor.

Outros alunos passavam fazendo barulho a caminho do refeitório.

ꟷ Certo. O Marco era um garoto... escroto, guarda essa palavra. Ele fazia brincadeiras de mal gosto, violentas e era um mentiroso patológico. Tudo começa quando ele meio que ficou afim de uma amiga nossa, Catalina. Na época ela até considerou ficar com ele, mas Cat estava passando por um... momento confuso, eu acho. Então ela deu o fora nele educadamente, mas Marco não gostava de ser contrariado e por isso ele decidiu se vingar espalhando boatos que os dois haviam feito sexo no banheiro masculino.

ꟷ Sério? Mas o que ele ganhou com isso? ꟷ James comprimiu a boca indignado.

ꟷ Bem, boatos se espalham rápidos e quando chegou nos ouvidos da diretora, ela chamou os pais de Cat.  Mesmo que ela tenha dito que era mentira, ninguém acreditou. Assim, por serem uma família muito conservadora decidiram tira-la da escola e proibiu qualquer contato conosco. Marco praticamente destruiu a vida dela, Cat queria ser medibruxa e não tem como conseguir isso recebendo educação em casa… O que eu fiz foi só para ela tentar se sentir menos injustiçada. Foi bom vê-la rindo dele.

ꟷ E o que você fez? ꟷ havia um brilho travesso nos olhos de James.

ꟷ Bem... atiçar as caiporas para correrem atrás dele durante a aula de Eco foi a parte legal. Todo mundo riu. Mas então, ele se enfiou na mata em desespero e caiu num lago com picuriranhas. Sabe? Aqueles peixinhos... ꟷ mostrei com os dedos o tamanho dos bichinho.

ꟷ Eu sei, já vi nos lagos. O que elas fizeram com ele? ꟷ ele perguntou impaciente.

ꟷ Mordeu. ꟷ respondi simplesmente.

James ficou me encarando como se esperasse por mais. Percebendo que não haveria, ele começou a gargalhar e eu acompanhei.

ꟷ É só isso? Não esperava algo tão estúpido. ꟷ ele disse entre o riso.

ꟷ Obrigado!

ꟷ Marco machucou muito? ꟷ James questionou com um quê de esperança.

ꟷ Hum. Podia ter machucado mais. ꟷ na minha opinião aquelas mordidinhas não fizeram nem cócegas, só causaram desespero. 

James gargalhou de novo. Apoie o cotovelo no encosto do banco, meu rosto na minha mão e fiquei observando ele rir. O final frustrante da história parecia ser muito divertido para ele. Quando James finalmente conseguiu se controlar levantamos para terminarmos de chegar ao refeitório.

ꟷ Pelo menos esse babaca foi expulso! E eu irei fingir não me ofender com ser uma punição. ꟷ ele comentou brincando quando cruzamos as mesas lotadas.

ꟷ Até que não é tão ruim. ꟷ respondi com sinceridade e ganhei um sorriso muito amigável de James.


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Notas finais do capítulo

Oiii gente.
Esperamos que estejam gostando até aqui. Como devem ter percebido a fic vai ser grandinha, porque estamos nos esforçando para desenvolver o relacionamento deles. Primeiro passando ali pela amizade, depois surgindo sentimentos mais fortes, até finalmente rolar. Queremos um feedback se ta dando certo essa ideia ao longo da fic.
Também tem toda a parte de ambientação, esperamos que esteja dentro do sentindo tudo que é novo por se tratar de um lugar que não é Hogwarts.
Agradecemos todos que estão acompanhando e comentando. Vocês nos anima em continuar.

Beijinhos e até o próximo cap.
Tyke e Kiki



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