Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 5
Culpa da torta de pêssego - II


Notas iniciais do capítulo

Como eu já imaginava, não consegui postar a atualização ontem. Segunda-feira foi meu primeiro dia de aula e não consegui postar antes de ir para a faculdade e, quando voltei, já estava tarde demais para eu terminar as mudanças e correções.
Acreditam que ainda ficou um pedacinho da "vingança" de fora desse capítulo? Porém, eu e a minha amiga tivemos ideias para explorar melhor, esse pedacinho fica para o próximo capítulo.
Agora, falando sobre este capítulo: quem será que consegue responder todas as perguntas do Gorila corretamente? XD



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Depois de ler as mensagens, Nathalie suspirou e encarou o filho por alguns momentos. Claro que a culpa não era dele, mas ela não poderia explicar aquela vingança incentiva-lo a se comportar do mesmo jeito.

— Eu vou acreditar que você não tem nada com isso — cuidadosamente, ela mexeu nos cabelos loiros — Porém, já sabe o que vai acontecer em caso de um deslize — a voz saiu dura, só não era uma ameaça por se tratar de um aviso.

— Sei... — Félix confirmou, a abraçando um pouco mais — Vai precisar ir agora?

— Vou... — a resposta foi seguida de um beijinho na testa. Nathalie gentilmente o fez solta-la — Não precisa me esperar para almoçar — disse ela quando já dava alguns passos em direção a porta.

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Gabriel é dramático por si só.

Homens, normalmente, são dramáticos quando doentes.

Gabriel doente era dramático além da capacidade humana.

Depois da tentativa fracassada de almoçar, a única coisa que ele conseguiu fazer para tentar se livrar de todo o enjoo e mal-estar foi se esconder no banheiro e “colocar tudo para fora”. Agora, quase uma hora depois, já não tinha mais nada para ser “colocado fora” e ele ainda se sentia mal, com uma certeza absoluta de que iria morrer caso continuasse assim.

Então, ele fez a única coisa que poderia: encheu Nathalie de mensagens.

Morrer de uma forma deprimente era aceitável, afinal, não se podia escolher exatamente uma maneira de morrer – mas ele gostaria bem mais caso fosse uma maneira glamorosa -; porém, morrer sozinho estava fora de questão!

Por alguns minutos, Gabriel considerou mandar mensagens para o filho e pedir que ele fosse até lá ouvir suas últimas palavras, mas bastou se lembrar da figura do rapazinho rindo dele por causa do cabelo roxo para mudar de ideia. Precisava ser alguém capaz de manter a seriedade, algo compatível com aquele momento fúnebre... precisava ser Nathalie.

E, falando no demônio, parecia ser ela batendo na porta do quarto:

— Senhor Agreste!? — Nathalie perguntou em um tom mais alto, batendo mais duas vezes na porta — O senhor está bem?

— Não! Eu estou péssimo! — ele gritou se esparramando no chão do exageradamente grande banheiro.

— Quer que eu entre!?

— Claro que sim! Não te chamei para gastar minhas ultimas forças gritando com você!

Ele ouviu a porta do quarto ser aberta e fechar em seguida. O som dos saltos de Nathalie batendo contra o chão eram irritantes, pareciam bem mais altos agora que ele estava com a cabeça grudada no solo.

— Senhor, está tudo bem aí dentro? — ela perguntou em um tom levemente preocupado.

— Não está nada bem, Nathalie. Eu estou morrendo!

— Pelo cheiro que está vindo daí, não duvido.

— Vai ficar falando gracinhas ou me ajudar a ter uma morte digna!? Entra logo nessa porcaria de banheiro e me ajude! — ordenou, afinal, doente ou não ele continuava sendo Gabriel Agreste.

— Isso não seria nem um pouco profissional! — a assistente alertou na mesma hora — Eu não sou paga para esse tipo de coisa... — murmurou estressada, antes de finalmente pedir algo racional: — Por favor, saia daí!

— Se eu conseguisse ficar de pé sozinho, eu já teria saído! — o Agreste rosnou — Entra logo aqui e me ajude a ter uma morte digna, Nathalie!

— Antes: o que eu devo esperar ver? Eu não quero ficar chocada ou algo assim, então gostaria de ser alertada antes sobre possível nudismo ou cena gore, senhor — ela pediu enquanto girava a maçaneta.

— Você só vai ver um homem moribundo vestindo roupas magnificas que combinam com cabelo roxo, jogado no chão e sem chances de levantar por culpa de uma doença terrível, que acabou com um dos maiores nomes da moda em Paris e...

— Parece uma criança fazendo pirraça! — a assistente interrompeu o discurso melodramático, encarando-o com seu típico semblante de indiferença — O senhor precisa de um banho frio, remédios e algumas horas de sono.

— Já disse que nem mesmo me aguento em pé... — o homem se contorceu no chão — Sou como uma casca vazia que não consegue nem mesmo se sustentar sozinha.

— Não é o momento para o senhor começar a ter conhecimento sobre sua autoimagem — Nathalie revirou os olhos — Eu vou querer um bônus pelo que vou fazer...

— Qualquer coisa desde que você... — antes que pudesse terminar, o Agreste encarou a assistente por alguns segundos. O rosto dela estava avermelhado, mas o olhar parecia o de uma fera encurralando a presa — Nathalie, o que vai fazer? — ele perguntou enquanto tentava se sentar.

— O que precisa ser feito, senhor — a voz saiu embebida no doce gosto da vingança, ou melhor, no veneno que escorria nas palavras dela.

Gabriel tentou se arrastar para longe e procurar abrigo, mas teve os pés agarrados pela assistente e foi puxado pelo chão do banheiro. Ela o arrastou até o box da ducha e, antes que ele pudesse mandar ela parar ou gritar por ajuda, a mulher começou a arrancar as roupas dele.

— NATHALIE! — ele vociferou enquanto tentava segurar as mãos dela longe do próprio corpo — Isso por ser entendido como assédio sexual, sabia!?

— Se eu fosse assediar alguém, senhor, preferiria o guarda-costas! — apesar de transparecer uma imagem irritada, por dentro ela estava gargalhando — Eu só preciso que você tire as roupas para não molhar elas quando eu abrir o chuveiro.

— Eu... eu tiro, mas sozinho — murmurou o Agreste com o rosto completamente vermelho — E com você olhando para o outro lado...

— Senhor... — a assistente revirou os olhos.

— Eu sou um homem casado, Nathalie!

— E não tem nada que eu já não tenha visto antes... — mais uma vez, ela revirou os olhos — Não tenho o dia todo! Se eu ajudar, vamos terminar com isso mais rápido.

— Então fique de olhos fechados — Gabriel cruzou os braços, emburrado e com o rosto quase tão vermelho quanto suas calças.

— Se é o que quer... — ela suspirou, derrotada — Mas as chances de eu encostar em algo indevidamente é muito maior comigo de olhos fechados, senhor.

Como resposta, o Agreste murmurou algo em um sussurro enquanto começava a desabotoar as poucas peças de roupa que ainda usava. Não demorou até que ele estivesse completamente nu, encolhido e tentando se esconder de Nathalie, mesmo que ela estivesse de olhos fechados.

— Está pronto, senhor? — a mulher tentou ao máximo não deixar a diversão tomar conta de sua voz.

— Pronto para o que exata... — e, antes que ele pudesse terminar a pergunta, foi atingido pelo jato de água da ducha.

A assistente se contorceu para conseguir prender as risadas. Gabriel Agreste praticamente se afogou com a água do chuveiro, fazendo-o parecer um pato desastrado enquanto tentava se livrar da água fria e do susto por ter sido pego de surpresa.

Iria ser um dia divertido.

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Enquanto Nathalie se divertia com sua vingança, Gorila lavava a louça na cozinha.

Era incrível a quantidade de utensílios e demais bugigangas que estavam sujas depois de um simples almoço. Provavelmente, Félix havia sujado mais do que o necessário apenas para mantê-lo distraído enquanto ajudava a mãe a roubar o cofre da mansão ou algo do tipo...

Um estalo fez com que ele parasse o que estava fazendo.

O grandalhão secou as mãos da melhor maneira que conseguia no avental e em passos largos ele caminhou até o próprio quarto.  Tomou o caderno de anotações entre as mãos e começou a anotar: haviam dúvidas que ele precisava sanar e, como não sabia quando poderia perguntar algo a Nathalie, o melhor era registrar todas elas.

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Quantos anos Nathalie tem?

Quantos anos Félix tem?

Há quantos anos trabalha aqui?

Já esteve na Rússia quantas vezes?

Quem é o pai de Félix?

Está envolvida com o desaparecimento de Emilie?

Tem família?

Trafico de café alucinógeno é lucrativo?

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Satisfeito por ter conseguido anotar tantas dúvidas importantes, Gorila voltou para a cozinha. Se empenhou em lavar toda a louça enquanto cantarolava uma música qualquer, tentando criar alguma ligação entre as possíveis respostas para suas perguntas.

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Félix estava em seu novo quarto, debruçado sobre a cama e se deliciando com a leitura das primeiras páginas de um de seus livros preferidos chamado: “As aventuras de LadyBug e ChatNoir”. Era uma obra infantil, daquelas que se lê um conto por noite antes de ir para a cama, mas ele devorava todos aqueles contos em algumas horas. Apesar de já ter lido inúmeras vezes, ele nunca se cansava daquele livro de estórias fantasiosas e repleto de ilustrações.

Talvez, a parte que melhor decorou de todas aquelas aventuras, era a dedicatória. Ele leu os pequenos parágrafos escrito à mão centenas de vezes como se, por mágica, conseguisse adivinhar o nome escondido nas abreviaturas.

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“Nathalie,

Quando vi este livro em uma vitrine na minha última viagem à França, não pude deixa-lo para trás. Trouxe como uma pequena lembrança para você, já que não pôde me acompanhar.

Sei que as histórias são infantis, mas achei uma ótima forma para você começar a conhecer essa língua tão bonita: a língua do amor.

Com um imenso carinho, M. A.”

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Nathalie nunca disse uma palavra sequer sobre quem seria M. A., mas Félix acreditava fielmente que aquelas abreviaturas pertenciam ao pai dele. Todas as vezes que tentou perguntar, ela sempre esquivava ou dava alguma explicação absurda... com o tempo, o rapaz simplesmente desistiu de tentar sanar as dúvidas por ela e começou a fantasiar que aquele livro havia sido uma forma dos dois se aproximarem.

Interrompendo a leitura do dono, Plagg se enfiou entre ele e o livro e começou a tentar capturar uma das ilustrações. Notando o perigo potencial escondido nas unhas afiadas do gato, Félix encerrou sua leitura e tomou o animal nos braços.

— Você não sabe ficar quieto nem por dois minutos, não é? — ele acariciou os pelos negros.

Como se tivesse ficado ofendido com aquela pergunta, Plagg conseguiu pular do colo e escapulir para o chão. Rápido, como se quisesse se livrar de mais sermão, o animal fugiu pela porta do quarto e correu pelo corredor o mais depressa que conseguia. Félix foi atrás dele enquanto culpava a sua maldição de azar por tudo.

Os dois correram pelos corredores, pelo hall da mansão e pelas escadas. Felizmente não tinha nenhuma pessoa para testemunhar a facilidade com que Plagg escapava do dono.

A perseguição continuou até que o pequeno gatinho entrou por uma das portas – que, provavelmente, foi deixada apenas encostada. O loiro também invadiu o quarto, tropeçando e esbarrando em uma ou outra mobília enquanto continuava a perseguição.

Quando finalmente conseguiu pegar Plagg no colo de novo e evitar que fugisse, conseguiu reparar onde provavelmente estavam: era o quarto de um dos Agreste. Como se não desse para ficar ainda pior: o dono do quarto estava deitado na cama... olhando intrigado para os seus visitantes.

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Depois de um banho frio acompanhado de uma assistente ensandecida esfregando uma esponja áspera das costas, Gabriel estava enrolado em seu roupão felpudo e se perguntando que tipo de roupa poderia ser usada para morrer. Precisava ser confortável, mas também precisava ser apresentável: a imprensa com certeza iria acompanhar tudo.

— Aqui — Nathalie estendeu a ele um conjunto de roupas de dormir.

— Isso não é digno — o Agreste virou o rosto — Preciso de algo mais formal do que um pijama.

— Um terno? — ela arqueou uma das sobrancelhas.

— Não é para tanto, pode ser algo mais despojado... — suspirou, se contorcendo e sentindo a morte ainda mais próxima — E em tons escuros.

Sem ter a menor ideia do que procurar, a assistente se enfiou no closet e passou os olhos por todas as peças que estavam à vista. Gabriel tinha uma estranha mania de passar meses usando os mesmos tons em todas as roupas, depois renovava todas as peças com um novo tom. Para o azar dela, a cor do momento era o vermelho.

— Nathalie, eu preciso de algo que combine com roxo! — o superior avisou.

— Precisa vestir o pijama que eu entreguei antes — sem paciência para mais buscas, ela voltou ao quarto e encarou o Agreste — ou isso ou uma belíssima samba-canção com estampas de borboleta.

— Mas Nathalie...

— Ou fique de roupão! — ela cruzou os braços.

Como uma criança contrariada, Gabriel começou a vestir o pijama fazendo o melhor possível para não ficar exposto mais uma vez. Nada realmente tão difícil, mas um desafio para uma pessoa a beira da morte que mal conseguia ficar de pé sem se apoiar na cama...

— O que está sentindo? — ela tentou parecer minimamente preocupada, mas na verdade ela estava satisfeita. Se o Agreste estava realmente mal, a deixaria em paz por pelo menos dois dias.

— Dor no estomago, dor, enjoo, dor... — a cada palavra, as feições tomavam um ar ainda mais angustiado — Já chamou o advogado? Preciso rever meu testamento.

— Senhor, eu não acho que sua enfermidade seja tão grave... infelizmente — a última palavra ela disse em um sussurro abafado — Mas já agendei uma visita dele para a próxima semana.

— Na próxima semana eu já posso estar morto e enterrado! — retrucou Gabriel, se acomodando no meio dos vários travesseiros da cama — A última vez que mexi no testamento Emilie ainda estava aqui. Eu preciso garantir que você fique com tudo, incluindo a guarda do Adrien...

Nathalie piscou algumas vezes sem acreditar que ele realmente estava disposto a fazer isso. Tal surpresa não passou desapercebida por Gabriel, então ele continuou:

— Sim, Nathalie. Você vai ficar com tudo em sua posse até o Adrien ser maior de idade, depois disso apenas a direção da Agreste e toda a minha marca ficam para você. Adrien vai ficar bem apenas com as ações e com a sua ajuda... — o homem suspirou, esfregando as têmporas — Preciso acrescentar a clausula de que você vai ter que cuidar dele o resto da vida.

— Eu faria isso de qualquer jeito! — ela resmungou, jogando uma das almofadas em cima dele — Só estou surpresa por você confiar tanto em mim...

— Te pago suficientemente bem para você ser confiável — ele ergueu os ombros — E sou uma criatura à beira da morte, posso tomar decisões erradas sem me preocupar com as consequências.

— Não, não pode.

— Por que não?

— Porque você não está à beira da morte!

— Entendo que é um choque, algo difícil demais para você superar agora, mas eu estou morrendo, Nathalie. Lamento, você terá que lidar com isso e com a preparação do meu velório... Faça Adrien vestir aquele terno xadrez da coleção de inverno.

— Senhor Agreste... — a assistente suspirou, tentando controlar a língua para não falar todas as coisas que passavam pela cabeça — O senhor não vai morrer, ou melhor: vai morrer, mas não agora. Espero, realmente, que o senhor não morra hoje, eu tenho coisas demais para fazer e não tenho tempo para esconder um corpo! — ela cruzou os braços, emburrada, pensando se sua vingança havia sido realmente uma boa ideia.

— Nathalie?

— O que é!?

— Quero um memorial exclusivo e tudo decorado em rosas vermelhas. Também quero várias borboletas brancas voando, para simbolizar a...

E, antes que pudesse continuar, ele foi interrompido pelo som da porta do quarto sendo batida. Nathalie havia fugido antes que concretizasse a morte do chefe com as próprias mãos.

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Adrien piscou os olhos algumas vezes, achando estar em um sonho dentro do outro... culpa de comer tanto.

Um de seus visitantes estava olhando para ele como se visse uma assombração. O outro, um gatinho negro, parecia empenhado em se desvencilhar dos braços do rapaz e ir para o chão.

Aquele loiro era estranhamente familiar, era quase como se conhecesse ele de algum lugar, mas parecia apenas uma memória borrada. Uma memória de quando era criança e brincava com...

— Félix? — Adrien arriscou perguntar, observando-os atentamente.

Os olhos azuis se arregalaram, piscaram algumas vezes e se fixaram no Agreste. Félix segurou o gato com um tanto mais de força e deu alguns passos para trás, antes de virar-se de costas e começar sua rota de fuga daquele quarto. Porém, quando já estava com uma das mãos na maçaneta, sentiu-se ser abraçado com força o suficiente para o ar escapar dos pulmões.

— Félix! É você mesmo! — agora Adrien falava com animação, com a voz abafada por estar com o rosto enterrado nas costas do outro — Eu não acredito que você voltou!

— Solta — foi tudo o que o rapaz conseguiu pedir, mas foi em vão. Em resposta, ele foi abraçado com ainda mais força e se viu obrigado a soltar Plagg para que, com ambas as mãos livres, tentasse se livrar daquele abraço apertado — Eu mandei soltar!

— Oh, desculpe... — Adrien finalmente o soltou do abraço, apenas para arrastá-lo até o sofá e o jogar em cima do móvel — Eu não acredito ainda que você voltou! Fazem anos! — em momento algum o sorriso diminuía, pelo contrário, parecia aumentar — Por que você foi embora? Sabe como foi horrível só ter a Chloé para brincar!?

— Posso imaginar perfeitamente — Félix revirou os olhos.

— Então por que não voltou antes?

— A culpa foi sua — apesar de estar sendo praticamente interrogado, o mais velho não diminuiu sua arrogância nas respostas.

— Mas... mas você voltou agora, então significa que você me perdoou? — o Agreste sorriu esperançoso, sentando-se ao lado de seu antigo “amigo imaginário”.

— Digamos que sim — Félix ergueu os ombros.

— Obrigado! — Adrien praticamente gritou, agarrando o outro em um abraço apertado de novo, até receber resmungos sobre apertar demais e solta-lo — Não sabe o quanto significa pra mim ter você de volta!

— Tá, tá, tanto faz... — o mais velho se levantou, olhando pelo quarto em busca de Plagg — Onde aquele gato chato se meteu? — murmurou entre os dentes, queria apenas fugir daquele quarto e fingir que nada aconteceu.

— Oh! É verdade, agora eu também tenho um gato imaginário! — o Agreste praticamente pulou do sofá, eufórico — Acho que eu estar mais velho faz com que eu possa imaginar as coisas de um jeito melhor, né?

— Deve ser... — Félix suspirou, controlando-se para não quebrar todas as expectativas de Adrien apenas para chama-lo de idiota.

— Espera... — o rapaz colocou a mão no queixo, pensativo — Eu não sou meio que velho demais para ter amigos imaginários?

— Pode ser uma regressão, algo como os adeptos do infantilismo fazem...

— Acha? — e, ao receber um aceno positivo, Adrien se colocou a pensar ainda mais sobre a questão — Eu definitivamente preciso avisar a Nathalie sobre isso.

— Não! Não pode contar para a minha mãe! — Félix o encarou com espanto, ficando ainda mais temeroso depois de notar o que tinha acabado de falar.

— Sua... mãe? — os olhos verdes encararam ele em choque, buscando por algo — Você... você não é imaginário, é? Você é de verdade!

Félix não contestou e Adrien não disse mais coisa alguma. Ele começou a andar de um lado ao outro, por vezes encarando Félix ou Plagg – o gatinho se acomodara no sofá, esperando pelo dono -, pensou de uma forma completamente focada sobre o que estava acontecendo até que, depois do que pareceu ser uma eternidade, finalmente abriu a boca:

— Você não é meu amigo imaginário. Você é de verdade, sempre foi de verdade... — disse com certo ressentimento por nunca ter pensado isso.

— Exatamente — concordou o outro, tentando fingir indiferença do mesmo jeito que a mãe fazia — E é por isso que ninguém pode saber sobre mim.

— Por que? — o mais novo deixou o corpo escorregar lentamente sobre o sofá. Os olhos verdes encararam Félix em um misto de receio e curiosidade, mas tudo o que recebeu foi uma carranca irritada, acompanhada de uma justificativa:

— Se você fizer o favor de ficar quieto, posso explicar...

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Gorila já tinha terminado de lavar toda a louça quando, em uma epifania, descobriu a resposta para a maioria de suas perguntas. Agora, estava dedicando mais uma pequena parte de seu tempo para escrever as novas partes importantes da sua teoria geral sobre Nathalie:

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Nathalie se envolveu com o tráfico de pó de café alucinógeno e, devido à eficiência, foi convidada para uma viagem à Rússia para conhecer o líder da máfia.

Eles acabaram tendo um caso e ela ficou grávida, mas a família viu ela com maus olhos e a expulsou (ela nunca fala da família) e o líder não queria o bebê porque preferia a dominação mundial.

Félix está sendo escondido porque o pai pode querer usar ele para atrair a Nathalie e usar a eficiência dela para o crime.

Querendo um jeito fácil de conseguir a fortuna Agreste, ela viciou Emilie em café alucinógeno e “fez ela desaparecer”, está tramando fazer a mesma coisa com Gabriel e talvez com Adrien (não deixar Adrien beber café!).

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Com um sorriso de satisfação, o grandalhão encarou uma última vez suas anotações antes de guardar o caderninho e voltar para o trabalho, mas notou um potencial erro em toda a verdade que acabara de descobrir: a idade de Nathalie iria determinar a veracidade de tudo aquilo ou a incompatibilidade.

Haviam cálculos a serem feitos!

Se uma gravidez demora, em média, nove meses e se Félix tinha, aproximadamente, dezesseis anos, Nathalie precisaria ter, no mínimo... trinta? Trinta e um? Dois? Mais do que trinta e cinco com certeza não poderia ser e ela precisava ser uma mãe solteira jovem para que sua teoria fizesse sentido!

Só tinham dois jeitos de sanar aquelas dúvidas: perguntando diretamente para ela ou olhando nos registros. As únicas pessoas com acesso aos registros eram Nathalie e Gabriel Agreste, o que tornava apenas uma das opções viável apesar das margens de erro.

Determinado a descobrir a verdade, Gorila caminhou pelos corredores em passos rápidos em busca de Nathalie. Ela não estava na cozinha, nos quartos de empregados, nos corredores, no jardim, no ateliê...

Antes que pudesse ir procura-la no banheiro ou em algum outro canto da mansão, o grandalhão notou ela saindo de uma porta do segundo andar que jamais iria imaginar: o quarto de Gabriel. Ele tentou disfarçar a surpresa, principalmente porque uma das variantes da teoria indicavam que o Agreste era o pai de Félix – talvez estivessem querendo reatar o compromisso e por isso Emilie teve que desaparecer.

Uma pequena pergunta seria o suficiente para determinar qual dos dois caminhos levavam até a verdade absoluta, mas precisaria ser feita com extremo cuidado: a maioria das mulheres não gostavam de revelar a idade e ele perguntar de uma maneira direta demais resultaria em desconfiança.

— Er... Nathalie? — ele chamou quando a colega já estava descendo as escadas — Eu estive pensando...

— Fico feliz que você esteja pensando ultimamente, é uma das funções do cérebro — a voz dela saiu ríspida, deixando claro o mau-humor.

Ignorando o claro aviso de “não fale comigo, risco à vida”, Gorila respirou fundo e jogou uma desculpa completamente esfarrapada para conseguir saber a idade dela:

— Provavelmente eu sou o mais velho entre nós dois, mas eu não sei exatamente quantos anos e sabe como eu fico cismado com as coisas de um jeito fácil, então eu pensei que se...

— Trinta e sete com o estresse de um taxista com oitenta anos de carreira, então faça o favor de ficar quieto e fingir que eu morri! Ou, melhor: finge que o senhor Agreste vai morrer e ajude ele a planejar toda a cerimónia, porque eu juro que se ele falar alguma outra estupidez eu vou cuidar para que...! — e, antes que conseguisse concluir suas ameaças, Nathalie foi interrompida pelas risadas do colega. Sem entender exatamente qual a graça que ele estava vendo, ela tomou seu habitual semblante de indiferença e perguntou: — Está rindo de que?

— É que eu já... — ele deu mais uma de suas risadas áfonas — Já vi mulheres mentirem a idade antes, claro... — o grandalhão respirou fundo — Mas nunca pra mais!

Ela não conseguiu manter a máscara que estava usando. Mesmo contra a vontade, um sorriso discreto surgiu nela. Aquilo poderia ser considerado um elogio, algo que não recebia há bastante tempo.

— Eu arredondei para menos, na verdade — ela murmurou antes de entrar no ateliê.

Gorila continuou parado exatamente onde estava, se perguntando se Nathalie havia recorrido a cirurgias plásticas ou se havia encontrado uma fonte da juventude. Claro, mulheres bem cuidadas chegavam naquela idade até mesmo melhores do que ela, mas era cientificamente comprovado de que qualquer pessoa que trabalhava para Gabriel envelhecia três anos em um devido ao estresse – e não existia ninguém que passava mais tempo com ele do que Nathalie.

— Ah, antes que eu esqueça: Félix está no quarto, não está? — perguntou ela, saindo do cômodo no qual trabalhava com o tablet nas mãos.

Despertando do estado de negação, o grandalhão olhou para ela e respondeu:

— No quarto? Acabei de vir de lá e não tinha ninguém.

— Cozinha?

— Não.

— Onde ele está? — apesar de manter a voz no mesmo tom de sempre, era possível notar o desespero e a irritação dela pelo olhar — Onde o meu filho está!?

— Não sei! Eu precisei anotar algumas coisas e depois vim falar com você. Não vi ele em lugar nenhum da mansão, já tinha até me esquecido que ele estava aqui... Aliás, quantos anos mesmo ele tem?

— Dezessete — a resposta foi dita entre os dentes — Se ele estiver onde eu acho que está... — murmurou.

— E onde acha que ele está?

Nathalie não respondeu absolutamente nada, apenas subiu as escadas e foi na direção do quarto de Adrien.

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Os dois rapazes estavam no sofá, com Plagg acomodado entre os dois. O silencio ainda dominava o ambiente completamente, Félix estava focado demais buscando um jeito de sintetizar tudo o que tinha acontecido no passado e Adrien estava pensando sobre todas as demais mentiras que o cercavam.

— Eu estudo em um internato desde sempre, volto para casa apenas aos domingos. Não me lembro o motivo, mas quando eu era pequeno a minha mãe começou a vir trabalhar em alguns desses domingos e precisava me trazer, porque eu não tinha com quem ficar. Como ninguém podia saber sobre mim, ela e a sua mãe inventaram isso de amigo imaginário — e, pela primeira vez naquele dia, Félix falou mais de uma frase mantendo um tom calmo e compreensivo, sem utilizar de sarcasmo ou qualquer coisa do gênero, tão presentes em suas conversas.

Adrien acenou positivamente, mas manteve o silencio por mais algum tempo. Ele estava tentando absorver tudo aquilo e aceitar que um pequeno trecho de sua infância havia sido uma grande mentira.

— Por que ninguém podia saber sobre você? Por que a Nathalie nunca fala sobre você? — perguntou o Agreste, quebrando o silencio mais uma vez.

— Porque não. Quanto menos pessoas souberem sobre mim, melhor — Félix cruzou os braços — Seu pai principalmente.

— Por quê?

— Porque não! — o mais velho se levantou — Já sabe: não fale sobre o que aconteceu com ninguém. Se quiser falar comigo de novo, provavelmente vou estar trancado em um dos quartos de empregado...

— Trancado? Por quê? Você não pode simplesmente falar isso e depois sair! Eu quero conversar mais com você, Félix! — Adrien se levantou, abraçando o outro do mesmo jeito que antes, como se isso fosse impedi-lo de sair — Por favor, fica mais!

— Ele não pode ficar, Adrien — disse Nathalie, que acabara de entrar no quarto. Ela estava encarando os dois de um jeito tão sério que Adrien sentiu-se forçado a soltar o amigo, Félix nem mesmo conseguia se mover.

— Mãe... — ele murmurou, tentando pensar em um jeito de se explicar.

— Eu não quero ouvir uma palavra sua, Félix — a voz da mulher pareceu bem mais fria do que o normal — Vá para o quarto, agora.

— A culpa foi do meu azar, o Plagg fugiu e eu precisei vir atrás dele! Eu juro que não fiz por mal, eu nem sabia de quem era esse quarto, mãe! — o rapaz tentou se explicar, mas nada parecia fazer com que Nathalie cedesse um pouco — Por favor, eu posso explicar! A culpa não foi minha!

— Você precisa aprender a assumir a culpa das besteiras que faz, Félix! — com o limite de paciência extrapolado, Nathalie agarrou Plagg com uma das mãos e o pulso do filho com a outra, pronta para começar a arrasta-lo para fora.

— Não! Por favor, deixa ele ficar dessa vez! — o Agreste suplicou, agarrando o outro braço de Félix — Você está falando igual ao meu pai naquele dia! O Félix não teve culpa, deixa ele ficar!

Félix não ter a chance de se explicar devidamente deixava Nathalie um tanto receosa quanto seu julgamento em ele ser culpado, mas ela precisava tirar o filho daquele quarto de qualquer maneira; as suplicas de Adrien quase fizeram com que ela parasse e voltasse atrás, mas foi uma das frases que realmente fizeram-na estagnar no mesmo lugar e começar a ter lembranças de um passado distante: “Você está falando igual ao meu pai naquele dia! ”.

Então não era só ela quem lembrava do que aconteceu... porém, ela sabia sobre as circunstâncias:

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Há mais de uma década atrás, Emilie Agreste comemorava sua aceitação em um clube do livro. Para uma pessoa qualquer, participar de um clube de leituras e conviver com amantes da ficção poderia parecer algo fácil, mas para Emilie teria sido apenas um sonho longínquo se não fosse Nathalie. Desde que se conheceram, a assistente era a única presença que a incentivava a aproveitar dessas pequenas alegrias, fazendo o possível e o praticamente impossível como apoio:

— Tem certeza que não vai ter problemas, Nathalie? — a voz da loira deixava transparecer toda a preocupação exagerada que sentia.

— Claro! — a assistente sorriu — Serão apenas duas vezes ao mês, está tudo bem.

— E o Félix não se importa? — Emilie encarou o garotinho no colo de Nathalie que, assim que notou o olhar sobre si, escondeu o rosto nas roupas da mãe.

— Não, ele achou divertido — Nathalie sorriu mais uma vez, mexendo nos fios loiros de Félix — A senhora deveria ir agora. Não quer chegar atrasada no primeiro dia, quer?

— De jeito nenhum!

E, deixando a ansiedade domina-la, Emilie deu um beijinho na bochecha de despedida tanto em Nathalie quanto em Félix e saiu apressada, deixando apenas os dois na grande sala de jantar da mansão. Agora, sem a “presença assustadora” de Emilie, Félix finalmente teve coragem de olhar em volta novamente.

— Lembra das regras da brincadeira nova, certo? — Nathalie segurou o queixo dele e o fez olhar para ela.

— Não pode falar com ninguém, só com a mamãe, o Adrien e a moça loira — o garotinho repetiu o que a mãe vinha falando centenas de vezes nas últimas horas.

— E...?

— E tem que esconder se alguém chegar perto.

— Por que?

— Porque vou brincar de amigo imaginário com o Adrien! — e, acompanhando a última resposta, Félix deu um sorriso adorável.

— Muito bem! — a mulher o abraçou um pouco mais e, em seguida, o colocou no chão — E quando quer começar a brincar?

— Agora! — respondeu entusiasmado, agarrando a mão de Nathalie e esperando para que fosse levado até o lugar mágico e cheio de brinquedos que a mãe prometera caso ele se comportasse e brincasse com Adrien.

As crianças adoraram brincadeira – principalmente Adrien, já que agora tinha um amiguinho para passar o tempo. Gabriel estava tão ocupado que nem sequer notou a falta da esposa nos dias em que ela ia ao tal clube do livro, tão pouco que o filho tinha um amigo... ao menos, até o dia em que seu trabalho foi interrompido pelo som de algo se quebrando no hall, provavelmente um dos vasos caríssimos da decoração.

— Adrien! — por extinto, foi a primeira coisa com a qual o Agreste mais velho se preocupou enquanto largava as folhas de desenho e se levantava da mesa.

— Eu mesma vou verificar, senhor! — Nathalie se apressou e conseguiu alcançar a maçaneta da porta do ateliê antes dele.

— Nathalie, meu filho pode ter se machucado! — ele tentou justificar, arrastando a assistente para fora do caminho e abrindo as portas — Adrien! — exclamou mais uma vez, notando a criança de cabelos loiros abaixada, tentando inutilmente juntar os pedaços de um vaso chinês que se encontrava estilhaçado no chão — Você se machucou, filho? — ele perguntou aflito, se abaixando em frente ao pequeno e segurando as mãozinhas dele em busca de algum corte.

— Nu... — Adrien encarou o pai e logo em seguida olhou em volta, procurando por Félix.

— Filho, o que já conversamos? Não se diz “nu”, o certo é “não”... — Gabriel tentou soar compreensível, mas estava no limite de sua paciência com todos os prazos expirando, não tinha uma reserva digna para repetir mais de duas vezes a mesma coisa — Como quebrou o vaso?

— Não quebrei — choramingou a criança.

— Adrien, fale a verdade.

— Senhor... — Nathalie interviu — o vaso já está quebrado, não precisa submete-lo a isso.

— Calada, Nathalie. Ele é meu filho, não seu — o mais velho suspirou, tentando recuperar a tranquilidade para falar com Adrien mais uma vez: — Filho, por favor, conte para o papai quem quebrou o vaso.

— Fui... — os olhos verdes olharam em volta mais uma vez e pararam no pai novamente — Foi o Félix.

Aquela foi a gota d’água para que Gabriel perdesse completamente a calma. Ele se levantou, encarou o filho como se Adrien tivesse cometido o pior dos erros e depois encarou a assistente.

— Quem é Félix, Nathalie?

— É o amigo imaginário do Adrien, senhor — ela não conseguiu desviar o olhar do chão. Estava nervosa demais só de pensar que o filho poderia estar escondido ali perto, ou que poderia ter sido visto andando pela mansão.

— Adrien, vá para o seu quarto, o papai e a Nathalie precisam conversar...

— Mas papai... foi o Félix, não fui eu! — a criança tentou contestar, já estava com os olhos marejados por imaginar o que iria acontecer caso ele realmente deixasse os adultos sozinhos.

— Vá para o seu quarto! — Gabriel mandou novamente em um tom um pouco mais alto do que costumava usar, foi o necessário para que o filho começasse a chorar.

— Senhor, não grite com ele! É uma criança! — Nathalie o repreendeu, ficando entre ele e Adrien.

— Não lembro de pedir a sua opinião! Saia da minha frente!— o Agreste manteve o tom mais elevado.

— Senhor, o Adrien é apenas uma crian... — antes que pudesse concluir a frase, a assistente foi interrompida pelo superior, Gabriel estava verdadeiramente irritado depois de tantas contestações.

— CALADA, NATHALIE!

— Não pode falar assim com ela, Gabriel! — Emilie alertou, havia acabado de entrar na mansão e se assustou ao ver o que parecia ser o início de uma discussão.

— Você também não tem nada o que falar aqui! Enquanto fica saindo por aí, fazendo sabe-se lá o que, Adrien precisa criar amigos imaginários para poder colocar a culpa neles pelas besteiras que faz!

— Não se atreva a falar do que você não sabe! — a loira se aproximou mais, usando do mesmo tom que o marido.

— Você não é uma boa mãe!

— E você nunca foi um pai de verdade!

Enquanto a discussão entre o casal continuava, Nathalie pegou Adrien no colo e fugiu para o quarto da criança. Era incrível como os outros dois começavam a discutir sobre os erros que cometiam com o filho, mas sempre se esqueciam que o pequeno não deveria presenciar aquele tipo de coisa.

Assim que entrou no cômodo, Nathalie se acalmou ao ver o filho brincando tranquilamente – felizmente, os gritos não eram ouvidos lá. Quando colocou Adrien no chão, se surpreendeu por ele ir correndo até Félix e o abraçar. Surpreendeu-se ainda mais quando o abraço foi retribuído.

As duas crianças permaneceram agarradas uma a outra, como se já soubessem que aquilo era algum tipo de despedida. Ela não poderia arriscar levar Félix até a mansão de novo e, por mais que doesse admitir, aquela brincadeira de “amigo imaginário” estava causando problemas para Adrien.

.

— Fui eu, Nathalie! Eu admito que fui eu quem quebrei o vaso! Por favor, deixa ele ficar dessa vez! — as suplicas de Adrien a despertaram das lembranças.

— Foi o Plagg, não fui eu quem quis entrar aqui! — mais uma vez, Félix tentou se explicar.

Nathalie encarou os dois rapazes: o filho estava claramente assustado, já tinha sido avisado inúmeras vezes o que aconteceria caso fosse parar naquele quarto e sabia que a mãe não iria ameaçar sem realmente cumprir; Adrien estava nervoso, provavelmente se culpando por ter Félix afastado por “culpa dele” mais uma vez. Sem conseguir prosseguir com o que iria fazer, Nathalie respirou fundo e soltou o braço do mais velho, assim como o gato.

— Eu não estou com paciência para conversas agora — ela cruzou os braços atrás das costas — Vou deixar o Félix ficar mais um pouco, desde que...

— Qualquer coisa! — Adrien a interrompeu, sorrindo, agarrando-se mais ainda no amigo.

— Desde que não saiam deste quarto. O senhor Agreste não pode nem imaginar que eu tenho um filho, as outras pessoas também não, então eu espero que você saiba manter esse segredo muito bem guardado — ela encarou Adrien.

— Prometo que ninguém vai saber!

— Mãe — Félix chamou, se desprendendo do Agreste e se aproximando dela — Ainda vai me matar?

— Se você se comportar, não.

— Prometo me comportar — o rapaz sorriu.

— Eu preciso ir agora, mas devo voltar mais tarde e ver como vocês estão. Nada de sair do quarto, caso precisem de algo só pedir ao guarda-costas para me chamar — enquanto falava, Nathalie mexia gentilmente no cabelo do filho — Se comportem — pediu mais uma vez, encarando os dois rapazes e saindo do quarto em seguida.

Félix e Adrien se entreolharam, tranquilos mais uma vez. O mais velho estava feliz por poder ter sido inocentado e porque agora poderia ter algo para fazer além de ficar apenas na cozinha e no quarto de empregados. O mais novo estava feliz por ter um amigo perto durante as férias, ainda mais por poder lembrar coisas divertidas de quando era pequeno.

Quanto a Plagg: o gatinho estava distraído, explorando a escrivaninha do quarto. Com certeza iria se divertir naquele lugar, cheio de coisas para arranhar, morder e derrubar, como o porta-canetas que tinha acabado de jogar no chão.

— Plagg! — Félix repreendeu o animal.

— Minhas preciosas! — Adrien lamentou, olhando suas belas canetas esparramadas no chão.

Seria uma tarde divertida para o gatinho, talvez não tão divertida para os outros dois.


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