10 de Abril - Segunda-feira

Faltam 357 dias

Sasuke Uchiha

Confesso que achei muito engraçado ver a cara de desespero daquela patricinha mimada quando Itachi concordou em deixar que eu ficasse responsável pela ocupação dela. Por um breve momento, mas bem breve mesmo, até fiquei com pena dela. Mas daí me lembrei que foi ela mesma que cavou essa cova, então agora aguente!

Sasuke: Então princesa… está esperando o que?! – perguntei já sem paciência depois que meu irmão já estava longe - O feno não se enfarda sozinho!

Ela me olhou com uma cara de que realmente não estava acreditando no que estava acontecendo. Por fora eu estava bem sério, mas por dentro, eu estava rachando de tanto rir!

Sakura: Você só pode estar brincando Uchiha!

Sasuke: Não é nenhuma brincadeirinha não Haruno… chega de enrolação! Vai logo começar a trabalhar! Preciso desses fardos de feno pra hoje!

Sakura: Eu não vou fazer esse trabalho sujo e nojento de jeito nenhum! - ela repetiu ficando brava de novo - Não vou e ponto!

Sasuke: Ah não vai?! - vamos ver se não - Ótimo!!! Se não quer fazer nada… então pode arrumar seu caminhão de tralhas e ir embora desse lugar! Nessa fazenda… gente malandra não se cria!!!

Sakura: Você está me expulsando daqui?! É isso?!

Sasuke: De maneira nenhuma irmãzinha! Estou te dando duas opções… ou trabalha… ou rala daqui! Escolhe! - se escolher a segunda melhor ainda - Ou você é tão inútil que não é capaz de uma simples tarefa dessas?!

Não sei se é impressão minha, mas parece que uma sombra de raiva se passou pelos olhos verdes dela no momento em que falei a palavra inútil. Será que eu toquei em um ponto fraco dela?! Será que eu achei um jeito de cutucar a onça?!

Sakura: Eu não sou inútil seu roceiro! - ela resmungou entre dentes. É, parece que eu achei mesmo uma feridinha pra botar o dedo

Sasuke: É mesmo?! Mas olha que maravilha! Está aí uma oportunidade perfeita de você provar!

Eu juro que achei que ela fosse me mandar a merda nessa hora. Mas, pra minha surpresa - eu confesso - ela desviou a atenção para os peões que estavam trabalhando e ficou ali estudando a situação. Trabalhar ou ir embora?! Eis a questão! Até daria pra ouvir as engrenagens girando dentro da cabeça dela, se ela tivesse alguma!

Sasuke: E aí bonita?! O que é que vai ser?! Vai aproveitar a chance de provar que não é um zero a esquerda… ou vai arrumar sua trouxinha e sair com o rabo entre as pernas?!

Ela virou seu olhar furioso pra mim e eu tive que me aguentar pra não cair na risada. Essa garota irritada é uma piada!

Sakura: Você ainda vai me pagar por isso Uchiha! - ela rebateu. Ui que meda!

Sem dizer mais nada, ela me deu as costas e caminhou até os peões, pegou um ancinho e começou a ajuntar o feno. Daquele jeito destrambelhado dela, mas começou. Eu tenho que admitir que pra uma patricinha da capital, até que ela é caruda! Sério! Se me mandassem fazer qualquer coisa que fosse do estilo de vida dela, eu não topava! Mas vamos ver por quanto tempo essa valentia toda dela vai durar!

Deixando a Sakura de lado, tomei o rumo da nossa casa, tinha uma questão bem mais importante pra resolver. Quando cheguei na biblioteca, meu irmão estava tentando persuadir o nosso funcionário a desistir do pedido de demissão

Itachi: Eu acho que você deveria pensar melhor João! – meu irmão falou sem tentar parecer apelativo, mas mesmo assim contundente - Pensa na sua irmã… ela já está quase terminando a faculdade… falta pouco pra ela se formar! Se você sair daqui… ela vai ter que trancar o curso não vai?!

João: Carece dissu não… patrão! - respondeu o peão - A Suzana diz qui consegui si arranjá pur lá! Ela diz qui faiz uns bico… economiza daqui… economiza dali… ela se vira! I eu já pensei bem tamém… num tenho mais cara pá ficá aqui na fazenda dispois da lambança qui fiz onti!

Sinceramente, eu também não teria! Até agora ainda não consigo acreditar que soquei a cara de um funcionário - e que recebi o soco de volta - por causa daquela pirralha de cabelo rosa. Eu deveria botar aquela garota pra juntar cocô de cavalo como castigo por esse transtorno que ela causou. Já não bastava a vergonha alheia que ela me fez passar saindo na porrada com um peão. Ainda tenho que lidar com a saída do cara! Essa Haruno só me trás problemas!!!

Itachi: Mas você não teve culpa de nada! O que aconteceu ontem foi um mal entendido… um inconveniente! Estávamos todos um pouco alterados por conta do álcool! Você não tem que se sentir responsável por aquilo!

Sasuke: O Itachi tem razão João! – falei me aproximando dos dois – O que aconteceu ontem foi uma bobagem causada pela bebida. Eu acho que eu e você somos adultos o suficiente pra passar uma borracha nessa confusão toda e seguir como se nada tivesse acontecido!

João: Discurpa seu Sasuke... mais eu num consigo fazê isso não! – ele disse sem nem conseguir olhar na minha cara de tanta vergonha – Num topo jeitu di fingi qui num acunticeu nada daquela vergonhêra toda! Purisso eu acho milhó pidi minha conta mému... i tocá cá minha vida!

Itachi: Você tem certeza disso João?!

João: Tenho sim seu Itachi!

Eu e Itachi trocamos um olhar entre nós e eu fui obrigado a dar de ombros. Se o João quer tanto assim ir embora, fazer o que?! Podemos levar o cavalo até a beira do riacho, mas não podemos obrigar o bicho a tomar água!

Itachi: Bom... se você tem certeza dessa decisão! Eu ainda acho que você está sendo precipitado... mas em fim! – ele falou pegando o talão de cheques de dentro da gaveta e começou a preencher – A sua rescisão só fica pronta daqui a dez dias... mas eu já vou te dar um cheque pra você ir se virando até lá! Aqui! – ele entregou o cheque – É só um adiantamento... quando a papelada estiver pronta eu aviso você!

João: Agradicidu pur dimais seu Itachi!

Itachi: Nós vamos fazer a sua rescisão como se fosse a empresa demitindo você! Daí você pode sacar o seu fundo de garantia e receber o seguro desemprego! Uma forma de ajudar você e a sua família... e também de agradecer por todos esses anos que você trabalhou com a gente!

João: Eu é qui agradeço a bondadi dus patrão! – ele respondeu lutando pra segurar as lágrimas no olho – Bom... eu acho qui já possu metê pé intão! Mais uma veiz obrigado pur tudu… e discurpa quarqué coisa!

Itachi: Nós é que pedimos desculpas! E se precisar de alguma coisa... estamos aqui!

Sasuke: Se você se arrepender João... as portas da casa vão estar abertas caso queira voltar!

João estava tão encabulado que nem respondeu com palavras, só assentiu com a cabeça e saiu da sala. Incrível o jeito como um momento de bobeira misturado com cachaça consegue acabar com a vida de uma pessoa!

Itachi: Acha que ele vai querer voltar?!

Sasuke: Eu espero que sim! João era um bom funcionário… um cara trabalhador! A saída dele vai ser uma bela de uma perda! Tudo culpa daquela patricinha folgada...

Itachi: Sasuke para de culpar a Sakura! A culpa disso tudo não foi dela!

Sasuke: Ah não?! Foi de quem então?!

Itachi: Da bebida óbvio!!! A bebida que faz as pessoas fazerem as merdas!

Sasuke: Ah sim! Brilhante conclusão Itachi! Bebida é o grande mau da humanidade! Foi a bebida que apareceu no churrasco toda exibida com um biquíni microscópico!

Itachi: Ah não... me poupe desse mimimi de novo né mano! Olha... vamos seguir seu próprio conselho... passar uma borracha nessa confusão toda e seguir em frente! Que tal?!

Sasuke: Hump... eu já estou seguindo em frente faz tempo!

Itachi: Maravilha!

Nesse momento o celular do Itachi começa a tocar, com aquele toque padrão de mil novecentos e guaraná com rolha. Não sei por que meu irmão não se atualiza e coloca um toque mais legal igual a todo mundo

Itachi: São os coreanos! – ele disse todo animado – Graças a Deus... estou tentando marcar uma reunião com eles desde semana passada! Eu preciso atender! Yeoboseyo!!!

Como eu já sabia que não ía conseguir entender nada daquela conversa em “coreanês”, deixei meu irmão pra trás e saí da sala. Tinha muita coisa pra fazer na fazenda.

A manhã se passou muito rápido. Agora que estávamos com o quadro de funcionários bem reduzido, os trabalhos estavam mais puxados. A renovação do maquinário que o pai fez está sendo um belo de um quebra galho, mas mesmo assim as coisas estavam bem corridas na fazenda. O inverno daqui a algumas semanas já iria dar as caras, então precisávamos dar um duro danado pra abastecer nossos estoques até lá. Não estava sendo fácil, mas íamos dar um jeito. Na hora do almoço troquei uma ideia rápida com Itachi

Sasuke: Então mano... conseguiu marcar a reunião com os coreanos lá?!

Itachi: Ainda não! Eles ficaram de ver e vão me retornar a tarde! Mas eu acho que vai dar certo! A parte ruim é que terei de ir até a Coreia pra me encontrar com eles! Eles não poderão vir até aqui!

Mey: Mas pensa que é você precisa da boa vontade deles meu amor! Então é válido que você vá até lá!

Sasuke: É... se for pra resolver nosso problema... vai valer a pena!

Nesse momento, Tsunade aparece na sala de jantar com o semblante preocupado. Todos os dias ela levava pessoalmente o almoço e a janta até o quarto da Sakura, porque ela não queria fazer as refeições com a gente! Dá pra acreditar no orgulho dessa menina! Se bem que por mim, era até bom. Não faço nenhuma questão de ver a cara de nojo que aquela garota mimada deve fazer quando olha pra nossa comida! Por mim ela pode comer aonde quiser, até no armário de vassouras se preferir!

Tsunade: Sasuke... o que você fez com a Sakura?! – ela perguntou assim que sentou na mesa pra almoçar – A coitadinha está lá no quarto podre de cansada... mal se aguenta em pé!

Sasuke: Ué... eu não fiz nada... só botei ela pra trabalhar!

Itachi: Corrigindo... Sasuke botou a Sakura pra trabalhar na enfardadeira de feno Tsunade!

Mey: Na enfardadeira?!

Tsunade: Sasuke! Ajuntar feno é um serviço muito pesado pra uma menina como a Sakura!

Mey: Eu nem sei como ela conseguiu dar jeito de fazer isso!

Não me aguentei e tive que começar a rir

Sasuke: KKKKKK... ela não conseguiu... KKKKK... – respondi ainda gargalhando – Os peões falaram que ela tropeça com aqueles saltos no feno o tempo inteiro... só reclama dos mosquitos e não consegue ajuntar nem três fiapos de capim por vez... KKKKKKKK!

Itachi: E qual é a graça disso?! É claro que ela não ía conseguir fazer o trabalho... eu falei pra você!

Sasuke: Calma mano... foi só uma brincadeirinha! – é, mais ou menos! – Era só um teste pra ver como ela ia se sair!

Tsunade: Por que você resolveu tirar ela da Fazendinha?! As crianças gostaram dela!

Sasuke: João pediu demissão hoje cedo por conta da confusão que aquela garota burra causou ontem... então já que ela me prejudicou com a perda de um funcionário... agora ela vai cobrir essa falta! Simples assim!!!

Itachi: Não sei onde você vê que é simples! – ele rebateu sem esconder a indignação – A Sakura é uma menina frágil e delicada... é claro que ela não vai conseguir substituir um peão!

Eu sei que ela não consegue substituir um peão. Mas eu não podia perder a oportunidade de tripudiar um pouquinho em cima dela pelo que aconteceu ontem no churrasco. Aposto que depois dessa, essa menina vai pensar duas vezes antes de querer dar uma de esperta pra cima de mim

Sasuke: Ah tá bom... tá bom... eu vou arrumar outra coisa pra ela fazer! Algo mais leve!

Itachi: Bota ela pra ficar cuidando das crianças na Fazendinha de novo Sasuke! A gente consegue se virar com um peão a menos no rancho!

Sasuke: Não! Na Fazendinha não! – retruquei já começando a me irritar – Não quero aquela cabeça de vento rosa influenciando as crianças! A Sakura vai continuar trabalhando no rancho... aonde eu possa ficar de olho nela e pronto!

Itachi: Você está sendo mais infantil do que ela... só acho!

Sasuke: Será que a gente pode mudar de assunto por favor?! Falar dessa pirralha me dá indigestão!

Mey: Er... eu preciso ver uma questão com vocês dois! – ótima hora Mey. Te devo uma! – Semana que vem vou precisar começar a vacinar os bezerros! Vocês vão pegar as vacinas do mesmo laboratório de sempre ou vão procurar algum outro?!

Sasuke: Bem pensado! Esse laboratório tem praticado uns preços bem salgados Itachi!

Itachi: Vou entrar em contato com eles e pedir pra reavaliarem os valores então! Posso até pegar outras opções de laboratórios pra fazer uma cotação!

Sasuke: Boa!

Ainda bem que o assunto foi desviado pra um tema mais útil! Depois que o horário de almoço terminou, fui correndo de volta para a fazenda e reorganizei toda a distribuição de trabalho entre os peões. Depois que tudo estava nos eixos, fui até o rancho preparar a nova atividade que a Sakura iria fazer. Agora que eu já estava satisfeito por ter castigado ela um pouquinho de manhã, era hora de ela fazer algo mais do nível de competência dela

Sasuke: Ow Juvenal... chama a Sakura aqui pra mim fazendo favor?! – pedi enquanto carregava o último rolo de corda pra fora do rancho – Ela deve estar lá na enfardadeira!

Juvenal: A patroinha num tá lá não seu Sasuke!

Sasuke: Mas como não?! Então onde ela está?!

Juvenal: Ainda num vi a dona Sakura aqui pelu ranchu agora a tardi não! Tarveiz ela ainda num tenha vortadu du armoço!

Sasuke: Mas já são quase duas da tarde! Essa garota está pensando o que?!

Antes que eu pudesse ficar mais puto do que já estava, avistei uma mancha de cabelo rosa se arrastando pela estrada na nossa direção. Aquela menina parecia mais uma condenada indo em direção a forca!

Sasuke: O horário de almoço termina as treze e trinta Haruno! – retruquei assim que ficamos frente a frente - Você está atrasada!

Sakura: Desculpe Uchiha! – ela respondeu cínica – Eu estava tão cansada de tanto ajuntar feno que acabei dormindo bem no meio do almoço!

Sasuke: A hora de dormir é a noite... caso você não saiba!

Ela nem se deu ao trabalho de responder a minha provocação. Só revirou os olhos e me deu as costas. Odeio quando me deixam falando sozinho!

Sasuke: Onde você pensa que vai?!

Sakura: Tsc… vou voltar pra porcaria do feno! - ralhou se virando pra mim irritada

Sasuke: Não vai não… você é muito lerda pra fazer aquilo! Vai atrasar a minha produção!

Sakura: Ótimo! E qual trabalho humilhante vou ter que fazer então?! Limpar a bunda das suas vacas?!

Sasuke: Olha que não é má idéia! – vou anotar mentalmente pra pensar nisso mais tarde – Mas hoje não! Preciso que você faça outra coisa! Vem comigo!

Sem perder mais tempo do que já foi perdido, guiei ela até os fundos do rancho onde eu havia preparado todas as coisas necessárias para o trabalho dessa tarde. Eu havia separado vários rolos de corda de amarrar fardos e sacas e algumas latas de cera líquida. Acho que essa atividade ela iria conseguir fazer sem muitos problemas. Quando ela botou os olhos naqueles rolos de corda, o queixo dela quase foi ao chão!

Sakura: Pra quê todas essas cordas Uchiha?!

Sasuke: Vou explicar agora… preste atenção! - falei pegando uma das latas e um pincel – Isso aqui é uma cera líquida especial pra deixar as cordas que usamos pra amarrar os fardos e sacas de ração mais aderentes... ela serve pra tornar os nós mais resistentes a pressão e eles não se soltam! Eu preciso que você passe essa cera nessas cordas com o pincel pra podermos usá-las pra amarrar os fardos de feno e de ração!

Sakura: Em toda essa corda?!

Sasuke: É... em toda essa corda! – e amanhã terá mais!

Sakura: Mas... é muita corda Uchiha!!! – ela choramingou

Sasuke: Oun... a princesinha da cidade grande está cansadinha é?! – caçoei – Ali tem um banquinho pra você se sentar boneca… - apontei pra um banquinho de madeira junto a parede do rancho – Não são os travesseiros de plumas de ganso que você está acostumada... mas deve servir pra descansar essas suas perninhas de saracura!

Sakura: Hump... obrigada pela parte que me toca... agora já pode ir!

Sem mais nem menos, ela arrancou o pincel e a lata da minha mão e se sentou no banquinho. Quando eu vi essa garota puxando um rolo de corda pra perto dela, eu já sabia que ía dar merda!

Sasuke: Você não vai pedir pra que eu demonstre como se faz Haruno?!

Sakura: Não!!! – ela rebateu rabugenta - Eu sei passar cera com um pincel numa simples corda Uchiha! – eu acho que não moça! – Você já pode voltar para o seu trabalho agora!

Sasuke: Sakura... está na cara que você não sabe como se passa a cera na corda do jeito certo! Por favor... me deixe demonstrar!

Sakura: Vai demonstrar pra sua avó Uchiha! Me erra vai! Você não tem serviço pra fazer não?!

Ok! Deus é testemunha de que eu tentei ajudar! Mas ela insiste em fazer a coisa errada! Depois que aguente as consequências!

Sasuke: Veja bem Haruno… se essa cera não for passada direito… os nós não vão aguentar a pressão dos fardos. A corda vai escapar!

Sakura: Obrigada pelo aviso! Agora me deixe trabalhar!

Tive que esfregar as minhas têmporas pra tentar conter o pouco de paciência que me restava. A minha vontade era de abrir a cabeça daquela garota teimosa e enfiar a informação ali dentro na marra. Mas infelizmente abrir cabeças é crime e dá uma cana brava!

Sasuke: Ok! Faça do seu jeito então! – e que se dane! - A corda está separada em pedaços de dez metros… de vez em quando algum peão virá aqui buscar os pedaços... ou então você mesma pode fazer a gentileza de levar lá pra frente... já que estão todos muito atarefados!

Sakura: Ok! – ok é a sua bunda!

Sasuke: E se puder agilizar com esse trabalho também seria bom… eles estão precisando dessas cordas enceradas com urgência!

Sakura: Tchau Uchiha!

Antes que eu perdesse de vez a paciência, dei as costas a ela e saí dali. No momento em que virei a esquina do rancho, me escondi atrás de um barril de grãos e fiquei espiando, só pra ver como aquela garota ia se virar pra fazer a tarefa sem a minha explicação. A maneira certa, era utilizando uma máquina que eu mesmo montei pra fazer esse serviço e que otimizava um bom tempo! Mas pelo visto essa Haruno não gosta muito de praticidade. Ela prefere ir pelo caminho mais difícil! De longe eu observei quando ela abriu a lata de cera quase caiu pra trás com o fedor que saiu de dentro. Realmente aquela cera tem uma catinga de ovo podre que é de matar! Exatamente por isso que usamos uma máscara de TNT pra fazer essa atividade! Mas pelo jeito ela recusou a caixinha de máscaras que está bem do lado do banco. Enfim! Por um momento até achei que ela fosse largar a cera e a corda ali e sair correndo, mas não. Depois de alguns segundos pra se acostumar com o cheiro, ela molha o pincel na cera e passa na corda. Quase tive um treco de tanto rir quando ela tentou afastar o pincel e percebeu que a corda estava grudada nele

Sakura: Mas que droga!!! – escutei ela resmungar enquanto tentava puxar o pincel - Corda maldita solta esse pincel!

Meu Deus, como é que pode um ser humano ser assim tão burro?! E além de burra, essa garota também tinha que ser teimosa! Por que ela não pede ajuda de uma vez?! Eu já estava quase indo lá fazer alguma coisa, quando noto que ela teve uma sacada! Sakura pisa em cima da outra ponta da corda para mantê-la presa ao chão e estica o braço que segurava a ponta oposta para o alto. Finalmente ela consegue desgrudar o pincel e entende que pra poder passar a cera, a corda precisa ser mantida esticada. O aparato que eu montei faz exatamente isso, mantém a corda esticada pra pessoa poder passar a cera mais facilmente. Mas se ela prefere usar as mãos e os pés pra isso. Deixa ela se ferrar!

Sakura: Não quer que eu demonstre como se faz?! – ouvi ela resmungar tirando uma com a minha cara - Hump… eu é que vou demonstrar pra você como se faz seu caipira medíocre!

Prefiro mil vezes ser um caipira medíocre, do que ser um cabeça de osso pra sopa igual a essa menina! Depois que eu me certifiquei de que tudo estava sob controle, deixei a Haruno ali se virando com as cordas e fui fazer meu serviço. Havíamos recebido um carregamento de ração hoje pela manhã, então eu e meus peões estávamos fazendo das tripas coração pra conseguir estocar tudo no celeiro até o final do dia. Não era um trabalho fácil! As sacas são pesadas e como estávamos em menor quantidade de mão de obra, o serviço parecia ainda mais árduo. Fora que eu ainda precisei designar outros peões pra fazer outras atividades pela fazenda que eram tão importantes quanto essa. Mas com trabalho em equipe e uma boa disciplina íamos dar conta de tudo a tempo.

Já deveria ser quase umas quatro horas da tarde quando eu decidi ir até o rancho pra ver como estava o andamento da embalagem do feno. Quando cheguei lá, me deparei com uma boa quantidade de fardos empilhada do lado de fora esperando para ser amarrada e uma parte muito pequena do serviço pronta. Mas que diabos! Como é que esse serviço estava rendendo tão pouco hoje?!

Sasuke: Ow Juvenal... – chamei meu funcionário intrigado – O que é que está acontecendo aqui?! Já era pra esses fardos estarem todos amarrados e estocados! Que moleza da piãozada é essa?!

Juvenal: Discurpa seu Sasuke... mais num é moleza da piãozada não! É qui num tem corda pá amarrá us fardu!

Sasuke: Como não tem corda?! Eu deixei aquela patricinha metida incumbida desse trabalho justamente pra o serviço andar mais rápido!

Juvenal: Ela tá mais impacada cum as corda du qui mula manca na carroça!

Eu não acredito que aquela pamonha da Sakura não deu jeito fazer um serviço tão simples como esse! Eu devo ter atirado pedra na cruz pra merecer um atraso de vida como aquela garota por aqui. Como se ela adivinhasse que era o assunto da conversa, bem naquela hora Sakura aparece com um pedaço de corda encerado nos braços. Um pedaço só!!! Essa garota só pode estar de gozação com a minha cara!

Juvenal: Tá venu patrão?! É um talho di corda a cada meia hora só! Dessi jeitu dá meia noite i o boi num brinca!!!

Eu preciso dar um jeito nisso. Respirei fundo pra tentar manter a calma e segui até aonde ela estava. Sakura estava num estado deplorável. O cabelo rosa sempre bem penteado estava todo desgrenhado, a calça branca de marca cara estava com uma mancha enorme de cera na perna e pela cara emburrada, ela estava a um passo de cometer um assassinato

Sasuke: Eu quero falar com você garota!

Sakura: O que é que você quer?! – ela ralhou jogando a corda aos meus pés

Sasuke: Vem cá... você está tentando me sabotar... é isso?! – já disparei nem ligando pra cara feia dela - Não... porque não é possível que um ser humano saudável... pelo menos fisicamente como você... demore tanto assim pra fazer um serviço tão simples!

Sakura: Um serviço tão simples?! Olha pra mim Uchiha! Olha o meu estado! Não tem nada de simples nessa maldita fazenda pra mim! Eu falei pra você que não sei fazer serviço de rancho mas você não me escuta! Hoje de manhã eu quebrei o salto da minha sandália predileta e essa calça... – ela apontou para a calça arruinada pela cera – essa é a quarta calça que eu estrago nesse fim de mundo dos infernos!

Sasuke: E o que é que eu tenho com isso?!

Antes que aquela patricinha mimada pudesse retrucar alguma coisa, um barulho alto de algo se espatifando no chão chamou a minha atenção e a de todos ao redor. Quando vi que uma pilha de fardos de feno tinha se soltado da corda e caído bem em cima de um dos meus peões, não pensei em mais nada, corri pra socorrer o homem junto com o resto do pessoal. Sem perder tempo, tiramos todos os fardos e descobri que o soterrado era o Sasori, outro dos meus melhores funcionários

Sasuke: Sasori! – chamei enquanto ajudava ele a se sentar. Aparentemente não tinha acontecido nada – Você está bem cara?! Se machucou?!

Sasori: Eu estou bem… foi só um susto! – ele respondeu ainda meio desnorteado mas bem, Graças a Deus!

Sasuke: Mas o que é que aconteceu?! Como é que essa pilha de fardos caiu?!

Sasori: Eu não sei… estava amarrando os fardos quando de repente essa montanha de feno me soterrou!

Juvenal: Aqui patrão... foi us nó da corda qui si sortaru!

Quando peguei a corda que o Juvenal me entregou e vi que estava muito mal encerada, meu sangue subiu na hora. Tudo na minha frente ficou vermelho, fiquei possuído pela raiva e a única coisa que eu queria nesse exato momento, era fazer aquela cabeça de vento rosa engolir todo aquele feno. Sem conseguir me controlar, cruzei o caminho entre o aglomerado de peões e fui até a Sakura, que ainda estava parada observando tudo de longe

Sasuke: Viu só o que você fez?! – esbravejei puto da vida com aquela garota – Quase perco outro funcionário por sua causa!

Sakura: Do que você está falando seu idiota?! Eu não fiz nada!

Sasuke: Olha isso aí! – joguei a corda na cara daquela sonsa - Olha bem pra isso aí! Essa corda foi encerada igual a sua cara sua inútil!

Sakura encarou a corda e reparou que realmente haviam espaços onde a cera não estava bem espalhada. Também pudera, o jeito como essa tapada estava fazendo o serviço, não era de se espantar que tivesse ficado daquele jeito.

Sakura: Eu... eu não percebi que esse pedaço tinha ficado assim... – ela respondeu com a voz fraca

Sasuke: Ah você não percebeu?! E o que é que você percebe além do seu próprio umbigo garota?! Nada! Você não presta pra nada! Eu te dei a tarefa mais simples que existe nessa fazenda… passar cera na corda... mas nem o serviço mais fácil você consegue fazer?! Você é um baita de um zero à esquerda mesmo!

Sakura: Eu não sou um zero à esquerda seu estúpido! – retorquiu jogando a corda no chão com raivinha

Alguns peões que estavam assistindo o bate-boca deixaram escapar uma risadinha. Eu estava tão puto com aquela menina que não estava nem me importando com a plateia que nos assistia, e menos ainda com as risadas. Pois que eles rissem da cara dela mesmo!

Sasuke: Então me diz... me diz pelo amor de Deus como é que você conseguiu fazer esse serviço de bosta?! Como é que você passou essa cera assim tão mal passada?! Com esse seu narizinho empinado?!

Sakura: Passei com o pincel, óbvio!!!

Depois dessa os peões caem na gargalhada da vez. Quase que eu caio na gargalhada também

Sakura: Qual é a graça seus imbecis!

Sasuke: A única imbecil que eu vejo aqui é você!!! Eu não falei pra você que tinha que passar a cera bem passada… se não o nó não ia aguentar?!

Sakura: Falou mas é que…

Sasuke: Mas é que o que?! Você ficou com nojinho de sujar sua roupa de marca?! Ou não queria melecar esse seu cabelinho cor de chiclete?! Pois olha que pena... você se sujou toda pra nada! O serviço está uma merda... igual a você!

Quanto mais eu debochava e caçoava da cara dela, mais os peões rachavam de tanto rir. Em meio aquela onda de fúria em que eu estava, percebi que os olhos da Sakura ficavam levemente vermelhos e cheios. Mas a minha raiva dela era tanta que eu não medi esse detalhe. Naquele momento, a minha ira já não era mais só por conta da corda, mas também pelo comportamento dela ontem no churrasco, pela ousadia dela de ter vindo na minha casa desacatar a memória do meu pai. Pra ser sincero, acho que a própria existência dela estava me deixando irritado

Sasuke: Você garota… é a mesma coisa que um monte de esterco. Ou melhor… um monte de esterco ainda serve de adubo pra plantação… você nem pra isso!

Sakura: Você não pode falar assim comigo seu roceiro! – ela retorquiu com a voz falha enquanto se segurava pra não chorar na minha frente

Sasuke: Eu falo com você como você merece! – rebati baixinho me aproximando dela. Agora a conversa seria só entre nós dois – Escuta aqui menina… sinceramente… por que você não volta pra sua casa na cidade grande?! Esse aqui não é o seu lugar… não tem nada pra você aqui!

Sakura: Eu sou dona de um terço de isso aqui!

Sasuke: Não é não! Nada do que tem aqui te pertence… você não entendeu ainda?! Esse não é seu mundo… você não vai conseguir ficar aqui até o final dos doze meses! É só uma questão de tempo pra você desistir… e por mim… quanto mais rápido você sumir daqui melhor!

Sakura: É o que?!

Sasuke: É isso que você ouviu… pega logo esse seu caminhão de tralhas e roupas de grife... e some daqui! Porque a tendência é a sua situação ficar cada vez pior!

Sem mais nem menos Sakura me empurra com uma certa força que eu não sabia que ela tinha. No mesmo momento todas as risadas cessaram

Sakura: Você vai se arrepender de me humilhar desse jeito Uchiha! – ela diz apontando o dedo na minha cara - Vai se arrepender!!!

Dito isso, a patricinha raivosa sai dali pisando duro no chão. É, parece que ainda tem muita água pra passar por baixo dessa ponte.