A intenção de Bella era passar de fininho pela sala, mas não contava que Edward e a filha estariam brincando lá. Ela olhou para os dois e apertou a toalha no corpo. Estava constrangida por estar apenas de toalha na frente de Edward. Ele deu um sorriso de lado e ela sentiu que precisava se explicar logo.

—O chuveiro queimou e estava no meio do banho, vou usar o outro. - Apontou para o final do corredor.

—Ele não queimou. - Edward entregou a boneca para a filha e levantou. - Quando esquenta muito ele para, mas é só dar umas batidinhas que ele volta. Fiquei de comprar um novo, mas acabei esquecendo.

—É só bater nele? - Perguntou doida para sair correndo de lá. Estava muita exposta e não gostava nenhum pouco daquilo.

—Eu te mostro. - Ela foi relutante atrás dele. – É só bater aqui, é onde fica a resistência. Já troquei, mas continua dando problema. Vou ter que comprar outro.

—Certo. Obrigada. – Pigarreou e Edward deu um passo para fora do box, mas não saiu do banheiro. – Já pode ir. – Indicou a porta. Queria que ele saísse logo de lá, a proximidade a estava deixando desconfortável e um pouco quente.

—Quero ver se vai dar certo. – Bella ficou na ponta dos pés e a toalha dela desceu um pouco nas costas.

—Não deu certo. – Avisou frustrada e virou pegando Edward a observando com interesse. – O que está olhando? – Rosnou irritada e ele deu um sorriso torto.

—Só estava verificando se fez ou não a tatuagem. – Ele estava um pouco decepcionado por ela não ter feito.

—Tatuagem?

—A das aves que sugeri que fizesse nas costas.

—Eu não fiz e não vou fazer. Pode resolver o problema do chuveiro?

—É claro. – Ele voltou a entrar no box e os dois ficaram bem próximos. – Você tem que colocar um pouco mais de força. – Explicou e ela engoliu em seco. Queria tocá-lo, mas se conteve bem a tempo.

—Agora você pode sair e muito obrigada pela ajuda. – Conseguiu falar sem gaguejar.

—É sempre um prazer ajudar. – Não era só Bella que estava afetada pela proximidade dos dois. Edward estendeu a mão para tocar o cabelo dela, mas Bella encolheu no canto. – Não precisa ter medo de mim.

—Eu não tenho medo de você. – Retrucou o empurrando para fora do box.

—Não tem? Eu vejo como você retrai toda vez que chego perto de você.  – Não era por medo dele machucá-la que ela se afastava. E é claro que não diria a ele o verdadeiro motivo.

—E pode me culpar por isso? Você é um assassino. – Sussurrou para que Aurora não ouvisse a discussão dos dois. Era a primeira vez que ela tocava no assunto.

—Eu jamais machucaria você, Bella. Pode confiar em mim.

—Confiar? Eu nem conheço você, como posso confiar em alguém assim?

—Passamos duas semanas juntos e já tem quase um mês que você está em casa, é claro que me conhece. Alguma vez eu dei indícios de que poderia te machucar? Eu colocaria o mundo aos seus pés, Bella. Você é a mãe da minha filha, tem o meu respeito e proteção. Não precisa ter medo. Não a machucarei, nunca.

—Mas vai machucar outras pessoas. – Declarou e ele assentiu.

—Essas pessoas mereceram isso. Eles não podem deixar a minha filha sem a mãe por cinco anos e achar que não sofrerão consequências. Falta apenas uma e eu vou matá-la. Todos pagarão pelo que fizeram a vocês, sem exceção. – Declarou e acariciou o rosto dela. – Não precisa ter medo, Bella. Juro que jamais a machucarei e farei o possível e impossível para que seja feliz e recupere esses cinco anos. Ninguém vai tocar em vocês, nem que eu tenha que morrer para garantir isso.

—Edward, eu... – Bella começou a falar, mas foi interrompida pela chegada da filha.

—Papai? – Ela apertava o ursinho com força e olhou para os pais. – Estou com fome. - Edward pegou a filha no colo.

—O que acha de comida mexicana? – Perguntou a balançando.

—Amo tacos. – Sorriu animada fazendo Bella derramar uma lágrima ao ver a cena dos dois juntos. Ela sabia que ele era um pai maravilhoso, mas sentia ciúmes ao ver a cumplicidade entre os dois. Ela queria se conectar com a filha, mas não sabia como. Tudo que ela fazia parecia ser errado ou a filha não gostava. Aurora mal a olhava e aquilo a deixava muito triste.

—Então vai ser tacos. Tudo bem para você, Bella? – Ele ergueu os olhos e ela secou as lágrimas rapidamente. Não queria que ele a visse chorando.

—É claro. Amo comida mexicana.

—Vou sair para comprar e também um chuveiro novo. Fica aqui com a mamãe, tudo bem? – Edward colocou a filha no chão.

—Quero ir com você, papai.

—Vou rapidinho, minha princesinha. – Ele sabia que precisava dar a oportunidade para que Bella ficasse mais tempo a sós com a filha.

—Posso ficar na sala?

—Pode sim, mas sem fazer bagunça. – Apertou o nariz dela. – Já volto. – Avisou a Bella e ela fechou o box pensando que teria sido melhor terminar o banho no outro banheiro, teria evitado o confronto com Edward. Respirou fundo e decidiu tomar um banho rápido, assim poderia ficar um pouco com a filha. Mesmo que ela parecesse não gostar, Bella não poderia desistir. Iria conquistar a filha e ninguém a impediria.

[...]

—Edward, você sumiu. - Giana sorriu ao vê-lo, mas estranhou ele não estar acompanhado da filha. - Está tudo bem?

—Sim. Vou querer o de sempre. - Ela sabia que havia algo de errado. Ele nunca foi lá sem a filha. Giana entregou o sorvete a ele e o seguiu até a mesa. - O que foi?

—Desembucha logo. Tem algo de errado. Você sumiu e agora aparece sem a Aurora. Está tudo bem com ela? - Ele estava bem abatido e ela temeu que algo tivesse acontecido a pequena.

—Ela está bem. - Edward garantiu e ficou feliz por ela se preocupar com a filha dele. - A mãe dela acordou.

—Isso é ótimo. - Ela tentou soar alegre, mas deu para notar o ciúme na voz dela. - Estou feliz por vocês, embora isso signifique que não há mais nenhuma chance entre nós dois. - Edward fez uma careta, achava que as coisas entre eles estavam resolvidas.

—Gi… - Começou, mas ela o interrompeu.

—Está tudo bem. É passado. Me conte como aconteceu.

—Ela simplesmente acordou. Tem quase um mês que está em casa, por isso andei sumido. Muita coisa acontecendo. – Eles só viram uma vez depois do encontro deles.

—Imagino. E como a Aurora reagiu?

—Não muito bem. Ela adorava a mãe e sempre quis fazer tudo que Bella fazia. Passava horas assistindo aos vídeos, dormia segurando a foto e agora é como se a mãe dela não existisse. Bella tem sofrido muito com isso. Ela não fala nada, mas sei que está sofrendo.

—Acho que é compreensível a reação da Aurora. A mãe dela é uma desconhecida e vai levar um tempo para ela se acostumar com toda essa mudança. As duas só precisam de tempo para se conhecer. São mãe e filha e mesmo tendo ficado separadas, as duas tem uma ligação muito forte.

—Eu só queria que as duas ficassem felizes. - Declarou passando a mão pelo cabelo.

—Elas têm você e vão ficar bem. Dê tempo ao tempo. - Edward mexia o sorvete, que derreteu completamente.

—Tem mais coisa aí. - Giana o cutucou com o pé.

—Não quero te encher com os meus problemas.

—Somos amigos. E é isso o que amigos fazem. - Ela queria ser bem mais do que apenas amiga dele, mas era melhor ser só amiga do que não ter relação nenhuma.

—Bella tem agido estranha comigo. Não sei se é por ciúmes da Aurora ser apegada a mim ou por me culpar pelo que aconteceu a ela. Estamos fingindo que nada aconteceu, mas a tensão da nossa última conversa está sempre presente. Devo conversar com ela ou esperar que ela queira conversar? - Ele não deu tempo para ela responder. - Esperei quase seis anos para tê-la de volta e agora é como se houvesse um abismo entre nós. Eu menti para Bella e não sou o cara certo para ela, mas eu a amo e quero abraçá-la e não soltar nunca mais. Quero que ela se sinta segura comigo e não que quase saia correndo quando me aproximo. E se ela tirar a Aurora de mim?

—Ela não faria isso. Você é o pai dela e a criou sozinho. Ela não tem o direito de te afastar da Aurora.

—Giana, você não sabe a verdade sobre mim. Se a Bella quiser pode me afastar da Aurora em poucos segundos. E apesar de amar acima de tudo a minha filha, eu jamais entraria em uma briga com a mãe dela pela guarda. Não quando eles ficaram afastadas por minha culpa.

—Edward. - Ela estendeu a mão e segurou a dele. - Posso não saber os seus segredos, mas sei que você não é mau. Todos nós cometemos erros e temos arrependimentos. O que importa é que não foi você quem puxou o gatilho. Pode ter sido por sua causa, mas não foi sua culpa. Você a teria protegido se pudesse. E todos sabem disso. Como eu disse, é uma situação muito complicada e você precisam se adaptar. Deixe a Bella se acostumar e se entender com a filha, depois vocês conversam seriamente e tudo será resolvido.

—Sinto que essa é a minha última chance de ser feliz e não quero desperdiçar. - Ele estava desesperado.

—Então não desperdice. Seja cuidadoso e dê espaço a ela, mas não se acovarde. Se a ama, como sei que ama, tem que lutar por ela.

—Obrigado, Gi. Você é uma grande amiga e queria que você encontrasse alguém que a fizesse feliz.

—Relaxa, Edward. Ter a sua amizade já é o suficiente. Quero vê-lo bem e feliz. - Ela levantou e pegou a taça com o sorvete derretido. - Vejo vocês em breve?

—Espero que sim. - Ele acenou e saiu com as esperanças renovadas. Lutaria para ficar com Bella, só precisava dar tempo ao tempo e fazer o melhor para elas. Passaria no restaurante mexicano, já havia comprado o chuveiro, e eles fariam uma excelente refeição em família.

[...]

—Filha? – Bella chamou e ela ergueu os olhos dos brinquedos.

—Oi. – As coisas estavam melhorando entre as duas, mas a evolução estava muito devagar.

—Pensei que poderia te ensinar alguns passos de balé, o que acha? – Os olhos dela brilharam. Ela queria ser como a mãe e ter aulas com ela seria maravilhoso.

—Você já está bem? – Ela sabia que a mãe ainda estava se recuperando.

—Já estou ótima. As sessões estão melhorando a minha fala. E recuperei por completo o meu equilíbrio.

—Pode me ensinar a fazer um en pointe? Você mostrou pro papai como fazia.

—Como sabe disso?

—Eu vi o vídeo. Vocês viajaram para a Grécia. Lá é muito bonito. Vi as fotos também. – Explicou sorrindo. Bella sempre ficava encantada quando a filha sorria. Ela realmente iluminava tudo a sua volta.

—Lá é incrível. Um dia podemos ir para lá e eu te explico um pouco sobre a história da Grécia.

—Eu nunca sai do país. Papai me levou a Disney quando eu fiz 4 anos.

—Parece que você se divertiu bastante lá. As fotos ficaram ótimas.

—Lá é muito legal. Tem um monte de brinquedos e princesas.

—Gosta de princesas? Vi você e o seu pai tomando chá da tarde e estavam com tiaras. – Bella queria ter participado, mas não foi convidada.

—Amanhã vai ter outro chá, quer participar?

—Adoraria.

—Tem regras. – Avisou entregando uma boneca a mãe. – Pode ficar com essa, o papai usa a outra quando chegar. Ele está demorando muito. Estou com fome.

—Ele ia comprar um chuveiro, pode ser que a fila esteja muito grande.

—No restaurante também demora muito. Eles são devagar. Papai chama eles de tartarugas. – Ela riu.

—Você ama muito o seu pai, não ama?

—Ele é o melhor pai do mundo inteiro. As minhas amigas ficam com inveja. – Bella não sabia como competiria com Edward, ele fazia de tudo pela filha.

—Filha, eu queria fazer mais coisas com você. – Tocou a mão dela.

—Brincar?

—Também. O que você quiser. Eu te amo muito e quero que você também me ame.

—Eu te amo, mamãe. – Levantou a abraçando. – Quer ir no meu ensaio de balé? Pode conhecer as minhas amigas.

—Eu adoraria filha. – Acariciou o rosto dela. – Quero ser a sua mãe. Estive ausente por muito tempo, mas agora eu estou aqui e juro que não irei a lugar algum. 

—Não quero que ninguém te machuque de novo. Papai disse que os homens maus não vão voltar.

—Se ele disse, então podemos acreditar nele. Sei que seu pai vai cuidar de nós. – Deu um beijo na testa da filha.

—Desculpa o atraso. – Edward se atrapalhou com as chaves e com as sacolas. – Demorei, mas cheguei e trouxe bastante comida.  – Ele olhou de uma para a outra e sorriu ao ver que as duas estavam abraçadas.

—Trouxe tacos, papai? – Aurora desvencilhou da mãe e estendeu a mão para pegar a sacola.

—Tacos, burritos, trouxe praticamente metade do México. – Colocou as outras sacolas em cima da mesa.

—Faz tempo que não como comida mexicana. – A boca de Bella encheu d’água. Ela também estava com fome.

—A comida deles é ótima, mas eles são umas tartarugas. – Aurora riu.

—Não disse? – Murmurou com a boca cheia.

—Eles são mesmo umas tartarugas. – Edward se defendeu.

—Isso daqui é realmente uma delícia. – Bella mastigava um burrito.

—Quarta pode ser o dia de comida mexicana? – Estava na hora de criarem novas tradições.

—Por mim tudo ótimo. E para você, Bella?

—Quarta será o dia de comida mexicana. – Declarou e eles voltaram a comer, juntos, como uma família.