Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 88
Memórias


Notas iniciais do capítulo

E aqui temos Sophie X Gibbs em um embate pela terceira. A você, Andrea que tanto reclamou que ele tinha que vim se arrastando pedindo perdão... espero que era isso que você tinha em mente.
Espero que gostem,
Boa leitura!!



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Olhei no relógio, ainda era cedo, tinha um par de horas até que desse o prazo que Jenny tinha estipulado para que Sophie estivesse em casa.

A Ruivinha estava no banco de trás, calada, ainda remoendo a derrota com a história do sorvete.

Meu pai, do meu lado, estava rindo. Olhei para ele.

— Ela é mais parecida com você, Leroy, do que Kelly. Diga um não e você não vai ouvir a voz dela por uma semana.

Observei Sophie pelo retrovisor interno, ela encarava o avô em dúvida.

— A menos que isso também seja uma característica da mãe. – Jack completou.

E à menção à mãe, Sophie levantou uma sobrancelha. Ela andava protetora demais com Jenny. Tive que fazer um sinal a ele ou Sophie era bem capaz de começar o seu discurso "Em Defesa da Mamãe" e depois resolver não conversar com nenhum de nós dois por meses.

Cheguei em casa, minha filha olhou descrente para a porta e depois para mim, como se me dissesse que aquela não era sua casa. Jack continuava a sorrir e quando passou do meu lado, simplesmente disse:

— Leroy, agora você vai ter uma conversa com você mesmo. – E foi para a sala se sentar. Sophie ia imitando o avô, quando eu coloquei minha mão em seu ombro e fiz se virar para me encarar.

— A mocinha vem comigo.

Ela engoliu em seco, levantou a cabeça, se pôs em uma postura altiva, que copiava a da mãe e me seguiu até o porão.

— Não seja tão duro com ela, Sophie tem seis anos, Leroy. Não dezoito. – Jack falou às minhas costas e eu entendi sobre qual conversa ele dizia.

Desci a escada, acendendo as luzes, Sophie pulou degrau por degrau. Ela tinha pegado essa mania irritante não sei aonde. Porém, me lembrei que Kelly costumava descer as escadas assim também, aí, um dia, parou e apareceu de salto alto. Não ia reclamar com Sophie.

A pequena ruiva, por sua vez, olhou em volta e ficou admirando o meu próximo projeto, tentando decifrar o que seria. Já tinha um tempo que ela não aparecia por aqui. Depois passou direto e foi se empoleirar na minha mesa, se sentando por lá e abraçando os joelhos.

— Nós dois precisamos conversar. – Falei.

Ela levantou a cabeça e me olhou.

— E você não vai bancar a muda funcional, Sophie.

Esperei mais um pouco e ela não abriu a boca. Era um dia falando muito e no outro não falando nada.

Puxei a cadeira e me sentei de frente para ela, Sophie olhou para todos os lados e, não vendo nada com o que pudesse fingir que estava distraída, teve que me encarar.

— Por que você está me evitando durante todo o dia?

Ela respirou fundo.

— Foi o nosso trato.

— Que trato, Sophie?

— O que nós fizemos dentro do elevador. O senhor concordava em ir comprar a roupa para o casamento da Kelly, sem reclamar, e eu não te enchia mais a paciência. Estou cumprindo a minha parte, assim como o senhor cumpriu a sua.

Ser complicada e cabeça dura deve ser uma característica do sobrenome Shepard.

— Eu não me lembro da parte em que você prometia ficar sem conversar comigo.

Ela levantou uma sobrancelha.

— “Sem perturbar” para mim é ficar quieta, calada, nem chegar perto. Era o que eu estava fazendo. Como eu falei, o senhor só vai ter que me aturar até o casamento de Kelly... ou nem isso, porque agora que a roupa já foi escolhida, eu vou ficar bem longe do senhor. O senhor pode ir para onde quiser, com quem quiser. Eu não vou te chatear mais.— Ela fez menção de descer da bancada e ir embora, tive que segurá-la no lugar.

Fui pego de surpresa. Então era assim que ela achava que iríamos resolver as coisas? Eu ia simplesmente fingir que minha filha não existia?

— Sophie... eu não quero que você fique longe de mim. Não quero que você pare de ir me ver no NCIS ou vir aqui em casa.

Ela me encarava séria.

— Mas foi esse o combinado...

— Não combinei nada disso com você, filha, só que iríamos comprar a roupa para o casamento da Kelly.

— A minha parte...

— A sua parte era me ajudar a escolher. E você fez isso. Eu nunca concordei com mais nada. Quando você vai entender, que eu sou o seu pai, Sophie? Que eu jamais iria pensar em querer que você fosse embora?

Mas o senhor foi embora! — Ela acusou. - O senhor me disse que eu não era a sua filha, que o senhor não me conhecia! E eu não me lembro de ter feito nada de errado! – Ela começou a chorar de verdade. – Depois não conversou comigo por um tempão... eu nem vi o senhor... – Ela soluçava em cada uma das frases, tamanha a dor que ela ainda sentia. – Aí o senhor voltou e eu fiquei doente, mas nada nunca mais foi o mesmo... o senhor não fica mais lá em casa... não conversa com a mamãe, só sabe rir dela e do cargo dela... não passa mais os finais de semana comigo... nunca mais me contou uma história para dormir... nada tá igual... e... eu não gosto disso... eu só queria a minha família junta... e nem isso eu tenho. O senhor não gosta mais de mim, nem da minha mãe... O que nós fizemos de errado?— Ela sussurrou a última parte.

Eu vi em primeira mão a dor dela, o tanto que ela estava magoada com tudo. Sophie jamais iria esquecer aquela manhã no hospital. Jamais iria esquecer os meses que ficamos separados. E ainda se culpava por algo que ela não tinha feito.

O que eu não daria para poder voltar no tempo, para horas antes da explosão e relembrar tudo o que ela tanto falava!

— Você não fez nada de errado.

— Então por que parece que sim? O senhor não gosta mais de mim como gostava...

Me levantei e a peguei no colo, a abraçando apertado.

— Eu não sei como eu posso te explicar isso, filha, mas é claro que eu amo você. Eu sei que tudo está diferente, que você não gosta disso, e sei que não gosta de mudanças, mas é como as coisas são agora. Contudo, nunca se esqueça que eu sou seu pai e eu não vou deixar de te amar jamais.

— Eu não gosto desse novo normal. Eu gostava de quando todo mundo tava junto. – Ela murmurou.

— Isso é a vida, filha. Nem sempre temos aquilo que gostamos.

— Mas o senhor ainda quer que eu vá embora?

— De jeito, nenhum, Sophie. De jeito nenhum. Assim como eu não quero que a Kelly vá. Eu preciso das minhas duas filhas aqui.

Sophie levantou a cabeça e me olhou, ela ainda tinha grossas lágrimas escorrendo pelas bochechas.

— Mas a Kells vai embora.

— Ela vai se mudar para uma casa que não é tão longe, não está indo embora, é diferente. Ela sempre será bem-vinda para voltar aqui. Assim como você, Sophie, é sempre bem-vinda para vir para cá, para passar o final de semana e me ajudar com tudo isso. – Apontei para o porão.

— De verdade?

— Claro que sim, Ruiva. Eu preciso da minha ajudante. Kelly te passou o bastão, e preciso de você aqui. Quem mais pode me ajudar a fazer os móveis que sua irmã me pediu? – Levantei o queixo dela para que Sophie me olhasse.

— Igual quando nós fizemos os móveis do meu quarto e do escritório da mamãe?

E encarando os olhos verdes da minha filha, um flash passou pelos meus. Uma noite, Jenny descendo as escadas com os olhos vendados. Sophie pulando sem parar na minha frente. Depois o sorriso de Jenny ao ver como o escritório da casa dela tinha ficado.

É o presente do papai e meu, tá? – Sophie tinha feito questão de dar o crédito a mim.

— Sim, trabalharemos juntos.

— A Kells me disse que ia te pedir isso... só não sabia como o senhor ia reagir. – Sophie agora tinha um enorme sorriso.

Outros flashs pipocavam enquanto ela falava.

Um restaurante. Um homem de terno. Eu segurando a mão de Jenny. Nós dois parados na porta do quarto de Sophie.

— Papai, o senhor tá bem? – Sophie me chamou.

Olhei para ela, e outra cena passou na minha mente:

Eu e Jenny tínhamos acabado de por Sophie na cama, antes de fechar, a porta, Jen tinha parado e se virado em direção à nossa filha, parei atrás dela e a olhei, ela, já tão acostumada com as minhas perguntas mudas, simplesmente respondeu:

— Só esperando a falação começar. Quero ver quem ela vai chamar primeiro.

— É melhor não saber. Vai que ela chama pelo Tony! – Brinquei.

— Ela não faria isso comigo. – Jen sibilou revoltada.

— Então ela vai me chamar. – Quis brincar com o ciúme da mamãe ursa e em resposta recebi uma cotovelada.

Sophie logo começou a falação, de início não deu para entender nada, mas aí ela chamou pela primeira pessoa e abraçou ainda mais dragão de pelúcia.

— Perdeu, Jethro. Eu ainda sou a queridinha. – Jen disse com sorriso no rosto.

— Espere. – Sussurrei contra a orelha dela e apertei ainda mais a sua cintura. - Ela ainda não terminou a primeira frase. – E assim que eu apontei para a cama, Sophie chamou por mim.

— Pequena traidora! – Jen disse em direção à filha, porém nunca perdeu o sorriso e a feição de adoração.

— Podemos considerar isso um empate se você se sentir melhor. – Eu disse para ela e apaguei a luz, logo em seguida, a levei para o nosso quarto.

— Papai... papai... – Sophie me chamava, seus olhos arregalados e assustados.

— Oi filha. – Voltei ao presente.

— Seu celular. – Ela apontou para o meu bolso.

Peguei o aparelho e o atendi, ainda atormentado pelas memórias que tinham voltado. Então era isso. Era por isso. O distanciamento de Jenny, os olhares tortos de Ziva e Abby. Sophie defendendo a mãe, dizendo que ela estava infeliz.

— O senhor tem um caso, não tem? – A ruivinha pulou da mesa de trabalho e aterrissou elegantemente do meu lado.

— Tenho.

— Eu posso voltar na semana que vem? – Ela pediu incerta.

— Não só pode, como deve. – Falei para ela.

— Eu vou ficar aqui com o vovô?

Dei uma conferida no relógio. Estava quase na hora que Jen pediu que a filha estivesse em casa.

— Vou te levar para a sua mãe.

— Sim, é claro. – E Sophie subiu correndo na minha frente, já chamando meu pai.

Ela se despediu do avô e me esperava na porta.

— Sua mãe não vai gostar da sua feição. – Comentei ao ver que ela ainda tinha os olhos inchados e vermelhos.

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Às vezes era bom ficar sozinha, para pôr os pensamentos em ordem, tentar entender como a minha vida pode ter mudado tanto em tão pouco tempo. Estava sentada em meu estúdio, vendo as estantes que Jethro tinha feito, lembrando daquela noite. Em um gesto que já era mais do que inconsciente, peguei o cordão e comecei a brincar com as duas alianças.

Pensar que chegamos tão perto de um “felizes para sempre” me doía. Repassei aqueles meses, os únicos que nosso relacionamento teve oficialmente. Lembrei do dia em que Abby e Ziva me encurralaram no elevador e ameaçaram me manter prisioneira se eu não contasse a verdade.

A verdade sobre a aliança em meu dedo médio da mão direita.

— É uma aliança idêntica à de Gibbs, na mesma e no mesmo dedo. Pode ir falando, Jenny. – Abbs começou.

E eu disse, não por medo do que elas poderiam fazer – elas não fariam nada na verdade, - mas porque eu queria. Eu precisava compartilhar aquela felicidade com alguém. E pareceu certo fazer isso com as meninas.

Elas, cumprindo a promessa que me fizeram, nada disseram, nem mesmo comentaram com DiNozzo ou McGee. E pareceram genuinamente felizes com o compromisso existente entre Jethro e eu. Tão felizes que quando ele voltou e, principalmente, começou a namorar a Coronel, as duas tem feições decepcionadas dirigidas a ele quase todos os dias.

E olha que Abby já tinha se candidatado a madrinha em nosso casamento, que ela tinha a certeza de que aconteceria.

Jethro nunca ficou sabendo que as duas sabiam, Sophie era a única que tinha as provas e tinha sido informada de verdade. E, talvez, por isso fosse a que mais estivesse sofrendo com o fim.

Respirei fundo, tomei um gole da minha xícara de café, só para perceber que passei tanto tempo pensando no passado que o conteúdo tinha esfriado.

Me levantei para fazer mais café, e quando estava passando perto da porta, a campainha tocou.

— Abbs? – Perguntei, já que ela era a responsável por trazer Sophie em casa.

— Sou eu, mamãe. – Ouvi a voz de minha filha.

Abri a porta e não era Abby quem a trouxera para casa, era Jethro.

— Boa noite, Jethro. – Cumprimentei.

— Oi, Jen. – Ele me olhava, seu rosto escaneando o meu. Me perguntei o que ele tinha achado ali.

— Quer entrar? – Abri ainda mais a porta, Sophie já estava dentro de casa e tirava os sapatos cheios de poeira, presumi que ela tinha passado a tarde com Jethro dentro do porão.

— Não posso, apareceu um caso. Se não fosse por isso, eu estaria aqui para pegar as coisas de Sophie e levá-la para ficar lá em casa.

— Claro, quando você quiser, não é filha? – Respondi. Era a primeira vez que ele pedia que Sophie passasse um tempo com ele desde que voltara.

— Sim, na semana que vem, se der, papai. – Ela falou alegre. E eu gostei de ouvir a alegria na voz dela. Tinha muito tempo que o tema “papai” só a fazia chorar.

— Presumo que tenham acertado as coisas? – Perguntei a Jethro, assim que Sophie subiu a escada, carregando a malinha dela.

— Nos acertamos. Agora eu preciso conversar com você, Jenny. – Os olhos dele acompanharam a corrente no meu pescoço, para minha sorte o conteúdo estava escondido atrás do cardigã no qual eu me enrolava.

— Diga o dia. – Foi a resposta que consegui dar.

— Eu direi, Jen. – Ele deu um passo à frente e beijou a minha testa. Me paralisando no lugar. – Tenham uma boa-noite.

— Você também. Tome cuidado. – Minha voz entregando toda a minha surpresa.

Observei ele ligar o carro e dar a partida. Ainda fiquei com a porta aberta tentando entender o que raios tinha acontecido ali.

— Sophie! – Chamei por minha filha, assim que consegui ter o controle de meu corpo para fechar e trancar a porta. – Sophie, sobre o que você e seu pai conversaram?

Minha miniatura apareceu no alto da escada e com a uma carinha de dúvida, me respondeu.

— Sobre ele ter ido embora, e se ele ainda me amava...

— E o que ele disse?

— Que ele é o meu pai e nunca vai deixar de me amar. Aí me falou que eu sou bem-vinda na casa dele sempre que eu quiser e me chamou para ajudar nos móveis da casa da Kelly.

— Mais alguma coisa?

— Não... mas o papai ficou esquisito quando eu perguntei sobre os móveis. Parecia que ele não estava aqui. Ficou igual a Kelly quando está pensando no Henry.

Será que a memória de Jethro tinha voltado?

E se voltou, o que será que ele tinha se lembrado? Até onde ele sabia?

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— Kelly, Kelly, Kelly... por que eu não estou gostando dessa sua carinha? – Tony me perguntou assim que meu pai ficou fora de vista.

— Porque, DiNozzo, eu tenho um plano.

— Espero que seja um plano infalível! – Abby disse já com um sorriso.

Inflamável? Como assim?

Infalível, Ziva. Pelo amor de Deus! – Henry respondeu.

Ziva olhou para ele ameaçadoramente e soltou:

— Tem muita gente que me corrige, mas de você, eu não aceito não!

— Ok, vamos parando! Ninguém tem que morrer aqui. – Tive que entrar no meio dos dois ou era bem capaz que eu ficasse viúva antes do casamento.

— Podemos voltar à vaca fria? – McGee pediu.

— Claro que sim.

— Você estava falando de um plano, o que tem nesse plano? – Ziva perguntou, se sentando, consciente ou inconscientemente, perto de Tony.

— Eu quero mandar uma certa loira aguada para o espaço.

— Eu gostei disso! – Abby deu um pulo. – Vão precisar dos meus serviços?

— Não desses serviços, mas preciso da ajuda de vocês.

— Que seria?

— Bem simples...

— Kelly, pode ir parando! – Henry me impediu de continuar, colocando uma mão no meu ombro.

— Como assim?!

— Você disse que não ia se intrometer dessa vez. Lembra da Stephanie?

— Não fale esse nome!! – Sibilei para meu noivo.

— Ou até mesmo da confusão que foi com a Jenny antes de ela voltar?

— Isso é passado. – Contra-argumentei.

— Parece tudo igual para mim.

— Henry, não comece! Você, por acaso, prestou atenção na minha irmã caçula hoje?

— Sim.

— Não parece! Você não notou nada?

— Ela estava uma espoleta como sempre.

E nesse momento eu quis socá-lo.

— Ela mal conversou com o Gibbs! E evitou ficar perto dele! – Abby completou para mim.

— E o que isso tem a ver com a Coronel? – Tony quis saber.

Homens são cegos, só pode!!

— Gibbs e Jenny estavam noivos antes da explosão. – Ziva soltou.

— E como você nunca me disse isso! Ou melhor, como você sabe? – Tony olhou para a israelense.

— Jenny nos contou. – Abby respondeu.

— A Diretora contou para vocês? – McGee não acreditava na informação.

— Depois de uma pequena pressão... – Abby deu de ombros.

Olhei para os três homens da nossa mesa.

— Entendem agora! Sophie sabia disso. Com certeza!

— O dia em que Gibbs parou o elevador! Ele contou para ela! – Tony soltou.

— Aleluia! Achei que você nunca ia conseguir por seu cérebro para funcionar, DiNozzo! – Falei sarcasticamente e o pseudo-italiano me olhou feio.

— Se o Pingo de Gente sabia...

— É ela quem está mais sofrendo com tudo isso. – Afirmei.

— Tem mais além do noivado que nós não sabemos? – McGee perguntou.

— Meu pai praticamente estava vivendo na casa da Jen... Os três eram basicamente uma família.

— E nós não vimos isso, por quê? – Abby quis saber.

Dei de ombros.

— Acho que todos estavam esperando o anúncio oficial... ou só queriam especular se isso poderia acontecer, para prestarem a atenção e ler o que estava bem na frente de vocês. – Respondi.

— Se isso é verdade. E eu não estou duvidando de você, Kelly. Toda essa história da Coronel fica muito mais complicada. – Ziva começou.

— A presença dela impede que os dois possam conversar. Será que a Jenny tentou falar algo? – Abby perguntou.

— Cortando você, Abby. Onde está a outra aliança? A da Diretora está no dedo dela, e a do Gibbs?

— McGee, a Jenny não usa mais a aliança desde o dia em que a Coronel apareceu. – Tony contou.

Isso você notou?! – Eu e as meninas perguntamos chocadas.

Tony deu de ombros.

— Não fui eu quem notei. Foi o comentário de um senador dentro do elevador que me chamou a atenção. Ele tinha ido no NCIS para uma reunião com a Diretora, quando saiu, comentou com o assessor a falta do anel, dizendo que finalmente o caminho estava livre. Eu estava no elevador e fiz as contas. Foi exatamente uma semana depois da primeira aparição da Coronel.

Nós quatro encaramos Tony.

— Por que essas coisas sempre são faladas perto de você? – Ziva quis saber.

— A fofoca sempre alcança o fofoqueiro. – McGee debochou.

— Vocês acham que a Jenny desistiu? Que ela vai seguir em frente? – Abby estava genuinamente preocupada.

— Eu acho que a Jen estava focada em outra coisa para esquecer a presença da Coronel. Vocês conseguiram descobrir sobre o que é a tão falada e misteriosa operação?

Todos os outros sacudiram negativamente a cabeça.

— Essa operação pode estragar ou consertar tudo... dependendo do que for, é claro. - Tornei a comentar.

— E como podemos descobrir do que se trata? – McGee perguntou. E todos nós olhamos para ele. – Não! NÃO!! Eu não vou invadir o computador da Diretora, nem o backup do MTAC. Eu não quero ser demitido.

— McGeeeee, só você pode fazer isso e não deixar rastros... Nós temos que saber o que é! - Abby implorou.

— Achei que o plano era juntar o Chefe e a Diretora, não saber o que ela está fazendo!

— Esse é o plano, mas dependendo do que Jenny quer, isso pode ser um empecilho. – Contra-argumentei.

— Eu não vou fazer isso! Inventem outra coisa. Não quero ver o lado furioso da Diretora. Se ela já põe medo sem estar brava, imagina ela com raiva!

— McMedroso. – Tony soltou.

— Por que você não seduz a Cynthia e consegue a informação de uma fonte mais próxima? – McGee contra-atacou.

— E se nem a Cynthia souber?

— Alguém mais sabe, Tony! E você pode tentar flertar com qualquer mulher do prédio até descobrir. – McGee não desistiria.

— E ganhar alguns processos por conduta inapropriada? Claro que não!

— Ok, meninos, parem. Vamos esquecer isso de invadir o computador da Jenny. Já que essa parte parece impossível, vou ter que apelar para o plano B.

— E qual é o Plano B? – Eles quiseram saber.

— Por Sophie no meio.

— Como? – McGee e Abby quiseram saber.

— Não! – Tony foi contra.

— Ela não vai fazer isso!

— E por que toda essa certeza, Ziva?

— Porque nós a escutamos falando com seu pai, que não quer conhecer a Coronel.

— É por isso que ela tem que conhecer. E para isso eu vou precisar de algumas informações que só vocês podem me dar.

— Que seriam? - Abby foi a primeira a pular de cabeça no plano.

— A Coronel está aparecendo no NCIS com qual frequência?

Eles se entreolharam.

— Qual é! Ela não deve aparecer de uma hora para outra, quando ela quer!

— Na verdade, tem uma frequência, sim. – McGee disse.

— Toda sexta, na hora do almoço. E, às vezes, na terça-feira. – Ziva disse.

— E haja mau humor no quarto andar... – Tony comentou.

Então tinha uma ruiva com ciúmes... ótimo.

— Sexta-feira é garantido?

— Sim. Ela aparece, sempre levando o almoço, os dois ficam na sala do esquadrão, nós somos liberados para o nosso almoço... – McGee me deu a visão geral.

— E depois a Jenny se tranca no MTAC. – Abby completou.

— Como você sabe disso, se fica no penúltimo subsolo? – Tony quis saber.

— Jimmy me falou. Geralmente, na sexta-feira, Ducky leva todos os relatórios das autópsias da semana para a Diretora. Ela costumava recebê-lo e os dois ficavam conversando por horas, era o tempo que o Palmer tinha para organizar a autópsia. Já tem um tempo que isso não acontece. Ducky deixa os relatórios na mesa da Cynthia que sempre diz que a Diretora está no MTAC.

— Vai ser na sexta. E que Deus nos ajude.

— Como você vai usar a Peste Ruiva?

— Vou pedir para ela fingir um ataque de enxaqueca, bem na hora do almoço. E vão ligar ou para Jen ou para o meu pai para buscá-la

— Ela não vai fazer isso! – Tony garantiu. – A Pestinha adora ir para a escola, não vai dizer uma mentira dessas.

— Eu vou me certificar de que ela seja bem recompensada para isso. – Falei.

— Se você der chocolate para ela... – Tony parecia me ameaçar.

— Chocolate pode piorar uma enxaqueca, Tony, não quer dizer que a cause. Às vezes, pode até ajudar a reduzir os sintomas, assim como o café, depende de organismo para organismo. Você quer discutir isso comigo?

— Não.

— Ótimo! Tenho que convencer a Sophie... E vocês, é claro, vão me ajudar.

— Em convencer a Sophie?

— Não, aumentando a preocupação em torno dela. Porque é capaz que Jenny não passe com Sophie pela sala do esquadrão, indo direto pelo quarto andar... Ziva, você vai ter ser aquela que alerta a todos... ou você, Tony...

Os dois se entreolharam.

— Eu faço isso. – Tony falou. – Só me diga que dia que isso vai acontecer.

— Eu aviso. Não pode demorar muito. Preciso dessa mulher bem longe, não a quero em meu casamento.

— E qual reação você quer tirar da Mala sem Alça? – Abby quis saber.

— Fácil! Ciúme. Você ia gostar de saber, Abby, que o seu namorado, tem uma filha da qual ele nunca te falou e que a mãe dessa filha é ninguém mais, ninguém menos que a Chefe dele, que ele vê todo dia... com quem ele tem que conversar quase todos dias, com quem ele pode ficar preso em um elevador, ou dentro de uma sala escura por horas? Como você se sentiria?

— Eu não ia gostar... – Abby falou.

— Nem ela, pelo que eu ouvi dizer, é bem territorialista... – Falei com um sorriso presunçoso. 

— E se isso der errado? E se a Coronel cismar de tentar fazer amizade com a Sophie? – Henry falou pela primeira vez em quase uma hora.

— VIRA ESSA BOCA PRA LÁ! – Abby e Ziva disseram ao mesmo tempo.

— Se isso acontecer, Henry, estaremos ferrados. E eu vou ter que buscar outra Dama de Honra para o nosso casamento... porque a Sophie já me disse que não vai estar no mesmo lugar que a Coronel de jeito nenhum.

Tony ia começar a falar algo quando o celular dele tocou.

— É o Chefe. Ou ele sabe o que estamos aprontando, ou é um caso.

DiNozzo atendeu ao telefonema e quando terminou, mandou que todos o seguissem.

— Avise quando quer colocar isso em prática. Nós vamos ajudar. Aquela mulher é intragável. Ninguém separa mamãe e papai! – Abby me deu um abraço e saiu saltitando pelo caminho.

Olhei para Henry, ele me encarava sério.

— Sabe que isso tem grandes chances de dar completamente errado, não sabe?

— Sei... e estou contando que, se tudo isso for um tiro no pé, pelo menos sirva de lição para que Jenny, ao menos, reaja.

— Você quer controlar a vida desses dois de novo, Kelly. Se esqueceu que eles levaram mais de seis anos para se acertarem?

— É por isso que eu estou me intrometendo. Eles não podem esperar mais seis anos! – Bati o pé.

— O destino do seu pai não está em suas mãos, Kelly. Nem o de Jenny. Nem nas suas, e muito menos nas de Sophie. Um dia você vai ter que aceitar isso.

O que Henry dizia era verdade. Mas eu não queria acreditar. Eu sei o que eu vi! Eu sei.

Aqueles dois se amam, só são teimosos demais para aceitarem isso e orgulhosos demais para darem o braço a torcer.


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Notas finais do capítulo

Podem gritar ALELUIA!! Ele se lembrou da Jen!!
Só para constar, a briga que Jack menciona é uma que se passa muito rapidamente nos episódios Heartland (S06E04) e em Life Before His Eyes (S09E14).
Alguém dá algum chute do que a equipe vai aprontar? E como vai ser a reação de todos os envolvidos?
Muito obrigada a quem está lendo!!
Tenham um ótimo feriado, mas lembrem-se que ainda estamos no meio de uma pandemia, sejam conscientes, usem máscara e mantenham o distanciamento social, ainda não temos uma vacina pronta!!
Até terça-feira com a continuação!
xoxo



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