Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 73
Festa do Pijama


Notas iniciais do capítulo

Quem quer ver o que rolou na festa do pijama?? Quem quer o after baile?
Temos tudo aqui!!
Se divirtam e boa leitura!



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— Vocês não estão pensando em acampar nessa sala não, né? – Kelly chiou alto da porta.

— Kelly, isso é uma festa do pijama, precisamos acampar em algum lugar, e essa sala é o maior cômodo da casa, depois do porão. – Abby respondeu a ela.

E a filha mais velha do Chefe apenas fez uma cara feia, já a filha mais nova parecia que nunca tinha visto tanta bagunça reunida.

— Tony, - Sophie chamou minha atenção. – Toda vez que se dorme fora de casa é essa bagunça?

— Você nunca dormiu fora de casa, Peste Ruiva?

— Já sim, uma vez só... mas não foi assim. – Ela apontou para o caos que a casa do Chefe estava.

— Isso foi na Inglaterra?

— Foi sim, foi na casa da minha amiga Claire.

— Ingleses não sabem se divertir, ruiva. Por isso, essa noite vai ser muito mais legal.

— Parece que vai mesmo. – A pequena abriu um sorriso imenso.

— Então, todos aqui perto do sofá! – Abby nos chamou. – Temos que dividir todas as tarefas se quisermos fazer dessa noite, uma noite memorável!

— E o que vamos ter que fazer, Abbs? – Ziva perguntou.

— Você pode arrumar os colchões, todo mundo junto aqui na sala. Tim, você fica por conta dos jogos, Tony, os filmes são por sua conta, Kelly e eu vamos providenciar a comida.

— E eu? Faço o que? – Sophie perguntou assim que notou que nenhuma tarefa foi designada para ela.

— A sua tarefa será amanhã. – Abby informou.

— E o que eu vou fazer?

— Simples, assim que o seu pai chegar aqui, você vai dizer a ele que você nunca tinha ido a uma festa do pijama tipicamente americana, e assim, nós resolvemos te mostrar como é.

— Mas por que eu vou ter que mentir para o papai? A mamãe disse que mentir é feio.

— Porque, Pedaço de Gente, se o Gibbs chegar aqui e ver toda essa bagunça, nós vamos perder muito mais do que nossos empregos. – Ziva completou.

— Tudo bem, eu falo para ele. Nem tudo aí é mentira... eu nunca fui a uma festa do pijama desde que cheguei aqui mesmo...- Ela divagou. – E agora, onde eu fico para não atrapalhar?

— Você pode me ajudar, que filme você quer ver? – Perguntei para ela.

— O que você trouxe? Tem algum desenho?

— Mas é claro! Temos que começar a domesticar a Ninja do Mossad! – Respondi levando a pequena comigo até a escada, onde nos sentamos e começamos a olhar os desenhos.

— Não fala assim da tia Ziva... ela só parece estranha, mas é porque ela nasceu em outro país, muito longe... perto de onde tem guerra. Mamãe sempre me diz que temos muito o que aprender com todos, ainda mais com aqueles que possuem culturas diferentes.  – Sophie terminou o seu pequeno discurso em defesa de Ziva.

— Ok, você venceu. Não vou mais falar isso. Contudo, você vai ter que me prometer uma coisa. – Pedi.

Sophie me fitou com os olhos arregalados.

— O que?

— Que vai me ajudar a ensiná-la todas as expressões idiomáticas corretas... porque tem hora que nem seu pai aguenta...

A ruivinha soltou uma sonora gargalhada.

— Eu ensino a tia Ziva as expressões e te ensino hebraico... que tal?

— E você fala hebraico?

— Claro que sim... mamãe me ensina, junto com francês, espanhol, alemão e árabe. Árabe é difícil que só vendo. – Ela balançou a cabeça.

— Você tem cinco anos e já sabe falar tudo isso?

— Eu vou aprender italiano, português e russo também... um dia. – Ela me garantiu.

— Eu falo italiano. – Me gabei.

— É mesmo? Me ensina então? – Ela me pediu com os olhinhos brilhando.

— Mas é claro, pestinha. E o seu pai fala russo...

— Será que ele me ensina?

— Só perguntando a ele.

Sophie estava toda feliz, eu a ensinaria italiano e o pai poderia ensiná-la a falar russo. E eu queria muito ver essa cena, o Chefe ensinando algo a alguém, porque ele não ensina, você tem que observar e aprender.

— Ei, vocês dois, vamos cortando o pato e trazendo o filme. – Ziva nos chamou.

— É cortando o papo! – Nós dois a corrigimos.

A israelense fez uma cara engraçada como que dizendo que nós entendemos a mensagem.

— Um dia ela vai se meter na maior roubada por conta dessas expressões trocadas. – Avisei para Sophie.

— E você, como o parceiro dela, vai ter que ajudar a tia Ziva. Regra #01!

— Você não pode ser tão esperta assim! Tem alguém te passando uma cola? – Perguntei fingindo olhar dentro dos ouvidos da pestinha.

— Qual vai ser o filme, pelo amor de Deus!! – Kelly gritou.

Sophie tirou três desenhos de dentro da minha mochila. A Era do Gelo, Lilo e Stitch e Procurando Nemo.

— Não tem Vida de Inseto? Eu gosto desse. – Ela me perguntou.

— É claro que gosta... aposto que você se identifica com a Dot! Mas esse fica para a próxima. Nós temos que fazer uma coleção de desenhos para você aqui na casa do seu pai...

Ela pegou os três DVD’s e chegou perto de Kelly.

— Kells. Tem esses três. Qual você gosta?

Kelly nem olhou para os desenhos e acabou pescando A Era do Gelo.

— Legal! Eu gosto do Scratch.

— Ótimo. Já temos tudo em ordem. Falta só a comida chegar. Abby veio do banheiro, já vestida com um pijama de estampa de caveiras. – Todos se arrumando. A Festa do Pijama vai começar! – Ela anunciou.

Todos correram para se trocar, e na hora que as pizzas chegaram, nós estávamos jogando Jenga.

— Zee-vah! Não é para derrubar a torre! É para evitar derrubá-la!

A israelense me deu um olhar enviesado e eu me escondi atrás da Peste Ruiva, que muito concentradamente montava a nova torre depois que Ziva derrubou a terceira em sequência.

— Eu não gosto desse jogo. Toda hora a torre cai! – Ela reclamou.

— É um jogo de paciência e concentração, Ziva. E para a torre não cair, você precisa tirar a peça com muito cuidado. – McNãoTenhoMedoDeMorrer respondeu.

Para a sorte dele, todas as nossas armas estavam muito bem escondidas, porque se estivem ao alcance de Ziva, eu já até sei o que estaria na lápide dele.

Aqui Jaz Aquele que Tentou Desafiar a Ninja do Mossad. E se deu muito mal.

— Tudo bem, última partida, vamos ver se passamos da quarta rodada... – Kelly anunciou assim que Sophie equilibrou a última peça na torre.

— Tia Ziva, você começa, a primeira peça sempre é a mais fácil. É só ir com cuidado.

E para a Sophie não ouve olhada enviesada ou encarada mortal, não, para ela teve até uma resposta fofinha.

— Assim espero, Pingo de Gente.

E a torre não caiu de primeira! E eu quase gritei aleluia.

Era uma mordida em um pedaço de pizza e uma tentativa para tirar uma peça da torre, Ziva tinha finalmente entendido que não cabia violência no jogo, ela tinha que ser delicada como uma bailarina e a torre permanecia de pé.

— Você não colou essas peças com supercola, não, né Peste Ruiva?

— É claro que não, Tony! Ou a minha mão estaria colada ali! – Sophie me respondeu com a boca suja de sorvete. Ela tinha comido um pedaço de pizza e começado a clamar pelo sorvete. E para a irmã mais nova ficar quieta, Kelly deu a ela o que ela queria, e agora Sophie já estava na sua segunda taça de sorvete de morango e chocolate e estava cheia de energia.

E a cada rodada a torre balançava mais. Até que na mão de Kelly...

— Kells esse não, vai cair! – Sophie apontou.

— Deixa ela, Pingo de Gente. Pelo menos assim eu não perco essa rodada. – Ziva disse.

Abby mordeu o dedo quando a torre balançou para um lado. Tim prendeu a respiração, mas a futura neurocirurgiã não deixou a torre cair.

— Tim, sua vez. – Ela tinha aquele mesmo sorriso de quem sabe que ferrou o próximo que o Chefe sempre estampa no rosto quando ele consegue driblar o Fornell em um caso.

McFerrado olhou uma, olhou duas, olhou três. Não tinha jeito, qualquer peça que ele tirasse, a torre iria ao chão. E lá foi ele. Puxou devagar e a torre...

— PERDEU!!! PERDEU!! PERDEU!!! – Ziva começou a pular e gritar ao mesmo tempo.

— Você perdeu três rodadas seguidas, Ziva. – Abby a informou.

— Mas não perdi essa! – Foi a resposta da Ninja. – Vamos para outra rodada? – Ela chamou.

Vendo o estado animado da israelense todos nos olhamos, McPerdedor estava mais do que assustado observando Ziva comemorar a derrota dele.

— A gente não vai ver o desenho? – Sophie perguntou, enquanto ajudava McGee a catar as peças da torre que se espalharam pelo chão.

— Sim, vamos lá. Se ficar muito tarde, você acaba dormindo antes do final. – Kelly disse.

— Mas eu não estou com sono! – A ruivinha protestou.

— Acabe esse sorvete, vá escovar os dentes aí a gente coloca o filme.

— Nossa Kells. Você falou igual a minha mamãe. Credo!

— Já acabou? – Kelly nem deu ouvidos à reclamação.

Sophie olhou feio para a irmã enquanto acabava a taça de sorvete.

— É para lavar a vasilha, nada de deixar coisa suja dentro da pia! – A mais velha avisou.

— Tudo sobra pra mim. – Sophie reclamou quando arredou uma cadeira até a pia para poder alcançar a torneira. – Tudo!

— E para de ficar reclamando baixo. Tá parecendo o papai, quando o Henry vem aqui em casa! – Kelly xingou a irmã, e eu pude jurar que Sophie iria arremessar a esponja molhada nela. Aliás, eu estava contando com isso.

Dez minutos e muita falação depois, nós estávamos ajeitados para ver o desenho. Ziva, que parecia nunca ter visto uma animação na vida, era quem mais prestava atenção, e quem mais reclamava também.

— Mas isso é impossível de acontecer! – Ela falou em um determinado momento.

Sophie teve que se levantar, se sentar perto da “tia” e falar.

— Tia Ziva... é um desenho. Nada daquilo é real. Porque ninguém vive tanto tempo. Só assiste... aí você vai ver que é divertido.

— Três animais jamais vão tomar conta de um bebê! – Ziva protestou.

— Pense na lenda de Rômulo e Remo, Ziva. Aí você vai aceitar a animação. – Kelly falou.

Ziva ainda não estava convencida, mas aceitou as opções que tinha e passou a ver o desenho como uma criança, e não como um adulto. Depois disso ficamos todos em silêncio, já era madrugada e, sinceramente, eu nem me lembro de ter terminado o desenho.

Mas de duas coisas eu tenho certeza, aqueles dois não estavam aqui antes e eles não estão nada felizes com essa bagunça.

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Depois dos mais longos vinte minutos da minha vida, finalmente estava em casa. E dessa vez eu não tinha que me preocupar com nada. Minha filha não estava aqui, eu não precisava ser cuidadosa ou silenciosa.

Assim que meu detalhamento de segurança sumiu de nosso campo de visão, Jethro não esperou nem que eu abrisse a porta.

— É agora que eu ganho o meu presente de aniversário? – Ele sussurrou em meu ouvido, enquanto envolvia a minha cintura.

— Eu preciso abrir a porta primeiro. – Avisei.

— Jen...

A chave nem tinha virado na fechadura e nós dois já estávamos nos beijando. Nunca foi tão difícil abrir e fechar uma porta na minha vida.

Sim, nós dois estávamos juntos desde a noite depois do sequestro de Sophie, isso não era mais uma novidade para nós dois, mas hoje era diferente. Diferente porque nas noites anteriores nós tínhamos consciência de que a qualquer momento poderíamos ser interrompidos por uma batida na porta.

Hoje não tinha isso. Sophie não estava aqui. Kelly a tinha levado para Alexandria e estava tomando conta da irmã mais nova. Assim, era como se, temporariamente, tivéssemos voltado para o que éramos há seis anos.

Tudo o que importava era um e o outro.

E eu estava disposta a aproveitar a noite. Como estava. E não era a única, Jethro também parecia que não iria se conter dessa vez, se os beijos que ele estava me dando significavam alguma coisa.

— Pelo amor de Deus. Temos uma cama no andar de cima! – Eu pedi, assim que ele me levantou pela cintura, suas mãos passeando pelas minhas costas.

— Muito longe. – Foi o que ele me respondeu, sua voz abafada pelo meu pescoço, já que ele estava muito concentrado em beijar um ponto muito sensível ali. Ele mordiscou o lugar e eu me arrepiei toda.

— Jethro... – Eu precisava levá-lo para o andar de cima enquanto ainda raciocinava.

— Jen... – Ele levantou os olhos para que ficassem da altura dos meus. E foi nessa hora que eu desisti de tentar convencê-lo de fazer algo. Eu me vi dominada pelo mesmo desejo que era estampado nas orbes azuis e acabei por ceder a ele, não resistindo o beijei na mesma intensidade que ele vinha me beijando.

De algum modo ele acabou se decidindo que o quarto ainda era o melhor lugar para continuarmos a nossa noite, mas sinceramente, eu não sei como conseguimos subir as escadas sem cair, ou até mesmo como conseguimos chegar até o quarto.

Todos os meus sentidos estavam direcionados para ele. Não tinha um pedaço de mim que não clamava, que não pedia, que não implorava por sentir somente Jethro.

Se eu achei que a nossa primeira noite tinha conseguido aplacar a saudade que eu sentia dele, eu estava totalmente enganada.

Eu sentia falta dele de todas as maneiras, e essa noite estava me provando isso. Acabei por descobrir que eu sempre precisaria de mais.

Marselha, Sérvia, Londres, Paris. Cada uma das vezes que nos amamos nesses lugares foi uma prévia do que estava acontecendo nessa noite.

Céus, como eu amava esse homem!

Eu perdi as contas de quantas vezes brigamos pelo controle da noite, de quantas vezes atingimos o clímax. Sim, não foi só uma vez, e eu não sei por que o fato de Jethro segurar a minha mão e me olhar nos olhos cada vez que estávamos perto do êxtase passou a ser tão importante para mim. Eu só sei que esse pequeno gesto significou mais do que ele pode imaginar.

Mas nada me preparou para o que aconteceu no final. Sim, ele havia dito que em amava naquela noite em meu escritório, e, desde então, não tinha repetido a declaração. Eu não liguei, depois de perdê-lo como eu havia perdido, eu aprendi a ler nas entrelinhas, nos pequenos gestos e nos olhares dele.

Jethro não precisa expressar com palavras que ele me amava. Eu podia ver isso, em cada vez que ele me olhava, que ele me tocava. Estava fácil de notar a esse ponto, era só prestar um pouco de atenção.

E foi por isso que quando ele disse “Eu te amo, Jen”, olhando em meus olhos bem no auge, eu não soube o que dizer. Responder com a mesma frase pareceu errado, pareceu forçado. Mas não era. Era a verdade.

E ali estava ele, dizendo que me amava, com aquele mesmo olhar que ele tinha naquela manhã em Londres, o mesmo sorriso aberto. Meu coração pulou uma batida enquanto eu o fitava.

Aquele era um Jethro que só eu conhecia. Era o meu Jethro.

E naquele momento eu me senti a mulher mais realizada do mundo. Eu tinha tudo o que planejei ter e mais além. E uma parte disso, vinha dele.

— Eu também te amo. – Sussurrei de volta sem quebrar o contato visual.

Minutos depois, ele dormia, sua cabeça em minha barriga, seu rosto virado em minha direção. Ele nunca pareceu tão em paz. E foi quando eu lembrei de uma coisa.

Eu nunca o tinha agradecido pelo maior presente que ele havia me dado. E essa seria a primeira coisa que eu faria pela manhã.

—-----------------------

Eu esperava que Jen acordasse e me presenteasse com visão de suas bochechas vermelhas, por isso, fiquei esperando até que ela despertou.

Como sempre, demorou um tempo até que efetivamente ela acordasse, e quando o fez, tinha um sorriso ao me dar bom dia.

— Bom dia, Jethro! – Ela diminuiu a distância e me deu um beijo. – O que foi? – Perguntou ao se afastar.

Olhei bem para ela.

— Nada de bochechas vermelhas hoje?

Ela soltou uma gargalhada.

— Não acha que eu já estou velha o suficiente para ficar com vergonha de uma noite? – Ela me questionou ainda mantendo o sorriso.

— Velho sou eu. – Respondi de uma vez.

— Espere! – Ela se sentou na cama e tocou a minha testa, como se medisse a minha temperatura. – Você admitiu que está velho? Eu deveria ter gravado isso!

Dessa parte eu não sentia falta. A quem eu queria enganar, sim, eu senti falta disso também.

— Fiz aniversário ontem, Jen. Não fiquei mais novo.

— Então, para o velhinho da casa, pode deixar que eu preparo o café. Só espero que ele tenha paciência para esperar que eu tome banho.

— Não estou convidado para essa parte? – Perguntei puxando o lençol que ela tentava levar com ela.

— Não. Temos que economizar água. – Ela piscou para mim e fechou a porta do banheiro.

Quase uma hora depois, estávamos tomando café. Caímos em um silêncio confortável, como sempre fora entre nós dois. Porém, faltava algo.

— Está silencioso demais. – Ela falou, expressando os meus pensamentos. – É incrível, como eu me acostumei com o barulho dos pezinhos de Sophie pela casa, eu posso dizer exatamente onde ela está e o que está fazendo mesmo que eu esteja dentro do meu escritório. – Jen continuou. - E falando na Sophie, eu nunca te agradeci por ela. – Ela me pegou de surpresa. – Foi o maior presente que você me deu Jethro. Muito obrigada. – Jenny ficou de pé na minha frente e me deu um beijo. – Você não faz ideia do quão grata eu sou por poder ser mãe daquela garotinha.

Eu já vi passar diversas emoções pelos olhos verdes de Jen, mas nunca tinha visto tamanho amor, tamanha devoção, como eu vi quando ela terminou de falar.

— Isso tudo é para tentar me convencer a te levar para Alexandria? – Brinquei com ela assim que a trouxe pelo meu colo.

— Com coisa que você também não quer ver a suas filhas. – Ela rebateu. – Acha que eu não sei que você preferia ter passado a noite do seu aniversário sentado na sala de TV, vendo qualquer desenho que Sophie escolhesse, comendo pizza ao invés de ter ido ao baile comigo?

Sim, ela me conhecia bem.

— Para falar bem da verdade, eu também. Mas o que não fazemos para manter o emprego, não é? – Jen encostou a cabeça no meu ombro.

— Mas eu não tenho que reclamar da noite. Tirando as notícias que Caroline Sanders soltou, eu não posso reclamar, ainda mais do que aconteceu depois do baile. – Falei dando um beijo na cabeça de Jen.

Poderíamos ficar naquela casa o dia inteiro, Kelly merecia passar um aperto cuidando da irmã mais nova, ainda mais depois de ter escondido algo como a data do casamento de mim. E, por mais que eu quisesse isso, eu também queria passar um tempo com as minhas filhas. O meu tempo com uma delas estava acabando.

— Arrume uma mala, Jen. Passe o final de semana em Alexandria. Podemos fazer um pouco de terrorismo com Kelly, com o que sabemos agora.

— Jethro, você nunca será capaz de fazer terrorismo com Kelly. Pode xingá-la, pode fazê-la se arrepender de não ter te contado sobre a data do casamento, mas jamais será capaz de assustá-la sobre algo. – A ruiva me respondeu se levantado do meu colo.

— Arrume as suas coisas, eu limpo aqui. – Avisei, tentando apressá-la.

— Desse jeito eu acabo me casando com você, hein? – Ela brincou, saindo da cozinha.

— Não se acostume, Jen. Isso é para que eu veja as minhas filhas mais cedo. – Gritei de volta.

— Mentiroso! – Foi a resposta distante que recebi.

—--------------------   

Eu me perguntava como algo poderia parecer tão rotineiro, tão comum. Como acordar com Jethro do meu lado passou a ser parte do meu dia-a-dia e uma das melhores partes do meu dia, junto com o sorriso de bom dia da minha filha. Foi fácil de me reabituar com a presença dele em minha vida.

Ou talvez, eu tenha sentido tanta falta disso que, para cada dia desejando novamente a presença dele, eu apenas não consegui superar o que se passou.

O único pensamento que tinha agora era: nós dois não precisamos de um casamento para que nós possamos acontecer.

Quem precisa de formalidade quando já se tem tudo?

Eu poderia refletir pelos prós de estar ao lado dele o dia inteiro, mas para que? Se eu o tinha de verdade ao meu lado? Eu não precisava mais pensar, eu só precisava aproveitar.

Por todo o caminho da minha casa até a casa dele, Jethro não soltou a minha mão. Dirigiu o tempo todo com apenas uma mão e milagrosamente dentro dos limites de velocidade.

— Posso saber o motivo do sorriso?

— Não posso mais sorrir? – Respondi com outra pergunta.

— Depende do motivo.

Contive a vontade de revirar os olhos. Sim, ele também tinha os momentos ciumentos dele.

— Estava pensando. – Respondi deixando a frase no ar. Eu gostava de provocá-lo na mesma intensidade que ele gostava de me provocar.

— Em que? – E aí estava, aquela nota quase imperceptível de ciúme.

— Na minha vida. Em nós. Em como tudo parece que está se encaixando. E como eu gosto disso. – Olhei para ele ao responder. - Eu tenho muito mais do que um dia eu pensei em ter, Jethro. E isso me deixa feliz.

E esse foi um dos momentos em que eu sabia que ele não responderia nada. E não precisava, o sorriso de lado, os olhos brilhando, a forma como ele apertou mais um pouco a minha mão, me diziam que ele também estava feliz.

Ainda tínhamos um longo caminho até resolvermos tudo? Sim. Mas eu tinha certeza de que a nossa felicidade estava destinada a acontecer.

O resto da viagem foi feita em silêncio, ou melhor, quase toda, pois assim que entramos na rua da casa de Jethro, ao longe avistamos um carro bem peculiar.

— Aquele é o rabecão da Abby? – Perguntei, apontado para o carro fúnebre.

— Sim, e o carro de Tony e McGee estão um pouco mais a frente. – Jethro continuou.

Reconheci o carro de Ziva.

— Ziva também. – Apontei para o Mini Cooper.

Jethro estacionou atrás do carro de Kelly, e como eu passei a notar, ele sempre fazia uma careta para o modelo. O belo Mercedes Benz tinha sido um presente de aniversário de Henry para a noiva, e Jethro odiava o carro só por causa disso.

Ele desceu e foi para perto do carro de Tony, encostou a mão no capô e fez uma cara ainda pior.

— Frio. Está aqui a noite inteira.

— Isso explica a animação da Abby ontem à noite. – Comecei. – Acho que eles fizeram a festa do pijama aqui na sua casa. – Apontei para a porta.

— Duvido disso. – Foi a resposta que tive assim que ele me guiou porta adentro.

E, dentro daquela casa parecia que tinha passado um furacão. Eu só soube olhar para Jethro.

— Eu avisei...

Tinham vários colchões no chão. A equipe de Jethro estava dormindo ali, junto com Kelly e Sophie, que dormiam no sofá. Para a minha total surpresa, Ziva dormia usando Tony de travesseiro. Abby tinha espalhado uma coberta preta e vários travesseiros pelo local e McGee estava abraçado a um deles.

— São excelentes investigadores, mas péssimos agentes, se não nos ouviram entrar. – Jethro sibilou.

Nesse momento eu decidi deixar Jethro pensando sobre como ia acordar o grupo e fiz meu caminho até a cozinha. Dei uma olhada em volta, e tudo o que vi foram embalagens de pizza e sorvete, M&M’s e balas.

Minha filha passou a noite comendo porcaria. Agora quem queria explicações era eu.

Voltei nada silenciosa para a sala e parei perto de Jethro, por mim jogava água em todo mundo, foi quando Tony acordou. Completamente desorientado, sem saber ao certo onde estava.

Quando se localizou, ou acordou propriamente dito, deu um pulo, jogando Ziva longe e acordando o restante da sala, com uma notável exceção, Sophie só se virou no sofá, tampou a cabeça e voltou a dormir.

— Chefe! Diretora! E... Uhm... bom dia! – Ele tentou se livrar.

Ziva deu um pulo e antes de falar qualquer coisa, deu um tapa em DiNozzo.

— Precisava me jogar no chão? Custava me pedir para... – E ela parou a falação ao notar a nossa presença. – Bom dia. – Disse sem graça, arrumando o cabelo.

— GIBBS! GIBBS! JENNY! JENNY! – Abby veio pulando na nossa direção e nos deu um abraço duplo. – Espero que tenham aproveitado o baile.

— Sim, aproveitamos. E ficamos sabendo de coisas bem interessantes. – Jethro começou olhando para a única filha que tinha acordado. Kelly ficou vermelha, engoliu em seco e desviou o olhar.

McGee foi o último a se levantar, e dando bom dia, calmamente começou a juntar um pouco da bagunça que estava perto dele.

— Então... isso aqui foi uma festa do pijama ou a tentativa de pôr a casa abaixo? – Perguntei.

— Essa foi a melhor festa do pijama de todos os tempos, não foi Sophie? – Abby disse, só para notar que Sophie não estava nem aí para o que estava acontecendo. – Sophie... você tem que acordar...

Ao que parecia, o álibi de cada um ali dependia da ruivinha que dormia profundamente no sofá. E com isso os cinco olhavam descrentes para ela.

— Eu sabia que não dava para confiar nessa dorminhoca. – Kelly xingou.

— Ela só foi dormir tarde... Já era mais de duas e meia da manhã quando o desenho acabou. – Abby respondeu.

— Kelly, o que foi que eu te falei sobre a Sophie? – Me virei para a minha enteada.

 - Só um minutinho... – Ela pediu e com uma travesseirada, acordou Sophie, que olhou para ela com cara feia e apenas disse:

— Me deixa dormir, Kells. Hoje é sábado. E eu não tenho que acordar cedo! – Depois tampou a cabeça e voltou a dormir.

— E agora mais essa! – Foi tudo o que Kelly soube dizer!


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Notas finais do capítulo

Pobre McGee, nunca recebeu tantos apelidos em uma única noite...
E eu só digo uma coisa: Nunca confie em uma ruiva dorminhoca!
Obrigada a quem leu! Já agradeço aos comentários.
Semana que vem tem a continuação dessa bagunça... será que Kelly vai se safar do sermão do pai ciumento? Sophie vai acordar e salvar a todos? São cenas dos próximos capítulos!

Até lá!

E não se esqueçam: USEM MÁSCARA!! Odin não pode levar todos para Valhalla agora!



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